tag:blogger.com,1999:blog-40097943589498897532023-07-24T16:26:25.680-03:00Lugar das palavrasEscritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.comBlogger403125tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-33196767236562479522017-08-20T12:32:00.000-03:002017-08-20T12:32:21.220-03:00E o Brasil, tem jeito?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-kfGhVolQI_M/WZmoljVNXpI/AAAAAAAABdU/N8ZCTxzzoAwTQbRzVhR1JM3pbpqdI2JJgCLcBGAs/s1600/Bandeira-do-Brasil.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="318" data-original-width="500" height="203" src="https://1.bp.blogspot.com/-kfGhVolQI_M/WZmoljVNXpI/AAAAAAAABdU/N8ZCTxzzoAwTQbRzVhR1JM3pbpqdI2JJgCLcBGAs/s320/Bandeira-do-Brasil.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Eu
sou o tipo de pessoa que gosta de conversar sobre tudo, desde que meu
interlocutor seja uma pessoa aberta a ouvir e a falar, que seja uma pessoa
inteligente, pois acredito que não existe nada mais estimulante, que mais
enriqueça nosso intelecto do que uma boa conversa. Podem me chamar para
conversar sobre história antiga, medieval, contemporânea ou sobre futebol;
podem me chamar para falar sobre política, religião, filosofia ou sobre “a
febre de memes”; podem me chamar para falar e ouvir sobre o que quer que seja,
que eu vou, e um dos tema que mais me fascina, que mais me deixa empolgado,
atualmente, é a tal da política. Adoro conversar com pessoas de ponto de vista antagônico
ao meu, pois assim, acredito eu, tenho mais oportunidade de “conhecer o outro
lado”, de enriquecer meu conhecimento sobre o assunto. Em um diálogo sobre política
eu fico empolgado, querendo falar, expor minha opinião, mas quero, mais ainda,
absorver tudo que a outra pessoa tem a falar. No entanto, toda aquela energia,
quando o diálogo cessa, vai embora, eu fico muito mal. Sinto como se estivesse completamente
exaurido de esperanças, pois, quando meu interlocutor vai embora, que olho ao
redor, vejo a minha cidade, o meu município, o meu país tal como ele está, tal
como ele é, e não mais como deveria, de fato, ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Na semana passada, num desses
estimulantes diálogos (dessa vez via Messenger do facebook) com um aluno me que
fazia perguntas, querendo saber minha opinião sobre política e alguns assuntos
relacionados a ela, ele me fez um questionamento que me fez ficar em silêncio
por alguns minutos, verdadeiramente desconcertado, pois não soube o que
responder de bate-pronto. “Lima, o Brasil tem salvação?”, ele perguntou. Quando
eu li aquela pergunta, eu abaixei a cabeça, fechei os olhos e respirei fundo. Ao
abrir os olhos e, ao reler a pergunta no chat, fiquei em silêncio, sem saber o
que responder ao jovem tão sedento de esperanças. Eu respondi a essa pergunta
como sempre respondo a questões desse tipo, sobre a esperança de nosso país,
sobre o futuro de nossa nação: sou um otimista nato e acredito que, por mais
que estejamos vivendo tempos nebulosos e tenebrosos, mais cedo ou mais tarde a
maré irá virar e uma florzinha de primavera irá surgir e uma nova estação,
dessa vez menos outonal, irá aparecer diante de nossos olhos e alegrar nossos
dias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Falar em política, ao mesmo tempo em
que me empolga, que me excita, me exaure e tira, momentaneamente, a minha esperança.
Falar em política, após o calor de uma discussão, deixa, em mim, uma sensação
de frio provocado pelo temor do que possa vir pela frente, pela sensação de
desesperança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Acho extraordinário o fato de, hoje,
em nosso país, estarmos falando tanto em política, de vermos tantas pessoas de
todas as idades e condições sociais e econômicas se interessando pelo assunto,
e vejo como positivo, em muitos aspectos, esse momento que estamos vivendo. Estamos,
todos nós, brasileiros, aprendendo muito, estamos começando a entender o que é
o tal do “jogo político”, estamos começando a ver que errado não é A nem B, não
é X nem Y, mas todos, pois, no jogo político, todo o nosso sistema está
corrompido, e somente com uma mudança séria, tocada por pessoas sérias e
comprometidas, é que conseguiremos chegar ao cerne da questão e realizar uma
mudança profunda no sistema, e somente assim poderemos voltar a ter esperança
no futuro de nosso país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Acredito que novos tempos hão de
advir, mas acho que só serão realmente sentido mais a frente, e o tempo que
essa mudança vai de fato se iniciar tem em 2018, ano de eleição, um marco. Acredito
que 2018 será um ano chave na história de nossa democracia (não que seja o momento
derradeiro, não que seja a última esperança, mas que é um momento chave, isso
ninguém pode negar), uma vez que, a depender do vencedor, teremos um
direcionamento do que pode vir a acontecer conosco quanto nação no que tange a
questões políticas, econômicas e, principalmente, sociais; é 18 um ano em que
as mudanças de que tanto necessitamos, quanto nação, quanto cidadãos, podem ser
de fato tocadas, podem ser aceleradas, ou podem sofrer retrocessos... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Não acredito que a escolha única
e inequívoca deva ser por optarmos por A ou B, X ou Y, mas que devemos, todos
nós, chegarmos a um alguém que represente não a polarização de um lado ou
outro, mas que possa ser um alguém que possa dialogar com ambos e que possa
pacificar os extremos. Mais do que optarmos por direita ou esquerda, devemos
seguir juntos por um mesmo caminho, por uma mesma via, uma vez que todos somos
brasileiros e devemos querer o mesmo grandioso futuro para nosso país; mais do
que optarmos por ostentar a cor Vermelho-Comunista-PêTê ou Amarelo-Pato-FIESP,
devemos escolher uma multicor que represente, e bem, toda a pluralidade que é o
Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Desde pequenos aprendemos a
admirar a pluralidade de nosso país, o quanto somos diversos e que sabemos
respeitar as nossas diferenças. Então por que, de repente, começamos a ser intolerantes
e a ser inimigos de nós mesmos? Será que, mesmo em nossa pluralidade, nós nunca
respeitamos tanto assim as nossas diferenças e, devido ao clima maniqueísta que
estamos vivendo em nossa política, esse desrespeito, essa intolerância só veio
a acordar, como se estivesse sempre ali, latente, o tempo todo? Então tudo que
admiramos em nós, quanto nação, não passava de balela?!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Vejo o nosso país, ainda, como “o
país do futuro”, mas que, para chegarmos a um futuro realmente digno,
precisamos pensar em nosso presente e, para isso, precisamos, primeiros, em nos
dar as mãos, aprender a nos respeitar a nós mesmos, a parar de polarizar as
discussões e a pensar a <i>história</i> como
um processo em constante construção.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Estamos hoje, sim, com a
autoestima baixa, como que acabados, completa e inteiramente desesperançados,
mas não podemos e não devemos ficar assim por muito tempo. Podemos até ficar de
ressaca por uma manhã ou outra, mas não devemos deixar que essa ressaca se
estenda por muito tempo, pois quanto mais tempo demorarmos, mais vamos demorar
para darmos um jeito no nosso país; quanto mais tempos demorarmos a pensar, a
refletir, a agir, mais vamos demorar a construir o nosso futuro, ficando, se
não o fizermos hoje, presos, para sempre, num presente que flerta com um
passado.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-21140801807008532662017-06-17T11:34:00.000-03:002017-06-17T11:34:10.436-03:00Retalho de vidas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-7wlcvqAF7rk/WUU9qS5QVhI/AAAAAAAABcA/cI2c5y1VlJc-B66sojLMFcR_pq5adM5VQCLcBGAs/s1600/man-disintegrating.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="180" src="https://2.bp.blogspot.com/-7wlcvqAF7rk/WUU9qS5QVhI/AAAAAAAABcA/cI2c5y1VlJc-B66sojLMFcR_pq5adM5VQCLcBGAs/s320/man-disintegrating.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Eu
sou um imenso retalho de memórias, um constructo dos tempos vividos, de dores
sofridas, de lágrimas derramadas, de superações, mas, acima de tudo, de
sorrisos, de batalhas bem lutadas e, por vezes, vencidas. Não tenho qualquer
tipo de vergonha em ser assim, em, no meio de uma conversa qualquer, rememorar
um fato acontecido há cinco minutos, no mês passado, há anos ou há séculos e,
dessa memória, tecer uma longa trama que conduz a um caminho que por vezes foge
do caminho originalmente traçado, mas que vai chegar, cedo ou tarde, a dar em algum
lugar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Sou como uma Penélope, mas que nunca
desfaz o trabalho realizado ao longo dos dias, mas que vai construindo, dia a
dia, noite a noite, um imenso tapete sobre o qual caminhar numa longa e infindável
jornada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Sou um alguém que constantemente olha
para trás para poder olhar para mim mesmo, para saber quem eu sou e porque
estou ali, naquele momento, naquela condição, para só então olhar para frente,
para um pontinho distante, que nem ao menos sei localizar ao certo, nem sei
como chegar nem o que tem lá que me atrai tanto, mas que sei que cedo ou tarde,
chegarei lá, tendo sob meus pés o chão coberto pelo tapete de memórias que me
trouxera até ali.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Sou assim, bastante sentimental, por
mais que esconda tais sentimentos por baixo de uma carapaça grossa que parece,
num primeiro momento, intransponível, mas que, na verdade, é tão tênue quanto
um véu feito de nuvens. Sou assim, protegido e vulnerável, tentando esconder a nudez
da minha alma por trás de um véu translúcido que não esconde nada de ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Sou um alguém que ama o abstrato e que
por vezes é indiferente ao concreto, que topa numa pedra por não tê-la visto
por estar com os olhos voltados para o céu, observando sua imensidão, seu
vazio, que mira ao longe e se descuida do que está ao alcance de um suspiro,
mas sou, também, um alguém que observa o pequeno, aquilo que ninguém mais vê,
que olha uma flor, que percebe o bailar das árvores conduzidas numa suave dança
com o vento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Sou um alguém assim, multifacetado,
difícil de entender, sim, mas ao mesmo tempo extremamente simples de compreender
através de meus atos, como uma biblioteca que tem um milhão de exemplares de
livros rarocomuns, cada um explicando uma faceta de mim, sendo eu um imenso
retalho de vidas vividas ao longo das páginas de cada um daqueles livros ali
expostos, estando todos ao alcance das mãos de qualquer um que se aproximar
para pegar um livro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Sou assim: simples-complexo; um
retalho de vidas, de momentos, de vivências, de tempos passados, de presentes sendo
vividos e de futuros sonhados; um alguém que sonha com os olhos abertos, que
contempla o nada e se perde em devaneios; um alguém que fecha os olhos para
poder enxergar melhor; um alguém que é, em sua essência, um solitário, mas que
só sabe viver em conjunto, por e para o grupo; um alguém que é como as ondas do
mar, em constante movimento, num eterno vai-e-vem, que não sabe se é um nada ou
se é um tudo; um alguém que é como um prédio que está em constante construção,
subindo andar a andar, pondo tijolo a tijolo de minha própria existência; um
alguém que é como uma montanha, que foi formada a partir de um choque de duas
placas tectônicas na profundeza das terras e que vive eternamente a subir,
subir e subir até que, por fim, um dia consiga tocar as nuvens com as próprias
mãos.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-35865104211740089732017-04-25T21:37:00.000-03:002017-04-25T21:37:02.870-03:00Todo mundo tem um pouco da Hannah e um muito dos porquês<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-2kWnIfnDaMo/WP_qpMiERNI/AAAAAAAABbU/ZqTEMfgC-LE2apV3tBLpSu5VvUUxizydwCLcB/s1600/13%2Bporqu%25C3%25AAs.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-2kWnIfnDaMo/WP_qpMiERNI/AAAAAAAABbU/ZqTEMfgC-LE2apV3tBLpSu5VvUUxizydwCLcB/s320/13%2Bporqu%25C3%25AAs.jpg" width="228" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
No que se refere a filme e seriados, eu sou aquele
a que se chama popularmente de herege. Não acompanho lançamentos, não leio
críticas dos especialistas, não ligo para aquilo que está sendo comentado,
desisto no meio de uma temporada de uma série que começo a acompanhar, enfim,
sou uma pessoa não muito legal para se conversar sobre o assunto. Mas não sei
por que cargas d’água resolvi começar a assistir <i>os treze porquês</i>. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Tinha
acabado de assistir <i>Orphan Black </i>(não
me pergunte por que assisti a essa série. Nem eu mesmo sei. Tentei abandoná-la
umas vinte vezes, mas a curiosidade era sempre maior e eu continuava a assistir
um capítulo após o outro nas minhas tardes de sábado) e comecei a zapear pelo
NetFlix em busca de algo que me chamasse a atenção, algo que fosse diferente e
que não fosse tão badalado (curto meio esse negócio de assistir coisas que
ninguém assiste). Coloquei umas cinco diferentes séries, com diferentes
temáticas, na minha lista, e nesse bolo joguei também <i>Thirteen Reasons Why</i>, logo que a plataforma de streaming a lançou. Na
época, ninguém comentava e eu não fazia nem ideia do que se tratava. A sinopse
me chamou a atenção e eu resolvi fazer um test-drive. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Assisti
ao primeiro episódio e confesso não ter curtido muito. A ideia era
interessante, mas nada que me fizesse, por si só, num primeiro momento, me
fazer ficar uma tarde de sábado assistindo vários episódios na sequência. Não gostei
do cenário que remete ao estereótipo norte-americano e da pegada meio <i>teen</i> (preconceitos). Deixei a série de
lado e fui experimentar outras, vendo se alguma das que estavam na minha lista
me agradava mais. Nesse meio tempo, entre o meu primeiro contato com a série e
a minha indecisão sobre que série acompanhar, houve uma verdadeira enxurrada de
comentários em tudo quanto é site e redes sociais sobre “aquela série que fala
de bullying e suicídio”. Minha timeline do facebook estava simplesmente tomada
por artigos diversos, tanto elogiosos quanto de pessoas desaconselhando a
série, e por muitos, muitos e muitos alunos comentando. A primeira coisa que me
veio à mente quando vi tanta gente acompanhando e comentando foi a de
abandoná-la imediatamente e retirá-la da minha lista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Passados
alguns dias, e eu não tinha escolhido ainda que série assistir/ acompanhar,
resolvi, como quem não quer nada, dar uma oportunidade aos <i>13 porquês</i>, para ver havia ali ao menos um para que eu a mantivesse
na minha lista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Completamente
armado, repleto de preconceitos, assisti ao segundo episódio e a primeira
impressão foi levemente amenizada, mas nada que me fizesse ter aquela baita
vontade de assistir vários episódios um após o outro. Fato é que aquele segundo
episódio me fez ao menos prestar um pouco de atenção aos personagens, aos tipos
humanos e aquele mundo de escola.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Como
quem não quer nada, mas agora já querendo alguma coisa, comecei (agora sim!) e
acompanhar a trama e aos dramas dos personagens quando assisti ao terceiro
capítulo, e dali em diante comecei a assistir um a um os episódios, vendo-os
devagar, em doses homeopáticas, tentando compreender o psicológico dos
personagens, tentando entender cada um daqueles porquês.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Assisti
sem pressa, acompanhando o ritmo daquele que escutava paulatinamente as fitas
deixadas por Hannah, tentando entender o que se passava não só na alma da
atormentada suicida, mas também na dele e na de cada um dos rapazes e moças que
apareciam nos capítulos daquela história. Fui, aos poucos, me envolvendo com a
trama, sem o afã de uns ou o olhar demasiado crítico de outros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Quando
terminei o último capítulo, fiquei alguns minutos em silêncio, digerindo tudo
aquilo que tinha assistido nas últimas semanas, revendo como cada personagem se
encaixava naquela simples e complexa trama, procurando entender o tormento que
afligia cada um.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O seriado,
no geral, não é para ser endeusado e alçado ao posto de “melhor série de todos
os tempos”, como alguns jovens estão fazendo, mas também não deve ser demonizado
e desaconselhado, como alguns “críticos especializados” e “psicólogos” se
lançaram numa cruzada para “livrar os jovens do mal – amém”. Mas esses
extremismos são provocados, na minha opinião, pela leitura errada que está
sendo feita da série. Estão se atendo só e exclusivamente a duas questões que
estão mais em evidência, o bullying e o suicídio, mas esquecendo de algo
primordial que permeia toda a série: a questão humana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i>Os treze porquês</i> me chamou a atenção por
ser uma série extremamente humana, que trata de questões a que pouco damos a
devida atenção com rara sensibilidade, sem deificar nem demonizar um lado nem
outro, sem criar heróis nem bandidos, retratando com realidade mais do que o
ambiente escolar, mas muitas das nossas relações interpessoais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
A série
é um grito humano de dor, de solidão, de incompreensão, da maneira como somos plurais
na maneira como sentimos cada coisa que nos é feita, como somos, por vezes, cruéis
e inconsequentes em nossos atos, como somos covardes e frágeis, por mais que
tentemos nos esconder sob a proteção de uma aparentemente intransponível
armadura/ carapaça. Quantos de nós somos Hannah? Quantos de nós somos, sem nem
ao menos saber e sem qualquer intenção de sê-lo, um dos porquês?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
A série
mostra isso ao longo dos 13 episódios: como somos sensíveis como Hannah; como
somos excluídos como Tyler; como somos “aluados” e não sabemos ler sorrisos como
Clay; como não vemos os dramas o que há por trás do sorriso de Justin, sendo
insensíveis à sua dor; como não conseguimos nos aceitar como Courtney; como
somos bem-intencionados, apesar de nossa arrogância, como Ryan; como não
conseguimos ver pessoas como Skye; como somos insensíveis e não percebemos os
sinais que os outros não dão, como fez Sr. Porter; ou como somos cada um dos
demais personagens da série.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
A
série <i>Os treze porquês</i> não deve, de
forma alguma, ser desaconselhada, pois retrata muito bem muitas de nossas
relações humanas, e o faz com notável sensibilidade, mas precisa ser melhor
discutida, para que se abra o leque de leituras e interpretações com o intuito
de que não se foque só e unicamente em questões como suicídio, mesmo porque,
para que uma pessoa chegue a tal extremo é preciso se entender um pouco de sua
psicologia, suas motivações, suas dores, sua sensibilidade e suas forças, mesmo
porque o seriado não fala de morte, mas sim de vidas.<o:p></o:p></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-86055625034791585152017-03-21T14:12:00.004-03:002017-03-21T14:12:53.080-03:00Salvo por São Visa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-a1eHDkz5mRc/WNFe7ObguNI/AAAAAAAABag/uSBuDqTDyw8BVj2H5Tk44vEIYSfVT5eAACLcB/s1600/cart%25C3%25A3o-de-credito-visa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="173" src="https://3.bp.blogspot.com/-a1eHDkz5mRc/WNFe7ObguNI/AAAAAAAABag/uSBuDqTDyw8BVj2H5Tk44vEIYSfVT5eAACLcB/s320/cart%25C3%25A3o-de-credito-visa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ontem
eu recebi um sinal vindo do céu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Estava
eu andando pelo shopping quando resolvi ir à livraria (uma livraria que tinha
de tudo: games, revistas, material de papelaria, celulares... tinha até livros!).
