domingo, 30 de janeiro de 2011

Eu tive infância

Eu tive infância, tanto que me pego constantemente me lembrando dessa maravilhosa fase de minha vida. Nunca me canso de lembrá-la, de me pegar devaneando, desejoso de poder voltar no tempo, nem que fosse por apenas cinco minutos, para reviver a época mais doce de minha vida.
            Época de férias escolares, antes do início do ano letivo, era como o “auge do ano”, como se fosse o momento mais importante para ser vivido, já que quando as aulas começassem, o tempo para as brincadeiras ficava mais restrito e não se tinha tempo para nada, além de estudar, estudar e estudar, para  não se correr o risco de ficar em recuperação ou mesmo de se ser reprovado. O auge do verão, em pleno mês de janeiro, significava o auge das brincadeiras. Era quando organizávamos os campeonatos de futebol, em que praticamente cada rua tinha seu time, composto por cinco jogadores e um goleiro. Reserva? Isso não existia, pois todos faziam questão de jogar todos os jogos, do início ao fim, sonhando ser ele o responsável pelo gol que daria um simbólico título de campeonato de verão daquele ano. Mas se por um acaso chegasse algum primo distante, um amigo bom de bola, dávamos um jeito de colocá-lo no time e sacrificar aquele menino pereba, normalmente o mais novo, que só jogava por que era o dono da bola, ou por que precisávamos dele para completar o time. Tudo bem, ele sempre ameaçava levar a bola pra casa e acabar com o campeonato, mas sempre se dava um jeito de convencê-lo com a condição de deixá-lo entrar no início do segundo tempo.
            As brincadeiras daquela época eram inocentes. Até mesmo as mais “maliciosas” eram inocentes, bem diferentes das que vejo as crianças (tanto as de meninos quanto  as de meninas), em que há um certo “quê” de malícia até nas que parecem as mais inocentes. Mas isso deve, ou ser fruto de minha imaginação ou fazer parte do processo natural de “evolução dos tempos”. Enfim, vamos em frente.
            À noite, quando não se podia jogar bola, já que não havia iluminação no campo, adorávamos brincar de esconde-esconde, tica, polícia e ladrão, e no caso desta brincadeira havia sempre confusão, pelo simples fato de ninguém querer ser polícia, pois toda a graça tinha em se correr muito e fugir, sendo o ladrão da brincadeira. Mas também havia outros tipos de brincadeiras, os jogos de tabuleiro eram muito bem quistos, alguns do grupo brincavam de resta um ou de pega vareta. Havia, lógico, um ou outro, mais velho no grupo, que podia se aproximar dos mais velhos e participar de uma partida de aliado ou de dominó, quem sabe até fazer dupla numa partida de totó ou mesmo ser chamado para jogar sinuca, mas mesmo este, via-se claramente, não se divertia tanto quanto nós.
            Naquela época praticamente não havia shopping e nem todo o apelo comercial que se há hoje em dia (pelo menos, se havia, não prestávamos atenção nisso). O shopping, pelo menos o único que havia na época, não despertava o nosso interesse e preferíamos, lógico, ficar brincando com os amigos na rua a ir “passear” no shopping (coisa mais sem graça das férias de verão). Hoje em dia, toda criança quer viver dentro de um shopping sem graça e acha que isso é diversão... elas não sabem o que é ser criança, não sabem o que é se divertir pra valer!
            Internet, óbvio, não existia, e o brinquedo que representava o maior avanço tecnológico de que dispúnhamos era um vídeo-game, um Atari ou, quando muito, um Master Sistem. Mas mesmo estes eram inofensivos e não brincávamos muito, somente o necessário para zerar esse ou aquele jogo. Logo abusávamos e íamos procurar algo mais interessante para brincar. Vídeo-Game não viciava e não nos deixava dependentes, e estes são grandes perigos que eu vejo as crianças de hoje passando.
            Televisão até tinha, mas dávamos tão pouca atenção a ela que nem vale a pena se falar dela nessa crônica.
            Brinquedos havia às centenas. Tudo bem que não eram tão bonitos, coloridos, tão articulados e fizessem tanta coisa quanto os de hoje em dia, mas o que realmente importava, na minha época, era a imaginação. Tendo imaginação, gostando e querendo simplesmente de brincar, a diversão estava garantida.
            Brincava-se de biloca e pião, fazia-se bolinha de sabão e havia brincadeira só de menino e só de menina, e raramente nos misturávamos. Soltava-se pipa e a víamos lá no alto, tão longe, voando como a nossa imaginação naquele sublime momento.
            Mas talvez a melhor hora do dia, a tão esperada, era quando chovia. Tudo bem que era verão, que o calor era de rachar, e talvez por isso mesmo vibrávamos quando se avistava uma nuvem no céu, nem que fosse uma nuvenzinha pequena, que podia pressagiar uma chuva, que por mais fina que fosse, ajudava a refrescar o dia e lavava a nossa alma.
            Eu lembro cada uma dessas brincadeiras e tenho uma imensa saudade desses tempos. Às vezes tenho vontade de deixar de ser, por cinco minutos, o adulto que sou e deixar renascer o menino que sempre fui. Mas sei que isso, hoje, é impossível. O que me resta fazer é relembrar, se ser feliz por tudo que se viver, e bater no peito, com orgulho, e dizer aos quatro cantos do mundo que eu, sim, tive infância.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Quando foi a última vez que você olhou para o céu?

