quarta-feira, 29 de junho de 2011

Moeda Virtual - lançamento


domingo, 26 de junho de 2011

Outros tempos da internet (que saudade)

Eu, definitivamente, sou de um outro tempo. Sou do tempo em que não havia redes sociais e para se conhecer gente nova na internet era preciso se conseguir, num sábado a tarde ou nas madrugadas durante a semana, uma vaguinha para entrar numa sala de bate-papo do UOL. Sou do tempo da internet discada pela IG, da velocidade lenta de conexão, em que downloads demoravam horas para serem concluídas. Baixar filme era uma tarefa para poucos, em que se demorava um final de semana inteiro, isso se a conexão não caísse e com isso ter que começar tudo de novo. Sou do tempo em que não havia MSN, Skype e coisas afins. No máximo, podia se conversar com os amigos através do Icq. Nossa, que saudade bateu agora desse tempo, das conversas com amigos, das madrugadas passadas em claro numa agradável conversa. Nessa época, que não faz tanto tempo assim, convenhamos, valorizávamos muito mais os momentos, as conversas, pois eram tão raras, que encontrar um amigo online, quando o cumprimentávamos, era o mesmo que abraçá-lo.
            Sou do tempo em que uma conversa, pela internet, numa sala de bate-papo, sempre se começava com um “quer tc?”, quando, se a conversa evoluía, havia uma troca de telefones e, se o negócio ficasse mais sério, marcava-se um encontro, normalmente num shopping, para se passar algumas horas numa agradável companhia. Como na época o uso da webcam era para poucos (pouquíssimos, na verdade) e havia uma grande dificuldade quanto ao envio e recebido de arquivos com fotos, tinha que existir todo um ritual e descrições para o encontro. Tinha que se dizer exatamente como era, fazer uma descrição precisa e minuciosa de sua aparência (1,73, cabelos pretos, olhos castanhos e uso óculos) e falar exatamente como iria se vestir (calça jeans preta e camisa azul marinho). Mas sempre havia as dificuldades de última hora, como, por exemplo, a roupa que havia combinado de ir ao encontro estava suja. Então se corria ao telefone, para dizer a pessoa que iria aparecer vestido de uma forma diferente, mas o telefone só dava ocupado (provavelmente era a irmã mais nova que estava no computador). Mas no fim, sempre se dava um jeito. Chegando lá, no local do encontro, começava a angústia da espera. Cada pessoa que passava na frente usando jeans azul escuro e camisa verde era ela. Mas não... Sempre a pessoa passava direto. E voltava a se sentar, cada vez mais desesperançado. Será que a pessoa não viria? Será que ela veio, passou por mim e resolveu voltar para casa? Mas aí ela aparecia e passava-se junto uma agradável tarde. Às vezes se ia ao cinema, mas, na maioria das ocasiões, ficava-se apenas conversando, jogando conversa fora. Talvez, quem sabe, marcariam uma outra vez, talvez se tornassem mais amigos e próximos dali pra frente, talvez nunca mais voltassem a se encontrar (nem mesmo na internet!). São coisas da vida, de encontros e desencontros.
            Por mais que isso possa parecer estranho, eu tenho saudades desse tempo, das amizades que fiz, muitas das quais conservo até hoje, das pessoas com quem, ainda hoje, costumo encontrar, não mais no Icq, como eu gostaria, mas no MSN, que é semelhante o uso, mais prático e com mais recursos do que o outro, sem dúvida, mas não com o mesmo gosto e charme.
            As amizades, dessa época, eram fortes, duradouras e verdadeiras, não iniciadas num lugar qualquer, numa rede social em que há de tudo, se fala de tudo, mas que parece não haver muito espaço para valores de outras épocas, mas num ambiente específico para isso, onde as pessoas realmente se encontravam para conversar e ficarem amigas umas das outras.
            A popularização da internet, a internet banda larga, os computadores super potentes de hoje facilitaram, sem dúvida, a nossa vida, mas, pra compensar, acaba com uma certa magia característica de outros tempos, que parece que se perdeu, se esqueceu, desaprendeu.
            Por isso eu sempre costumo dizer que as facilidades do mundo moderno acabaram com certas magias, e por isso eu vivo eternamente em meu passado, para revivê-lo.

