domingo, 24 de abril de 2011

o "Casamento do século"

Não, não, não, não e não. Não venha com conversa fiada tentando me fazer engolir esse casamento de “Lady Kate” e do “Príncipe William”. Já temos que conviver com futilidades demais que a nossa imprensa sensacionalista vem nos empurrando para ter que aceitar mais essa. Ainda mais, trata-se de algo tão distante, algo tão impensável, algo tão inútil para nós que eu fico me perguntando como as pessoas conseguem cair e se envolvem com tudo isso. É impossível, hoje, se abrir um jornal, do de maior circulação nacional até o mais limitado, de bairro, que não tenha pelo menos uma notinha falando sobre o tal casamento. Em praticamente todas as revistas há algo falando, isso quando não se tem uma foto da “plebéia” na capa. Na televisão também e dita cuja é notícia. Já vi anunciando documentários sobre ela, para que todos saibam quem ela é, onde estudou, como viveu, como está vivendo esse “momento mágico” às vésperas do casamento, como vai ser a cerimônia, como serão todos os passos no dia do casamento, como vai ser a vida dos dois daqui pra frente, etc, etc e etc. enfim, é tanta inutilidade, tanta coisa sem sentido que eu fico perguntando se por um acaso não há nada de mais importante para que a imprensa fale a respeito, não. Nessas semanas que antecedem ao “casamento do século” está terminantemente proibido de se acontecer qualquer coisa, pois mesmo que aconteça, nada vai poder ofuscar o brilho, a pompa, a importância do casamento do Príncipe William e da Kate alguma coisa lá (não sei e não me importa saber qual o sobrenome dela). Não se tem notícia sobre um esquema de corrupção, não se fala sobre a alta dos juros, a bolsa de valores pode despencar e passarmos a viver uma crise sem precedentes, que nada vai ser falado, não veremos nada sobre um tragédia da natureza, caso ela venha a acontecer, não se tem cobertura esportiva de nada. Enfim, todos os holofotes do mundo inteiro vão estar ligados e apontadas para a Inglaterra, onde acontecerá um “casamento na realeza”.
            Amigos, eu não aguento mais e estou a ponto de me jogar da janela de meu apartamento, só para não ter mais que ler, assistir e ouvir sobre esse “casamento do século”, e só não fiz isso, ainda, por que sei que a minha possível morte não seria documentada, só e unicamente por que nada, absolutamente nada, pode ofuscar o brilho do casamento. Tenha santa paciência! Vejo as pessoas comprando revistas só por que tem algo falando sobre a “plebéia que irá virar princesa” (se deu bem! Baita golpe do baú.) e ficam ali mesmo, nas bancas, folheando, como se aquelas notícias fossem algo tão importante, que fosse mudar a sua vida de tal forma, que não se pode sequer esperar para ler a revista em casa!
            Não sei, amigos, se fico mais indignado coma imprensa, que não noticia absolutamente nada além disso, ou com as pessoas, que se interessam, que compram essa ideia do “casamento do século”. Pesando, medindo e contando, acho que daria um empate técnico, afinal de contas, a imprensa não publicaria nada se as pessoas não fossem se interessar, e as pessoas, se simplesmente não quisessem saber, bastaria não comprar nada nenhuma publicação sobre o assunto ou desligar a televisão justo na hora em que fosse passar mais uma “reportagem especial: quem foi e quem é a plebéia de classe média que se tornará princesa da Inglaterra”. Mas a imprensa publica e as pessoas leem e assistem sobre o assunto... fazer o quê?! Eu simplesmente lavo minhas mãos sobre tudo isso e venho, através deste texto, mostrar um pouco da minha indignação, mostrar o quanto estou inteirado e acho importante falarmos sobre isso, um casamento que vai acontecer lá do outro lado do mundo, com quem eu não tenho absolutamente nada a ver, vai afetar com a minha, a sua, a vida de todos nós!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tempo