Estava eu deitado numa rede (muito bem deitado, diga-se de passagem) numa tarde, durante a semana (era meu dia de folga), na sala. A janela estava aberta, deixando entrar uma brisa suave, fria, que me acariciava o rosto. Como quem não quer nada (e naquele momento, eu não queria mesmo), olhei, acredito que pela primeira vez naquele dia, pela janela, em direção ao céu. E aí me dei conta de que há tempos não olhava para o céu, seja numa noite, para ver as estrelas, seja durante o dia, para as nuvens, ver suas formas e contemplar o belo azul do céu vespertino.
            Nós, em nosso corrido dia a dia, perdemos esse hábito, não só de olhar para o céu, mas de parar e reparar nas coisas simples. Não nos resta mais tempo para nada, como se tivéssemos nos tornado prisioneiros de nosso próprio tempo, e assim acabamos perdendo muito de nossa sensibilidade. Não mais olhamos ao redor, não mais sorrimos quando vemos um animal, não mais paramos para ouvir o canto de um pássaro no início da manhã a saldar o nascer do sol, não temos mais vontade de nos abaixar e tocar numa flor ou de sentir seu doce aroma. Tornamo-nos reféns de nosso trabalho, tempo, rotina, dia a dia, e acabamos esquecendo as coisas boas e simples que a vida nos oferece todos os dias, em todos os momentos.
            Felizes éramos nós quando não tínhamos que nos preocupar com ninharias, com coisas tão pequenas, com o tempo e com a rotina. Rotina? O que isso significava, eu simplesmente não sabia. E tampouco me interessava em descobrir do que se tratava. Preocupação era algo que não se existia e, se existia, não dávamos importância. Não se era refém de nada e se tinha o privilégio, o enorme prazer, de fazer o que se queria. Podia-se até se ficar sem fazer nada, apenas olhando para o céu, vendo as nuvens, imaginando e brincando com as suas formas... bons tempos eram aqueles, e a gente nem sabia. Se soubesse, teria aproveitado bem mais (e melhor) enquanto podia, enquanto não se estava inserido nesse mundo cão.
            Engraçado como essas coisas, esses pensamentos nos vêm tão repentinamente, como nos deixamos embriagar pelas lembranças e como até temos vontade de chorar de tanta saudade que sentimos daqueles tempos. Tempos esses que não voltam nunca mais, que estão fadados a viver apenas em nossas lembranças. No entanto, apesar de um retorno àqueles tempos ser impossível, podemos, pelo menos, quebrar uma regra da rotina, nem que seja por alguns minutos de nosso tão corrido dia a dia. Podemos (e devemos) pelo menos uma vez por dia, nem que seja por alguns meros segundos e olhar para o céu. Para ver o quê? Para ver simplesmente nada (e tudo ao mesmo tempo), para ver simplesmente o céu, seu azul, suas nuvens ou, à noite, as estrelas e a lua, que sempre se mostra tão majestosa e bela para nós, mas que, mesmo assim, nunca reparamos nela.
            Experimente, sinta essa paz, esqueça o tempo por alguns segundos de seu dia, olhe para o céu. Afinal de contas, há quanto tempo você não olha para ele? Permita-se, viva, deixe aflorar as lembranças de quando não se tinha preocupações, dos tempos em que não existia essa palavra feia e chata chamada Rotina.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Eu empresto livros

