segunda-feira, 28 de junho de 2010

Xógum - Livro do mês


Eu costumo dizer que cada livro é um livro e cada leitor é um leitor. Além disso, como já é de conhecimento comum, os livros são sempre muito pessoais e a forma como o lemos e o sentimos depende muito do nosso momento. Há livros que parecem ser feitos para determinados momentos em nossas vidas, que se o lêssemos em um outro, ele não teria o mesmo saber, o mesmo significado.
            Falar de livros, conversar sobre livros com diferentes leitores, que possuem diferentes gostos é algo extremamente prazeroso, mas difícil de se fazer. Definir um livro, dizer se ele é bom ou ruim, se é agradável para esse ou aquele momento é sempre das tarefas mais árduas. Algo comum, para quem gosta de fazer isso, de escrever breves resenhas, pequenas “críticas” de livros, como faço neste blog, é receber inúmeras respostas, algumas de pessoas comentando que gostaram do texto, elogiando-o, de pessoas falando que irão ler aquele livro, por terem gostado da “crítica” e por estarem curiosos para conhecer tal obra, ou simplesmente criticarem a “crítica”, por não serem de acordo como foi colocada, por não concordarem com as minhas opiniões, por terem lido, também, o livro em questão e acharem a minha visão “destoante”. Pois bem, essa é a vida de um leitor apaixonado e de um alguém que se aventura a falar abertamente sobre algo que mexe tanto com as pessoas: suas paixões por livros.
            Há livros e livros, e defini-los, podem ter certeza, amigos leitores, que acompanham este blog, não é nada fácil, mas com Xógum eu posso afirmar que foi fácil, que, a medida que eu avançava na leitura, não encontrava uma outra palavra (isso mesmo, ousarei até definir o livro em uma palavra!), que o definisse de uma maneira mais justa do que magnífico. Isso mesmo: magnífico. E estou falando isso, assim, tão abertamente, correndo o risco de ser criticado em minha “crítica”, que Xógum é um livro magnífico nos mais diversos sentidos dessa palavra, nos mais diferentes aspectos que o livro pode ser lido, interpretado e estudado.
            Obra ímpar da literatura, romance histórico belíssimo, Xógum nos convida, nos conduz a um mundo muitas vezes tão pouco conhecido por uma imensa maioria, embora tão amado por tantos amantes da literatura, história e cultural oriental, do Japão Feudal. Somos, como leitores, levados a conhecer um universo diferente do nosso, em todos os sentidos. Um mundo, um universo diferente em aspectos culturais, valores, visões do mundo, nos relacionamos com as pessoas que nos cercam e com o mundo que nos rodeia. Universo repleto de sabedoria e simbolismos, tão falado, mas tão pouco conhecido por nós, ocidentais.
            A leitura de Xógum é envolvente e cativante, extremamente enriquecedora. Mostra um verdadeiro choque de culturas e valores, não só entre ocidente e oriente, mas de dois mundos completamente diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, que podem ser compreendidas e caminhar lado a lado, podem se completar uma com a outra.
            A História de Xógum é centrada em John Blackthorne, um piloto inglês de um navio holandês que tem como grande ambição de ser o primeiro inglês a dar a volta ao mundo e chegar a lugares verdadeiramente lendários, conhecidos apenas por portugueses e espanhóis, que possuem uma espécie de monopólio dos mares do mundo. Blackthorne chefia uma esquadra de navios holandeses, mas ao atravessar o Estreito de Magalhães é surpreendido por uma esquadra espanhola. Há uma batalha travada nos mares e o Erasmus, navio de Blackthorne, se desgarra e passa a navegar mares desconhecidos quando é surpreendido por uma forte tempestade. Perdidos em alto-mar, os homens daquele navio têm que lutar pela sobrevivência por dias tão escuros quanto as noites, até que atracam numa enseada num lugar desconhecido, longínquo, num mundo a que não julgavam existir.
            Feito prisioneiro, Blackthorne é separado de sua tripulação e conhece um mundo que lhe parece tão hostil e, por vezes, até desumano, habitado, entre outras pessoas, por samurais e padres portugueses em missão jesuítica. Bárbaro, como ele é chamado e tratado, Blackthorne possui um imenso conhecimento, e passa a ser temido ao mesmo tempo que tê-lo como aliado, como fiel vassalo, passa a ser desejo de muitos daimios japoneses naquele momento tão tumultuoso da história do Japão, prestes a entrar numa verdadeira guerra civil, que dividirá, novamente, o país e envolverá todas as pessoas, sejam elas samurais ou não.
            Contada com maestria ímpar na literatura ocidental, Xógum: a gloriosa saga do Japão, conta a jornada de Blackthorne, que representa um homem ocidental, sofrendo com o choque de culturas e valores a medida em que vai assim tomando conhecimento, entrando e assimilando aquele mundo inteiramente novo.
            Intrigas políticas, romance histórico, romance, drama e um livro de valores, Xógum é um livro belíssimo, obra extremamente enriquecedora sobre uma gloriosa história passada no Japão Feudal.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Quanto é dois mais dois? - crônica