domingo, 19 de junho de 2011

Acadêmicos e a Academia


Foi-se o tempo em que Academia era sinônimo de cultura, grande livro, critério, grandes escritores, etc, etc e etc. Antigamente (se bem que não faz tanto tempo assim), quando ouvíamos o nome Academia Brasileira de Letras (O termo ABL só veio a se popularizar recentemente), tínhamos a certeza de uma grande obra literária, escrita não por um escritor qualquer, mas sim por um Escritor. Foram muitos os grandes intelectuais brasileiros, tanto da literatura quanto de outras áreas afins, que tiveram seus nomes imortalizados por ocuparem uma cadeira na Academia. Lógico que, por motivos diversos e às vezes particulares, um ou outro se recusou a ocupar um lugar que lhe seria de direito, como os casos de Sérgio Buarque de Holanda e mais recentemente Chico Buarque (o Chico letrista, compositor, não o romancista, diga-se de passagem), Mário Quintana, entre outros.
            No entanto, atualmente, temos visto um total descaso com a Academia, pelos membros que nela ingressam. Antes, havia todo um critério, uma análise da obra, algo que pode ser chamado de “mérito acadêmico”. Via-se a importância do autor, valor literário da obra e sua história. Hoje, o que vemos? De todos os membros, pode-se citar dois nomes que são unanimidades, de escritores que tem até alguma importância, sim, que podem até ter escrito algum livro em que exista algum lampejo de literatura, mas que não o suficiente para ocuparem uma cadeira que lhe dá o título de “Imortal da Literatura Brasileira”: Paulo Coelho, José Sarney e Ivo Pitanguy. Paulo Coelho é um dos escritores mais vendidos do mundo, publicado nas mais diversas línguas, vendido nos quatro cantos do mundo, com livros lidos pelos mais diversos públicos, etc, etc e etc, mas, literariamente, ele é fraco. Não falo isso com preconceito, como um “dono da verdade”, por odiar Paulo Coelho ou coisa do tipo. Não. Muito pelo contrário. Eu li, e muito, Paulo Coelho, e posso dizer, aqui, que adquiri o hábito da leitura lendo Paulo Coelho. Li todos os seus livros até O Zahir e, na condição de leitor, tanto de Paulo Coelho quanto dos mais diversos autores, gêneros, estilos e escolas literárias, que “O Mago” é um escritor em que seu mérito literário é apenas mediano. Seus personagens não têm profundidade psicológica, suas histórias são mal exploradas e sua escrita é excessivamente elementar. Tudo bem... Paulo Coelho tem seus méritos por ter alcançado marcas de vendas que nenhum outro escritor brasileiro tenha alcançado. Mas se vendas representassem valor literário que o qualificassem a ocupar uma cadeira de uma Academia de Letras, Stephanie Meyer, Dan Brown e J. K. Rowling deveriam, já, ter ganhado o Nobel de Literatura. José Sarney... o que podemos falar de José Sarney como escritor? Não vamos entrar aqui em debate sobre a questão política, apenas nos detendo à literatura. E aí? Alguma opinião, sobre o Sarney escritor? Pois é. A opinião é essa mesmo: ninguém tem opinião sobre Sarney como escritor, simplesmente por que ele não tem um grande valor como escritor. Eu confesso que até li (experimentei, digamos assim) livros dele, um romance e um de crônicas, para ficar com uma opinião bem formada, e confesso que não achei ruim, não. No entanto, não são bons livros. Sarney é escritor daqueles livros que você termina a leitura e fica com aquela impressão de poderia ter gastado o tempo lendo algo mais produtivo, que marcasse mais. São aqueles livros que você define com aquela “gíria” que diz “Não inflÓi nem contribÓi”. Pitanguy, é melhor nem falar, né?! Falei Sarney e Paulo Coelho, só para me deter aos que hoje ocupam cadeiras da Academia, mas se voltarmos só um pouquinho no tempo, nos deparamos com a figura de Roberto Marinho, e sobre esse é melhor nem falar muito, por que na literatura e nas letras, no valor acadêmico, não há muito (para não falar nada) do Fundador e Presidente das Organizações Globo.
            Não estou falando, aqui, que Academia Brasileira de Letras não significa nada. O que afirmo, sim, é que ela significa, sim, e muito, e me sinto indignado quando vejo o descaso com que ela vem sendo tratada e mesmo como trata a si mesma.
            Temos, hoje intelectuais reconhecidos internacionalmente, estudiosos da língua portuguesa, como Bechara, que estão fazendo um trabalho belíssimo (não vamos entrar, aqui, em debate sobre a questão do Acordo, se é válido ou não, se era necessário ou não), e escritores respeitadíssimos, como Ana Maria Machado, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Carlos Heitor Cony, José Murilo de Carvalho, Ariano Suassuna, entre outros tantos intelectuais nas mais diversas áreas de atuação.
            Precisa-se, com urgência, de uma aproximação das pessoas, dos leitores, com a Academia. Necessita-se, com mais urgência ainda, que a Academia readquira o respeito que lhe é de direito, para ocupar o lugar que lhe é reservado na sociedade, não só se restringindo à importância acadêmica, agindo com critério, não contradizendo seu próprio “estatuto” quando a questão é referente ao “reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livros de valor literário”, para citarmos o próprio “estatuto” da Academia.
            Caso não se tomem essas medidas, caso a ABL não readquira o respeito que lhe é devido e não aja com verdadeiro critério quanto ao ingresso de seus membros, acabaremos, daqui a algum tempo, tendo aceito Bruna Surfistinha como membro ou Collor (e olhe que este é membro da Academia Alagoana de Letras e, ao que se consta, ninguém sabe ou leu o que ele escreveu).