Não sei diabos quem inventou essa lei, mas que pegou, pegou: as pessoas simplesmente não emprestam seus livros. Sei, lógico, que tem sempre aquele livro mais especial, que temos um ciúme todo fundamentado, tem sempre aquele livro que tem escrita uma dedicatória toda particular e coisa do tipo, mas daí a não emprestar livro algum, nunca, já é demais! Ainda por cima tem sempre aquele que diz que “livro é igual a mulher: não se empresta”, e riem da própria piada (sem graça, diga-se de passagem), como se mulher pudesse se emprestar a alguém. Uma mulher, seja ela na condição de esposa, noiva, namorada, ficante ou seja lá que termo mais seja usado hoje em dia, quando não está mais a fim, quando tratada dessa maneira (como uma posse), simplesmente dá no pé, passa-lhe um belo par de chifres, e o dito cujo fica sozinho, sem a mulher, a ver navios.
            Com livros, a coisa funciona de maneira semelhante e diferente. Tenho, lógico, que ciúmes de meus livros e há, óbvio, alguns que eu não gostaria de emprestar (como meus livros de Tolstoi, como minhas edições de O Conde de Monte Cristo e Os Miseráveis, como alguns livros de autores russos), mas, no geral, meus livros estão disponíveis, sempre, para serem lidos e relidos por aqueles que sabem apreciá-los. E apreciar uma bela obra literária, seja ela um clássico ou mesmo um Best-seller, significa, para mim, não só saber lê-lo, deixar que os personagens ganhem vida, mas também saber cuidar do livro. Empresto, sim, meus livros, não só àqueles que confio, amigos, pessoas próximas ou a pessoas que sei que merecem um voto de confiança, que estão sedentos por um grande livro, mas, principalmente, àqueles que sei que vão cuidar bem deles, que não vão lê-los de qualquer jeito, que o devolverão de forma tão lastimável que tem-se a impressão de que o livro veio direto de uma trincheira de guerra, que escapou de ser queimado em uma daquelas fogueiras da inquisição ou coisa que o valha. Livro tem que ser bem cuidado, apreciado, lido e tem que, mais cedo ou mais tarde, voltar para seu “dono”. Falo “dono” por que livro nenhum tem “dono”. Talvez, o que mais se aproxime de “dono do livro” seja seu autor, que o criou, que deu vida aos personagens. Mas a partir do momento em que o autor o publica, o livro é de todos que o têm em mãos, de todos que se aventuram em suas páginas, palavras e personagens (e falo isso na condição não só de leitor, mas também de autor de três livros). O livro, para o autor, é como um filho: ele o cria, ele o idealiza, ele o ensina, mas chega um momento em que tal filho quer ganhar vida, quer ganhar o mundo, tal como uma criança se torna um adolescente e depois um adulto, e precisa ganhar sua independência, mas sem nunca esquecer de onde veio, de suas origens. O livro não tem um dono específico, mas sim um “dono”, mesmo assim, tem que voltar para suas mãos, nem que ele demore um pouco, que ele passe pelas mãos de mil e um leitores, desde que, no final, ele volte (em bom estado), é o que interessa.
            Livro não é para ser limitado, para ficar preso. Os personagens foram criados para ganhar vida, e só vivem quando lidos, portanto, não devemos manter os livros fechados, sem vida. Talvez eles fiquem até bonitos, guardados e organizados numa estante, mas já reparou que o livro parece que se torna mais especial quando está aberto, sendo lido por um alguém?!
            Vamos aderir a ideia de não deixar o livro morrer, de deixar que ele e todos os seus personagens ganhem vida. Vamos fazer com que os livros “circulem”, que sejam lidos e apreciados, desde que, no final, eles voltem para seus respectivos “donos”, afinal de contas, eles sentem sua falta.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

nós e nossas manias

Todo mundo tem sua mania. Não importa se se seja rico, pobre, branco, negro, loiro, asiático, homem, mulher, jovem, adolescente, adulto ou idoso, o importante é que se tenha uma mania. E é impressionante como estas se tornam uma verdadeira marca, algo por que vamos ser lembrados durante toda a nossa vida.