Pode ser a duração relativa das coisas que cria no ser humano a idéia de presente, passado e futuro; período contínuo no qual os eventos se sucedem. O tempo também pode ser o intervalo que separa dois corpos num determinado período, esse intervalo às vezes prolonga-se; prolongar significa expandir a duração de algo. E a expansão que muitas vezes foge de proporções, ou seja, torna-se imensurável, indeterminado de avaliar a amplitude e grau (espaço) do que venha a ocorrer.
O tempo para os historiadores afasta o passado do presente e respectivamente do futuro, já como alguns especialistas costumam dizer o passado é reflexo do presente e poderá ser reflexível no futuro, já que o presente é mutável, então com tantas definições tudo torna-se parte integrada de uma cadeia onde cada evento sucede a partir de um outro.
Amor é a forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais. Nessa situação interpessoal, que envolve duas pessoas o tempo poderá muitas vezes torna-se um desgaste do que foi construído ao longo do tempo, todos os sonhos, todos os anseios. Porém por outro lado o tempo no amor, poderá ser uma questão decisiva de organização, da “psique”, onde os pensamentos e projetos de futuro possam manter uma estrutura solida.
Contudo o tempo desgasta como já foi percebido ao longo da história. Pois na história o tempo fez com que muitos registros fossem APAGADOS. E em algumas situações da vida registros APAGADOS, tornam a ‘vida’ um pouco mais difícil....
Apesar de todas essas palavras existe um grande paradoxo. Pois apesar do tempo ser inimigo em algumas situações da vida e da história; é o tempo que traz a solução para os problemas.
Dar tempo ao tempo . . . .


Por Diego Farias

domingo, 17 de abril de 2011

Quem inventou essa tal de TPM?

