Estou sozinho. Talvez como nunca
estive em toda a minha vida. Sempre fui uma pessoa de hábitos solitários, e as
pessoas confundiram isso e me deixaram sozinho com a minha solidão. Às vezes
quero chorar, sem esconder as lágrimas, mas nunca tenho ninguém por perto para
que as veja banhando meu rosto. Às vezes quero gritar para ser ouvido, mas
estou tão longe que, mesmo que arrebentasse a minha garganta com a força de
minha voz, ninguém me escutaria. Às vezes, tudo que desejo e procuro é o calor
de um abraço, mas só o que encontro é o meu próprio reflexo no espelho sendo
abraçado por uma sombra. E sempre, tudo que preciso é de uma companhia, mas só
o que encontro é a solidão.
Pela
primeira vez na vida percebo o quanto estou só. Não sozinho por opção, por ter
procurado, por alguns instantes, estar a sós com minha própria sombra e
pensamentos, mas sozinho por não um único alguém que me faça companhia, um
único alguém que, mesmo não concordando comigo, consiga me compreender apenas
pelo olhar ou pelo tom de minha voz. Eu nunca tive esse alguém, eu nunca o
encontrei, por mais que o tenha procurado.
A
solidão me pesa no peito de tal forma que, mesmo quando cercado de pessoas,
ainda me sinto só. Não encontro os olhos de ninguém quando os procuro, não vejo
um único sorriso sequer, não ouso nenhuma voz a chamar meu nome, só escuto o
barulho do vento e só vejo pessoas, andando de um lado para o outro, sem se
importar com nada nem com ninguém, sem notar umas às outras. Isso é solidão:
procurar e nunca encontrar, querer ouvir e nunca escutar, enxergar e nunca ser
visto.
Às
vezes eu me canso de tanto esperar e sinto uma louca vontade de gritar, de
deixar que meu clamor seja levado pelo vento para os quatro cantos do mundo, de
correr, louco, sem destino certo, para onde meus pés me levarem. Mas de nada
adiantaria se isso eu fizesse; o máximo que iria conseguir seria aumentar a
minha frustração e ficar com o gosto amargo na boca.
Não
me lembro ao certo quando foi a primeira vez em que me senti só. Talvez tenha
sido quando, quando criança, minha mãe se atrasou para me pegar na escola, que
eu vi meus colegas indo embora, todo segurando firmemente na mão de suas mães,
e só eu fiquei, no pátio da escola, sozinho, vendo todos indo embora, e só eu
fiquei ali, esperando; talvez tenha sido quando, no colégio, fui mandado para a
sala do diretor e tive que atravessar todos aqueles corredores longos e
silenciosos, escutando o eco de meus próprios passos; talvez tenha sido quando
vi todos os meus colegas de turma, na ocasião da formatura, indo comemorar, e
só eu fiquei, sozinho, sem ter nada a comemorar, esperando sentado num banco de
praça algo que nem eu sabia o que era; talvez tenha sido quando, na minha vez
em que me apaixonei, a pessoa me deixou falando sozinho – ela até estava ali,
mas não prestava a menor atenção ao que eu dizia; talvez tenha sido quando
recebi, no trabalho, a primeira promoção e aumento salarial, mas não tinha com
quem sair para comemorar naquela noite, e ir a um bar e tomar uma cerveja;
talvez tenha sido quando, ao fim da festa, só eu fiquei para arrumar toda a
bagunça e limpar a sujeira; talvez, talvez e talvez... São tantos talvez em nossa vida, são tantas
incertezas que nem conseguimos imaginar em como seria se tudo fosse diferente.
Não sei ao certo que fiz quando senti a
solidão pela primeira vez em minha vida. Talvez tenha chorado; talvez tenha
ficado calado, em silêncio, exatamente como estava; talvez tenha procurado uma
companhia; talvez tenha corrido, a procura de algum alguém; ou simplesmente eu
tenha ficado onde estava, conformado. Não que a solidão seja algo com que se
deve conformar, se acostumar, pois com ela estamos sempre a sós, pois com sua
companhia estamos sempre assim: sós.
A
solidão, para mim, é como o mar antes de uma tempestade, em que paira uma
tensão no ar. É barulho e é silêncio; é calma e é agitação. A solidão, para
mim, sempre teve a cor cinza. É de um cinza escuro, fechado, como o céu antes
de uma tempestade que vai desabar sobre a minha cabeça. A solidão, para mim, é
tão barulhenta quanto o mais completo e profundo silêncio em que ouço as vozes
silenciosas que nada falam para mim, que nunca falam comigo. A solidão, para
mim, é como uma folha de papel em branco, em que não há absolutamente nada
escrito, na qual ninguém me escreveu, na qual eu não posso escrever, pois não
tenho a quem direcionar minhas poucas e imprecisas palavras.
Solidão
é isso: é sentir-se sozinho, é saber que se está sozinho, é não ouvir o canto
dos pássaros no início de uma manhã,é ouvir o barulho do vento balançando os
galhos das árvores, é ver a tempestade que se aproxima, é ouvir as primeiras
gotas d’água caindo no chão e encharcando a terra. Solidão nunca é bom de
sentir. Sentimo-nos tão pequenos, tão limitados, tão tristes, tão sós...
já estive assim...descobri que estamos sós por opção, pois sempre terá alguém que nos olha com um olhar de quem adoraria ser visto por você, mas não é.
ResponderExcluirAdorei sua crônica, tirei muitas ideias para a minha crônica escolar, não copiei, mas basiei-me em suas palavras. Ótimo !
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