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Meu novo romance


Hoje faz vinte anos que meu pai morreu. Estranho eu lembrar sua morte, logo hoje, quando julgava já ter superado todo o remorso que senti durante meses após tudo aquilo que se passou.
            Fiquei meses e anos, após a morte de meu pai, sofrendo com remorso, remoendo um sentimento de culpa por não ter feito aquilo que deveria por aquele que me dava tudo sem nada pedir em troca. Ele, que sempre fora tão humilde em toda a sua vida, que sempre cuidara dos filhos, sendo um pai zeloso, principalmente comigo, seu único filho homem, o mais novo.
            De minha mãe eu não guardo lembranças próprias em minha mente, pois ela morreu poucos meses após o meu nascimento. Tudo que sei sobre ela me foi dito por parentes ou por minhas irmãs mais velhas, que sempre cuidaram de mim, como que para compensar a perda, sendo a presença da mãe que não tive.
            Com meu pai eu tive pouco contato nos primeiros anos, pois ele passava maior parte do dia fora, trabalhando, saindo muito cedo de casa, quando eu ainda dormia, e chegando muito tarde, quando eu já estava deitado. No entanto, sempre fora uma presença constante em minha vida, mesmo sem estar tão presente.
            As pessoas falavam que com a morte de minha mãe ele ficou muito abalado, tendo quase enlouquecido. Ficava horas a fio parado, num canto da casa, sem se mover, ou movendo apenas os lábios, como se falasse sozinho, com a própria sombra ou com as suas lembranças. Ficou meses inteiros sem sair de casa, sem falar com ninguém, até que uma de suas irmãs, minha tia, surgiu, como que mandada pelo céu para ajudar-nos, e fez o meu pai retomar sua vida e a nossa, uma vez que dependíamos inteiramente dele, apesar da empregada que havia em nossa casa ter cuidado de tudo nesse período, quando meu pai esteve tão ausente.
            Raramente o víamos em casa, primeiro porque ele trabalhava muito, segundo porque, pelo que falavam, ele nos evitava pelo simples motivos de termos, todos, eu e minhas irmãs, muita semelhança com minha mãe, principalmente os olhos, e essa semelhança trazia lembranças dolorosas para aquele homem.
            Só fui ter contato de verdade, mais próximo, de filho pra pai, quando já tinha quatro anos, quando ele ficou doente e foi obrigado a ficar em casa por vários dias. Como minhas irmãs mais velhas passavam o dia fora, umas estudando, outras já trabalhando, e as que tinham idade próxima a minha passavam a maior parte do dia no colégio, ficando eu muitas vezes sozinho em casa, aproveitei a oportunidade para me aproximar dele, daquele homem que tão poucas vezes via, e mesmo assim tão brevemente.
            Lembro como se tudo tivesse acontecido há uma semana, do dia em que vi a porta daquele quarto aberta. Estranhei, pois ela ficava sempre trancada e eu nunca havia entrado ali. Pé ante pé, fui me aproximando e olhei para dentro. Não havia ninguém ali além dele, deitado, dormindo. Movido pela curiosidade, entrei, tendo cuidado para não fazer barulho e acordá-lo. Cheguei ao pé de sua cama e o observei, inteiramente escondido por baixo daqueles lençois. Só se via seu rosto. Ele estava tão quieto como se sequer respirasse e eu, temendo que algo lhe tivesse acontecido enquanto dormia, aproximei minha mão até tocá-lo na testa. Ele ardia em febre e estava suado e sua respiração era suave, seu peito quase não se movendo por baixo dos lençois quando inspirava e expirava. Quando o toquei, recuei o braço imediatamente, pois ele abriu os olhos e olhou para mim, com um olhar de quem não me reconhecia. Olhou detidamente para mim por alguns segundos, até que, como se tivesse resgatado em sua memória quem eu era, abriu um sorriso. Afastou os lençois e me deu sua mão, que eu segurei, acredito que pela primeira vez na vida. Ele apertou minha mão com força, e senti meus dedos doerem, mas não reclamei, pois aquele aperto de mão estava repleto de carinho, como um pedido sincero de desculpas.
            Ele se afastou um pouco para que eu me sentasse na cama, ao seu lado.
            Nunca antes tinha estado tão próximo ao ele.
            Nada falamos naquela ocasião, ficando apenas trocando olhares e sorrisos que diziam mais do que as palavras podiam exprimir.
            A partir de então, eu ia a seu quarto todos os dias e ficava lá, cuidando dele, e só saía de lá nos braços de alguma empregada, que me levava para minha cama, apesar da insistência de meu pai, em querer que me deixassem ali, para dormir com ele, ao seu lado.
            Fiquei triste quando soube que ele já estava melhor, que voltaria ao trabalho, tendo a certeza de que ele voltaria a ser o homem ausente-presente que sempre fora. Mas a nossa aproximação o fez mudar completamente a sua postura dentro de casa. Agora ele passou a só sair após tomar o café com toda a família reunida e a chegar cedo a casa, para poder nos colocar para dormir.
            Foi com grande estranhamento que minha tia, que era quem cuidava de tudo em nossa casa, o viu pela primeira vez tomando café-da-manhã conosco. Ele apenas sorriu e indicou uma cadeira onde ela deveria se sentar.
            Ele, desejoso de correr atrás do tempo perdido, fazia de tudo para estar sempre próximo, de mim e de minhas irmãs, e cuidar de tudo em casa. Nunca havia pedido desculpas por ter estado tão ausente durante tanto tempo, mas seus olhos diziam o quão arrependido estava, do quão egoísta tinha sido, fechando em sua dor e solidão, enquanto seus filhos, que tanto precisavam dele, sofriam tanto com sua ausência, pela morte da mãe e morte-em-vida do pai.
            Todos os finais de semana saíamos, ele, eu e vez por outra alguma de minhas irmãs, das mais novas, pois as mais velhas nunca queriam nos acompanhar.
            Íamos a parques ou à praia de uma cidade próxima, visitávamos parentes que nem eu nem sabia que tinha.
            Aqueles foram dos momentos mais felizes de minha vida.
            Muitas vezes eu me levantava à noite e batia à porta de seu quarto e perguntava se podia dormir ali, com ele. Mesmo tendo sido acordado no melhor do sono, ele sorria e me dava passagem. Eu corria e me jogava na cama e antes mesmo que ele se deitasse, eu já estava dormindo.
            Ele tudo fazia por nós, seus filhos, principalmente por mim, talvez por eu não ter tido mãe e por ser, talvez, o mais parecido com ela.
            Não havia nada que eu pedisse que ele não conseguisse para mim. E ele nada me pedia, e justamente quando me pediu, eu não o fiz.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