Alguém, por favor, saberia me informar o responsável, o “jênio”, o “infeliz das costa oca” que inventou essa tal de TPM? Eu gostaria muito de saber de quem se trata, de saber seu nome, só para ter o prazer de procurá-lo, de caçá-lo, para matá-lo com minhas próprias mãos. Se por um acaso o dito cujo já tiver morrido, não há problema algum, pois posso muito bem procurar mestres em ciências ocultas e coisas afins para fazê-lo voltar à vida só para eu poder ter o direito de matá-lo (novamente), dessa vez de forma tão bem morrida que ele jamais poderá ser ressuscitado, por mais poderosa que seja a magia. É sério, isso que estou falando! Eu quero, por que quero, por que preciso saber quem é (ou foi) esse “escroto”, como se diz no bom nordestinês. Se for um homem, com certeza é um desses tipos que na minha terra se chama de “fulêro”, e se for uma mulher, com certeza trata-se uma feminista mal-amada-revoltada, que criou, difundiu e popularizou essa tal de TPM só como uma forma de se vingar da sociedade e dos seres humanos, só e unicamente por que ela é uma mal-amada.
            Desde que o mundo é mundo, que há seres humanos andando sobre duas pernas, que há fêmeas da espécie, as mulheres têm, a partir de determinado momento de suas vidas, que em nossa época se chamou de puberdade, o início do chamado ciclo menstrual, que algo muito complexo (para nós, homens), que consiste num processo de maturação do óvulo, liberação de hormônios, etc, etc e etc. esse período se repete uma vez a cada mês, embora exista algumas mulheres que têm um ciclo mais longo e outras um ciclo mais curto, até uma idade bem avançada. Pois bem, durante o período em que a mulher atravessa esse ciclo, sempre, elas sofreram com algumas alterações hormonais, o que é perfeitamente natural, o que acarreta uma mudança de humor, mas nada muito grave, normalmente só no período que antecede a menstruação, e algumas até no pós-menstrução. Os homens, desde que o mundo é mundo (pelo menos grande parte deles) entende esse período tão belo da natureza feminina, e o tem como “um período sagrado”, em que (os normais pelo menos) não tocam nelas e deixam que tudo passe, para só então voltarem a levar suas vidas (a dois) normalmente. Até aí tudo bem, normal, faz parte da natureza. É tudo plenamente compreensível, até para o mais bruto dos homens. No entanto, o que é inadmissível é que tudo, hoje em dia, tenha como desculpa essa tal de TPM.
            Mulher ‘tá de mau-humor? Culpa da TPM. Mulher está o dia inteiro dando respostas de bate-pronto, sem pensar no que fala e em suas consequências? Culpa da TPM. Mulher acorda tarde e chega atrasada ao trabalho? Culpa da TPM. Mulher ‘tá chorona? Culpa da TPM. ‘Tá brigando com todo mundo? Culpa da TPM. Não segurou direito os pratos na hora de lavar a louça? Culpa da TPM. ‘Tá com sono? Culpa da TPM. O time por que torce perdeu um campeonato? Culpa da TPM. Não acertou nenhum número da Mega-Sena? Culpa da TPM. O candidato em que votou não ficou nem na suplência na última eleição? Culpa da TPM. Crise na Bolsa de Valores? Culpa da TPM. Mais uma guerra e tensão no Oriente Médio? Culpa da TPM.
            Droga! Santo-Deus! P* que Pariu! é tudo “culpa da TPM”! Tudo que acontece, tudo que se faz de errado é culpa dessa tal da TPM. A TPM é como uma espécie de desculpa-sempre-aceita, uma espécie de escudo a que se aprendeu a usar, e o pior de tudo é que a gente sempre se aceita essa desculpa esfarrapada.
            - Ah, amor, desculpa não ter preparado o jantar especial para nós, que eu havia prometido e que estávamos combinando há quatro meses. É que estou de TPM, e você entende, né?
            - Claro, amor. Eu entendo – embora esteja pensando em esganá-la e pedir para que ela deixe de usar essa tal da TPM como uma desculpa para tudo.
            O que me deixa indignado é exatamente essa “desculpa-generalizada-para-absolutamente-tudo” que é essa tal de TPM.
            Antigamente as mulheres não tinham isso – ela nem sequer sabiam o que era isso. Mudança de humor, talvez, já que era algo natural ao período exclusivo do ciclo menstrual, mas TPM elas não tinham, não.
            TPM é um problema (e desculpa) da mulher moderna. As mulheres de antigamente, as que hoje são idosas, que passaram por todo o ciclo natural que as mulheres jovens passam hoje, nunca sofreram dessa tal de TPM.
            Se chegarmos para entrevistar uma velhinha, por exemplo, e lhe perguntarmos sobre a TPM, ela vai lhe dar uma resposta algo como: “TP o quê, meu filho? Sei o que é isso não. Já ouvi falar, sim, mas não sei do que se trata.”
            Essa situação é séria, muito mais do que essa crônica se propõe a apresentar (e a debater)!
            A mulher, hoje, além de “sofrer” dessa tal de TPM, o que deveria ocorrer somente no período do ciclo menstrual, no máximo ter suas oscilações de humor dois dias antes e dois depois, passa um mês inteiro nesse estado. Mentira: o mês inteiro não, mas que são pelo menos 26 dias, isso é inegável. TPM, na verdade, ultrapassou os processos fisiológicos e tornou-se um “estado de espírito”.
            Tai! Acho que desvendei, se não o Segredo do Universo, pelo menos o da TPM. A TPM, na verdade, é um estado de espírito. Tudo bem que seja um estado-permanente, mas que é do espírito, isso é inegável.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dias e Noites de Chuva