De repente paro em frente à mesa de celulares e comecei a olhar um, olhar
outro, analisar um terceiro, pensar na possibilidade de adquirir um quarto,
etc. Olhei para o meu celular, que já está cansado após cerca de três anos de
uso e comecei a pensar em comprar um novo. Mas dai veio a dúvida "estou
realmente precisando e posso comprar um celular novo?". Fui almoçar
remoendo a dúvida cruel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Após o
almoço, voltei à livraria e continuei pensando no celular, ainda na dúvida
sobre qual comprar, se REALMENTE precisava comprar e SE PODIA comprar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mesmo
em dúvida sobre a necessidade da aquisição de um celular novo, resolvi me dar
ao luxo. Escolhi um modelo deveras interessante, com mil e um recursos (tinha
tantos recursos que até fazia e recebia ligações – coisa rara nos celulares de
hoje em dia!) e fui ao caixa. Na fila do caixa, ainda estava com dúvida sobre a
real necessidade de comprar o celular (o meu Microsoft 535, afinal de contas,
ainda não está quebrando o galho?). Quando o caixa me chamou, foi com um peso no
coração e na carteira que entreguei ao atendente o pedido de compra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na
minha cabeça, enquanto ele registrava o pedido, eu rezava, mas sem saber pra
nem, se para a compra passar ou não. Quando ele inseriu o cartão na maquineta,
eu quase choro, pedindo mais alguns meses para pensar. Enquanto digitava a
senha, era com um enorme pesar que eu pressionava as teclas. Quando o caixa
olhou pra mim e disse que a compra não tinha sido autorizada, pude, enfim,
soltar o ar que estava preso nos pulmões. Expirei aliviado, entendendo e
sentindo que o céu tinha me enviado uma mensagem através de seu anjo-demônio
São Visa, dizendo para eu não comprar o dito celular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Enquanto
guardava o cartão de meu Santo Salvador na carteira, o cartão do Demônio da
Tentação, São Master, que em outros tempos fora um Anjo que acabou caindo nos
pecados do capital, começou a me tentar. Mas fui mais forte, não caindo na
tentação oferecido pelo Demônio São Master, ouvindo o sábio conselho de meu
Santo Protetor.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "inherit","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sai da
loja sem o celular novo, mas feliz por não ter comprado algo sem necessidade,
afinal de contas, o meu 535 ainda funciona bem...<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-88597678473998716692017-01-01T15:45:00.002-03:002017-01-01T15:45:43.902-03:00O nascimento do jardim-floresta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-NZFpOSDa2ac/WGlOG7KIBEI/AAAAAAAABaA/wHxFg5W-UMEyz7HuE5ST-Sk3-PyEoCJpQCLcB/s1600/plants.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-NZFpOSDa2ac/WGlOG7KIBEI/AAAAAAAABaA/wHxFg5W-UMEyz7HuE5ST-Sk3-PyEoCJpQCLcB/s320/plants.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Eles vinham caminhando lentamente, como que
contando os passos e não se olhavam, mas tinham plena consciência um da
presença do outro, comunicando-se apenas pelo suave toque de suas mãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O sol
já havia iniciado sua trajetória descendente quando pararam. Ao redor não havia
nada vivo e tudo era completo silêncio, não se ouvindo nenhum som trazido pelo
vento. Ele então se virou para ela e segurou suas duas mãos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
-
É aqui. Eu sinto que é aqui! – disse ele, com os olhos repletos de ternura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ela
também havia sentido a mesma certeza que ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Aproximaram-se
um do outro e ele depositou-lhe um suave beijo nos lábios e lhe entregou e
diminuto e precioso bem que trazia consigo. Ela recebeu a pequenina semente,
passou a ela o beijo que ele havia lhe dado, agachou-se lentamente e com as
mãos cavou um pequeno buraco onde a guardou. Cobriu com lençóis de terra a
semente e a regou com lágrimas de alegria e ternura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Durante
curtos-longos meses, eles vieram todas as manhãs, junto com os primeiros raios
de sol, ao local onde repousava o seu tesouro. Não chovia, não havia água para
regar o solo, mas ela sempre chorava de ternura e suas preciosas lágrimas
umedeciam o chão e transmitiam toda a força de que a pequenina semente necessitava
para crescer. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Eles
tinham pressa para vê-la despontar naquela terra, queriam tocá-la com
delicadeza, sentir o toque de seda de sua folha-pele, um pequenino broto, mas
sabiam que ela tinha seu tempo e abriria seus olhos e despontaria para o mundo
no seu devido tempo, nem mais cedo nem mais tarde um único dia, que no dia que abriria
os olhos e os braços, o som de sua voz, de seu riso, anunciaria a sua chegada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Após
tão longa espera, quando eles chegavam de mãos dadas, que viram ao longe algo
diferente na terra, algo pequenino-gigante, apertaram a mão um do outro e
correram em direção àquela por quem tanto ansiavam a chegada. A pequenina
planta, que mesmo com sua fragilidade havia rompido com imensa força a terra
que a cobria, sorriu para aqueles que a contemplavam, e seu sorriso anunciava a
primavera que se iniciava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Aquela
pequenina planta cresceu rápido e logo proporcionou a todos uma gostosa sombra
onde todos podiam se abrigar. Não cresceu muito em altura, mas em generosidade
e ao seu redor foram depositadas outras sementes que foram igualmente regadas
com ternura, mas agora protegidas pela sombra daquela primeira árvore que
crescia dia a dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O silêncio
que antes havia era quebrado todas as manhãs por uma revoada de pássaros que
vinha se abrigar e voar em torno das árvores daquela floresta-jardim que se
multiplicava aos poucos sob a proteção e amor dos dois jardineiros, que aos
poucos foi deixando que o jardim crescesse por si só.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O jardim
cresceu, e muito, sobre a sombra de frondosas árvores, que acolheram seus
jardineiros e a forma como a primeira árvore encontrou para agradecer-lhes foi
dando-lhes o primeiro fruto para que eles cuidassem e para que ele quando
plantada a sua semente e crescesse, pudesse cuidar deles.<o:p></o:p></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-28636234929508839622016-12-31T16:47:00.000-03:002016-12-31T16:47:04.358-03:00Balanço anual de leitura - 2016<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-BiLX1XmJCtU/WGgLBja0c1I/AAAAAAAABZw/L3CPKLLB5zwWJaS_G-ZtuYcKyB_Md2T8QCLcB/s1600/artigos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-BiLX1XmJCtU/WGgLBja0c1I/AAAAAAAABZw/L3CPKLLB5zwWJaS_G-ZtuYcKyB_Md2T8QCLcB/s320/artigos.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Todo início de ano, como milhões de pessoas fazem
ao redor do mundo, eu também traço planos e metas para serem cumpridas ao longo
dos 365 dias que estão por vir, no entanto, diferente da maioria das pessoas,
eu traço planos e metas de leitura. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Tudo
bem que, como todo mundo, eu traço planos mirabolantes e metas impossíveis de
serem alcançadas, como algo do tipo <i>Ler
200 livros</i> ou <i>Iniciar a leitura de
Ulysses</i>, mas pelo menos eu corro atrás dos 200 livros, embora sabendo que
nunca vou alcançar tal marca, já quanto a <i>Ulysses</i>...
Tenho o livro há mais de dez anos e só o abri uma vez para ver como era ao
menos seu início, e vendo que não estou preparado para empreender tal leitura,
o fechei imediatamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Foi,
no fim das contas, 2016, apesar de ser um ano trevoso em muitos aspectos,
imensamente feliz no que tange à minhas leituras. Não consegui bater a meta dos
200 livros, mas li 47 (e nesse ano, pela primeira vez, contei a quantidade de
páginas e cheguei a marca de quase 11.000!), e nunca um ano foi tão bom e me
ofereceu momentos de êxtase literário tão intensos, fazendo com que eu, como
leitor, me perguntasse onde foi e em que mundo eu vivi para não ter lido aquele
livro ainda! Livros que me deixaram angustiados, que me tocaram fundo na alma,
que me abriram os olhos, aguçaram a minha sensibilidade, que me fizeram rever
certos conceitos, que me ensinaram muito sobre a vida, o universo e tudo o
mais...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Se
em anos anteriores foi difícil listar os livros destaques entre as leituras
empreendidas ao longo do ano, nesse ano de 2016 foi difícil listar só alguns,
pois foram tantos que eu, hoje, dia 31 de dezembro, olho para trás, para todos
os livros lidos desde o início do ano, e respiro aliviado dizendo mentalmente
um “que ano bom...”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Em
2016, como já é tradição minha, iniciei o ano lendo uma obra referência na
literatura mundial, de relevância para a tradição de seu país. Meu primeiro
livro foi <i>O Mestre e Margarida</i>, do
russo Bulgákov e o último, <i>O Idiota</i>,
do também russo Dostoievski. Entre esses dois, li muitos clássicos das mais
diversas tradições literárias. Li <i>A Letra
Escarlate</i>, de Hawthorne, <i>Gargântua</i>,
de Rabelais, <i>Eugênio Oneguin</i>, de
Pushkin, <i>O Avarento</i>, de Molière, <i>Memórias do Subsolo</i> e <i>Gente Pobre</i>, de Dostoievski, <i>Águas Primavera</i>, de Turgueniev, <i>Cândido</i>, de Voltaire, <i>Esperando Godot</i>, de Beckett, <i>Lavoura Arcaica</i>, de Raduan Nassar, entre
outros tantos clássicos da literatura mundial. Isso fora as adaptações em
quadrinho de grandes obras que li. Ou seja, no que se refere à leitura de
clássicos, meu ano foi magnífico. Dos quadrinhos baseados em grandes clássicos
da literatura, destaco a leitura dos brasileiros <i>Grande Sertão: Veredas</i> e <i>Vidas
Secas</i>, obras magníficas que foram primorosamente adaptadas para a linguagem
dos quadrinhos, resguardando a sensibilidade das obras originais sem contudo
ter um toque de originalidade. Dos baseados em obras de literatura estrangeira,
destaco <i>Oliver Twist</i>, que me deixou
tão fascinado que resolvi ler a obra na íntegra no início de 2017.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Dos
contemporâneos e do século XX, tive grandíssimas surpresas, descobrindo obras
estupendas. Não saberia dizer qual livro
me fascinou mais: se <i>Tirza</i>, de
Grunberg, ou <i>Stoner</i>, de John
Williams; qual me encantou mais: se <i>A
Última Estação</i>, de Parini, <i>O Olho de
Vidro do meu avô</i>, de Bartolomeu Campos de Queirós, ou se <i>Extraordinário</i>, de R. J. Palacio (este
último capaz de nos fazer rir em chorar em questão de parágrafos); qual o mais
sensível no trato a temas duros: se <i>Uma
História de Solidão</i>, de John Boyne, ou <i>A
Vida em Tons de Cinza</i>, de Sepetys; qual, dentre os contemporâneos já
consagrados, qual o mais forte, intenso e magnífico: se <i>Desonra</i>, de Coetzee (autor laureado, inclusive, do Nobel de
Literatura), <i>Hibisco Roxo</i>, de
Chimamanda Ngozi Adichie (nigeriana que vem se destacado no cenário literário e
como uma das mais atuantes feministas da atualidade), ou <i>A Balada de Adam Henry</i>, de Ian McEwan (um dos mais importantes
autores britânicos contemporâneos); ou qual quadrinho mais me fascinou: se <i>Maus, </i>de Spiegelman, ou <i>Três Sombras</i>, de Pedrosa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Alguns
livros que li, é bem verdade, me decepcionaram um pouco, como <i>O Senhor das Moscas</i>, de Golding, e não
gostei tanto de <i>O grande Gatsby</i>, de
Fitzgerald, mas nada que chegasse a macular o meu magnífico ano de leituras.<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Em
2017, que é daqui a pouco, espero ter um ano tão repleto de descobertas
literárias quanto foi o meu 2016. <o:p></o:p></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-44406508257745302542016-11-26T21:51:00.000-03:002016-11-30T21:56:46.485-03:00Fim de um ciclo e início de outro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-tizfRHEpYhk/WDotZvcgFeI/AAAAAAAABZQ/Q54PRoTDGdcASxr7FCEuYd4MQaIZPYAGACLcB/s1600/15218701_1596619717313364_302968041_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="160" src="https://1.bp.blogspot.com/-tizfRHEpYhk/WDotZvcgFeI/AAAAAAAABZQ/Q54PRoTDGdcASxr7FCEuYd4MQaIZPYAGACLcB/s320/15218701_1596619717313364_302968041_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Nos
últimos onze anos e meio, entre 13 de abril de 2005 e hoje, 26 de novembro de
2016 (período que fora interrompido apenas entre 19 de outubro de 2015 a 02 de
junho deste ano), eu vivi intensamente uma profissão, tomando-a não como minha
“profissão”, como meu “ganha pão”, mas assumindo-a como minha verdadeira
função. Fui não só um profissional, mas um homem, que sempre disse abertamente
que amava o que fazia e fazia o que amava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fiz tudo o que podia pelas livrarias em
que trabalhei (Siciliano, Saraiva e Leitura), ajudando no crescimento de cada
uma dessas empresas. Mais do que fidelizar clientes, enquanto atuei na área,
cativei leitores, construindo uma relação de respeito, confiança e admiração
por cada uma daquelas pessoas que adentrava pelo mágico portal da livraria. Cada
palavra trocada com leitores, entre as mesas, em frente às estantes, era uma
palavra enriquecedora, era única e podia até não ser necessariamente sobre
literatura (mas de uma forma ou de outra, em algum momento, aquela conversa
iria acabar num livro). Trocar impressões e sensações que a leitura de tal
livro nos causou era o ponto alto de cada conversa, o momento mais prazeroso de
cada dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fiz inúmeros amigos que carregarei até o
fim de minha vida. Amizades intensas, verdadeiras, eternas, tanto aqueles com quem
tive a imensa honra e grande prazer de trabalhar, quanto aqueles com quem me perdia
numa prazerosa conversa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fiz tudo isso e muito mais, e se eu
tivesse que viver a minha vida novamente, faria tudo exatamente igual. No
entanto, a vida é repleta de ciclos, de momentos, de desafios, e o meu ciclo na
livraria, trabalhando, seguindo a rotina, já vinha chegando ao fim. Não foi um
fim súbito, nem foi algo como um amor que se apaga, uma paixão que esmorece,
pois carregarei esse amor e essa paixão por minha profissão e pelos ambientes
em que trabalhei para o resto da vida, mas sim algo natural, algo que chegou
sem estardalhaço, como uma sementinha que fora plantada e regada lentamente,
gota a gota.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Desde 2014 eu me descobri professor, e minha
paixão por literatura se expandiu, vendo que podia atuar em outra área de forma
conjunta à livraria. Dei aula naquele ano, intensifiquei as palestras
ministradas nas escolas e em cada oportunidade que tinha para falar para várias
pessoas no ambiente da escola eu me encontrava mais e mais; em cada vez que
punha os pés numa escola me sentia mais e mais em casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Em 2015, ministrei o primeiro curso de
literatura, experiência esta que me serviu para ver e sentir que ali, na frente
de uma sala de aula, eu me sentia bem, à vontade, perfeitamente integrado. Em
2016, um novo módulo do curso foi oferecido e percebi que o meu ciclo em
livrarias estava chegando ao fim, que migrar para o ambiente escolar era só uma
questão de tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Em meados deste ano voltei a trabalhar
numa outra livraria, recebi uma oportunidade na Leitura e atendi ao chamado
após ter ficado um tempo ausente no mercado de trabalho (logo após a demissão
da Saraiva). Voltei a trabalhar como sempre trabalhei nessa nova empresa: com
imensa paixão, dando o meu melhor, ajudando no crescimento da livraria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Paralelo ao trabalho na Leitura, as
palestras ministradas em escolas se intensificaram ainda mais (acontecendo toda
semana, toda quarta-feira para ser mais preciso, e por vezes até duas vezes num
mesmo dia!), e em cada escola que eu visitava, eu sentia que aquele ambiente me
chamava, e cada vez que eu saía de uma escola, olhava para trás para dizer um
“me espere só mais um pouquinho”. Durante essas vivências nas escolas, passei a
ver pontos positivos e onde podia atuar para buscar melhorias não só para a
instituição, mas principalmente para os alunos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A semente que fora plantada passou a ser
regada abundantemente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Junto com amigos, fomentamos e criamos o
projeto Semear Livros, e comecei a me sentir mais e mais atraído pela ideia de
ficar, de uma vez por todas, numa daquelas escolas. Comecei a sondar amigos a
fim de conseguir uma vaga para trabalhar como professor ou em outra função,
desde que estivesse intrinsecamente relacionada à educação, desde que eu passasse
a habitar aquele ambiente mágico chamado escola.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Eis que numa conversa, na última
quarta-feira, com meu amigo Josiberto Rego, quando falamos justamente sobre o
meu desejo de ir para escola, ele me fez propostas. Disse que tinha vaga para
professor, sim, mas que tinha em mente “algo mais legal e importante”, uma
função na qual eu poderia fazer algo maior em prol dos alunos, desenvolver meus
projetos, ser e atuar como idealista que sou. Pediu apenas um ou dois dias para
organizar umas coisas, para só então ele fazer a “proposta formal”. Na última
quinta, dia 24, quando chegava em casa, por volta das 22h, meu celular toca.
Era Josiberto. Mal eu disse “alô”, ele já soltou de supetão, já fez a proposta
“irrecusável”: trabalhar na diretoria pedagógica do Colégio CDF. Nem no meu momento de maior
insanidade havia pensado em algo daquele tamanho, daquela importância, em
enfrentar um desafio de tal tamanho!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Tivemos uma conversa longa e séria, em
que ele me explicou os processos, as ideias que ele tem para a escola, o que
espera de mim, etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Como disse, a proposta era irrecusável,
e por diversos motivos. Era algo do tipo “pegar ou largar”, e eu a peguei, já
mergulhando de corpo e alma nela, assumindo minha função antes mesmo de ocupar
o cargo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não foi fácil viver os últimos dias.