As lágrimas de uma nuvem

Olho para o céu e vejo as nuvens passando tão lentamente quanto o tempo, que teima em se arrastar. Vejo suas multiformas; vejo como se modificam, se mesclam, se separam, como são todas e como são uma só.
            Sinto inveja das nuvens, de ser parte integrante de um todo e de ser um só, viver livre no céu, ir a todos os cantos do mundo sob o sabor dos ventos, sentindo seus dedos a me acariciar, suas delicadas palavras a me consolar, seguir seus conselhos dizendo para eu ir a uma direção ao invés de seguir para outra.
            O vento é sábio, ele nos traz palavras que foram jogadas e através de seus braços chegam até nós; palavras velhas como o tempo e jovens como uma flor que desabrocha em sua primeira primavera. O vento é delicado quando deixamos nossas faces serem acariciadas por seus finos dedos, mas também sabe ser forte, inclemente e trazer destruição, quando é preciso ser assim. O vento tudo traz, mas também tudo leva; o vento traz em seus braços as nuvens que contemplo aqui de baixo lá no alto, inalcançáveis.
            Eu queria ser leve como uma pluma para ser levado pelo vento até as nuvens e poder tocá-las e sentir sua maciez entre meus dedos e poder me deitar e dormir um sono em seus braços, encostando minha cabeça em seu seio e sentir e o seu calor. Chego, em meu devaneio, a sentir o prazer que seria estar em seus braços e o comparo ao prazer de estar nos braços de uma amante.
            Olho para o céu, contemplando as nuvens, e percebo a intransponível distância que nos supera, e sinto uma súbita tristeza. Olho para meus pés, presos ao chão, e olho para os braços das nuvens, livres no céu, e uma triste lágrima escorre pelo meu rosto, deixando um rastro úmido de tristeza em seu caminho. Minha visão fica embargada pelas lágrimas que começam a escapar em abundância de meus olhos, acompanhadas de soluços que abalam o meu peito. Não quero e não posso mais olhar para o céu. Permaneço longos minutos de cabeça baixa e de olhos fechados até que sinto um lamentoso vento frio tocar meu rosto. Sinto como se fosse uma mão a toca meu queixo e me forçar a olhar para cima. Lentamente abro os olhos e vejo as nuvens tão baixas, mas não tão baixas a ponto de podermos nos tocar, de podermos nos abraçar. Ela vê as minhas lágrimas, e também chora.
A chuva, lágrimas da nuvem, logo me banham a face. Juntos choramos, eu por não poder tocá-la, e ela por não poder me ter em seus braços, com nossas lágrimas se misturando, se fundindo umas às outras. Somos como dois amantes que não podem estar um nos braços do outro, sedentos em nosso amor, desejosos em nossa paixão, mas conformados em nossas finitudes, com nossas impotências, conformados, apenas, que temos um ao outro, não importa a distância que nos separe um do outro.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Desabafo político

Brasileiro não tem memória política, brasileiro tem, no máximo, uma vaga lembrança. Quer exemplos? Collor, Sarney, toda aquela corja envolvida em escândalos e mais escândalos políticos, todos aqueles políticos corruptos, aqueles típicos coronéis intocáveis, que podem tudo, fazem tudo, do jeito que querem, quando querem e ainda saem impunes. E ainda há pessoas que conseguem manter distância disso tudo, que perderam as esperanças e, pra elas, tanto faz como tanto fez. Pessoas que, ao se depararem com uma denuncia muito forte, com um escândalo político (mais um), simplesmente conseguem dar de ombros, agem como se não devessem fazer nada, que se sentir indignado com toda a situação é como uma completa “perda de tempo”. Não, essas pessoas estão erradas, pois a partir do momento em que você se acomoda, que você começa a não mais se sentir enojado com tudo isso que estão fazendo com o seu país, aí é que começamos a correr sérios