Adoro acordar de madrugada com o barulho da chuva caindo, com o barulho do tamborilar de seus dedos na janela de meu quarto. Isso me faz lembrar de minha infância, quando, como toda criança, eu tinha medo de trovão, e mal quando acordava de madrugada, que chovia, já com medo de trovões e relâmpagos, eu me levantava e ia correndo bater na porta do quarto de meus pais.
Lembro desses momentos como se tivesse sido na madrugada passada. Eu batia na porta e ficava lá esperando, descalço, pisando naquele chão frio. Ouvia meus pais se mexendo na cama, sendo acordado em plena madrugada, no melhor do sono, por seu filho mais novo, que não podia ouvir a chuva caindo e já vinha correndo com medo, e depois ouvia a voz de minha mãe, perguntando quem era e o que queria (como se ela não soubesse de quem se tratava). Eu, do outro lado da porta, com a voz chorosa, pedia para ela abrir a porta. Ela vinha, abria a porta e olhava para mim, enrolado em meu lençol, descalço, com os olhos sonolentos e, mesmo tremendo de medo por conta do último trovão, que parecia fazer a casa inteira balançar, sorria quando via aquela porta se abrir e minha mãe aparecer. Ela então me mandava entrar e eu imediatamente corria e me jogava na cama e antes que ela voltasse a se deitar, eu já estava dormindo.
Mas nem só de medo são feitas as minhas lembranças da infância de dias e noites de chuva. Pelo contrário, são mais feitas de felicidade mesmo. Lembro quando os dias pareciam arrastados e preguiçoso e, para mim, entediantes, pois não podia sair, não podia brincar, não tinha o que fazer o dia inteiro. Como todo menino, eu só queria saber de brincar, de estar na rua, fazendo tudo, mesmo ficar em casa. Mas a chuva lá fora não me permitia isso, pelo menos não enquanto meu pai não chegava em casa após um longo e estafante dia de trabalho. Ela chegava se protegendo embaixo de um enorme guarda-chuva preto, com a sua pasta debaixo do braço e passava direto para o quarto, para se trocar. Pouco depois ele voltava, usando apenas um calção, olhava para mim e fazia um gesto com a cabeça, para o lado de fora. “Vamos tomar um banho de chuva?”, ele perguntava. Eu não precisava nem responder, e saía correndo, abria os portões e corria para o meio da rua antes mesmo dele. Logo outros meninos, vendo o exemplo, também corriam para brincar na rua, para tomar um gostoso banho de chuva. Jogávamos bola, corríamos de um lado para o outro, brincando, só meu pai, eu e meus amigos. Era tão bom aquele banho de chuva, lavava a alma de forma tão completa como nenhum outro banho é capaz de lavar!
Essa madrugada, quando acordei, enquanto escutava o barulho da chuva, lembrei-me disso tudo, e senti uma tremenda saudade das madrugadas de medo e dos dias e noites de felicidades provocadas por um simples banho de chuva. E vendo o louco dia a dia em que vivo, de muito trabalho e pouco tempo para mim, percebo a distância e a diferença existente entre o eu de ontem e o eu de hoje. Hoje, mesmo quando estou de folga, em casa, sou uma pessoa constantemente preocupada, ocupada, que reclama constantemente da falta de tempo. Talvez, hoje, na verdade, o que me falta seja um bom banho de chuva, como os que tomava com meu pai, para me livrar de todas as preocupações e tensões do dia a dia, para poder voltar, nem que seja apenas enquanto durar o banho de chuva, o menino que um dia fui, que tinha medo de trovões e relâmpagos, mas que adorava banho de chuva.