Quase não dormi, tamanha a ansiedade que sentia pulsar na minha cabeça, no meu
peito e em todo o meu corpo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não foi fácil anunciar a minha decisão
de sair da livraria ao gerente, às coordenadoras, não foi fácil me despedir das
pessoas com quem trabalhei nos últimos meses, não foi fácil olhar para cada
canto daquela livraria uma última vez, dizendo “voltarei aqui, sim, mas em
outra posição, não mais como vendedor, mas como cliente, pois estou de mudança,
minha casa será outra daqui a pouco”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fiz tudo que estava ao meu alcance, sim,
pelas livrarias onde trabalhei, volto a dizer. Não fiz, é bem verdade, tudo o
que gostaria e poderia ter feito e tenho orgulho do que fiz, mas lamento
imensamente pelo que ainda poderia ter feito. Mas mesmo com o não feito, sinto
imenso orgulho pelo que alcancei nos últimos onze anos e meio, e agora chegou o
momento de fazer mais em outra área.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fiz muito pelas empresas, pelas
livrarias e principalmente pelos leitores, e agora chegou o momento de fazer
pela escola, pela educação e principalmente pelos alunos, pelos indivíduos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Chegou o momento de encarar novos
desafios, que não serão nada fáceis, mas que me sinto, mais do que nunca,
preparado. Lutarei batalha a batalha, dando sempre o meu melhor, atuando não só
com profissionalismo, mas com extrema paixão.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-124055147393190372016-10-15T19:52:00.003-03:002016-10-15T19:53:06.140-03:00Todo professor é louco!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-W985fynV57Q/WAKy5n_SpgI/AAAAAAAABYo/cNTxmLa-7DYU3kFdPZOv0uTD_uukAbNTgCLcB/s1600/mensagens-dia-do-professor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-W985fynV57Q/WAKy5n_SpgI/AAAAAAAABYo/cNTxmLa-7DYU3kFdPZOv0uTD_uukAbNTgCLcB/s320/mensagens-dia-do-professor.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Todo
professor é meio maluco. <i>Meio maluco</i> não, <i>completamente maluco</i>, um ser
inteiramente insano, um alguém com parafusos soltos e em falta mesmo. Mas não
se trata de uma loucura à toa, mas sim consciente, de um alguém que ouve mais
do que outras pessoas, e prova disso é o fato dele ter ouvido um chamado, uma
voz que vinha lá de longe, e que ele, mesmo sem distinguir o que dizia,
entendeu os sentidos do som e, louco como é, agarrou a profissão e mergulhou
nela de corpo e alma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> A loucura de <i>ser professor</i> é uma coisa que deveria ser estudada seriamente por
Freud ou por algum neurocientista, filósofo, psicólogo, sociólogo ou por algum
estudioso de uma outra área, pois não existe nada que explique o fato desse maluco
querer se dar tanto a uma profissão tão estigmatizada, que tem que conviver
com, muitas vezes, tão precária estrutura, tão pouco valorizada pelos poderes
públicos, por parte da sociedade e até por (pasmem) gestores da educação. E mesmo
sabendo de tudo que lhe espera, o insano, ainda assim, sorri, e vai através de
sua vocação, o que só se explicaria através de uma palavra: sádico. Isso mesmo,
sádico!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Todo professor-maluco é meio sádico,
pois ele parece encontrar um imenso prazer naquele sofrimento que aquela
profissão lhe inflige. Acordar cedo, quando todos em sua casa estão dormindo,
para estudar mais um pouco para ministrar uma boa aula; passar finais de semana
preparando aula, quando todo mundo saiu para passear, para curtir uma praia ou
um cinema; passar noites em claro elaborando prova, corrigindo prova,
organizando caderneta... Só sendo um completo sádico em encontrar prazer nisso
tudo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Mas sabe por que o professor faz
isso tudo? Porque ele ama o que faz e faz o que ama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Por mais que uma parcela da
sociedade diga que ele não vai ser reconhecido, por mais que alguns gestores
não façam o menor esforço em valorizar seu trabalho, por mais que o seu salário
fique aquém de seu esforço e dedicação, por mais que tenha que sacrificar suas
noites de sono, finais de semana e feriados para preparar aula, prova e
organizar cadernetas e outras coisas mais inerentes à sua função, ele vai fazer
tudo isso com um sorriso no rosto. Sua expressão pode até estar cansada, seu
corpo poder até estar exigindo descanso, mas sua alma está leve, seu olhar
demonstra determinação e amor por aquilo que faz e seu sorriso estampa a imensa
satisfação que tem em poder dizer que é professor, e ele faz isso com imenso
orgulho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> O professor faz isso tudo não necessariamente
por que ele escolheu tal profissão, mas por ter sido escolhido por ela, e ele,
honrado, atendeu ao chamamento, e ele assim o fez motivado por um imenso amor,
por ser um incorrigível idealista, por acreditar, ainda que tudo diga o
contrário, que a educação é a chave de tudo, e ele quer ser um instrumento
naquele trabalho que é mais do que formar um estudante, que é mais do que
passar conteúdo, mas formar o indivíduo, formar o humano.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> O mundo ai fora pode estar louco
(vemos loucuras sendo cometidas a torto e a direito a todo instante – loucuras que
dão ibope, que, tenho a impressão, são orgulhosamente ostentadas), mas para nos
proteger dessa loucura temos super-heróis que, munidos de suas loucuras,
abraçaram uma causa e que fazem o possível e o impossível para, de alguma
forma, ajudar na remediação, de salvamento do mundo, e para isso eles mergulham
fundo e iniciam esse processo lá na base, ainda na infância, ensinando os
pequeninos a usar uma arma mais poderosa, não de destruição em massa, mas de
salvação individual (quiçá em massa, vá...) chamada Educação.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-74233127580291866612016-10-12T07:23:00.000-03:002016-10-12T07:23:03.699-03:00Voltar a ser menino<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-AcCzoXCcIuI/V_4O3TYFpmI/AAAAAAAABYQ/HPLtbyo8iIIIhEiEl2C6q9zKx2CRmColQCLcB/s1600/beneficios-brincar-saude.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" src="https://2.bp.blogspot.com/-AcCzoXCcIuI/V_4O3TYFpmI/AAAAAAAABYQ/HPLtbyo8iIIIhEiEl2C6q9zKx2CRmColQCLcB/s320/beneficios-brincar-saude.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu queria voltar a ser menino, nem que fosse por cinco
minutos em minha vida. Queria simplesmente <i>ser
menino</i>, esquecer das coisas facilmente como só os meninos esquecem e manter
vivas, na memória, outras. Queria não ter preocupação alguma, responsabilidade
com nada, viver só e unicamente para mim, para aquele momento, e só. Queria
poder ver a chuva caindo lá fora e não a temer, não me preocupar com ela;
simplesmente poder abrir a porta de casa e sair, tomar um bom, revigorante e
sempre rejuvenescedor banho de chuva. Eu queria voltar a ser menino para isso
tudo, mas também para muito mais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Queria poder ser livre, rir com
um nada, brincar com um tudo, queria simplesmente viver. Queria ficar por uns
instantes com a cabeça tão longe, pensando em algo que está tão perto. Queria
poder me sentir como um pássaro no alto de uma árvore, colher uma fruta madura
direto do pé e sentir o seu sabor doce como a vida. Queria poder brincar com um
cachorro, correr atrás dele, depois deixar que ele me perseguisse numa corrida
louca e desenfreada pela rua. Queria poder soltar pipa, jogar biloca (também
conhecida como “bolinha de gude”), chupar confeito, mascar chiclete e me
deliciar com outras tantas guloseimas. Queria poder ficar descalço, jogar
futebol na rua, arrebentar-me inteiro numa queda de bicicleta e, quando ouvir
minha mãe chamar, gritar um “já vou”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu
queria voltar a ser menino simplesmente para brincar, para correr, para
esconder-me e para achar-me, para ser o que eu era, para ser o que sempre fui e
que nunca deixarei de ser – simplesmente <i>menino</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu queria
voltar a ser menino para brincar na rua, para ter de volta, nem que fosse por
um curto instante, medo do escuro à noite, medo dos trovões em noite de
tempestade. Queria poder acordar de madrugada nessas noites escuras, frias e
chuvosas e ir bater à porta do quarto de meus pais e pedir para dormir naquela
cama enorme, entre meu pai e minha mãe, debaixo daquele cobertor, que estava
sempre quentinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu queria
voltar a ser menino para, ao fechar os olhos, não pensar em nada, e ter,
simplesmente, uma boa e longa noite de um sono reparador, que me deixaria
pronto para o dia seguinte repleto de coisas novas, de novas, velhas e
conhecidas brincadeiras.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu não
quero, não posso, nunca em minha vida, deixar de ser menino, porque deixar de
ser menino é esquecer todos os maravilhosos momentos que vivi, que não voltarão
nunca mais, que vivem eternamente em minha memória e só lá eu posso, sempre,
voltar a ser o que sempre fui: um eterno menino.<o:p></o:p></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-28540096344184586442016-08-29T09:12:00.005-03:002016-08-29T12:54:13.121-03:00Semear livros, cultivar leitores <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-NL6MHOwu6GA/V8QkhdcCbFI/AAAAAAAABSg/lyAsYzW_RlAhtWHE8ouQho6eMg3qfHuYwCEw/s1600/semearlivros.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-NL6MHOwu6GA/V8QkhdcCbFI/AAAAAAAABSg/lyAsYzW_RlAhtWHE8ouQho6eMg3qfHuYwCEw/s320/semearlivros.JPG" width="239" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">A literatura é uma das mais
democráticas expressões estéticas e artísticas, podendo ser apreciada, sem
qualquer espécie de distinção, por leitores de todas as idades, nacionalidades,
sexo, credo, classe social, cor, ideologia ou qualquer outro caractere
distintivo. É tão plural e fantástica que existem livros para cada momento de
nossas vidas, para cada estado de espírito que estamos atravessando. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">Se estamos tristes, há livros capazes de
nos fazer sorrir, de levantar o nosso astral; se estamos felizes, há obras
capazes de expandir e maximizar ainda mais a nossa felicidade; se estamos
cansados, há aquele livro que é capaz de nos aliviar o peso opressivo que recai
sobre nossos ombros; se estamos passando por um momento deveras difícil, sem
saber nosso lugar no mundo, há aquelas obras de natureza reflexiva capazes não
de nos dar respostas, mas ao menos de nos fazerem abrir os olhos, de nos </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">orientar</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"> quanto a um caminho que
possamos seguir; se buscamos inspiração, tem sempre um livro capaz de aguçar
nossa sensibilidade; se buscamos um mero entretenimento, uma leitura leve, algo
que nos ajude a apenas passar o tempo, há também inúmeras obras capazes de nos
ajudar; se buscamos informação, há; se estamos à procura de ampliar nossos
horizontes, de conhecimento, de instrução e formação, é a literatura a que
recorremos; e se buscamos, acima de tudo, algo capaz de contribuir
substancialmente na nossa formação humanística, é na literatura que encontramos
a fonte da qual bebemos a água capaz de saciar a nossa sede de conhecimento,
que nos acalma e que gentilmente assenta, tijolo a tijolo, os muros e pontes da
nossa construção intelectual... </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">São tantos “se” que tem na literatura
uma resposta, uma fonte, um refúgio, que poderíamos nos estender até o fim dos
tempos. A literatura é tão plural e extraordinária que até os que não têm amplo
domínio da palavra escrita e falada se calam para ouvir as histórias e
contemplar as imagens que saltam das páginas dos livros nas gravuras
multicoloridas e nas melífluas palavras de um contador de história. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Cada literatura, no entanto, há o
seu devido tempo para ser semeada, cultivada, dia a dia, livro a livro, para
ser colhida e devidamente saboreada. Pensando nisso e sabendo da nossa missão,
sabendo do quão importante é o acesso à literatura nas mais diversas fases de
nossa vida, principalmente naquela de formação de identidade e consciência,
criamos o projeto, a ação <a href="https://twitter.com/limaneto0704">#SemearLivros</a>, que tem como objetivo Cultivar
Leitores, que visa levar a literatura a alunos de escolas da rede pública de
ensino. Muitas vezes, as escolas possuem um acervo deficitário em algumas
áreas, e nós, muitas vezes, possuímos aqueles livros que ficam fechados,
guardados nas nossas estantes, livros que não serão mais relidos e que clamam
por vida nas mãos de novos leitores. Os livros foram feitos para serem lidos,
para ganharem e darem vida a cada leitor que mergulha em suas páginas; e livros
parados, fechados, são livros mortos, meros objetos; abertos, eles são como o
guarda-roupa de Nárnia, que nos transportam para outro e fantástico universo.
Aproximemos, então; abramos as múltiplas portas dos guarda-roupas de Nárnia
para aqueles que anseiam por eles atravessar, para os que desejam crescer,
abrir os olhos e se deleitar com a extraordinária arte-das-letras do mundo
literário.</span></div>
</div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-43057747570514761892016-07-08T06:57:00.002-03:002016-07-08T06:58:21.422-03:00Carta aberta à Saraiva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-paj5gk--ibM/V394-rYwVfI/AAAAAAAABSE/JhAI449F9UQEiF13woKiw9M6iQYR1xgRgCLcB/s1600/luto-la%25C3%25A7o-grande.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-paj5gk--ibM/V394-rYwVfI/AAAAAAAABSE/JhAI449F9UQEiF13woKiw9M6iQYR1xgRgCLcB/s320/luto-la%25C3%25A7o-grande.jpg" width="226" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Hoje estou ferido de morte. Justo eu, que tanto resisti a tantas pancadas, a tantos ferimentos, agora me entrego, pois olho para o céu desesperançado e o vejo negro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">O ferimento que eu sofri foi muito profundo e por ele escorre não o sangue pouco a pouco, mas corre aos borbotões, tirando-me uma das coisas para as quais tanto me dei, a qual, com tanto amor ajudei a construir: minha casa. O ferimento não me foi afligido de forma justa, mas me foi dado pelas costas, de forma vil, quando não estava preparado. O golpe por si só não me afetaria, não me feriria de todo, pois sou feito de ferro forte e seria capaz de logo “esquecer”, de me reerguer rapidamente e tocar a vida como sempre a toquei, mas acontece que esse golpe foi desferido contra amigos e alunos, sendo injusto para com estes, e injustiça é algo que eu não tolero.</span></div>
<br />
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Trabalhei durante dez anos e meio na livraria, começando na Siciliano (no tempo da franquia) e o tempo entre novembro de 2011 e outubro de 2015 já na Saraiva como responsável. Ouso dizer que ali construí uma casa feita não tijolo a tijolo, mas livro a livro, atendimento a atendimento, cliente a cliente, fazendo amigos e companheiros de leituras com quem trocava impressões e sensações das obras lidas. Ali, naquela livraria, passei a maior parte do meu tempo durante mais de uma década; ali passei meus aniversários, ali trabalhando perdi festas da família porque, devido a meu comprometimento e responsabilidade para com a empresa, não podia faltar ao trabalho; ali trabalhei doente, por vezes sem condições físicas ou psicológicas, sofrendo com dores nas costas ou no joelho, independente do dia da semana ou horário.</span><span style="line-height: 19.32px;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Talvez alguém pode vir a me perguntar se me arrependo, hoje, de tanto ter me dado, de tanto ter amado aquele lugar. Eu respondo com convicção e leveza na alma de que não. Não me arrependo em nada do que fiz e como fiz, e o fiz não pela empresa (jamais faria o que fiz por empresa alguma), mas pela livraria, pelo que aquele ambiente significava para mim e, acima de tudo, pelos leitores que lá frequentam, pelos amigos que fiz e pelos clientes (fidelizei bem poucos clientes, diga-se de passagem, pois as pessoas que eu atendi ali, eu não as via como clientes, mas como leitores, como pessoas que buscavam algo mais que um produto para comprar, buscavam ali livros).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Amei aquele lugar e ainda amo o que ele representa para mim, mas mesmo com tanta dedicação, dali fui posto para fora no ano passado, e isso foi um golpe baixo, vil, mas eu entendi e encarei aquilo com positividade, pois estava por demais acomodado e precisava dar uma guinada na minha vida, buscar novos ares, e assim o fiz, descansando meu espírito, trabalhando em outras coisas, cultivando outros sonhos e me joguei de cabeça na carreira, com todo o amor que reside em meu peito, na carreira de professor e fomentador de literatura.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Essa carreira de professor de literatura começou pra valer, de forma mais efetiva, no segundo semestre do ano passado quando organizei, junto com minha esposa, o curso Panorama da Literatura Ocidental. O curso, um antigo projeto meu, veio a atender aos pedidos de muitos amigos, leitores e clientes da livraria, que queriam um programa sistematizado sobre alguns dos principais autores da Literatura Ocidental, um curso que pudesse responder questões do tipo “quem e por que ler?”. Quando organizei tudo, que montei o projeto, apresentei-o à Saraiva, explicando as vantagens para a empresa, que tinha muito a ganhar explorando o programa, a ideia, etc., e eu só pedi em troca a autorização de utilizar o espaço do auditório. Passei semanas e meses a fio argumentando, mostrando as vantagens, e recebi, durante muito tempo, apenas o silêncio como resposta da empresa (resposta padrão da empresa). Chegou um momento em que eu precisava de uma definição imediata, pois precisava começar as inscrições do curso e as pessoas estavam expectantes quanto às aulas. Mandei inúmeros e-mails, mais uma vez, fazendo mil e uma propostas e me predispondo até a pagar pela utilização do espaço. Sabem qual foi a resposta da Saraiva (quando eles finalmente dignaram a me responder)? Não! Isso mesmo. Não! O espaço do auditório estava vetado para mim e como justificativa deram respostas vagas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Na época fiquei muito chateado, pensando em cancelar o curso (já havia realizado as matrículas de vários alunos/amigos), mas surgiu uma solução graças à intervenção de amigos (eu sou uma pessoa muito rica de amigos. Se me falta riqueza material, me sobram os amigos, o que vale muito mais do que ouro, diamante, carros de luxo e imóveis luxuosos). Consegui um espaço para a realização do curso e tudo transcorreu magnificamente bem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Dai aconteceu que fui demitido e algumas coisas vieram à tona, entre elas o motivo de eu não poder ter utilizado o espaço do auditório. Explicaram-me que o veto partiu só e unicamente de uma pessoa, que disse que assim o procedeu porque “não queria confundir as coisas, o profissional com a pessoa (comigo)”! Como assim? Eu, que sempre fui profissional, que nunca confundi as coisas, que sempre agi de forma ética e responsável, confundir as coisas? Respirei fundo para não explodir, para não perder a razão e deixar que a emoção falasse mais alto. Tal pessoa, agindo agora como bom-samaritano, agora que eu não mais fazia parte da empresa, para mostrar como era justo, ético e correto, agora abria o espaço para que eu pudesse fazer ali meus cursos, não só aquele que já estava em andamento, mas futuros cursos!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Eu sou calmo por natureza e, por mais orgulhoso que seja, sei respirar fundo e aguentar certas coisas que poucas pessoas são capazes de aguentar (quem me conhece sabe muito bem disso), e aceitei as desculpas (aceitei mesmo, não guardando qualquer tipo de ressentimento).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">O tempo passou, o curso foi finalizado, comecei a desenvolver mil e uma atividades, até que meus amigos/leitores/alunos (todos clientes da Livraria Saraiva, diga-se de passagem) começaram a me pedir para realizar um novo curso, com uma nova proposta, uma vez que a experiência do semestre anterior fora tão proveitosa e enriquecedora para todos. Assim, desenvolvi, novamente junto com minha esposa, o projeto, apresentei a proposta do curso para os leitores sedentos de conhecimentos literários e o mostrei à Saraiva (agora as portas da livraria estavam abertas para mim), para saber se poderia utilizar, como me fora prometido, o espaço do auditório. Aconteceram alguns contratempos, sim, mas tudo foi acertado sem maiores dificuldades, e só iniciei o curso porque recebi, agora, o aval da empresa. Reservei as datas e horários com bastante antecedência, tudo de forma meticulosa e organizada (como são minhas coisas), abrindo não um curso, dando apenas prosseguimento à turma anterior, mas dois, para que novos alunos/leitores pudessem usufruir das experiências e conhecimentos que compartilharíamos em cada aula.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Tudo correu perfeitamente bem até que ontem à tarde, quarta-feira, dia 06 de julho, recebi um estranho e-mail da parte da Saraiva “solicitando/comunicando gentilmente” o cancelamento do curso, rompendo, de forma abrupta, a parceria com a livraria.</span><span style="line-height: 19.32px;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Li aquele e-mail duas, três, dez, quinze, um sem-número de vezes para entender o que ele dizia! Depois de entender o que ele significava, às vésperas do fim do curso (quando faltam apenas três encontros/aulas), respondi-o em busca de uma justificativa para aquela decisão insensata, injustificável. Recebi como resposta um polido e-mail falando em mudanças de planos, em “mudanças na parceria” e agradecendo a minha “compreensão”! Compreensão? Quem foi e estava sendo compreensivo? Eu é que não! Mandei imediatamente um outro e-mail chamando-os à razão, explicando a insensatez do cancelamento do curso, da proibição da utilização do espaço da livraria (que havia sido reservado desde o início do ano – e eu só o ofereci porque tinha onde realizá-lo, porque tinha o aval da empresa). Mandei, também, outro e-mail explicando não a minha situação como professor, como responsável por um curso sério, mas a dos alunos, leitores, que são clientes da livraria, que compram muitos livros ali. Sabe qual resposta recebi? O silêncio (padrão Saraiva de resposta)!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Fiquei muito, muito e muito chateado mesmo com essa punhalada, não em mim (como disse, sou feito de ferro forte e aguento a pancada), mas dada naqueles que tão assiduamente frequentaram o curso, que com tanto gosto compraram os livros (não foram poucos os livros que a Saraiva vendeu aos participantes/alunos), agindo de forma completa e inteiramente injusta (e injustiça eu não tolero).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Senti-me injustiçado, tendo recebido o mais duro, vil e covarde golpe: o espaço foi vetado para mim, justo eu que ostentava (e ostento) com tanto orgulho o fato de ter justamente construído não só aquele espaço, mas todo o ambiente que o cerca!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Senti-me expulso de casa que eu mesmo construí com tanto amor, dia a dia, atendimento a atendimento, livro a livro, e a decepção é tamanha que, se não chorei com os olhos, chorei com a alma ao ser tratado como fui e estou sendo tratado por essa empresa hipócrita, que nada tem de humana, que muito exige, que tem um belo discurso, que tem os “pilares”, que tem uma “missão”, mas que, na prática, tudo aquilo não passa de palavras, de discurso vazio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">Sinto-me tão humilhado, sendo tratado com tamanho desrespeito e falta de consideração que não me vejo mais indo àquela livraria, frequentando aquele ambiente. Logo eu, um alguém que se orgulha tanto de ter feito o que fez, de ter agido como agiu, de ter me dado como me dei! Se não respeitam e escorraçam o ex-funcionário, que respeitassem ao menos o que aquela pessoa, o que aquele profissional, o que aquele ser humano representou e representa para aquela livraria (não para a empresa, mas para a livraria).</span></div>
<br />
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-top: 6px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">E agora alguém pode vir a me perguntar se eu me arrependo de ter feito o que fiz como fiz e o quanto fiz. Eu respondo com a mesma e serenidade de sempre que não. Não me arrependo em nada do que fiz, como fiz e o quanto fiz pela livraria, mas me arrependo enormemente de tudo que fiz, como fiz e quanto fiz pela empresa, que sempre se mostrou, desde o início, uma empresa gerida não por livreiros, mas por pura e simplesmente por profissionais/diretores que nunca estiveram investidos do espírito livreiro, que sempre fizeram questão de desprezar o componente essencial para se ser reconhecido e prosperar nessa área de negócio: a paixão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.32px;">A Saraiva nunca foi, não é e nunca será uma verdadeira livraria que honre esse título; nunca foi, não é e nunca será uma empresa de palavra, que valorize os profissionais que merecem ser valorizados, que deram mais do que seu sangue para que ela se tornasse o que se tornou, que deram sua alma e paixão por aquilo que acreditavam (e ainda acreditam) para que a livraria fosse mais do que uma empresa e seus funcionários, mais do que simples “colaboradores”...</span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-79492779758311618502016-02-20T13:18:00.000-03:002016-06-28T12:57:10.256-03:00O Eco de uma voz<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-ejyCYlbFYxk/V3J0iqSyY9I/AAAAAAAABMw/E4s00kRA3_UZOj_A2NJxF12lalZr_7R_gCLcB/s1600/angel-statue-Sanford-Angel-Angel-at-grave-site-for-Leland-Stanford-Jr.-on-Stanford-University-campus-by-Mark-Coggins.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-ejyCYlbFYxk/V3J0iqSyY9I/AAAAAAAABMw/E4s00kRA3_UZOj_A2NJxF12lalZr_7R_gCLcB/s320/angel-statue-Sanford-Angel-Angel-at-grave-site-for-Leland-Stanford-Jr.-on-Stanford-University-campus-by-Mark-Coggins.jpg" width="247" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ontem eu fui dormir triste. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ministrei uma aula de literatura em que
correu tudo bem: usei um belo e tocante vídeo (curta de animação) que contagiou
e arrancou risos e lágrimas de algumas pessoas da plateia; a conversa sobre
paixão pela arte das letras correu maravilhosamente bem, com as pessoas
interagindo, anotando os nomes dos autores e livros que mencionei para, assim
que terminasse a aula, pudessem correr à livraria mais próxima a fim de comprar
as obras; ao final de aula, reservamos um espaço para discussões diversas e
para uma breve, porém essencial, confraternização. Finda as formalidades da
aula, sai do auditório com a sensação de dever cumprido, de que dei o meu melhor,
de que a semente de literatura fora planta e que iria germinar, dar um pequeno
broto, se tornar uma plantinha, que vai fincar bem fundo suas raízes, que se
tornará uma frondosa árvore. Mas, ao chegar a casa, recebi uma triste de
notícia que me deixou um tanto quanto abalado e me fez demorar a pegar no sono:
Umberto Eco morreu! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Mas como assim, morreu?! Eu havia
acabado de ministrar uma aula em que, mais uma vez, o usei como exemplo,
mencionei suas obras, falei de sua importância não só para a literatura, mas
para toda a cultura ocidental! E ao chegar a casa, a notícia que me tirou o
chão, que me fez sentir um imenso vazio no peito e nas estantes onde guardo
meus livros, que com que passasse sentir um sentimento de orfandade...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A literatura, ao longo dos séculos,
passou por diversas transformações e evoluções. Vivemos uma Era de Formação,
verdadeiramente Mitológica, em que nomes tão distante, mas ao mesmo tempo tão
próximos, surgiram e moldaram a nossa forma de escrever, de ver o mundo, de
sentir as palavras. Homero, Esopo, Sófocles, Eurípides, Virgílio, Dante, Shakespeare,
Camões, Rabelais, Racine, Montaigne, Cervantes e tantos e tantos e tantos
outros que fazem parte de nosso imaginário e que já foram incorporados ao nosso
código genético, que tiveram e têm um papel fundamental na nossa formação
humanística. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Depois dessa época, que lançou as bases
e alicerces da nossa literatura e da nossa cultura, vivemos uma Era de Ouro entre
o século XIX e primeiros anos do XX. A literatura se espalhou por todo o corpo.