Existem manias de tudo que é tipo, de coisas comuns até chegando a ser verdadeiramente exóticas. Na escola, por exemplo, quem nunca teve um amigo que tinha mania de ficar desenhando no caderno justamente na hora da aula de matemática? Quem nunca teve aquele amigo com mania de pedir emprestada a sua caneta, justamente por que tinha mania de esquecer a sua em casa? Quem nunca teve um amigo com mania de querer engolir chiclete e sempre acabar se engasgando? Quem nunca teve um amigo que tinha mania de pedir para ir ao banheiro justamente no início da aula de história?

No início da adolescência tinha sempre um com mania de contar vantagem em tudo ou aquele com mania de querer apostar tudo, tinha aquele outro com mania de ficar se coçando na frente de todos, de roer unha ou simplesmente de viver com o dedo no nariz, ou ainda o que sempre chegava no meio da conversa e, para não se mostrar não inteirado com o assunto, tinha que fazer um comentário que não tinha nada a ver com o que estava sendo falado e que acabava com todo o tesão da conversa. Também havia aquele que, mesmo sendo o mais jovem, era o metido a escroto da turma e parecia ser o único capaz de chegar perto das meninas e fazia com que todo o resto da turma ficasse com mania de morrer de inveja dele, só por que tinha mania de ter coragem de se aproximar delas, seres tão desejados e ao mesmo tempo tão estranhos para nós, na época, simples meninos.

Sempre há aquele com mania de dizer que tinha tido os sonhos mais mirabolantes, com aquelas apresentadoras de programas infantis desejadas por 11 a cada 10 adolescentes, mas que, na verdade, não tinha sonhado com nada. Tinha aquele com mania de, sempre que passava uma menina na rua, justamente quando a turma estava toda reunida, dirigir uma cantada sem graça a ela, mas das quais todos ríamos a valer. Havia aquele que sempre chegava na manhã seguinte a uma festa e nos contava de todas as suas conquistas, quantas tinha beijado, e etc. e tal, mas que, na verdade, tinha ficado a festa inteira sentado num canto e o mais próximo que tinha chegado de uma conquista tinha sido trocar dois beijos no rosto de uma amiga do colégio, que por um acaso tinha encontrado no início da festa. Havia sempre aquele que era o mais feio da turma, mas que tinha mania de dar em cima das meninas mais bonitas do colégio e que sempre acabava se dando mal e ficava semanas sem aparecer, com a vergonha do fora que havia levado.

Existe aquele com mania de ficar tirando onda com tudo e com todos, desde a camisa que está usando até o time de futebol por que torce, tem aquele com mania de ser o mais barulhento da turma, mas há também o que é uma verdadeira figura cativa entre todos os círculos de amizade: aquele com mania de ficar calado, no canto, não importando qual o assunto esteja sendo conversado e de ser sempre o último a rir de uma piada. Ele quase não abre a boca e é o único da turma com mania de leitura, de andar sempre com um livro debaixo do braço, de ler em ônibus e ser o único a, na escola, tirar notas boas na disciplina que para muitos é a mais chata e mais inútil de todas: literatura!

Tem aquele que, mesmo já adulto, vive com a mania de relembrar os desenhos animados de sua infância, dos filmes que assistiu e até de cantar as músicas mais toscas já compostas e que, por isso mesmo, foram as mais tocadas em todas as rádios e programas de televisão da época. Tem aquele com mania de trabalho, que não sabe sair com a turma para tomar uma cerveja e não pensar e falar em outra coisa que não seja em trabalho. Há aquele que tem a péssima mania de viver dando desculpas para não comparecer às reuniões dos amigos da faculdade. Há o com a mania de sempre querer assistir ao pior filme que está em cartaz quando a turma se reúne para ir ao cinema e que, quando acaba o filme, sempre tem aquela frase pronta na ponta da língua: realmente, deveríamos ter assistido aquele outro filme, pois esse foi horrível! Existe aquele chato com mania de só falar tocando em você e que quando, por um motivo qualquer, você vira o rosto, ele tem que lhe cutucar para você voltar a prestar atenção só e unicamente nele.