domingo, 10 de abril de 2011

Crônica da Solidão II

Estou sozinho. Talvez como nunca estive em toda a minha vida. Sempre fui uma pessoa de hábitos solitários, e as pessoas confundiram isso e me deixaram sozinho com a minha solidão. Às vezes quero chorar, sem esconder as lágrimas, mas nunca tenho ninguém por perto para que as veja banhando meu rosto. Às vezes quero gritar para ser ouvido, mas estou tão longe que, mesmo que arrebentasse a minha garganta com a força de minha voz, ninguém me escutaria. Às vezes, tudo que desejo e procuro é o calor de um abraço, mas só o que encontro é o meu próprio reflexo no espelho sendo abraçado por uma sombra. E sempre, tudo que preciso é de uma companhia, mas só o que encontro é a solidão.
            Pela primeira vez na vida percebo o quanto estou só. Não sozinho por opção, por ter procurado, por alguns instantes, estar a sós com minha própria sombra e pensamentos, mas sozinho por não um único alguém que me faça companhia, um único alguém que, mesmo não concordando comigo, consiga me compreender apenas pelo olhar ou pelo tom de minha voz. Eu nunca tive esse alguém, eu nunca o encontrei, por mais que o tenha procurado.
            A solidão me pesa no peito de tal forma que, mesmo quando cercado de pessoas, ainda me sinto só. Não encontro os olhos de ninguém quando os procuro, não vejo um único sorriso sequer, não ouso nenhuma voz a chamar meu nome, só escuto o barulho do vento e só vejo pessoas, andando de um lado para o outro, sem se importar com nada nem com ninguém, sem notar umas às outras. Isso é solidão: procurar e nunca encontrar, querer ouvir e nunca escutar, enxergar e nunca ser visto.
            Às vezes eu me canso de tanto esperar e sinto uma louca vontade de gritar, de deixar que meu clamor seja levado pelo vento para os quatro cantos do mundo, de correr, louco, sem destino certo, para onde meus pés me levarem. Mas de nada adiantaria se isso eu fizesse; o máximo que iria conseguir seria aumentar a minha frustração e ficar com o gosto amargo na boca.
            Não me lembro ao certo quando foi a primeira vez em que me senti só. Talvez tenha sido quando, quando criança, minha mãe se atrasou para me pegar na escola, que eu vi meus colegas indo embora, todo segurando firmemente na mão de suas mães, e só eu fiquei, no pátio da escola, sozinho, vendo todos indo embora, e só eu fiquei ali, esperando; talvez tenha sido quando, no colégio, fui mandado para a sala do diretor e tive que atravessar todos aqueles corredores longos e silenciosos, escutando o eco de meus próprios passos; talvez tenha sido quando vi todos os meus colegas de turma, na ocasião da formatura, indo comemorar, e só eu fiquei, sozinho, sem ter nada a comemorar, esperando sentado num banco de praça algo que nem eu sabia o que era; talvez tenha sido quando, na minha vez em que me apaixonei, a pessoa me deixou falando sozinho – ela até estava ali, mas não prestava a menor atenção ao que eu dizia; talvez tenha sido quando recebi, no trabalho, a primeira promoção e aumento salarial, mas não tinha com quem sair para comemorar naquela noite, e ir a um bar e tomar uma cerveja; talvez tenha sido quando, ao fim da festa, só eu fiquei para arrumar toda a bagunça e limpar a sujeira; talvez, talvez e talvez... São tantos talvez em nossa vida, são tantas incertezas que nem conseguimos imaginar em como seria se tudo fosse diferente.
             Não sei ao certo que fiz quando senti a solidão pela primeira vez em minha vida. Talvez tenha chorado; talvez tenha ficado calado, em silêncio, exatamente como estava; talvez tenha procurado uma companhia; talvez tenha corrido, a procura de algum alguém; ou simplesmente eu tenha ficado onde estava, conformado. Não que a solidão seja algo com que se deve conformar, se acostumar, pois com ela estamos sempre a sós, pois com sua companhia estamos sempre assim: sós.
            A solidão, para mim, é como o mar antes de uma tempestade, em que paira uma tensão no ar. É barulho e é silêncio; é calma e é agitação. A solidão, para mim, sempre teve a cor cinza. É de um cinza escuro, fechado, como o céu antes de uma tempestade que vai desabar sobre a minha cabeça. A solidão, para mim, é tão barulhenta quanto o mais completo e profundo silêncio em que ouço as vozes silenciosas que nada falam para mim, que nunca falam comigo. A solidão, para mim, é como uma folha de papel em branco, em que não há absolutamente nada escrito, na qual ninguém me escreveu, na qual eu não posso escrever, pois não tenho a quem direcionar minhas poucas e imprecisas palavras.
            Solidão é isso: é sentir-se sozinho, é saber que se está sozinho, é não ouvir o canto dos pássaros no início de uma manhã,é ouvir o barulho do vento balançando os galhos das árvores, é ver a tempestade que se aproxima, é ouvir as primeiras gotas d’água caindo no chão e encharcando a terra. Solidão nunca é bom de sentir. Sentimo-nos tão pequenos, tão limitados, tão tristes, tão sós...