Se antes era somente o gene, agora passou a ser um aglomerado de células
compondo um tecido, depois um órgão e, por fim, Sistema que propulsiona o nosso
organismo e nos mantém vivos. Em todos os países surgiram gigantes que
assombraram a literatura e a cultura mundial. Jane Austen, Charles Dickens, as
irmãs Brontë, Stevenson e Thomas Hardy; Alexandre Herculano, Camilo Castelo
Branco e Eça de Queirós; Stendhal, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas, Victor
Hugo, Gustav Flaubert, Émile Zolá, Maupassant, Baudelaire e Malarmé; José de
Alencar, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Machado de Assis, Lima Barreto e
Olavo Bilac; Goethe, Schiller, Novalis, Heine e Rilke; Pirandelo e Lampedusa; Puchkin,
Gógol, Turgueniev, Dostoievski, Tolstoi, Tchekhov e Gorki; Poe, Hawthorne,
Melville, Whitman e Twain; Kazantzakis e Kavafis; isso para citar somente uns
poucos, pois se fôssemos citar todos, não caberia num único texto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Na primeira metade do século XX, ainda
sob o eco da Era de Ouro, que vinha perdendo relativa força, as principais “potências
culturais e literárias” europeia perderam um pouco de força, muito embora
tenham nos legado grandes gênios como Kafka, Brecht, Fernando Pessoa, Florbela
Espanca, Mário de Sá-Carneiro, Unamuno, Pasternak, Maikóvski, Oscar Wilde,
Lawrence, Virgínia Woolf, James Joyce, Hesse, Thomas Mann, Proust, Sartre,
Beauvoir e Sartre. Poucos comparado ao período anterior. Fato é que a
literatura mudara de ambiente, e alguns dos grandes nomes nascia do outro lado
do oceano. Borges, Casares, Mistral, Neruda, Donoso, Onetti, Octávio Paz e Juan
Rulfo foram os que puxaram o <i>boom</i>
latino-americano com sotaque hispânico; mais ao norte, Faulkner, Hemingway,
Steinbeck, Salinger, Henry Miller, Capote e Eugene O’Neill; o Brasil viveu sua
Era de Ouro entre as décadas de 1930 e 1950/60, com nomes como Mário de
Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico
Veríssimo, João Guimarães-Rosa e Clarice Lispector; esses e outros passaram a
assombrar o mundo com uma poderosíssima, mas até então desconhecida por muitos
leitores, literatura, que passara subitamente a ser obrigatória em toda e
qualquer estante de livros ao redor do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">No entanto, mesmo com tantos nomes,
mesmo com tantos autores tendo surgido num curto espaço de um século e meio, a
maternidade literária, os tempos seguintes não foram tão generosos conosco,
pobres e apaixonados leitores. Vieram, sim, Saramago, Garcia-Márquez, Llosa, Calvino,
Philip Roth, Paul Auster, Kundera, Coetzee, Chimamanda Ngozi Adichie, Chinua
Achebe, Pepetela, Ondjaki e Mia Couto. Poucos, pouquíssimos diante da nossa
sede de literatura, da necessidade intrínseca que temos de mais, mais e mais
grandes autores. Desses, Calvino, Saramago, Gabo e Achebe já nos deixaram; Roth
se aposentou; Kundera há tempos não lança uma obra que nos deixe em êxtase, e mesma
coisa se aplica a Coetzee; Llosa e Auster até lançam bons livros, mas nada que
se comparam aos seus livros de alguns anos atrás. Resta-nos, portanto, a
poderosíssima Chimamanda, uma verdadeira ilha literária que surge em meio a um
tempestuosos oceano, que assombra por sua literatura lírica, poderosa e
politizada, e os africanos de língua portuguesa, que, além de tudo, fazem um
trabalho excepcional em prol da língua, divulgando mais do que literatura,
promovendo em todo o mundo um vasto universo cultural que é produzido pelos
falantes de língua portuguesa. Com estes, restam-nos pouquíssimos autores que
ocupam “lugar de honra” nos nossos corações-literários e nas nossas estantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Com a recém-perda de Umberto Eco, um
súbito vazio intelectual nos toma. Eco tornou-se uma figura presente, respeitada
e admirada em todo o mundo por sua inteligência e postura, como um dos maiores
intelectuais do século XX que se mantinha ativo. Mesmo quem o leu pouco, tendo
tido a oportunidade se deleitar apenas com um ou outro texto, e até quem não o
leu, tinha um respeito imenso pelo italiano. Conhecido sobretudo pelo seu
romance <i>O Nome da Rosa</i>, que recebeu
uma primorosa adaptação para o cinema na década de 1980, Eco é muito maior e
muito mais labiríntico do que o romance que projetou sua carreira mundialmente.
Crítico, filósofo, semiólogo, linguista, romancista e historiador... é difícil
definir quem foi Eco e qual de suas faces é a que mais nos toca, a que mais nos
engrandece e enriquece. Multifacetado, foi um intelectual que ultrapassou as
barreiras do sec. XX e chegou ativo ao XXI, era em que nos vemos tão carentes
de pessoas a quem admirar. Sua vida, ceifada tão bruscamente quando menos
esperávamos, deixa um vazio imenso não só em nossos corações, mas também em
nossas estantes de livros. Agora, quando mirarmos a estante e vermos seus
livros ali expostos, imortais, que serão herança para futuras gerações de
leitores, nos sentiremos órfãos, pois não mais aguardaremos ansiosos pelos seus
próximos lançamentos. Além disso tem o agravante de que nessa época, tão
escassa de intelectuais, não sabemos mais quem expor com orgulho numa
prateleira de destaque como sendo “meu autor favorito vivo”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Resta-nos, como leitores, apenas nos
conformar, pois ele, mesmo que chegássemos a pensar e desejar o contrário, era
mortal, como eu sou, como todos somos, e ler e admirar até o fim dos tempos a
sua obra, toma-lo, mais do que nunca, como referência e ouvir o eco de sua voz,
que calou como efeito sonoro, mas continua a reverberar em sua obra.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-23734966405167753352016-01-07T18:29:00.003-03:002016-01-07T18:29:29.931-03:00O Livro do Rei dos Gatos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-NdzzmPgfSjg/Vo7Ye2DW3VI/AAAAAAAABLs/wORZ18gcm9c/s1600/foto%2Bdo%2Bquadro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-NdzzmPgfSjg/Vo7Ye2DW3VI/AAAAAAAABLs/wORZ18gcm9c/s320/foto%2Bdo%2Bquadro.jpg" width="212" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A pequena Karolinne andava segurando firmemente na mão
protetora de sua mãe. Tinha medo de se perder no meio daquela multidão, com
pessoas andando apressadas de um lado para o outro. Sua mãe caminhava
apressada, pois ainda tinha muito até o final daquele dia, e vez por outra,
quando a pequena menina diminuía o passo para observar algo que lhe chamava a
atenção, a mulher a puxava bruscamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Era meio
dia, horário em que as pessoas estão mais apressadas, seja para correrem para
casa a fim de fazerem uma breve refeição e retomarem em seguida para a segunda
parte de sua jornada de trabalho, seja para fugirem do sol inclemente, buscando
desesperadamente por uma sombra. O barulho das ruas era ensurdecedor, com
carros buzinando, com o barulho dos motores, com as lojas anunciando as ofertas
em alto-falantes, com as pessoas falando alto para poderem se fazer ouvir, e a
menina, cansada, era quase arrastada por sua mãe, que queria fugir o quanto
antes daquele caos urbano de centro de cidade. Karolinne estava com calor e ao
ver um carrinho de sorvete, pediu para sua mãe comprar um. A mulher, a
princípio relutante, pois não queria se atrasar, negou o pedido da filha, mas
não conseguiu resistir aqueles lindos e brilhantes olhos suplicantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- ‘Tá bom,
Karol! Vou comprar seu sorvete, mas fique exatamente aqui – falou a mulher,
deixando a filha sentada num banco enquanto ia comprar o que a filha pedira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A menina,
comportada, ficou exatamente como e onde a mãe mandara, sentada e protegida sob
sombra de uma frondosa árvore, vendo a mulher se fundir à multidão. Ficou
balançando suas perninhas curtas, olhando as pessoas caminhando apressadas,
indo de um lugar para o outro. Olhava, vez por outra, para o céu, que estava de
um azul claro, belo, naquele horário, sem nenhuma nuvem. As folhas da árvore
não se moviam um centímetro sequer e a menina sentia o suor deixando grudados
fios de cabelo no alto da cabeça. Fechou os olhos e sentiu uma suave e fria
brisa lhe envolver. Quando abriu os olhos, viu, parado, a poucos metros de onde
estava, um gato cinza lhe olhando nos olhos. A menina achou estranho um gato
ali, despercebido entre tantas pessoas. Sorriu para ele e o chamou com sua
mãozinha, mas o gato não deu um único passo em sua direção, mas balançou o rabo
e se virou. Com um andar suave, começou a passar por entre as pernas das
pessoas, que sequer o notavam. A menina, curiosa, olhou para o lado, para onde
sua mãe tinha ido, e a viu ainda na fila para comprar o sorvete, e olhou para
onde o gato sumira, e viu apenas a ponta de sua cauda. Não pensou duas vezes e
saltou no chão e correu em direção ao gato, chamando-o. Passou esbarrando nas
pessoas, que desviavam dela e gritavam às suas costas “cuidado por onde anda,
menina!”. Perdeu de vista duas ou três vezes o gato, mas logo encontrava seu
rastro, a ponta de seu rabo dobrando uma esquina ou outra. Corria o máximo que
lhe permitiam suas pernas curtas. Passou por becos estreitos por onde só
andavam umas poucas pessoas, atravessou ruas antigas pelas quais ela não
lembrava de ter passado, até que se viu sozinha num beco aparentemente sem
saída. Com a certeza de que tinha se perdido, sentiu as lágrimas lhe vindo aos
olhos e a garganta ficar apertada com um soluço, quando viu, pouco a sua
frente, o gato, que estava como que lhe esperando. Ele miou e se virou, atravessando
as grades de uma enorme casa. A menina correu até onde estava, implorando para
que o bichano a esperasse, mas ele não lhe deu ouvidos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Karolinne
parou em frente a um casarão abandonado, com erva daninha cobrindo toda a
entrada e com as grades enferrujadas. Sentiu certo medo, pois casarões daquele
tipo lhe lembravam os fantasmas e bruxas que habitavam casas daquele tipo nas
histórias que li e nos filmes que assistia, mas ao ver o gato entrando por
aquela porta, seu medo se dissipou e ela empurrou o portão enferrujado, que
abriu facilmente, dando-lhe passagem. Ela correu até a porta, que estava
parcialmente aberta, e a empurrou para poder entrar, e tal não foi a surpresa
ao ver, ao invés de um interior deteriorado, de uma casa velha como sua fachada
deduzia, uma imensidão de estantes e livros, tudo organizado, bonito,
convidativo a um passeio nas páginas e melífluas palavras de um autor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Andou pelos
corredores atulhados de livros, com estantes do chão ao teto dos mais variados
títulos e se perdeu e se achou um sem número de vezes, deixando-se guiar apenas
pelo instinto. Passava a mão nas lombadas dos livros e vez por outra tirava um
ou outro para folhear. Um livro lhe chamou a atenção, e ela sentiu uma força
irresistível vindo dele, como se ele estivesse clamando para ser lido.
Karolinne o retirou da estante. Era um livro comum entre tantos outros livros
iguais na sua aparência, tinha uma capa dura e não era tão volumoso, era
repleto de belas ilustrações e a história era a de um Rei Gato. Só então, ao
ver o título do livro, foi que ela se lembrou que tinha esquecido completamente
do gato que seguira, que a conduzira até ali. Fechou o livro de supetão e
levantou a cabeça e se espantou a ver não só um gato, mas vários ao seu redor,
e entre eles, aquele gato cinza que a trouxera até ali. Sentiu o coração
acelerar ao se ver cercada por tantos gatos, mas aquele que havia seguido deu
um passo á frente dos demais, abriu a boca, mas ao invés de soltar um miado,
falou suavemente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não tenha
medo, Linda Menina. Nós não lhe faremos nenhum mal. Eu só lhe trouxe até aqui
para que você encontrasse entre esses tantos livros que aqui estão, aquele que
nos é o mais precioso, o que tem a mais bela história, e queria que você o
lesse para nós.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A menina
ficou estática, pois nunca tinha visto um gato falando. Olhou para os outros e
os viu sentando-se e assentindo, esperando para que ela abrisse novamente o
livro e iniciasse a leitura. Eram tantos gatos, de todos os tamanhos, cores e
idades, todos expectantes, observando-a detidamente. Um a um, os gatos
começaram a abrir a boca e falar, pedir, suplicar para que ela lesse aquele
precioso livro para eles, e ela sorriu ao ver tantos gatos falando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Tudo bem.