riscos. Eu, particularmente, me considero uma pessoa consciente, politicamente falando, e não consigo, não aguento mais assistir a um telejornal, a ver uma revista e me deparar com a sessão política e não sentir ânsias de vômito. É tanta desgraça, é tanto escândalo, é tanta politicagem (não é nem política, é politicagem mesmo!), e as esferas do governo (municipal, estadual e federal) ainda têm o descaramento de apresentar números que comprovem sua eficiência. Números não dizem nada. Números comprovam só que as coisas são superfaturadas, que os valores repassados não são suficientes, que houve desvio (com certeza) de verba pública (que pertence a todos nós, brasileiros). E ainda temos que aturar propagandas dizendo que a cidade está melhor, que o Estado está cada vez melhor, que o Governo Federal está trabalhando... Não falo, aqui, nesse desabafo, um belo palavrão, o mais “pesado” de meu vasto repertório, por respeito a você, leitor, que acompanha. Respeito este, que tenho, muito grande, um respeito que não é compartilhado pelo(s) seu(s) (pelos nossos, na verdade) governante(s).
            Eu estou cansado, confesso; eu estou muito chateado, indignado, não só com o governo em si, mas também com as pessoas passivas, que assistem a isso tudo e que não tem consciência, ou que não querem saber, do que estão fazendo com o nosso país. Eu confesso sentir até uma certa inveja dessas pessoas, pois elas simplesmente dão de ombro para tudo quanto é escândalo, que, quando passa uma reportagem num telejornal sobre algum esquema de corrupção, apenas mudam de canal, e vão assistir à sua novela ou a um reality show, enquanto eu fico aqui, indignado, querendo fazer alguma coisa, mas me sentindo impotente, correndo o sério risco de ficar estressado (mais do que já estou).
            Mas eu sou brasileiro, e, apesar dos pesares, não desisto nunca. Não canso, não desisto, de tentar mudar meu país com gestos pequenos, com palavras que, apesar de parecerem soltas ao vento, um dia, mais cedo ou mais tarde irão ser ouvidas. Não canso de tentar fazer com que uma pessoa abra os olhos, que passe a ter consciência política, que seja, se não um militante, um alguém que atua ativamente, que pelo menos não se porte de forma tão passiva com tudo que estão fazendo a nosso país.
            Eu sei, uma andorinha só não faz verão, mas se cada andorinha pensar assim, nunca elas irão se juntar para marcar a entrada da estação em que o sol brilha radioso no céu de nossa “terra adorada, salve, salve”. Por isso, eu, na minha condição de andorinha, que não faço verão só, é verdade, mas faço a minha parte, estou começando uma nova série de textos críticos de cunho político, não com a intenção de “forma opinião”, pois esta nunca foi a intenção deste blog, mas só e unicamente objetivando abrir o blog para debates, discussões produtivas a respeito não exclusivamente de política, mas sim, de nosso país, que, embora não seja “o melhor país do mundo”, que tenha suas desigualdades, que tenha todos os seus problemas, é um lugar maravilhoso de se viver, principalmente por conta das pessoas.
            E, lembrando, em 2012 tem eleição municipal, e não vamos ter apenas “uma vaga lembrança” do que os prefeitos e vereadores fizeram no último mandato. Vamos pesar, medir e contar, começar a ter a nossa tão falada “consciência política” nas esferas políticas menores, municipais. Afinal de contas, as mudanças começam de baixo, aos poucos, do município. Pouco a pouco, se pensarmos assim, se agirmos nesse sentido, em breve conseguiremos fazer do Brasil um país digno de nosso povo, que faça com que todos nós tenhamos orgulho de “chegar lá fora” e bater no peito para dizer: “EU sou BRASILEIRO!”.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lançamento do livro Guriatãs e Maçambês