Além de tudo isso, tem aquele que diz não ter mania nenhuma, que fica só observando toda a turma, que repara em cada mania de cada um, que tem a irritante mania de ficar repetindo aquele frase: cada louco com sua mania!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Eu e o Livro Eletrônico, algo que "não rolou"

Certo. Dessa vez vou direto ao ponto e não vou, como de costume faço, dar uma volta, falar de mil e um assuntos, até chegar ao que realmente interessa. Eu e o Livro Eletrônico, definitivamente, para se usar uma linguagem, uma gíria bem popular, “não rolou”. Confesso que já não gostei muito da ideia de ler um livro em algo que não seja de papel, mas, mesmo assim, fiz uma esforço hercúleo, engoli meu orgulho, e resolvi experimentá-lo. Alguns possuem até uma capa bonita, de couro, um simulacro de livro, mas nenhum deles possibilitam que tenhamos o mesmo prazer da leitura que experimentamos quando temos, em mãos, um livro de verdade. A luminosidade é apenas um dos pontos, e o cheiro é outro (!). Não gosto de cheiro de produto eletrônico, que não tem cheiro de nada. Prefiro o cheiro de um bom livro, de preferência antigo, de sentir as páginas já gastas, meio quebradiças até, de sentir a textura do papel entre os dedos, de me angustiar quando sinto que faltam poucas páginas para acabar o livro. Isso, o Livro Eletrônico nunca vai proporcionar.
            Sei que essa pode ser uma resistência tola, que o Livro Eletrônico veio para ficar, mas eu, como leitor apaixonado por livros, sou um adepto à não entrada de Livro Eletrônico em minha casa. Ele tem, sim, sua utilidade (não nego isso), principalmente para estudantes e profissionais, mas para desfrutar e saborear uma boa leitura, de uma grande obra literária, não.
Livro Eletrônico é para adeptos e fãs de tecnologia, não importa para que sirva, mas sendo tecnologia, ‘tá dentro. Os verdadeiros leitores, apaixonados por literatura, podem até ter alguma “maravilha tecnológica” em sua casa, possuir um celular de última geração, um computador super-potente e até um robô para lhe auxiliar nas atividades domésticas, mas leitor que é leitor, não deixa que nada, absolutamente nada, substitua seu bom e velho livro. Este pode estar já velhinho, com as páginas soltando, cheio de marcas de dedos deixadas pelos que o leram anteriormente, mas nada capaz de substituir o prazer que é ler um livro já repleto de tanta história.
Testei, sim, vários Livros Eletrônicos, de diversas marcas e modelos, dos mais simples aos mais sofisticados, e até cheguei a trazer um pra casa, par experimentar o que ler em um deitado numa rede. O amigo que me emprestou, sabendo como sou apaixonado por literatura russa, fez questão de colocar um título de um de meus autores favoritos, para ver se a bugiganga me seduzia... mas nada... a princípio, demorei a me acostumar com o negócio, para selecionar o título que queria ler, para chegar a página desejada, para me acostumar com o “zoom” e até para passar as páginas. Enfim, acabei desligando-o e recorri a minha estante, para terminar a leitura do livro.
Depois ainda testei um outro, mais novo, repleto de recursos da mais avançada tecnologia, que oferece mil e duas utilidades (tem mais utilidade até do que o “clip de papel” e o Bom Bril!). A princípio, ele fascina, até mesmo pela beleza, mas depois que você começa a mexer, a tocar em sua “tela mágica”, que olha pra trás e vê a sua estante de livros, desiste dele e resolve ir pegar um livro qualquer na sua estante a ler algo naquilo.
Quando fui entregar a Bugiganga a meu amigo, que gentilmente me emprestou, quando ele viu que não tinha funcionado comigo, ainda veio com aquela “justificativa” de que, ali, podem caber mais de mil livros, na vã tentativa de que aquele tecnologia me seduzisse! Eu respirei fundo (juro), e não respondi, afinal de contas, ele só estava tentando ser gentil comigo, mas a vontade que tive de dizer era que preferia ter “apenas 100 livros na minha estante a ter um treco daqueles com 2.000 títulos armazenados”.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Primeiro dia do ano, dia de fazer planos