Eu irei ler pra vocês! – disse ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os gatos
soltaram gritos e miados entusiasmados ao ouvirem aquilo. Ela então se sentou e
abriu o livro no colo, e os gatos logo a cercaram. Alguns se empoleiravam em
seus ombros para melhor verem as letras graúdas e as imagens, uns esticavam os
pescoços para melhor verem e seguirem a história, enquanto outros simplesmente
ficavam perto, deitando-se e fechando os olhos para melhor imaginarem e viverem
aquela fantástica história.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Karolinne
ficou longas horas lendo a história do lendário Rei dos Gatos, que havia sumido
há séculos, mas que deixara um importante legado e uma infinidade de súditos
que deveriam aguardar pelo seu retorno, que aconteceria quando aquele livro
fosse lido por mil e uma meninas especiais, que acreditassem naquelas palavras
e lessem aquele livro para mil e um gatos nos dias seguintes à descoberta do
livro, na janela de sua casa, e espalhassem aquela história para todos os gatos
do mundo, e quando isso acontecesse, que todos os gatos soubessem da história
do Rei dos Gatos, ele retornaria e seu reino seria restabelecido, e todas as
pessoas do mundo não mais ouviriam os miados dos gatos, mas sim suas
verdadeiras vozes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A menina
terminou a história e respirou fundo duas ou três vezes e ficou completamente
em silêncio antes de se dar conta de que estava novamente sozinha entre aquelas
estantes. Dos gatos, todos que antes estavam ali, somente um, aquele que a
trouxera, permanecia. Ela então se deu conta de que um longo tempo já tinha se
passado, de que sua mãe devia estar preocupada com seu sumiço, e saiu correndo
daquela casa, levando consigo o livro debaixo do braço. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seu
instinto a guiou pelas mesmas ruas e becos que tinha percorrido antes, até
encontrar o mesmo banco sob a mesma árvore. Correu até lá e ao se sentar, viu
sua mãe vindo em sua direção com um sorvete.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Trouxe de
baunilha, seu sabor favorito – disse a mulher, entregando para a filha o
sorvete.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Karolinne
olhou para a mãe, e só então se deu conta de que o tempo não tinha passado. Se
perguntou se aquela aventura, aquela perseguição ao gato, a leitura, a história
e o livro tinham realmente acontecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- O que é
isso? Onde você achou esse livro? – perguntou sua mãe, apontando para o livro
que estava embaixo do braço da menina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Esse
livro? Ah, eu achei! – falou ela, dando a resposta mais óbvia que toda criança daria
numa situação daquelas. A mulher apenas sorriu, passou a mão na cabeça da filha
e esperou que ela terminasse de tomar seu sorvete. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foram para
casa, mas sem pressa de chegar, com Karolinne protegendo seu precioso tesouro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Naquela noite e nas noites seguintes, assim que todos iam
dormir, ela abria a janela de seu quarto e no silêncio da noite, esperava que
um gato qualquer passasse por ali, e quando isso acontecia, ela abria o livro e
lia a história do Rei dos Gatos. Quando terminava, o gato soltava um miado de
aprovação, pulava o muro e ia embora, e ela fechava o livro e ia dormir. Fez
isso por muito tempo, por exatas mil e umas noites seguidas, lendo a história e
difundindo-a para mil e um gatos. Quando terminou a milésima primeira leitura,
fechou o livro e o guardou na sua prateleira de livros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O tempo
passou, e Karolinne já não era mais uma pequena menina como outrora, e muitas
coisas que vivera na infância já eram apenas, agora, vagas lembranças. Havia se
tornado uma bela mulher e tinha uma linda filha. Karolinne estava apressada,
como sempre andava nos últimos tempos, e caminhava esbarrando nas pessoas pelo
centro da cidade, carregando pela mão a filha, que reclamava do calor e do
cansaço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mãe, eu
quero um sorvete – pediu a menina. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Karolinne, contrariada, queria ir
para casa, onde tinha muita coisa a fazer, mas a filha realmente estava cansada
e adorava sorvete. Levou-a até um banco de praça e pediu para que ela ali
ficasse, e foi comprar o sorvete da filha.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Enquanto estava na fila para
comprar o sorvete, viu a menina se levantar e sair correndo. Pensou, por um
instante, em gritar, chamando-a, pois ela poderia se perder, quando viu o que
havia chamado a atenção da menina: um gato, o mesmo gato que ela seguira
outrora. Ela sorriu por dentro, tomada um turbilhão de lembranças. Comprou um
sorvete para si mesma e ficou esperando que filha retornasse, para só então
comprar o dela e ver, reconhecer, o livro que ela traria para casa e leria para
os gatos, através da janela aberta, pelas mil e uma noites seguintes.<o:p></o:p></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-90263625475832507972016-01-01T15:41:00.004-03:002016-06-28T12:47:18.856-03:00Retrospectiva 2015 de leitura<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-xyi62d2IjTY/V3KbrmPK_7I/AAAAAAAABPY/qRsjDO8GO9MZdfKdY0HQR6u-yIbmruqMQCLcB/s1600/retrospectiva2015.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="160" src="https://1.bp.blogspot.com/-xyi62d2IjTY/V3KbrmPK_7I/AAAAAAAABPY/qRsjDO8GO9MZdfKdY0HQR6u-yIbmruqMQCLcB/s320/retrospectiva2015.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Nunca
é fácil olhar para trás e ver todos os livros lidos no ano anterior. Sempre que
faço as minhas retrospectivas de leitura, tenho a certeza de que não li o que e
quanto deveria, fico com aquela sensação de ter usado erradamente meu tempo ao
ler determinado livro que não me proporcionou prazer algum nem me acresceu em
absolutamente nada, fico emocionado ao relembrar a história e personagem de tal
obra que me marcou profundamente...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> No geral, infelizmente 2015 não foi
um ano tão proveitoso no que tange às leituras como anos anteriores. Muitas coisas
interferiram, entre elas a mal escolha, em dados momentos, dos livros , o que
me gerou maior lentidão na leitura, uma vez que as leituras não estavam sendo tão
empolgantes e prazerosas quanto eu esperava e precisava, e por conta de
trabalho, estudos e um monte de outros fatores extra-leitura. Mas mesmo assim,
foram, aos trancos e barrancos, 43 livros, no entanto, 1 foi abandonado (porque
tive que devolver – tratava-se de um livro que havia pego emprestado) e 3 lidos
parcialmente (a maior parte – diga-se de passagem), tendo iniciado o meu 2015
com a leitura de <i>Vida e Destino</i>, de
Vassili Grossman, obra muitíssimo interessante sob o prisma histórico, mas que
no que tange a literatura se mostrou um tanto quanto “não das melhores”, e
finalizou com <i>Meio Sol Amarelo</i>, de
Chimamanda Ngozi Adichie, o melhor livro de literatura africana que já li em
minha vida, uma grantíssima surpresa que me foi reservada justamente para o “apagar
das luzes” do meu ano de leitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> No que se refere aos melhores
livros, nunca um ano de leituras foi tão difícil de definir aquele que rotulo
como “o melhor do ano”. Além do <i>Meio Sol
Amarelo</i>, obra que não canso de recomendar, elogiar e recomendar a leitura,
destaco também <i>No silêncio entre dois
suspiros</i>, de Ayad Akhtar, além dos clássicos que me deixaram em êxtase, <i>O Quinze</i>, de Rachel de Queiroz, do
poderosíssimo <i>Carta ao Pai</i>, de Kafka,
dos gregos <i>Antígona</i>, de Sófocles, <i>Hipólito</i>, de Eurípides, e do estupendo e
divertidíssimo <i>Lisístrata</i>, de
Aristófanes, e seguindo no mesmo gênero do teatro, destaco também o <i>Fedra</i>, do francês Racine, fora o
filosófico e extraordinário <i>O Lobo da
Estepe</i>, de Hermann Hesse. No outro extremo, destaco entre meus piores
livros do ano, que me decepcionaram enormemente, que não recomendo a ninguém,
estão <i>A Última Imperatriz</i>, de Da Chen
(o mesmo autor de <i>A Montanha e o Rio</i>)
e <i>A Fazenda</i>, de Tom Rob Smith, além
do vencedor do Nobel de Literatura Patrick Modiano com o livro <i>Remissão da Pena</i>, livro que não empolga,
que não tem um personagem cativante, que não tem uma narrativa que prenda,
enfim, que não tem graça e que não me proporcionou em momento algum um momento
de prazer e deleite literário, e do famigerado <i>Ateneu</i>, de Raul Pompéia, que foi uma leitura arrastada, chata e
cansativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Entre tantos livros, em 2015 fui da
leitura de tirinhas de Snoopy e Calvin & Haroldo, que adoro, passando por <i>Hamlet</i> e por obras de Machado de Assis,
tanto em sua face romântica com <i>Helena</i>
quanto numa fase mais adiantada, com <i>O
Alienista</i>, visitando os russos com Gogól com a novela <i>A Briga dos dois Ivans</i>, Maiakovski com <i> Percevejo</i>, Dostoievski com <i>Bobók</i> e <i>No Campo de Honra </i>do Isaac Bábel. Li também obras de cunho
histórico como o indispensável <i>História
Concisa da Rússia</i>, de Paul Bushkovitch; obras de cunho
teórico-crítico-literário, como livros de Harold Bloom e Massaud Moisés. Fora esses,
ainda arranjei tempo para ler John Boyne, <i>O
ladrão do Tempo </i>e <i>A Casa Assombrada</i>,
para conhecer Lima Barreto com <i>Triste Fim
de Policarpo Quaresma</i>; e meu primeiro Simenon, com <i>Maigret e a Mulher do Ladrão.</i><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Pois é, apesar de não ter sido um
ano tão recheado como anos anteriores, foi, no fim das contas, um bom ano de
leitura, com uma boa multiplicidade de obras nas quais mergulhei e das quais
extrai muita coisa boa, desde o simples grego antigo da Era de Ouro do teatro
aos complexo Calvin, Charlie Brown e Snoopy.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-4150001416754386452016-01-01T14:26:00.005-03:002016-06-28T12:51:44.021-03:001º de janeiro: o melhor dia do ano<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-1pzOkBaCnIk/V3KdBAO_qqI/AAAAAAAABPk/m2oFegS6XdwQ2EQSk_KI18LJKSZQ71PNwCLcB/s1600/primeiro-de-janeiro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="247" src="https://4.bp.blogspot.com/-1pzOkBaCnIk/V3KdBAO_qqI/AAAAAAAABPk/m2oFegS6XdwQ2EQSk_KI18LJKSZQ71PNwCLcB/s320/primeiro-de-janeiro.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Para
mim, o melhor dia do ano é 1º de janeiro. Começo a contar os dias, em angustiante
espera, desde o dia 2 de janeiro, observando o movimento da Terra em torno do
sol, na ansiedade para que chegue logo o primeiro dia do ano seguinte só para
poder ter o mundo inteiro só pra mim. Sim. O mundo inteiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> No dia 31 de dezembro, como já é de
praxe, grande parte das pessoas sai, vai comemorar a chegada do ano novo em
praias, organizam festas em família, ficam acordados até mais tarde, etc., de
forma tal que nas manhãs do dia 1º a impressão que se tem, ao sair nas ruas, ao
abrir uma janela, é a de que a humanidade foi extinta e só sobrou você na face
da Terra. Não existe barulho algum de carros, não existem vozes de pessoas
falando alto, não existem barulhos de portas e janelas sendo abertas e
fechadas, ninguém faz questão de ligar o som em volume máximo para compartilhar
aquela música odiada por todos, exceto por aquele que quer compartilhá-la com
todos, etc. Enfim, manhã do primeiro dia do ano é o momento de paz e silêncio
total, tanto que é justamente neste dia que podemos nos dar ao luxo de ficar e
sentir realmente o silêncio em toda a sua plenitude. Podemos ouvir o uivo do
vento, podemos ouvir a orquestra sinfônica dos pássaros que, felizes, podem encher
os pulmões sem vergonha de suas notas harmoniosas atrapalharem os barulhos
alheios. Podemos até sair na rua para uma caminhada/corridinha matinal sem nos
preocuparmos com os carros que passam apressados ao nosso lado, chegando ao
máximo até de ouvir o som de nossos próprios passos no asfalto da avenida!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Sei que estou sendo um tanto quanto
egoísta, sim, em ter o mundo inteiro só pra mim, mas em que outro dia do ano
tenho esse privilégio? Pelo menos tenho o mundo só pra mim (e me vanglorio
disso) até o início da tarde, que é quando aquele mal-educado da rua de frente
acorda e liga o som com o intuito de compartilhar com o bairro inteiro aquela
música que somente ele, em toda a sua insanidade, acha que as pessoas querem
ouvir. Com esse ato o mundo começa a acordar (de ressaca) e o mundo volta a ser
mundo, com todos os seus barulhos, e eu me vejo na obrigação de compartilhá-lo
com os demais viventes deste planeta. Só fico triste pelos pássaros, que passam
a ser obrigados a cantar baixinho para não incomodar </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">o barulho das </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> pessoas...<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> <o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-75620525994819750902015-12-25T10:31:00.002-03:002015-12-25T10:58:38.091-03:00Mais um menino no sinal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-1dt5uKvBUvQ/Vn1FBmebmKI/AAAAAAAABLc/5SyHqgWYFPU/s1600/sinal_fechado.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-1dt5uKvBUvQ/Vn1FBmebmKI/AAAAAAAABLc/5SyHqgWYFPU/s320/sinal_fechado.jpg" width="285" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Era
perto de meio-dia e naquele sol escaldante, protegido por uma míngua de sombra,
aguardava pacientemente um menino que o sinal de trânsito mudasse de cor e
acendesse a luz vermelha para os carros pararem. Estava cansado, o suor
escorria por seu rosto e estava preocupado, pois o que havia apurado naquela
manhã era muito pouco. Pensou nos irmãos mais novos; pensou na escola em que
deveria estar àquela hora, na aula que estava perdendo. Mas na dura realidade
de menino pobre, de família muito humilde habitante de periferia de grande
cidade, não havia a possibilidade de escolha: era frequentar a escola ou ajudar
no sustento da casa. Adoraria poder estar na escola, aprendendo, absorvendo os
conhecimentos transmitidos pelos professores daquela pequena escola localizada
na zona oeste da cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ficou tão absorvido pelos devaneios
da escola que nem se deu conta que o sinal havia fechado e já estava prestes a
novamente abrir. Xingou a si mesmo. Havia perdido a possibilidade de, talvez,
ganhar alguns trocados. Parou de pensar nas aulas, nos professores e nos
colegas para prestar atenção só e unicamente no sinal de trânsito que estava
bem à sua frente e nos carros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O tráfico era intenso naquele
cruzamento. Vendo todos aqueles carros de todas as cores e modelos, o menino se
perguntou se alguma daquelas pessoas fechadas atrás daqueles vidros, protegidas
do calor pelo ar-condicionado, prestava atenção nele. Muito provavelmente não.
Talvez estivessem entretidas nas músicas que ouviam ou pensando nos
compromissos do dia ou simplesmente preocupadas no processo de dirigir,
executando os movimentos mecanizados da troca de marchas, aceleração e
frenagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Viu quando os carros começavam a
diminuir a velocidade e olhou para o sinal. A luz verde dera lugar à amarela e
ele se preparou para entrar em cena. Quando os carros pararam, ele se dirigiu à
faixa de pedestres, por onde as pessoas atravessavam, cumprimentou os
motoristas num gesto amplo, mas muitos dos quais nem sequer o perceberam, e
começou a realizar seu número. Atirou algumas bolas para o alto e iniciou uma
brincadeira de malabarismo que lhe fora ensinada, certa vez, por outro menino
naquele mesmo cruzamento. Findo o número, inclinou-se, agradecendo, e só então
voltou novamente os olhos para os motoristas, para perceber que mais uma vez
praticamente ninguém o tinha observado. Estava já acostumado àquilo, a se
sentir um alguém invisível num cruzamento em frente a um sinal, mas, mesmo
assim, resolveu caminhar por entre os carros distribuindo sorrisos e pedindo
algum dinheiro que algum daqueles motoristas compadecido de sua situação
pudessem lhe dar. Naquela vez, apenas uma mulher, que vinha com uma criança no
banco de trás, abaixou o vidro para lhe dar umas poucas moedas, que ele
agradeceu ao receber. Era pouco, quase nada, mal dava para comprar pão, mas ele
agradeceu imensamente. O sinal abriu novamente e ele voltou para a proteção de
sua sombra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Olhou para a bolsa que tinha
amarrada em torno da cintura, onde guardava o dinheiro. Aquele não tinha, definitivamente,
sido seu dia de sorte. Iria tentar mais uma última vez e iria para casa. Talvez
no dia seguinte alguém, motivado por um sentimento de misericórdia, prestaria
atenção a sua habilidade no jogo de malabarismo com bolas e lhe recompensasse
com algumas moedas ou talvez com alguma nota.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Quando o sinal fechou para os
carros, realizou o mesmo ritual de sempre. Cumprimentou os motoristas e começou
a jogar as bolas para cima, mas algo dera errado, bateu uma mão na outra,
perdeu o tempo e as bolas caíram no chão e rolaram entre os pneus dos carros.
Sorriu, sem jeito, pedindo desculpas, e percebeu que dessa vez algumas pessoas
o observavam mais atentamente, sorrindo ante a falta de jeito do menino, mas
reconhecendo o seu esforço. Alguns abaixaram os vidros e lhe ofereceram como
recompensa umas moedas, que ele recebeu de bom grado, e quando o sinal já
estava prestes a fechar, quando já estava para sair do meio dos carros, ouviu a
buzina de um que estava perto do final da fila. Ele levantou a cabeça e viu que
um alguém lhe acenava. Correu até lá, olhando para trás, para o sinal, que já
ia ficar verde. Quando chegou, viu que o motorista era um senhor de tez morena
e cabelos grisalhos e, no banco de trás, vinha uma menina entretida com um
objeto que ele não conseguiu reconhecer. O homem lhe entregou uma nota, algumas
moedas e lhe deu algo que ele recebeu sem olhar, pois o sinal abrira. O menino
correu para a calçada e voltou para a proteção de sua sombra, guardando o
dinheiro dentro de sua bolsa, pensando se valeria a pena tentar mais uma última
vez o seu número, mas estava muito cansado e o sol, muito quente. Melhor voltar
para casa, pois aquele seu dia não estava sendo dos melhores. Quem sabe o outro
teria mais a lhe oferecer do que umas pouquíssimas moedas e três notas de valor
baixo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Quando já guardava suas coisas numa
mochila rasgada, foi que se deu conta daquilo que aquele senhor lhe entregara e
ele ainda não tinha atentado para o que era. Um livro! Aquele senhor lhe dera
um livro! Durante todo aquele tempo em que pedia dinheiro nas ruas, em que
realizava números diversos para chamar a atenção de motoristas, já recebera
inúmeras coisas: dinheiro, comida, uma ou outra palavra, mas nunca ninguém lhe
dera um livro. Não prestou atenção sequer as cores vibrantes da capa, não o
abrira para ver as ilustrações e não chegou sequer a ler seu título, jogou-o
dentro da mochila e foi embora pra casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Em casa,
viu a mãe cansada, pois passara a manhã inteira a lavar e passar roupa; viu os
irmãos menores brincando com outros meninos da rua. Jogou a mochila num canto
do quarto e se jogou na cama, e só se levantou quando sentiu um vazio do
estômago e o ouviu reclamar. Foi até a cozinha e levantou as tampas das panelas
só para ver que tinha o mesmo do dia anterior, do anterior do anterior, do
anterior do anterior do anterior... Soltou o ar de uma vez, pois esperava que,
pelo dinheiro que conseguira em outros dias, pudesse ao menos comer algo
diferente e um pouco melhor. Mas era melhor não reclamar, pois pelo menos tinha
o que comer, enquanto outros meninos de sua rua nem isso tinham.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> A casa estava em silêncio. Sua mãe
estava no quintal, lavando e estendendo roupa, e seus irmãos estavam do lado de
fora. Foi para seu quarto e lá ficou olhando para o teto até que pegou no sono.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">No dia
seguinte, acordou com os primeiros raios de sol, tomou um banho fio, comeu um
pão com margarina e bebeu um copo de café e se aprontou para sair. Antes de
fechar a porta de casa, olhou para os irmãos dormindo e para a mãe, que já
estava de pé, trabalhando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Quando chegou ao cruzamento, que
abriu sua mochila, foi que se deu conta de que o livro ainda estava ali. Soltou
todo o ar dos pulmões de uma vez, aborrecido, pois havia trazido aquele peso à
toa. Mais uma vez, não reparou naquele objeto, pegou as bolas e esperou que o
sinal fechasse para passagem de carros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Aquele dia foi bem melhor do que o
anterior. Não deixou as bolas caírem nenhuma vez e recebeu muitas moedas, tanto
que já pensava em ir pra casa mais cedo e passar antes no mercadinho do bairro para
comprar algo diferente para almoçar, e quando já se preparava para ir embora,
que abriu a mochila para guardar as bolas, atentou para o livro que estava ali
dentro. Retirou-o da bolsa e prestou atenção pela primeira vez nele. Passou as
páginas lentamente reparando nas ilustrações, mas não tentou lê-lo. Ficou tão
entretido no colorido, imaginando a história que havia por trás de cada uma, no
mistério que aquelas letras impressas guardavam, ansiando para serem
descobertos, que nem se deu conta que um carro buzinava freneticamente tentando
lhe chamar a atenção. Só quando levantou a cabeça foi que viu que uma mulher a
lhe acenar, chamando-o. Ele, com o livro na mão, correu até ela, que
sorridente, impressionada por ver um menino numa esquina, debaixo do sol, com
um livro na mão, pegou um livro que trazia no banco de trás do carro e estendeu
para ele. Junto com o livro ela lhe deu umas moedas, que ele recebeu de bom
grado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O sinal então abriu e a mulher lhe
sorriu abertamente antes de engatar a primeira marcha e seguir para seu
compromisso, não sem antes lhe desejar uma boa leitura. O menino pegou os dois
livros, guardou-os cuidadosamente na mochila e foi para casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Tomado
por um estranho sentimento que não sentia há tempos, não saiu de casa no dia
seguinte. Quando sua mãe lhe perguntou se estava se sentindo bem, ele apenas
sorriu e disse que sim. Ela foi lavar roupa e ele foi para o quarto, onde tinha
deixado sua mochila. Abriu-a delicadamente e de lá retirou o primeiro livro.
Mesmo balbuciando, pois seu domínio de leitura era precário, conseguiu ler o
título do livro, as primeiras palavras e frases, e logo se viu imergido naquela
história fantástica. Quando o fechou, que olhou ao redor de si, viu que tinha
muito de diferente-igual ao personagem do livro e sentiu uma imensa gratidão
por aquele senhor que lhe dera aquele primeiro livro. Mal tomou novamente
fôlego, pegou o segundo livro e o leu de supetão tomado por uma imensa alegria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Aquelas leituras, aquele momento em
que esteve a sós consigo mesmo e com todo aquele mundo de personagens, trouxe
consigo um sentimento de liberdade que jazia esquecido no peito do menino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Saiu de casa às pressas, pegou o
primeiro ônibus que viu e chegou ao cruzamento onde ficava todos os dias sem
fôlego, mas em êxtase. Naquele dia não fez uma única vez seu número de atirar
bolas para o ar. Ficou o tempo todo com o olho nos carros para ver se
reconhecia aquele carro cujo motorista lhe abrira a janela há dois dias e lhe
entregara um livro que ele não prestara atenção, mas que só naquela manhã ele
tinha notado o seu valor. Ficou olhando para todas as janelas para ver se via
novamente aquela mulher de sorriso tão aberto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Não viu nenhum dos carros, não
encontrou nenhum daqueles olhares que desejava reencontrar, mas não ficou
triste. Voltou para casa estranhamente pensativo. Chegando lá, viu que sua mãe
tinha preparado algo especial para o almoço, e só então se deu conta de que dia
era aquele: seu aniversário! E ele sequer tinha se dado conta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Recebeu das mãos da mãe um embrulho,
que ele prontamente rasgou e viu uma mochila e alguns cadernos. Agradeceu
imensamente os presentes e a abraçou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Não foi
para aquele cruzamento esperar que o sinal fechasse no dia seguinte, no outro e
no outro, mas toda manhã saía de casa nas primeiras horas da manhã, como sempre
fazia, mas com destino à escola. Sentia uma imensa alegria ao ouvir o sinal
sonoro indicando o início das aulas e uma leve tristeza quando soava o do fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Um dia sua aula havia terminado mais
cedo e foi caminhando em direção ao ponto de ônibus. Passou naquele cruzamento
tão seu conhecido quando viu um carro parado ao final da fila. O motorista o
reconheceu e buzinou para lhe chamar a atenção. O menino abriu o sorriso e
acenou, agradecendo. O sinal abriu o homem seguiu seu trajeto enquanto o menino
continuou caminhando pelas calçadas, com a alma leve, com um pensamento vagando
livremente. Seguia em silêncio, por mais que tudo ao seu redor fosse barulho, e
ao atravessar uma rua, ouviu o barulho de um buzina. Olhou para o lado e viu
aquela mulher sorridente e lhe acenar. Ele retribuiu seu sorriso e colocou a
mão sobre o peito, como que para indicar o nome da escola, e ela acenou
positivamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Aqueles encontros, naquele dia,
talvez tivessem sido mero acaso. Talvez aquelas duas pessoas se conhecessem,
talvez não, mas fato é que ambos foram providenciais na vida daquele menino.