Voltar a ser menino...

Eu queria voltar a ser menino, nem que fosse por cinco minutos em minha vida. Queria simplesmente ser menino, esquecer das coisas facilmente como só os meninos esquecem e manter vivas, na memória, outras. Queria não ter preocupação alguma, responsabilidade com nada, viver só e unicamente para mim, para aquele momento, e só. Queria poder ver a chuva caindo lá fora e não temê-la, não me preocupar com ela; simplesmente poder abrir a porta de casa e sair, tomar um bom, revigorante e sempre rejuvenescedor banho de chuva.
            Eu queria voltar a ser menino para isso tudo, mas para muito mais. Queria poder ser livre, rir com um nada, brincar com um tudo, queria simplesmente viver. Queria ficar por uns instantes com a cabeça tão longe, pensando em algo que está tão perto. Queria poder me sentir como um pássaro no alto de uma árvore, colher uma fruta madura, direto do pé, e sentir o seu sabor doce como a vida.  Queria poder brincar com um cachorro, correr atrás dele, depois deixar que ele me perseguisse numa corrida louca e desenfreada na rua. Queria poder soltar pipa, jogar biloca (também conhecida como “bolinha de gude”), chupar confeito, mascar chiclete e me deliciar com outras tantas guloseimas. Queria poder ficar descalço, jogar futebol na rua, me arrebentar inteiro numa queda de bicicleta e, quando ouvir minha mãe chamar, gritar um “já vou”.
            Eu queria voltar a ser menino simplesmente para brincar, para correr, para me esconder e para me achar, para ser o que eu era, para ser o que sempre fui e que nunca deixarei de ser – ser simplesmente menino.
            Eu queria voltar a ser menino para brincar na rua, para ter de volta, nem que seja por um curto instante, medo do escuro à noite, medo dos trovões em noite de tempestade. Queria poder acordar de madrugada, nessas noites escuras, frias e chuvosas, e ir bater à porta do quarto de meus pais, e pedir para dormir naquela cama enorme, entre meu pai e minha mãe, debaixo daquele cobertor que está sempre quentinho.
            Eu queria voltar a ser menino para, ao fechar os olhos, não pensar em nada, e ter simplesmente uma boa e longa noite de um sono reparador, que me deixaria pronto para o dia seguinte repleto de coisas novas, de novas, velhas e conhecidas brincadeiras.
            Eu não quero, não posso, nunca em minha vida, deixar de ser menino, porque deixar de ser menino e esquecer todos os maravilhosos momentos que tive em minha vida, que não voltarão nunca mais, que vivem, vívidos, eternamente em minha memória, e só lá eu posso, sempre, voltar a ser o que sempre fui: um eterno menino.