Primeiro dia do ano é 1 de janeiro, certo? Bem, nem tanto. O primeiro dia do ano, pra valer, é dia 2. Dia 1 é, segundo o calendário, Dia da Confraternização Universal, e o que significa isso? Eu não faço ideia! O fato é que o dia 1 de janeiro é Dia da Folga Universal, e para se ter uma ideia precisa do que significa isso, basta ver que até os shoppings centers e os supermercados estão fechados! (só uma data como essa é capaz de fechar tais estabelecimentos). O dia 1, além de ser feriado, uma espécie de Dia Universal da Preguiça, já que vai estar todo mundo cansado, de ressaca, depois de ter bebido todas na noite de Reveillon. Até as praias, muitas vezes tão cheias em dias de feriado, estão quase vazias, pois ninguém se arrisca a sair de casa em dia tão repleto de preguiça como é o dia 1 de janeiro. Além disso tudo, dia 1 de janeiro é destinado a se fazer os famosos “planos para o ano novo”, algo que virou tradição de todos: homens e mulheres, brancos e negros, ricos e pobres, de todos os cantos. E nesse contexto, de tantos planos, promessas e coisas afins, é que surgem as histórias mais mirabolantes, os planos infalíveis para 2011, iguais aos Planos Infalíveis de Cebolinha.
            Dia 1 de janeiro é dia de fazer os planos para o ano que está começando, e todo mundo faz o seu. Tem, lógico, sempre, os tradicionais. As mulheres sempre fazem planos de perder uns quilinhos que julgam estar “acima do tolerável”, embora todos digam que estão ótimas, e entram naquelas dietas miraculosas-mirabolantes, embora, na primeira oportunidade, toda a dieta, todo o plano para um ano inteiro, vai por água abaixo (ou melhor dizendo, por goela abaixo) – não há dieta e força de vontade no mundo que resista a um bom chocolate ou, num dia de verão, à tarde, àquela almoço com carne-de-sol desfiada, batata frita, macaxeira, tudo isso com muita manteiga da terra (chega fiquei com água na boca agora!). Tem sempre aquele homem mais chegado a uma farra, a muita bebida e a um “rabo de saia” que promete que vai tomar um rumo na vida, que nesse novo ano vai “tomar um jeito” e “entrar no eixo”, embora no primeiro final de semana do verão, quando seu telefone tocar, com um amigo lhe chamando para uma festa, não vai pensar duas vezes: vai vestir a primeira camisa amassada que encontrar pela frente e vai se danar pro meio do mundo. Tem o tradicional estudante que passou “se arrastando” no ano anterior, e que promete que nesse novo ano vai ser tudo diferente, que vai passar por média no terceiro bimestre, mas quando ver o conteúdo programático de química, física, matemática e história, vai ter a certeza que precisará, mais uma vez, passar pelo “conselho de classe” para conseguir passar de ano. Tem aquele que promete passar num concurso público. Há aquele que faz planos de entrar na academia ou de pelo menos acordar todo dia às 5 da manhã para caminhar, mas que não será capaz de acordar cedo nem no primeiro dia. E tem sempre aquele que faz planos de ganhar na Mega-Sena, e ele está tão convencido de que vai realmente ganhar que começa a gastar o dinheiro que ainda nem tem!
            O fato é que dia 1 de janeiro é dedicado quase que exclusivamente para se fazer planos, e todo mundo tem que fazer os seus, e comigo não podia ser diferente. Não sou de fazer nenhum plano mirabolante e impossível, que vou desistir na primeira semana do ano. Talvez a única coisa difícil realmente que eu desejo fazer esse ano de 2011 (coisa que venho tentando realizar desde 2008, diga-se de passagem) é a leitura de Ulysses, de James Joyce. Houve um ano em que eu até tentei, mas desisti antes de chegar a página 20! Mas nesse ano, quando eu tirar férias (em junho), prometo, para mim mesmo, e torno aqui pública essa promessa, a de tentar a leitura desse tão complexo, complicado, difícil, etc, etc e etc livro. Também costumo traçar metas de produção textual. Prometo escrever pelo menos um texto por semana, nem que seja uma crônica para publicar neste blog, e também terminar alguns dos romances que iniciei no ano passado (o ano terminou ontem e já estou falando como se tivesse terminado há meses...). Também tenho como meta para 2011 publicar um livro ainda no primeiro semestre, meu quarto livro, e este plano já está, pouco a pouco, tomando sua cara, já que alguns dos textos (se trata de um livro com uma novela e cinco contos) já estão finalizados e selecionados para o livro. Enfim, meus planos, como sempre, são modestos (com a exceção, talvez, da leitura de Ulysses).
            E os seus planos, amigo leitor, que acompanha este blog, quais são?