Aqueles atos, simples, abriram os olhos e deram uma outra perspectiva de vida
àquele pequeno malabarista, lhe deram uma outra possibilidade de crescimento na
vida, e a forma que ele encontrou para expressar sua gratidão foi de reler
aqueles livros vezes sem conta, em especial no dia de seu aniversário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Mesmo já
tendo passado tantos anos, mesmo ele já sendo, agora, um adulto, aposentado,
ele continuava a ler aqueles livros infantis, e quando se deu conta de quão
egoísta era, pegou-os, guardou-os dentro de uma mochila e saiu de casa. Dirigiu
por ruas desconhecidas, passou por inúmeros cruzamentos até chegar àquele tão
familiar, que mesmo tendo mudado tudo ao redor, continuava estranhamente
familiar. Quando o sinal fechou, viu um menino se dirigir até o centro da faixa
de pedestre e começar a atirar as bolas para cima. Quando ele terminou, ele
sorriu, buzinou, chamando a atenção do menino, abriu o vidro do carro e lhe
entregou a mochila onde estavam guardados os bens mais preciosos que alguém
havia lhe dado naquela esquina. O menino agradeceu, mas quem agradeceu mais
ainda foi o homem que um dia fora um menino igual ele, no mesmo sinal, fazendo
as mesmas coisas, ganhando os mesmos trocados, e que agora estavam
intrinsecamente unidos pelos mesmos livros.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-11273650819666891972015-06-11T20:45:00.000-03:002015-06-11T20:45:11.677-03:00Por que literatura?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-8yY4qVySeEk/VXodTa3yAjI/AAAAAAAABJo/OPXXokypyeM/s1600/El_Amor_a_la_Literatura.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-8yY4qVySeEk/VXodTa3yAjI/AAAAAAAABJo/OPXXokypyeM/s1600/El_Amor_a_la_Literatura.JPG" /></a></div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todos os dias quando acordo, eu fico a me perguntar “por que
literatura?”. Eu poderia ter escolhido me dedicar, por exemplo, à medicina,
assim passando a conhecer o corpo humano a fundo; ou poderia ter escolhido o
direito, para entender o homem em sociedade. Escolhido a literatura, pois só
ela é capaz de possibilitar o conhecimento não do corpo, mas sua alma, ele nos
apresenta o homem não em sociedade, mas o homem consigo mesmo. Mas se engana
quem pensa que a literatura é só isso. A literatura tem inúmeras serventias,
dependendo de como se olha para o livro e de seu estado de espírito. Podemos
encontrar, sim, um elaborado e complexo sistema filosófico, podemos encontrar
uma visão revolucionário do homem pelo homem ou do homem em sociedade, mas
podemos, por vezes, simplesmente nos deleitar com um livro pelo livro,
experimentando momentos de um imensurável prazer no ato da leitura. A leitura
pode nos levar a mil e um lugares sem precisar nos tirar do lugar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todas
as vezes que pego um livro, eu me pergunto o que posso vir a encontrar entre
suas páginas, entre um parágrafo e outro, eu me pergunto se tal obra é atual,
por exemplo. A descoberta é sempre única e o livro é sempre atual. O que falar,
por exemplo, de um livro como os de Homero, atuais, que inspiraram termos de
medicina (tendão de Aquiles) ou informática (o vírus de computador chamado
“cavalo de troia”), que, mesmo numa conversa informal entre amigos, sempre,
sempre tem um que fala que recebeu um “presente grego”, se referente ao
presente mais astuto da história e da literatura mundial. Não só Homero, mas
todos os gregos antigos, mesmo sua civilização tendo vivido seu auge há quase
três mil anos continuam atuais, sendo constantemente revisitados em todas as
artes, como cinema, música, artes plásticas e literatura, mas também no nosso
dia-a-dia, no nosso imaginário, sendo mais presentes em nossa vida do que a
gente é capaz de se dar conta. Mas não só Homero e os gregos são atuais, são
importantes. O que podemos falar, por exemplo, de Dante, cuja criação transcende
ao literário e artístico, tendo influenciado fortemente nossas crenças, tendo
mesmo moldado o pensamento de Céu e Inferno de nossa sociedade ocidental,
sejamos nós cristãos ou não? O que falar de Dom Quixote, que é, na minha
opinião, o personagem que melhor sintetiza o homem moderno? E de Shakespeare,
um dos maiores escritores de todos os tempos, tido como um dos principais
cânones da literatura ocidental?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
literatura é tão fantástica e atual que há personagens/criações, que se tornam
maiores que seus escritores/criadores, chegando mesmo a ofuscá-los! O exemplo
maior disso é quando falamos no nome Conan Doyle. Quantos conhecem esse nome
assim que o falamos? Mas todos conhecem o nome Sherlock Holmes! O maior
detetive do mundo nós reconhecemos imediatamente, sabemos citar suas frases,
sabemos falar de como resolveu alguns notórios crimes, admiramos o seu
raciocínio lógico, etc., a ponto de acreditarmos em sua existência (“como
assim, ‘sua existência’?”, sempre tem alguém que fala! “Sherlock Holmes não
existiu?”, ela sempre pergunta). O caso Doyle-Holmes é, talvez, o mais
conhecido de todos nesse aspecto, mas há muitos outros, de personagens que são
tão fortes e marcantes na história que sua existência ultrapassa os limites e
páginas do livro em que são narradas as suas proezas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
literatura, além de ser fantástica em vários aspectos, é visionária e
influencia inúmeras áreas do conhecimento. Para percebermos e ter uma real
noção disso basta que vejamos e estudemos um pouco de Dostoievski, cuja obra
era adorada e chegou, mesmo, a influencia o filósofo Nietzsche e teve um papel
relevante nos estudos e desenvolvimento da teoria da psicanálise de Freud. Para
vermos um aspecto visionário e crítico, por exemplo, da literatura, basta
lermos os dois principais e mais conhecidos livros de Orwell. Temos a
literatura crítica, aquela que denuncia a hipocrisia da sociedade e dos tipos
humanos que a compõe, como no caso de obras como as de Flaubert, Tolstoi, Zola,
Victor Hugo, entre outros. Além disso, a literatura é resgate e retrato da
história e da vida das pessoas, independente de onde e em que época vivem, e
exemplos disso estão na obra de Graciliano Ramos, que foi o autor brasileiro
que melhor retratou a dura realidade e vida do sofrido povo nordestino, daquele
povo que vive nas mais áridas regiões assoladas pela seca de nosso país.
Percebemos isso também na leitura de Charles Dickens, que melhor do que ninguém
retratou a dura vida das pessoas nas cidades de seu tempo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Temos a
literatura fantástica, aquela que nos faz sonhar, que nos cativa e nos
enfeitiça, como a de Gabriel Garcia Marquez; temos aquela poética, lírica e
delicada ao extremo, como a de Kawabata; temos aquela que nos desafia e nos faz
ser como o detetive responsável pela solução de determinado crime, como a de
Agatha Christie; temos aquela que nos deleita com a plasticidade da linguagem,
como a de Mia Couto; temos até aquela que nos causa calafrios, aquela que nos
dá medo de pegar o livro à noite, como as de Stephen King, Bram Stocker,
Lovecraft ou Allan Poe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
literatura não é só umas duas dúzias de nomes e de obras, literatura é um
número infinito de autores, obras, personagens e universos mil que estão bem
ali, ao nosso alcance, para serem descobertos, para nos convidar a entrar e
caminhar num universo fantástico, que pode ser um descrito nas ruas de nossa
cidade, na Paris, Londres ou Moscou do século XIX, em Narnia, na Terra Média,
na Lua, no fundo do oceano ou seja lá em que local ou tempo for... Em se
tratando de literatura, se pode tudo!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nas engana-se
quem pensa que a literatura só acontece “lá fora”. Temos, aqui, em nosso país,
autores extraordinários que nos fazem bater no peito e ter orgulho de ter
nascido e de viver nas mesmas ruas, bairros, cidades ou apenas no país em que
viveram Machado de Assis (o maior escritor brasileiro de todos os tempos!),
Guimarães Rosa, Álvares de Azevedo, Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Jorge
Amado, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Chico
Buarque, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Lima Barreto, José Lins do Rego,
Graciliano Ramos, entre tantos e tantos e tantos outros... E ainda tem os que
não são brasileiros, mas são tão próximos, são tão irmãos, que os lemos como se
o fossem, como os casos de Fernando Pessoa, Camões, Eça de Queiroz e Saramago.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
literatura faz tanto parte de nossa vida que a gente nem mesmo se dá conta. Ela
está em mil e um filmes que assistimos (repare na quantidade de filmes
adaptados ou inspirados na história de amor, uma das mais famosas do mundo, de
Romeu e Julieta), seja ele mais cult e intelectual, seja ele um voltado para o
entretenimento, aventura, fantasia, suspense ou mistério (vide os baseados nas
obras de Tolkien, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O senhor dos anéis</i>
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Hobbit</i>, olhe os fantásticos
filmes baseados na série de livros de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Harry
Potter</i>), temos os seriados que amamos acompanhar episódio a episódio (como
o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Game of Thrones</i>, baseado na obra de
George R. R. Martin). Está, também, presente e inspirando as mais diversas
artes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando
eu paro e penso nisso tudo, na importância que a literatura tem para a nossa
história, no quão presente está em nossa vida, que me dou conta do que já li e
do que ainda tenho para ler e descobrir e que me aproximo de uma resposta que
me seja realmente satisfatória para a pergunta que sempre me faço: “por que (e
para quê) literatura?”</div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-78099792621177270192015-05-03T08:48:00.001-03:002015-05-03T08:48:19.262-03:00Foi num fim de tarde...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-khyH4CaLLG8/VUYK03LRbOI/AAAAAAAABJU/t-Qgnhexrg4/s1600/69f93-fim-de-tarde.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-khyH4CaLLG8/VUYK03LRbOI/AAAAAAAABJU/t-Qgnhexrg4/s1600/69f93-fim-de-tarde.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Era fim de tarde e a anciã
estava sentada, como sempre fazia àquela hora, vendo o pôr do sol. Sentada em
sua cadeira de balanço no canto mais afastado da varanda de sua casa, ela,
enquanto contemplava tão raro-comum momento, olhando ao longe, revivia os
momentos passados de uma simples felicidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O
pôr do sol, para ela, era a hora em que tudo acontecia. Foi num fim de tarde,
quando ainda era uma adolescente, que vira o homem de sua vida pela primeira
vez, e que só vários meses após aquele primeiro encontro, no exato instante em
que o sol de deitava no horizonte, que eles se beijaram pela primeira vez. Foi
num fim de tarde em que o sol demorava a se pôr, como que para contemplar a
felicidade dela, que se casou, e nove meses depois, quando o sol se pôs, que
deu a luz ao primeiro filho, cuja primeira visão foi a da luz do sol de fim de
tarde que entrava pela janela entreaberta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Teve
vários filhos, todos nascidos à mesma hora, que levava, quando crianças, para
brincar à sombra de uma árvore, para sentirem a brisa vespertina que soprava
vinda do oceano e para, no exato instante em que o sol se punha, ficarem em
silêncio só pelo prazer de verem o sol fechar os olhos lentamente no horizonte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Era
sempre ao final de cada tarde que ela se sentava para ver o pôr do sol enquanto
esperava o marido chegar do trabalho, sempre trazendo presentes para ela e para
as crianças, e foi num dia, no único dia naqueles longos anos de felicidade, em
que se atrasou, chegando no início da noite, que trouxe consigo a notícia de
que estava doente. Os dois choraram juntos, e prometeram um para o outro lutar
juntos até o fim, e nunca deixarem um ao outro a sós, não importa o que
acontecesse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Lutaram,
choraram, sorriram e tiveram esperanças, e foi num dia, num fim de tarde, em
que tinham esquecido de por que um dia estiveram tristes, que ele se foi, junto
com o sol que fechava os olhos para dar lugar a noite. Foi nessa noite de
ventos frios em que a nuvem encobriu a lua e as estrelas, que ela chorou
sozinha e que soube que nunca estaria a sós, pois ele estaria para sempre com
ela e viria visitá-la ao final de cada tarde, e ficariam calados, de mãos
dadas, vendo o sol se pôr.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Ele
foi enterrado, ao final da tarde seguinte, embaixo de uma árvore na parte alta
do cemitério, num pequeno morro, para que pudesse contemplar, todo dia, o
espetáculo que a vida oferecia diariamente a todos que tinham sensibilidade
para ver <i>o momento</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Ela
voltou calada durante todo o trajeto do cemitério até sua casa, onde se trancou
no quarto por vários dias, só abrindo a janela para ficar junto e segurar a mão
de seu marido enquanto contemplava o pôr do sol.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Foi
num fim de tarde que recebeu a notícia do filho dizendo que ela ia ser avó, de
um outro que tinha arranjado um emprego em outra cidade e de um terceiro que
tinha passado no vestibular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Foi
enquanto o sol se punha que uma filha, que ainda muito jovem tinha saído de
casa para ganhar a vida, trabalhando numa cidade distante, voltou para que ela
conhecesse sua primeira neta. Ela sentou a criança em seu colo, que
imediatamente olhou ao longe, para onde o sol se punha, e ficaram as três, mãe,
filha e neta, a contemplar a beleza do instante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Enquanto
contemplava o pôr do sol foi que recebeu a notícia da morte trágica de um dos
filhos, que ficou sabendo da doença de um irmão e que chorou de saudade dos
tempos e das pessoas amadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Era
em cada fim de tarde, de alegrias e tristezas, de lágrimas e sorrisos, que ela
se sentia em paz. Era o silêncio do canto dos pássaros de cada fim de tarde que
a reconfortava, que fazia de cada momento eterno, que fazia a vida valer a
pena, que ela sentia como que o tempo parar ou passar lentamente, como a luz do
sol que vai se apagando pouco a pouco.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Foi
naquele fim de tarde em que contemplava o sol como da primeira vez, que viu seu
marido se aproximar chorando, e ela o recebeu sorrindo, de braços abertos. Os
dois ficaram lado a lado: ela em sua cadeira de balanço e ele de pé, que
contemplaram o pôr do sol pela última vez que, quando o sol fechou seus olhos
naquele fim de dia, ela também fechou os seus, e ficou para sempre com aquela
luz dourada em seus olhos.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-47887699338820507192015-03-25T19:15:00.001-03:002016-06-28T10:05:23.491-03:00Dez anos de livraria e uma certeza: não sou um bom vendedor<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-oubOhdZlmxE/V3J14oMgPhI/AAAAAAAABNA/u3niLfGGT-MoGucKZgLmJJcOKu7wJ_VIQCLcB/s1600/dia-do-vendedor-de-livros1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-oubOhdZlmxE/V3J14oMgPhI/AAAAAAAABNA/u3niLfGGT-MoGucKZgLmJJcOKu7wJ_VIQCLcB/s320/dia-do-vendedor-de-livros1.jpg" width="212" /></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Nunca
fui um bom vendedor. Estranho essa certeza ter me vindo à mente justamente
agora, quando estou prestes a completar 10 anos de livraria (é, amigos... o
tempo voa, e como voa...). Talvez Rose, tendo descoberto isso num piscar de
olhos há dez anos o que eu só vim a descobrir agora, não me contratou para
trabalhar com vendas, vaga que eu pleiteava, mas sim para atuar “na retaguarda
da livraria”, em seu estoque, onde eu teria mais contato com os livros que
estavam chegando diariamente à nossa loja. Mas eu sou teimoso e todo santo dia
exigia o máximo de minha eficiência dentro do estoque para acabar com minhas
obrigações só para poder ficar umas horinhas ou míseros minutinhos no salão da
livraria só para poder experimentar a adrenalina e desafio do que é ser
vendedor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Rose, com sua sensibilidade,
percebeu que eu não levava jeito para vendas, mas sim para um trato e uma
relação diferenciada com o livro, e, por isso mesmo, resolveu me promover antes
do término de meu contrato de experiência. Foi aquele primeiro sábado, 2 de
julho de 2005, um dos dias mais felizes de minha vida. Eu corria de um lado pro
outro pela livraria, atendendo um leitor e outro, orientando, ajudando,
localizando livros, fazendo indicações de leitura e, o mais curioso de tudo,
apesar de, naquele dia, ter alcançado um record em valores de venda, não vendi,
no sentido restrito da palavra, um único livro. Eu fiz e continuei fazendo
muito mais do que vender livros nos dias, semanas, meses e anos que se
seguiram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Cheguei, na metade dessa longa-curta
empreitada de dez anos, a marcas expressivas, como, por exemplo, ao número de
R$1.000.000,00 em vendas de livros, no início de 2009, o que me rendeu um bom
prêmio, placa e homenagens, e não vou dizer que nunca tenha atuado como
vendedor, pois atuei, sim, mas me orgulho de dizer que foram raros esses
momentos e que tenho, hoje, plena consciência de que atuar diretamente com vendas
não é o meu forte. Sempre bati as metas propostas sem precisar, nunca, me
desesperar, correndo atrás de clientes, mesmo porque, eu nunca fui de ter
clientes, mas sim amigos leitores, pessoas com quem troco experiências e
impressões de leitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Nesses dez anos eu já fiz muitos
amigos, e um orgulho que tenho é que não fiz inimizades (tudo bem que há uma
pessoa ou outra que entrou – e que entra – na livraria e não foi – não vai –
com a minha cara; tudo bem que me dei e me dou melhor com uma pessoa do que com
outra, mas inimizade mesmo, não fiz, assim como não sou de fazer em lugar
algum), prova disso é a boa relação que cultivo diariamente com todas as
pessoas com quem convivi e convivo diariamente. Posso até não falar diariamente
com todo mundo, pode até fazer um considerável tempo que não dou um “oi” para
um ou outro, mas que, mesmo com as não-palavras-ditas, sei que a amizade
continua intacta. Meu respeito e admiração por Andreza continua intacto e
cresce mais e mais a cada dia, as boas lembranças dos tempos do convívio diário
com Alessandra continuam em mente, a saudade dos papos-cabeça com Ivson por
vezes aperta, o carinho e o respeito por Alessandro e Leonardo nem se fala...