Certa vez me perguntaram quanto é dois mais dois. Eu fiquei longos minutos a pensar, pois realmente não sabia como responder aquele questionamento deveras importante. Engana-se quem acha essa uma pergunta boba, banal, que pode ser facilmente respondida. Até pode, mas depende muito de sua formação. Um matemático, por exemplo, responderia de prontidão, que dois mais dois é quatro, pois ele, como cientista exato que é, aprendeu a verdadeira, indiscutível e imutável fórmula da soma. Um químico, também, chegaria a uma resposta parecida, mas antes iria fazer a medida do peso dos elementos, iria decompô-los e chegar a uma conclusão. Um engenheiro chegaria a uma resposta exata, sem dúvida, no entanto iria precisar fazer inúmeros cálculos, averiguar a inclinação do eixo, estudar materiais utilizados, e chegaria a uma conclusão aproximada ao valor quatro, mas com variantes, uma vírgula, uma poção de zeros e um monte de símbolos que só eles entendem.
            Outras ciências, levadas a desvendar importante questionamento, iriam se lançar para provar suas teorias e chegar a uma resposta que atendesse a todos os requisitos universais. A astrologia, por exemplo, seria uma das que mais teria dificuldade em chegar ao resultado, pois necessitaria saber a hora e data exata do nascimento dos números, descobrir seu signo, sua ascendência, seu signo lunar, consultar o horóscopo chinês e, no fim, daria uma resposta bonita, que agradaria a todos, mas esconderia o “lado negativo das coisas”. As ciências ocultas também se voltaria para a descoberta desse segredo universal. Runas seriam jogadas, búzios, cartas, I-Ching e até os adpetos ao Feng-Shui iriam organizar as coisas harmoniosas de tal forma para que os bons fluidos sejam trazidos ao ambiente. Algumas religiões chegariam ao resultado de que é um, pois são duas naturezas, humana e divina, mas o indivíduo é único.
            Não importa qual a ciência, o importante é que o resultado a que uma vai chegar nunca será igual ao da outra. Na área das ciências humanas, por exemplo, em que ninguém se entende, já imaginou que resultados se chegaria?
            Na história, por exemplo, se esse questionamento fosse feito, se analisado à luz da historiografia tradicional, o resultado, óbvio, seria quatro, e a justificativa dada seria a de que os documentos oficiais comprovam, falariam de grandes nomes e colocariam o resultado como incontestável. No entanto, se tal questionamento, ou fato, fosse analisado sob uma outra ótica, por exemplo, o resultado poderia ser completamente diferente. Diriam, segundo essa nova teoria, que os fatos foram outros, que os resultados são diferentes, que, na verdade, era maior que quatro, pois uma quantidade se perdeu com o tempo, foi escondida pelas autoridades, etc.
            E já pensou no resultado que poderiam ser obtidos se essa questão fosse feita a diferentes membros de partidos políticos, a pessoas engajadas em movimentos sociais? Um comunista ferrenho, por exemplo, diria que jamais chegaria a um resultado tão alto quanto quatro. Ele defenderia a ideia de divisão igualitária, e chegaria a um valor de quatro partes iguais para todos, de um cada.
            E por aí vai. Nunca chegaremos a um resultado satisfatório e universal, aceito por todos, por isso é bom aceitarmos, sempre, o mais fácil, o mais lógico. Dois mais dois é quatro. E se alguém perguntar por que, podemos responder simplesmente com um curto e grosso porque é, e ponto.

