domingo, 9 de novembro de 2008

O campo de Flores - conto


Era manhã, e o sol nascia no horizonte quando uma mulher saiu de sua casa, passando pelos portões de madeira, que de tão altos a luz do sol sequer conseguia passar. Era uma mulher bonita, loura, muito bem vestida, e exalava um aroma adocicado de um perfume artificial, importado; calçava sapatos importados, de um legítimo couro italiano e vestia calças justas ao corpo e uma blusa decotava, que valorizava seu busto. Ao fechar o portão atrás de si e olhar para frente, para onde sempre seguia, percebeu o imenso campo de flores que se descortinava ante seus olhos. Os pequenos pássaros pousavam no campo ou sobrevoavam-no em vôos rasantes, os beija-flores, em seu balé, dançavam em pleno ar, as abelhas roubavam o néctar das flores e iam depositá-lo em suas colméias e as flores desabrochavam, uma a uma, com o nascer do sol.
Com os olhos esbugalhados de espanto, não acreditava no que via diante de si. Surpresa, ela passou as costas das mãos sobre os olhos, depois as esfregou em todo o rosto várias vezes, como se procurasse acordar. Mas a expressão de espanto que tinha no rosto logo foi mudando, dando lugar a de um aborrecimento tremendo, pois aquele campo se interpunha em seu caminho, e agora, para alcançar seu objetivo teria que dar uma enorme volta, pois não podia seguir em frente, já que se assim o fizesse, acabaria por sujar os sapatos e estraga-los.
A mulher se perguntava como aquilo tinha surgido assim, de repente, da noite para o dia, e amaldiçoou o responsável por ter semeado aquele campo de flores, que desabrochavam ao sentirem o calor do sol da manhã. Gesticulava, falava alto, consigo mesma e recriminando o responsável por tudo aquilo. Cruzou os braços e fechou os olhos por alguns minutos, esperando que quando tornasse a abri-los, o campo tivesse sumido, da mesma forma como tinha surgido naquela manhã, como se a visão não tivesse passado de um sonho. Mas suas surpresa foi que ao abrir os olhos ele continuava bem à sua frente. Juntou as mãos e as colocou sob o queixo, passou a mãos nos cabelos e foi embora, contornando o campo, pois não tinha outro caminho senão aquele. Falava muito, sozinha, gesticulando tanto que chamou a atenção de uma outra mulher que saia de sua casa nesse exato momento.
De tão espantada com a reação da vizinha, normalmente tão comedida em seus atos, essa mulher que saía de sua casa nem olhou para frente, observando a outra que passava bufando. Manteve os olhos fixos nela, até que a viu sumir ao longe. Só então foi que, ao se virar, viu o que tinha diante de si. Uma expressão de incredulidade tomou seu rosto, que logo foi se modificando num imenso sorriso de alegria. Seus olhos brilhavam ao contemplarem tamanha beleza. Passou as pontas dos dedos sobre os olhos, se perguntando se estava ou não sonhando. Mas não estava. O campo de flores estava bem ali, à sua frente. Ela então deu alguns passos incertos, temendo que se se aproximasse demais aquela maravilha podia sumir, o que não aconteceu. Abaixou-se e segurou com delicadeza o caule de uma flor, que arrancou. Sentiu seu aroma delicado, e constatou que não existia nenhum outro cheiro melhor nesse mundo. Levantou-se e caminho pelo campo. Em uma das mãos tinha a flor e a outra se mantinha livre, aberta, sentindo o suave roçar das pétalas em seus dedos.