Foram e são tantas as pessoas com quem tive a imensa honra e privilégio de
conviver nesses dez anos que é impossível citar todas num único texto, mas,
mesmo não verbalizando seus nomes, todas são lembradas diariamente por mim ao
sair de casa todo santo dia para mais uma jornada de trabalho. O que falar da
admiração que tenho por Marcony, que, se eu me orgulho por estar para completar
dez anos, o que dirá e sentirá ele, que já tem quase a minha idade só em tempo
de estrada? O que falar da relação de cooperação contínua e respeito construída
diariamente com Adriano? O que falar da amizade e respeito que nutro por
Elinaldo, Luíza e Laiz? É, amigos... foram e são muitos amigos que a vida e o
trabalho me deu nesses dez anos de labuta diária... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Foram inúmeros os supervisores e
gerentes nesse meio tempo, desde Vilma e Teresa, lá atrás, nos tempos de
Siciliano, até hoje, já na família Saraiva, trabalhando com Stela. Mas sabe o
que é mais legal nisso tudo, de minha relação com meus superiores? Eles não são
e nunca foram superiores, gerentes, supervisores, líderes (essas nomenclaturas
são somente cargos, são somente nomes que constam nas carteiras de trabalho
deles), mas sim iguais, em trabalho, cargo, brigas, desentendimentos e muitos
entendimentos. Tudo bem que nem sempre estive nem estou de acordo com uma
postura frente a determinada situação e por vezes até discuto, com o devido
respeito, com aquele a quem devo me relatar, mas essas rusgas nunca
atrapalharam nem vão atrapalhar a excelente relação que construí e construo com
cada um.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Mas sabem o que me fez colocar em
retrospecto isso tudo, sabe o que fez essas memórias me tomarem subitamente de
supetão? A sólida e inigualável relação que construí com as dezenas, centenas,
quiçá milhares de pessoas ao longo desses dez anos. Nunca pautamos a nossa
relação baseada no preceito vendedor-cliente, mesmo porque, como já disse, não
sou um bom vendedor, e se dependesse de meus dotes profissionais como tal para
fazer amizade, iria morrer na solidão, mas sim na relação entre amigos, entre
duas pessoas que amam o mesmo ser-elemento vivo: o livro. E aqui, mais uma vez,
fico com uma imensa dor no peito e consciência por não poder citar todos, pois
são MUITOS, podem ter certeza, e peço uma Odisseia de desculpas a cada um,
dando-lhes a certeza de que, mesmo sem falar seus nomes, lembro de cada um. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> É impossível, sempre, para mim,
falar nesses meus dez anos de livraria sem lembrar e falar nos nomes do
compulsivo-por-livro Rômulo, sempre exalando tranquilidade e simpatia; do
sempre sensato e elegante em seus comentários e opiniões Adauto, do casal que
eu muito admiro Marcos-Karina, do pai-filha Honório-Bárbara; da plural e com
muito bom gosto, sempre, em tudo, Nicolle; da meio-tímida Val, sempre a
procurar e pedir, desejosa de uma indicação de uma leitura que a surpreenda; de
Lorenna, que todo mês diz que não vai, que não pode comprar livros, mesmo com
seu Vale Cultura, mas nunca consegue resistir ao pôr os pés na livraria. O que
posso falar de Adriana, que é, mais do que uma mulher, um Ser Humano
extraordinário? Maria do Carmo, Célia, Neusa e Ariette são pessoas a quem muito
admiro e respeito mais do que consigo expressar; Dilermando, Maurício e José
Brandão, eu não saberia nem o que falar; Joenilson, o maior francófilo do
mundo, eu não consigo mais conceber qualquer pensamento sobre a França sem que
a sua figura me venha à mente; Monique, Elisabeth, Henrique, Pedro, Leopoldo,
Virgínia, Sesiberg, Hérica, Ronaldo, Alberto, Marcello, Ammer, vigi... e por aí
vai a enorme lista de amigos que a vida-trabalho-livraria me deu nesses dez
anos. Tem também, além desses todos, aqueles que eu nunca sei ou lembro do
nome, como aquele senhorzinho que vai duas vezes por mês à livraria para
comprar livros para sua esposa, e sempre me pede uma indicação, e eu sempre
acerto em cheio, mesmo sem nunca ter trocado uma única palavra com ela! Tem
aquela mulher elegante, que mora na Inglaterra, que vem ao Brasil uma vez por
ano e, sempre que pode, passa na livraria para pegar, comigo, uma lista de
indicações de leituras para fazer ao longo do ano seguinte; tem aquela senhora,
juíza, que ama literatura russa, que me confidenciou certa vez que não vê a
hora de largar os excessos de formalidades e obrigações que a sua profissão lhe
impõe para poder se dedicar ao fantástico universo da literatura; tem aquele
senhor que foi médico legista durante décadas, mas que hoje, aposentado,
resolveu cuidar só e exclusivamente de orquídeas e ler, ler e ler.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> É, amigos, dez anos não é pouco
tempo, não, e são muitas pessoas que eu tive o privilégio de conhecer e estar
construindo, sempre, uma sólida amizade, e prova disso é ver a agenda de meu
celular, repleta de tantos nomes de pessoas da livraria, e isso só foi/é
possível pelo fato de eu ser um não-bom-vendedor, mas sim um amante confesso da
literatura e um orgulhoso livreiro de ter trilhando e estar trilhando um
longo-curto caminho.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-66634823414652484302015-01-11T10:23:00.002-03:002015-01-11T10:23:46.068-03:00De palavras e sedução<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Sgrv2UWlYfI/VLJ5Myypv3I/AAAAAAAABH0/9PjqiE85Lqw/s1600/pensativa%2C%2Bcabis%2Bbaixa%2C%2Btriste%2C%2Bpensando%2C%2Bsozinha%2C%2Bmar%2Bde%2Bsolid%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Sgrv2UWlYfI/VLJ5Myypv3I/AAAAAAAABH0/9PjqiE85Lqw/s1600/pensativa%2C%2Bcabis%2Bbaixa%2C%2Btriste%2C%2Bpensando%2C%2Bsozinha%2C%2Bmar%2Bde%2Bsolid%C3%A3o.jpg" height="267" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Ela caminhava
deixando que seus passos a guiassem para um lugar em que pudesse estar bem
longe de si, mas por maior que fosse a distância que seus pés a levassem, lá
estava ela mesma, diante de seus olhos, seja através de um reflexo numa superfície
espalhada, seja na própria sombra a seus pés, que não a deixavam esquecer de si
e nem do que lhe acontecera. Procurava deixar que os pensamentos voassem para
não se lembrar de nada, mas os fatos ainda eram muito recentes, e a memória
teimava em lhe fazer lembrar aquilo que queria esquecer. Tapava os ouvidos para
deixar que o silêncio a dominasse, mas ainda assim ouvia o eco de uma voz
distante que vinha se aproximando até poder ser ouvido como um sussurro ao pé
de seu ouvido, o eco da voz daquele que a seduzira, e ela, ingênua, pura como
era, se deixara levar por aqueles sonhos, se deixara ludibriar por aquelas
melífluas palavras proferidas por aquele que despertara o seu amor, mas que
nunca tivera a real intenção de amá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Seus pés, já cansados, se negavam a
dar mais um passo a mais além, e ela se deixou quedar de joelhos em frente ao
mar, onde as ondas quebravam bem perto, diante de seus olhos, fazendo aquele
barulho sedutor, como que a chamando. Deixou-se tomar pela solidão e que os
barulhos e sussurros do mar sobrepujassem os sons que ouvia dentro de sua
cabeça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Sem que percebesse, uma única e
solitária lágrima escapou de seu olho e escorreu pelo rosto, deixando um profundo
sulco em sua pele. Ela então sentiu a umidade deixada pela lágrima nos caminhos
que percorrera e se lembrou das dolorosas lágrimas derramadas tão recentemente.
Lembrou-se de cada momento, de cada palavra, da maneira como se sentira
ludibriada, de como fora seduzida e levada a entregar àquele homem o que tinha
de mais precioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> As dores que sentia no corpo não
significavam nada comparadas às dores que sentia latejar no fundo da alma. Sentia-se
perdida, sem saber o que fazer para afastar as lembranças, sem saber como
diminuir a dor que lhe consumia pouco a pouco e ameaçava lhe tomar por inteiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Fechava os olhos e tentava se
concentrar apenas no barulho das ondas quebrando bem perto, lhe chamando para um
mergulho, tentando lhe seduzir, esticando seus dedos para tocá-la, mas tudo que
ouvia era a voz dele, as mentiras que ele desfiava, com as quais a envolvida
sem que ela se desse conta. Lembrou-se que havia resistido além da conta, mas
aquelas palavras sussurradas tinham um poder muito grande, e lembrando disso
teve a certeza de que a palavra gritada é a mais fraca, de que a palavra falada
baixinho, quando proferida enquanto se olha nos olhos é a que tem a verdadeira
força.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Com seus olhos belos e sua voz
sibilante, ele conseguira arrancar dela um sorriso, depois outro e mais outro,
até que ela, já sem defesas, acabou se entregando, não aos poucos, mas sem
reservas. Amou perdidamente, mas em momento algum percebeu que ele só a amava
da boca pra fora, que as palavras dele eram vazias de sentimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Foi, para ela, um amor platônico se
realizando. O amor platônico, o sonho, mostrou-se em sua verdadeira face quando
ele a procurou e, com a mesma voz sussurrada, com o mesmo olhar sedutor, mas
desta vez sem o brilho, e com uma fingida dor e um leve sorriso imperceptível
aos olhos, disse que não podiam mais ficar juntos, que não podiam mais se ver e
disse uma poção de palavras vazias que ela não pôde ouvir, pois a dor foi tão
intensa que todos os seus sentidos ficaram como que anestesiados: não via, não
ouvia e não sentia cheiro, mas sentiu o abraço frio que ele lhe deu e sentiu o
gosto amargo na boca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> E agora estava ali, sozinha,
chorando, e a cada lágrima que escapava de seus olhos eram como se sentisse uma
punhalada na alma. Deixou que a dor e as lágrimas lhe lavassem, lhe purificassem
e lhe apaziguassem, e quando se sentiu reconfortada, levantou-se lentamente e
entrou no mar. Lavou o rosto, deixando que o sal das lágrimas se misturasse ao
sal da água do mar. Respirou fundo e olhou para o céu e para o sol, que lhe
sorria lá do alto. Abriu os braços e deixou que o calor do sol aquecesse o frio
que sentia na alma e assim realizasse o resgate de sua vontade de voltar a
sorrir.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Saiu do mar com o corpo e alma lavada. Seu corpo
ainda estava dolorido, sim, mas na alma o processo de cicatrização daquela
ferida já tinha sido iniciado, e em muito breve tudo que ficaria seriam meras
lembranças e uma pequena marca, como de uma ferida que criou uma casca que caiu
e que tal como acontece com os machucados de uma criança, logo foi esquecida.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-63406249139623422192015-01-01T21:05:00.004-03:002016-06-28T12:59:27.613-03:00Retrospectiva 2014 de leitura<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-Uqz7aYn-Kjo/V3Ke1HgGl_I/AAAAAAAABP4/xOydeu457Zoi4XtTB1zWdbGvqREW54QvACLcB/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-Uqz7aYn-Kjo/V3Ke1HgGl_I/AAAAAAAABP4/xOydeu457Zoi4XtTB1zWdbGvqREW54QvACLcB/s320/hqdefault.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Nunca
um ano foi tão recheado de leituras de tão variados gêneros quanto o foi o de
2014 para mim. Para constatar este fato, bastou eu dar uma olhada para os
livros que iniciei e o com qual finalizei o meu ano de leitura: <i>Oblomóv</i>, de Ivan Goncharov (como virou
tradição minha, abrindo o ano de leituras com um grande clássico da literatura
mundial) e <i>Calvin & Haroldo –
criaturas bizarras de outro planeta!</i>, respectivamente. Entre um e outro, li
clássicos da literatura mundial, best-sellers, quadrinhos, livros de filosofia,
de crítica literária, de teoria literária, de história da literatura, etc. Li
russos, brasileiros, japoneses, norte-americanos, gregos, contemporâneos e
clássicos. Com uns, eu me identifiquei enormemente, devorando-os, saboreando
palavra por palavra, mas também de decepcionei. Descobri obras extraordinárias,
que eu me pergunto até hoje como pude não tê-las lido antes, e outras eu
poderia ter ficado sem ler...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Foram, no total, neste ano de 2014,
46 livros lidos, sendo que destes, um foi uma releitura, <i>As Vinhas da Ira</i>, de John Steinbeck, o meu livro e meu autor
favorito da literatura norte-americana. Desfrutei e aprendi muito lendo
filosofia, crítica e teoria literária, e dos livros desses gêneros, o que mais
mexeu comigo, o que me foi mais impactante foi o <i>Sobre o ofício do escritor</i>, de Schopenhauer. Livro curtinho, que “dá
para ser lido de um fôlego só”, como se diz popularmente, mas trata-se de uma
obra tão crítica, tão pesada, tão edificante e reflexiva, que eu passei semanas
para finalizá-lo. Outro gênero de leitura que muito contribuiu para a minha
formação, que muito me fez refletir, e que de quebra me arrancou gargalhadas,
foram os quadrinhos, com destaque para os três de <i>Calvin & Haroldo</i> que li ao longo do ano, mas não foram só
quadrinhos engraçados e lúdicos que li neste ano. Li também a versão adaptada
de <i>Guerra e Paz</i>, do qual não gostei
nenhum pouco (está uma adaptação muito fraca, completamente superficial), e <i>Sandman – os caçadores de sonhos</i>, do Neil
Gaiman, que é uma das mais delicadas e belas histórias de amor que já li em
minha vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Ponto negativo está no fato de eu
nunca ter finalizado um ano me sentindo tão frustrado. Não falo da quantidade
de livros lidos (um pouco abaixo dos anos anteriores), mas dos livros que não
consegui ler por motivos diversos (entre eles, o maior é a falta de tempo). Foram
tantos os livros não lidos que ficaria impossível listar todos, mas não poderia
deixar de citar <i>O ladrão do tempo</i>, do
John Boyne, os dois últimos da Jody Picoult, <i>O Homem que amava os cachorros </i>(que prometi para mim mesmo, e para
a minha amiga Nicolle, que seria o segundo livro a ser lido em 2015), <i>No silêncio entre dois suspiros,</i> <i>Doutor Sono</i>, os novos livros de Amos Oz
e de Ian McEwan, etc., etc. e etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Outro fator que me chamou a atenção
(que não sei se é algo positivo ou não) é o fato de, em 2014, eu não ter tido
uma “unanimidade” de melhor livro do ano. Se em 2013 eu tive <i>O Arroz de Palma</i> a receber os louros de “melhor
livro”, em 2014 eu não tive, em minhas leituras, uma obra que tenha se
destacado tanto assim. Li o segundo livro do autor, <i>Doce Gabito</i>, que é MUITO BOM, em busca daquele que seria “o livro
do ano”, e o livro é, na minha opinião, mais maduro do que o anterior, que tem
um andamento narrativo mais bem definido, com mais personagens mais bem desenvolvidos,
mas que não é tão surpreendente quanto <i>O
Arroz...</i> e acabou ficando o <i>Gabito</i>
entre os cinco melhores livros de 2014, mas o pódio ficou com <i>O Melhor do Teatro Grego</i>, publicação da
editora Jorge Zahar que consiste numa reunião de quatro peças significativas do
teatro grego; <i>Marcoré</i>, de Antônio
Olavo Pereira, obra de literatura nacional extraordinária; e <i>Sobre o ofício do escritor</i>, de
Schopenhauer. Para fechar o meu “top 5” de 2014, ocupou o lugar o livro <i>O último dia de um condenado</i>, de Victor
Hugo. Merecem menção os livros <i>Misery</i>,
de Stephen King, que é fodástico (fico me perguntando como pode um escritor
prender e deixar o leitor tão tenso numa história que contém basicamente DOIS
personagens e UM cenário!), o <i>A</i> <i>Estrela de Prata</i>, de Jeannette Walls, os
dois de Sue Monk Kidd e o magnificamente bem escrito, reflexivo, poético e
melancólico <i>Quarto de Hotel</i>, de meu
grande amigo Adauto Carvalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Li alguns livros bons, mas dos quais
esperava bem mais, com destaque para <i>Os
Demônios</i>, de Dostoievski, que, dos romances do escritor russo que eu li,
foi o menos empolgante e intenso e <i>Vinte
mil léguas Submarinas</i>, que é muito extenso e cansativo, repleto de detalhes
e descrições que atestam a genialidade e conhecimento técnico do escritor, mas
que, como foi o caso de excesso, acabou “travando a leitura”. Outros livros, de
outros gêneros, me fizeram “salivar” quando li as sinopses e comentários, mas
que me deixaram um tanto quanto decepcionados quando (e enquanto) os li, como <i>O Fio da vida</i>, que tem um início esplendoroso,
mas que se perde um pouco, que passa a “desempolgar” da metade para o fim, <i>O trem dos órfãos</i>, que tem duas personagens interessantes, com boas
histórias, mas que poderiam ter se cruzado (as histórias), o que acaba não
acontecendo, o <i>Constelação de fenômenos
vitais</i>, e o <i>Flor Negra</i>, que tem
um pano de fundo histórico interessante, mas como literatura, deixou um pouco a
desejar. Mas estas “decepções” fazem parte de nossa vida como leitores. Por vezes
o problema é o momento, que não é propício para a leitura daquele livro em
específico, e em outras ocasiões é a expectativa que depositamos naquele
livro...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Este ano, se eu fosse defini-lo em
uma palavra, eu o faria com a palavra <i>Grego</i>.
Isso mesmo: grego! Foi 2014 o ano da leitura dos gregos para mim, como outros
anos foram o ano dos russos, o ano dos franceses, o ano dos brasileiros. Li,
além das tragédias (de Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes), o <i>Fábulas</i>, de Esopo, e o <i>Poética</i>, de Aristófanes, livros que me
fizeram perceber ainda mais o quão somos filhos e herdeiros dos gregos, o
quanto aquela civilização lançou bases para a nossa filosofia, cultura,
literatura e pensamento e o quanto continuam atuais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Foi, também, 2014, um ano em
dediquei um especial espaço de meu tempo para as leitura de ordem técnica e acadêmica.
Além dos já mencionados Schopenhauer e Aristóteles, li Bakhtin, Auerbach,
Alfredo Bosi, Tânia Carvalhal e Douglas Tufano.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> O que me aguarda o ano de leitura de
2015 eu nada além do fato de se iniciar no dia 1º de janeiro, com a leitura de
um grande clássico da literatura mundial, um russo, pra variar, e se encerrará
em 31 de dezembro, com algum livro ou autor especial (para “fechar o ano com
chave de ouro”). Mas de uma coisa eu tenho certeza: independente de quantos
forem os livros, serão edificantes e eu os saborearei palavra por palavra de
suas histórias, me identificarei com seus personagens e perderei noites de sono
(seja dormindo mais tarde ou acordando mais cedo) de tão instigado que ficarei
com as histórias.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-17747757111213779732014-11-30T07:33:00.000-03:002014-11-30T07:33:08.431-03:00Nós e nossas leituras<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-dxLTzJHw6Yc/VHryPKSXLDI/AAAAAAAABB4/hRUz4Nf7fDc/s1600/ampulheta%2B-%2Btempo.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-dxLTzJHw6Yc/VHryPKSXLDI/AAAAAAAABB4/hRUz4Nf7fDc/s1600/ampulheta%2B-%2Btempo.jpeg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Desde
que nascemos, somos bombardeados por informações mil, por influências mil que
farão parte e nos acompanharão, lado a lado, durante aquele instante ou fase
nossa vida, e que, algumas, até certo grau, far-se-ão tão imprescindíveis,
deixarão marcas tão profundas que nos acompanharão até o fim de nossos dias.
Fazemos escolhas, selecionamos e até deixamos que um algo nos marque mais do
que um outro, mas há casos que algo nos marca tal que nem nos damos conta,
naquele momento, de sua importância e até onde vai sua influência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Quando crianças, as nossas escolhas
são fáceis. É algo entre o personagem favorito, o ídolo do momento ou que canal
de televisão e desenho assistir, e essas escolhas nos acompanharão pelo resto
da vida, embora só consigamos nos dar conta bem na frente, quando nos bate
aquela “seção nostalgia” e percebemos o quanto tal personagem nos marcou e
temos dele, o quanto rimos e nos divertimos com tal desenho, etc. Na
adolescência, já temos, talvez, que ser mais criteriosos e menos impulsivos como
quando criança, pois nessa fase é que começamos a desenvolver o nosso senso
crítico e começamos a ter a nossa própria opinião/posição diante daquilo que
temos que escolher. Continuamos a ter os ídolos, sim, como em tempos passados,
mas eles adquirem outro status e importância em nossa vida. Fazemos nossas
escolhas em cima de critérios rígidos que desenvolvemos (se bem que por vezes
nem tão rígidos assim). Escolhemos as nossas bandas favoritas, as músicas
favoritas, e, em determinada fase da adolescência, devemos fazer uma opção
crucial, que pode fazer com que a nossa vida tome um definitivo rumo, que é o
de que curso fazer e que carreira seguir. Também nesta fase de nossa vida é
que, por sermos mais criteriosos, passamos a sentir mais as influências de nossas
escolhas e das experiências marcantes que vivemos. Quando adultos, as escolhas
tornam-se ainda mais difíceis, pois entra, nessa fase, o quesito
responsabilidade. As influências que sofremos, embora saibamos lidar com elas
(na maioria das vezes), também são muito fortes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Algo de que muitas vezes não nos
damos conta (por motivos diversos), e que nos influenciaram enormemente em
nossa trajetória de vida, são as leituras que fizemos ao longo dos anos, de
quais os livros que mais nos marcaram e quais colocamos como mais importantes
para a nossa formação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Na infância, embora muitas vezes
sequer nos lembremos, devemos fazer os devidos agradecimentos às leituras dos
quadrinhos, que, muitas vezes, representam uma abertura de portas para o hábito
da leitura. Personagens como os da Turma da Mônica nos deixam, até hoje, mesmo
já adultos formados, fascinados e despertam em nós o gosto dos tempos passados.
