domingo, 1 de janeiro de 2017

O nascimento do jardim-floresta

Eles vinham caminhando lentamente, como que contando os passos e não se olhavam, mas tinham plena consciência um da presença do outro, comunicando-se apenas pelo suave toque de suas mãos.
            O sol já havia iniciado sua trajetória descendente quando pararam. Ao redor não havia nada vivo e tudo era completo silêncio, não se ouvindo nenhum som trazido pelo vento. Ele então se virou para ela e segurou suas duas mãos.
            - É aqui. Eu sinto que é aqui! – disse ele, com os olhos repletos de ternura.
            Ela também havia sentido a mesma certeza que ele.
            Aproximaram-se um do outro e ele depositou-lhe um suave beijo nos lábios e lhe entregou e diminuto e precioso bem que trazia consigo. Ela recebeu a pequenina semente, passou a ela o beijo que ele havia lhe dado, agachou-se lentamente e com as mãos cavou um pequeno buraco onde a guardou. Cobriu com lençóis de terra a semente e a regou com lágrimas de alegria e ternura.
            Durante curtos-longos meses, eles vieram todas as manhãs, junto com os primeiros raios de sol, ao local onde repousava o seu tesouro. Não chovia, não havia água para regar o solo, mas ela sempre chorava de ternura e suas preciosas lágrimas umedeciam o chão e transmitiam toda a força de que a pequenina semente necessitava para crescer.
            Eles tinham pressa para vê-la despontar naquela terra, queriam tocá-la com delicadeza, sentir o toque de seda de sua folha-pele, um pequenino broto, mas sabiam que ela tinha seu tempo e abriria seus olhos e despontaria para o mundo no seu devido tempo, nem mais cedo nem mais tarde um único dia, que no dia que abriria os olhos e os braços, o som de sua voz, de seu riso, anunciaria a sua chegada.
            Após tão longa espera, quando eles chegavam de mãos dadas, que viram ao longe algo diferente na terra, algo pequenino-gigante, apertaram a mão um do outro e correram em direção àquela por quem tanto ansiavam a chegada. A pequenina planta, que mesmo com sua fragilidade havia rompido com imensa força a terra que a cobria, sorriu para aqueles que a contemplavam, e seu sorriso anunciava a primavera que se iniciava.
            Aquela pequenina planta cresceu rápido e logo proporcionou a todos uma gostosa sombra onde todos podiam se abrigar. Não cresceu muito em altura, mas em generosidade e ao seu redor foram depositadas outras sementes que foram igualmente regadas com ternura, mas agora protegidas pela sombra daquela primeira árvore que crescia dia a dia.
            O silêncio que antes havia era quebrado todas as manhãs por uma revoada de pássaros que vinha se abrigar e voar em torno das árvores daquela floresta-jardim que se multiplicava aos poucos sob a proteção e amor dos dois jardineiros, que aos poucos foi deixando que o jardim crescesse por si só.

            O jardim cresceu, e muito, sobre a sombra de frondosas árvores, que acolheram seus jardineiros e a forma como a primeira árvore encontrou para agradecer-lhes foi dando-lhes o primeiro fruto para que eles cuidassem e para que ele quando plantada a sua semente e crescesse, pudesse cuidar deles.