Além dos quadrinhos, devemos prestar homenagens aos autores formadores dessa
fase, como Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Monteiro Lobato, entre
outros tantos, que acompanharam todas as fases do nosso letramento e que foram,
em muitos casos, os primeiros livros que tivemos e que tivemos o prazer de ter
lido. Lemos coleções diversas, acompanhamos os personagens e nos deixamos ser
guiamos pelas gentis mãos de um habilidoso e (por vezes) fantasioso escritor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Na fase da adolescência, os livros e
leituras adquirem um outro papel e são outras as motivações que nos levam a
escolhê-los. É nessa fase que muitos de nós começamos a desenvolver
efetivamente o hábito da leitura, que começamos a desenvolver a disciplina
necessária para o cultivo sobre como a literatura irá semear a nossa vida e
nossa personalidade. Continuamos, muitas vezes, a ler quadrinhos, mas muitas vezes
negamos os que temos como infantis (afinal de contas, nessa fase de nossa vida
tendemos a ser suicidas, negando muito do que diz respeito aos personagens e
hábitos de certas leituras desenvolvidas na infância). Lemos os super-heróis
das revistas da Marvel e DC. No que se refere aos livros, começamos a nos
identificar com determinados gêneros e autores. Tomamos conhecimento, num
primeiro momento, de alguns clássicos, por vezes em versões adaptadas para a
linguagem adequada a tal fase da vida, uma vez que os textos na íntegra, no
original, nos parecem tão pouco atrativos, nos aventuramos junto com
determinados personagens, como Sherlock Holmes, que, além de ajudar a
desenvolver o hábito da leitura, aguça o nosso raciocínio. Também fazem parte
dessa fase a leitura de “livros do momento”, que lemos por impulso e influência
de outros colegas de leitura, escola ou familiares. Quando adolescentes numa
fase mais avançada, já com o hábito da leitura solidificado, começamos fazer as
nossas próprias escolhas</span> <span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">ao
iniciar a leitura de livros de cunho fantasioso, como as de Tolkien, ficamos
com o “cabelo em pé” com as de terror do Stephen King, aprendemos com as
filosóficas e lúdicas obras de Jostein Gaarder. Começamos, já, em determinada
fase da adolescência, a ler obras de maior “peso”, uma espécie de primeiros
clássicos que lemos na íntegra, e a partir desse momento nossa vida, como
leitores, começa a mudar profundamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Na fase adulta, por vezes, já com a
leitura fazendo parte de nosso dia a dia, nos deixamos levar e desafiar pelas
mais diversas leituras. Por vezes, quando cansados, para não ficar sem ler
nada, pois isso é algo que não conseguimos, nos aventuramos numa leitura de
entretenimento, nas páginas de um bom (e bem selecionado) best-seller, que irá
nos “arejar a mente”, que irá nos distrair e nos envolver com uma cativante e
empolgante história. Deixamo-nos, também, envolver com a leitura de romances
históricos, nos vemos “com a boca seca” com as histórias de suspense e mistério
de Allan Poe, nos aventuramos nas narrativas detetivescas de Conan Doyle e
Agatha Christie, lemos crônicas diversas, romances que nos tocam e marcam, mas
é nos edificantes clássicos que nos deleitamos e nos sentimos, como leitores,
mais completos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> É na fase adulta que realmente
tomamos conhecimento das chamadas altas literaturas e deixamos que elas lancem
profundas marcas na maneira como passaremos a compreender o mundo. Lemos os
essenciais gregos através dos épicos de Homero e sentimo-nos tragados pelas
obras do teatro, escritas há tantos séculos, mas que influenciaram fortemente a
nossa cultura e que continuam, mesmo (devido) com o passar dos anos, tão
atuais. Nos deparamos com os italianos como Virgílio e Dante, este tão
importante para não só a literatura, mas pelo forjamento de uma ideologia
religiosa que prevaleceu durante tantas séculos e que tem forte influência,
ainda hoje, no pensamento ocidental. Os ingleses dispensam apresentações e
comentários. Afinal de contas, o que falar sobre Shakespeare, Dickens, Jane
Austen, as irmãs Brönte (cada uma mais genial do que a outra), Walter Scott,
Joyce, Oscar Wilde, Virgínia Woolf, entre tantos outros? Sobre os franceses,
quais citar? Dumas, Victor Hugo, Stendhal, Zola, Balzac, Baudelaire, Mallarmé,
Rimbaud, Rabelaire, etc. fora La Fontaine, Perrault, autores de obras que fazem
parte de nosso imaginário. E o que falar de Saint-Exupery, autor de uma obra
que é eternamente nova a cada vez que a lemos? Não podemos deixar de mencionar
o espanhol Cervantes, o alemão Goethe ou os portugueses Camões, Pessoa, Eça de
Queiroz e Saramago. Os norte-americanos, apesar de como nação representarem um
império que é com justeza criticado, na literatura nos deram autores
formidáveis, principalmente no século XX, como Fitzgerald, Hemingway, Steinbeck
e Salinger, foram os contemporâneos Paul Auster e Phillip Roth. E os russos,
que marcam profundamente a alma de todos aqueles que se aventuram em suas
narrativas densas e marcantes? Puchkin, Gogol, Leskov, Dostoievski, Turguêniev,
Tolstoi, Gorki, Tchekhov, Pasternak, Nabokov. Existem tantos outros, de tantas
outras nacionalidades, como Kawabata, Gabriel Garcia Marquez, Mia Couto, Jorge
Luiz Borges, Kazantzakis... e que brasileiros mencionar? Falamos tantos,
elogiamos tanto tantos autores estrangeiros e acabamos por relegar os nossos
gênios da literatura. Machado de Assis é o maior deles, fato indiscutível, mas
a nossa literatura não se limita só e unicamente a ele. Temos também os
formidáveis Gregório de Matos, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Aloisio
de Azevedo e os romancista dos movimento romântico brasileiro, temos o
“príncipe dos poetas”, Olavo Bilac, temos os fenomenais pré-modernistas como
Augusto dos Anjos, Lima Barreto e Monteiro Lobato, temos os modernistas de
primeira fase e os geniais poetas e romancistas da segunda, surgidos
principalmente a partir da década de 1930, como Carlos Drummond, Cecília
Meireles, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo,
há os que começaram a se distanciar do modernismo, representando um novo
momento da nossa literatura, como Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto,
Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Lygia
Fagundes Telles. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Como se vê, somos quase que um
quebra-cabeça formado por mil e uma leituras que vamos fazendo, colecionando ao
longo de nossa vida, que ora nos influencia mais, ora um pouco menos, mas que
foram, todas, essenciais para a nossa formação humanística.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"> Algumas pessoas usam o ditado
popular “diga-me com quem andas, e te direi quem és”, mas nós, leitores,
podemos parafrasear tal pensamento e dizer algo do tipo “diga-me o que lês, e
te direi quem és”! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Somos, como seres dotados de consciência
e senso crítico, fruto de nossas experiências de vida, e as leituras feitas
estão entre as experiências que mais se mostram essenciais na nossa formação
humanística, tendo elas sido realizadas lá atrás, como primeiro contato e
experiência de leitura, seja via um livro ou revista, seja a leitura que
acabamos de finalizar ontem, de um livro escrito na semana passada ou de um
cujas palavras foram grafadas numa primeira edição há tantos séculos.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-2563021656914853712014-11-16T12:21:00.001-03:002014-11-16T12:21:12.740-03:00Escrevezinhar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-P6dtg6opR-M/VGjAvDYm6aI/AAAAAAAABBk/Z9W3DalBrYo/s1600/tempo%2Bna%2Bcozinha%2Bingredientes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-P6dtg6opR-M/VGjAvDYm6aI/AAAAAAAABBk/Z9W3DalBrYo/s1600/tempo%2Bna%2Bcozinha%2Bingredientes.jpg" height="320" width="256" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Escrever
é como cozinhar: envolve todo um longo processo, que executamos com imenso
carinho, que vai desde a escolha do prato a ser preparado, escolha dos
ingrediente ao paciente preparo e arranjo do prato para que seja melhor
apreciado e degustado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O escritor, assim como o cozinheiro,
precisa escolher bem o prato de acordo com a situação e os convidados que vai
receber, se bem que de vez em quando, é bem verdade, surgem imprevistos, e é
necessário se agir rápido, sem pensar muito. Às vezes o cozinheiro, assim como
o escritor, não está muito inspirado, mas cozinhar, assim como escrever, se faz
necessário, e ele prepara algo simples, como um feijão com arroz e bife, que
vai saciar a fome imediata, mas vai, ao mesmo tempo, deixar nele a impressão de
que poderia ter feito algo diferente, algo mais, como ter dado ao texto-prato
um toque diferente, como ter posto um tempero capaz de surpreender os
degustadores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O cozinheiro, assim como o escritor,
escolhe bem os ingredientes necessários à preparação do prato-texto. Apalpa,
sente a textura, cheira, vê se estão maduros, se estão “no ponto” para o
preparo, coloca-os cuidadosamente na sua cestinha de supermercado, depois os
passa no caixa e os organiza cuidadosamente numa sacola. Já em casa, quando vai
iniciar o preparo do texto-prato, retira, um a um, os ingredientes, na ordem
que vai utilizá-los. Descasca cuidadosamente os vegetais-palavras, corta com
precisão as carnes, dando ponto finais às frases e vai vendo, pouco a pouco, o
seu prato, mesmo ainda cru, tomar forma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O escritor, assim como o cozinheiro,
não pode ter pressa no cozer de seu prato-texto. Não adianta querer acelerar ou
atrasar a comida-texto. Se ele deixar passar do ponto, corre-se o risco do
texto queimar, e se o retirar antes da hora, o texto não vai ter apurado
devidamente os sabores dos condimentos e corre-se o risco, até, de, na pressa,
o ter retirado ainda cru. Há textos-pratos que podem demorar até meses para
serem preparados, pois, por vezes, falta um ingrediente específico que só pode
ser colhido/encontrado em determinada época do ano e em determinado local. O cozinheiro,
assim como o escritor, fica no dilema de seguir ou não no preparo do prato-texto,
mas sabendo que ele, quando pronto, valerá a pena, opta por esperar, e enquanto
o ingrediente que dará o sabor ao texto-prato não vem, ele seguirá preparando
aperitivos, deixando os seus convivas entretidos a saborear pratos diversos,
até que <i>Voilà!</i> surge ele, passando
pelas portas da cozinha, equilibrando nas mãos uma travessa com tão belo e
apetitoso prato, e os convivas, ao verem o esmero com que foi preparado, têm a
certeza de que valeu a pena cada segundo daquela espera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O cozinheiro, assim como o escritor,
é um ansioso, e olha com especial atenção as feições daqueles que provam seu
texto-prato, analisando cada reação, de aprovação (ou não!), e só consegue
soltar o ar de seus pulmões quando o outro, depois de mastigada a primeira
garfada, exprime, com sinceridade, a sua opinião sobre o prato-texto. Se aprovada
a comida-história, o escritor-cozinheiro, respira aliviado, satisfeito, mas se
não, fica a rememorar cada passo dado no preparo, fica a se perguntar se usou
os ingredientes na medida certa, fica sem saber se faltou uma pitada de sal,
deixando o texto insosso, ou se colocou uma palavra a mais, fazendo com que o
prato tenha passado do ponto, ficando salgado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O escritor, assim como o cozinheiro,
é um solitário nato. Por vezes até tem uns alguéns por perto, opinando de que
deveria escrever sobre isso, preparar um assado de tal maneira, explorar melhor
esse personagem, deixar mais tempo a comida no fogo a fim de melhorar apurar os
temperos, e essas ajudas são bem-vindas, sim, por mais que ele, por vezes, diga
tê-las rejeitado, mas ele se sente, realmente, bem, quando sozinho, quando se
sente rei do reino da cozinha ou de seu escritório, onde reina soberano,
estando de posse de sua coroa e cetro, papel e caneta ou panelas e facas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ambos, cozinheiro e escritor, são
artistas. Um, prepara pratos finos para saciar a fome do corpo do homem, o
outro, lapida palavras e as prepara num texto coeso e saboroso para saciar seu
intelecto. São ambas as artes quedas quais o homem precisa para sobreviver, mas
que precisa aprender a melhor apreciar, comendo devagar, garfada por garfada,
lendo devagar, palavra por palavra.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-39402111886138791042014-10-12T08:44:00.001-03:002014-10-12T08:44:10.724-03:00A lucidez e o fim da inspiração<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-_pDbkbD-1g4/VDppcK-ottI/AAAAAAAABBI/kuJ0gGthX6U/s1600/1234369895178_f.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-_pDbkbD-1g4/VDppcK-ottI/AAAAAAAABBI/kuJ0gGthX6U/s1600/1234369895178_f.jpg" height="235" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Não consigo
mais escrever. Não sei o que se passa comigo, que fico horas e horas a fio com
uma folha de papel em branco e uma caneta em mãos, e, quando me dou conta, vi
que os ponteiros do relógio deram uma volta completa e a folha continua ali, em
branco, mesmo eu estando de posse de um instrumento capaz de riscá-la por
inteiro. Mas não! Eu simplesmente não consegui riscá-la, não consegui empunhar
a espada/caneta e, tal qual Dom Quixote, ver, na folha em branco, um dragão e
lutar contra ele. Talvez veio a mim o que, felizmente, não chegou (ou chegou
muito tarde) ao Cavaleiro da Triste Figura: a lucidez!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Talvez seja isso mesmo: eu estou
lúcido! e, para escrever, se é necessária certa dose de desprendimento, certa inlucidez,
certa toque de fantasia, e eu não consigo mais fantasiar. Talvez esteja com a
minha fantasia aprisionada ou talvez esteja simplesmente preso por um algo que,
mais cedo ou mais tarde, sempre nos alcança e exige de nós mais do que podemos
dar: a rotina. A rotina é cruel. Ela aprisiona, toma a nossa inspiração, a
nossa disposição (física e mental) e nos rouba <i>inteiramente</i> o nosso precioso tempo. Da rotina ninguém consegue
fugir. No máximo a gente a vai enrolando, e ela, esperta como é, acaba se
deixando levar. Mas chega uma hora que ela nos pega, nos abraça e diz que dela
ninguém escapa! E quando se é realmente pego pela rotina, quando se está em
suas mãos, nos tornamos seus escravos e lhe damos tudo que nos é mais precioso,
e o maior castigo, justamente por termos tentado nos esconder dela, reside na
lucidez. Ela exige que sejamos, sempre, durante as 24 horas do dia, lúcidos. Não
nos é permitida sequer devaneio nem quando estamos sonhando. Os sonhos
tornam-se verdadeiras projeções de nosso dia a dia, e não é permitido, nem ali,
a entrada da fantasia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> A rotina, portanto, está
intrinsecamente relacionada à lucidez, e esta, por sua vez, age como uma carcereira
da fantasia, e com isso perde-se a inspiração, seja ela a serviço do que for. O
pintor, sem fantasia, sem inspiração, já não consegue mais pintar, e se o
tenta, suas pinceladas saem grosseiras, sem cor, sem brilho, como que
artificiais. O músico já não mais compõe, e, se tenta, o máximo que consegue
extrair dos instrumentos são barulhos idênticos aos das buzinas dos carros e
aos dos passos das pessoas correndo apressadas de um lado para o outro. O escritor,
como que cego, já não mais vê poesia. Em ambos os casos o que há comum está no
fato de que o que antes eram seus instrumentos de trabalho, agora são
verdadeiras armas contra e com as quais têm que lutar diariamente em busca da
inspiração perdida/aprisionada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> O artista, seja ele aquele que
empunha um pincel, uma caneta ou um instrumento musical, é um não-lúcido nato,
é um fantasista, é um alguém que, mesmo quando engolido pela rotina, consegue
encontrar um misero segundo, uma brecha no espaço-tempo e fugir, e nessa mera
fração de tempo construir um mundo à parte em que segundos são valiosos como
uma eternidade.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ser artista e viver e ver a sua
inspiração limitada/aprisionada é sofrer em silêncio, é engolir o choro a cada
vez que tenta produzir e liberar a sua arte e vê que nada sai de suas mãos. Mas
ele, mesmo sofrendo, por amar e acreditar naquilo que faz, no poder de sua
arte, ainda continua, persistente, a tentar tirar leite de pedra, como se diz
popularmente, por mais que a pedra, por vezes, não lhe dê leite, no entanto ele
continua a tentar, pois crê que, mais cedo ou mais tarde, irá encontrar uma que
lhe dará de bom grado o néctar necessário à vida, à sua arte.<o:p></o:p></span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4009794358949889753.post-86946821843168828512014-09-28T10:25:00.001-03:002016-06-28T10:14:05.566-03:00Mea culpa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-POsb658xhMc/VCgME-DUxJI/AAAAAAAABA4/PY8cv9FwvFg/s1600/culpa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-POsb658xhMc/VCgME-DUxJI/AAAAAAAABA4/PY8cv9FwvFg/s1600/culpa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ninguém mais precisa procurar pelo culpado por tudo, por
todas as “desgraças” que estão acontecendo em nosso país: eu sou o culpado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu sou o
grande culpado por toda essa corja de políticos que está aí no poder, pelas
pessoas a quem dei o cargo, a quem escolhi para me representar no dia da
eleição, por todos esses que ao invés de política se entregaram ao vício e
práticas da politicagem. Eu sou o grande culpado, portanto, por toda a desgraça
que a política nacional tem causado. Sou o único culpado por escolher pessoas
que vão ocupar os cargos para defender os meus interesses, particulares, de
minha classe, ao invés de pensar em defender os interesses da nação, de todas
as pessoas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou o único
culpado pela inatividade, pela passividade perante tudo que acontece. Poderia e
deveria lutar mais, ter feito mais barulho, me fazer entender, gritar mesmo,
mas, ao invés disso, preferi/ optei, pelo conforto e a paz de meu lar, e fingir
que tudo que está acontecendo não me diz respeito. Se estoura mais um escândalo
de corrupção, finjo indignação quando estou com amigos e até sinto certa
ojeriza ao meu país quando assisto a um noticiário ou leio notícias dessa ordem
num jornal qualquer, mas é um sentimento de repulsa passageiro, e logo estou
agindo como se tudo aquilo não fosse comigo. Vejo noticia após notícia em
telejornais, de escândalos após escândalos de corrupção, de mil e uma CPIs, das
práticas políticas (ou, melhor dizendo, das politicagens) tão comuns, e a única
coisa que penso é “mais uma” e “não vai acontecer nada de mais com nenhum dos
envolvidos”, e pronto. Minha única ação é desligar a televisão ou mudar de
canal, ou fechar a revista ou o jornal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu quem
coloca os Renans Calheiros, os Bossonaros, os Dirceus, os Jenuinos e os
Felicianos da vida onde eles estão, sou eu quem lhes dá amplos poderes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu o
responsável por tantas leis defasadas, pela justiça injusta, por deixar que
tanta coisa aconteça tanto “a torto e a direito”, só e unicamente por que “não
estou nem aí”, porque não me preocupo, porque não fiscalizo. Sou eu aquele que
não mais se choca com as injustiças...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E eu sou
culpado não só por isso, pelo que está acontecendo com o país; sou o verdadeiro
e único culpado, também, por todas e tantas as miudezas que causam mal a tanta
gente e as quais ninguém se dá conta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou o
culpado pela televisão que temos, pelos BBBs de número intergaláctico que ainda
estão por vir, só e unicamente por que eu lhes dou audiência, apesar de
reclamar, reclamar e reclamar. Tais reclamações, confesso, são da boca pra
fora, apenas. Quando estou só, em casa, quando ninguém mais vê, ligo a TV e
coloco no canal a que tanto critico, acreditando que só nele eu vou estar bem
informado, acreditando que ele é o detentor da única e universal verdade, que
ele é o imparcial, que retrata os fatos tal como eles são, que ele só mostra o que
me imprescindível, e se não é noticiado algo de que todos falam, algo que é
importante, significa que é importante para um alguém, que não é importante
para mim e não me diz respeito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou o
culpado pela sujeira na rua, no bairro e na cidade, pois sou eu quem não joga o
lixo no lixo, quem joga o papel quando ninguém está olhando na lixeira, quem
joga o lixo pela janela do carro no meio da rua. E ainda tenho o descaramento
de reclamar, para todo mundo ouvir, da sujeira!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu quem
não fiscaliza, quem “deixa pra lá”, que digo que aquilo não me diz importância,
embora saiba, em meu íntimo, que aquilo, sim, é de meu interesse, que se eu
‘deixar pra lá” agora, depois não vou estar aqui, e o problema já não irá mais
me afetar, já não mais “me dirá respeito”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu o
grande e único responsável por toda essa baixeza que vemos na televisão e
ouvimos nas rádios, pois sou eu quem lhes dá a audiência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu
aquele que se julga “o puro”, “o incorruptível”, “o de consciência limpa”, sendo
o primeiro a tentar proveito de algo, a oferecer “um trocado” para um guarda de
trânsito para que ele não me multe, sou o que fura a fila, quem não respeita as
leis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou eu
aquele típico brasileiro, aquele que acredita e cuja lei universal é a do
“jeitinho”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E sou eu,
principalmente, aquele que está perpetuando tudo isso, quem está espalhando o
mau exemplo, quem está deixando todo esse legado, toda essa herança maldita
para as gerações vindouras, para que elas vivam nesse mesmo país que eu vivo,
para que esse país viva sempre a se iludir naquele jargão de “Brasil, o país do
futuro”, mas de um futuro nunca irá se tornar presente.<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 11.0pt;"> Eu
sou o culpado, e torno aqui, pública, a minha culpa. Não procurem mais por
ninguém, não apontem mais seus dedos para ninguém, pois aqui estou eu, de
consciência limpa, ao menos uma vez na vida, tirando um peso das costas, da
consciência, ao me entregar para ser julgado, condenado e para cumprir minha
pena, só e unicamente por ser o responsável por toda uma série de desgraças que
têm acontecido no país e na sociedade.</span></div>
Escritor Lima Netohttp://www.blogger.com/profile/12981601613670166560noreply@blogger.com0