sábado, 19 de junho de 2010

Noite Insone - conto

            Mais uma noite insone. Enquanto toda a cidade dorme, eu estou aqui, acordado, vendo as sombras da noite, ouvindo os sons da noite. Estou sentado numa cadeira na varanda de meu apartamento e vejo a cidade inteira às escuras, tão silenciosa. O único som vindo da noite é o de um cachorro sem dono a buscar um abrigo onde dormir ou do “tic-tac” do relógio em minha sala, dizendo que as horas continuam a passar, que ainda continuo acordado sem conseguir pregar os olhos.
            Vejo, vez por outra, algum insone, que acorda durante plena madrugada, acende uma luz na casa e vai em busca de algo. Mas mesmo estes insones não me querem fazer companhia e ficarem acordados comigo. Logo desligam a luz e voltam ao conforto de suas camas. Só eu estou fadado a permanecer acordado mais essa noite.
            Já foram tantas as noites insones só nesse mês que desisti de contar quando não havia mais dedos nas mãos suficientes para prosseguir com a contagem.
            Sinto-me fraco, cansado. Os olhos ardem, a cabeça dói, os ouvidos estão cansados de tanto ouvir o mesmo som, ora do silêncio, ora do relógio que teima em continuar funcionando para me mostrar que horas são, sinto a garganta seca e o rosto sendo golpeado por uma leve brisa gelada, que me desperta todos os sentidos. Tento ir para cama, mas de tanto rodar de um lado para o outro, logo sou expulso dela, e volto para o mesmo lugar que estava antes.
            Tenho de vontade de ficar de pé e de andar pelo apartamento, mas o eco de meus próprios passos me incomoda os ouvidos. Tenho vontade de caminhar pela cidade, mas ela me parece hostil àquela hora. Teria medo de olhar para trás e não ver ninguém, de passar embaixo de um poste e ver que tenho como única companhia naquela noite a minha sombra. Por isso, pelo medo que tenho da solidão, resolvo ficar onde estou, com as luzes apagadas, para não ver minha própria sombra.
            Quero ficar onde estou, na posição em que estou, sentado, mas algo me impele a me levantar. Vou até o banheiro e acendo a luz. Meus olhos se ferem com aquela claridade repentina e demoro a recobrar a consciência e saber onde estou e porque estou ali. Fui ali apenas para me olhar no espelho, para ver a minha expressão abatida e minhas olheiras profundas.
            Não há ninguém ali, como jamais houve alguém além de mim. Morava sozinho, havia procurado pela solidão, mas agora que a tinha encontrado, desejava nunca tê-la procurado. Ela me toma por inteiro, eu me tornei um refém dela. Queria me revoltar, me largar de seus braços, mas como poderia fazê-lo?! Como poderia encontrar alguém, como poderia reencontrar a mim mesmo?!
            Mais uma noite de insônia, mais uma noite inteira passada em claro. Quando será que essa noite, que me parece eterna, chegará ao fim e eu poderei, enfim, dormir alguns minutos, entre o surgir dos primeiros raios de sol no horizonte e o amanhecer?!
            Não há nada que me traga conforto nem paz enquanto essa noite não acabar.
            Estou irrequieto, angustiado, desesperado para que essa noite chegue ao fim, mas quanto maior a minha pressa, mais o tempo demora a passar. Ouço cada vez mais alto em minha cabeça, o barulho dos mecanismos do relógio ecoando.
            Sento-me num canto do quarto, depois me deito, sentindo o frio do chão em contato com meu corpo. Um arrepio percorre meu corpo, despertando-me por inteiro.
            Caminho com passos incertos até uma janela que dá para o nascente, mas noto que o céu ainda continua escuro, as estrelas continuam brilhando e a lua majestosa no firmamento. O sol ainda tarda a nascer. Ainda tenho longas horas de agonia a resistir.
            Ando pelos cômodos escuros, pois não ouso acender as luzes. A única luz é a que vem de fora, da lua.
            Olho para o relógio, o pior inimigo de um insone, pela enésima vez naquela noite para averiguar que horas são. Poucos minutos se passaram desde a última vez em que o vi as horas. Fico um instante a fitá-lo, para ver o lento passar do ponteiro dos segundos. O dos minutos não se movia, o das horas parecia que jamais iria se movimentar. Cheguei a pegar o relógio e balançá-lo, para ver se estava funcionando corretamente. Estava.
            Vou até o banheiro para molhar o rosto. Ao me olhar novamente no espelho, tenho um enorme susto, pois tive a impressão de ter envelhecido anos nos últimos minutos. Minha barba estava grande e o cabelo inteiramente assanhado. Não reconheço aquela pessoa que vejo refletida no espelho. Jogo mais água no rosto, para dissolver aquela face desconhecida de meu rosto.
            Os olhos estão pesados e ardendo, as pernas não mais me obedecem e a noite parece não ter fim. Ouço o som do primeiro despertador no apartamento vizinho. Todo o meu corpo clama por descanso. Vou, mais uma vez, até a janela e veio, finalmente, o céu começar a clarear. Noto uma clara linha de um dourado no horizonte. Uma linha tênue, que tinge, pouco a pouco, o céu, de um azul escuro e profundo a um azul claro, como o das manhãs de primavera. As estrelas começam a se apagar uma a uma e a lua está próxima de terminar sua trajetória no céu.
            A noite vai chegando lentamente ao fim. Ela agoniza, como teimasse e ser sobrepujada pelo dia.
            Está naquela hora em que não há mais lua, mas o céu ainda está escuro, as poucas estrelas que estão soltas parecem que não têm mais força para brilhar e o sol também ainda não apareceu de todo esplendoroso.
            Sinto meu coração acelerar e a respiração mais rápida quando vejo, pouco a pouco, o céu se tingir de dourado e azul claro. Fecho os olhos e ao reabri-los vejo o primeiro raio de sol da manhã a incidir em meu rosto. Minha respiração e batimentos cardíacos se normalizam. Sento-me no sofá e meus olhos se fecham pela primeira vez. É o primeiro indício de sono que me chega. Tento me pôr de pé, mas não consigo. Estou cansado por demais, física e mentalmente esgotado devido à longa noite insone. Deixo-me cair no sofá e fecho os olhos, e sinto o alívio do primeiro sonho a me embalar nos braços.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Afinal de contas, o que é o amor?

A-M-O-R. impressionante como cabe todo um infinito em apenas quatro letras. Sentimento belo, simples, delicado, arrasador, destruidor, complexo, que nos impulsiona, mas que também gera em nós sensações de dor, insegurança e medo. Medo de enfrentá-lo, de não domá-lo e mesmo de vencê-lo. Vencer o que não se vence, que é invencível, por vezes até insensível.
Oh, Amor, como podes ser tão belo e lindo e, ao mesmo tempo, tão cruel?!
Talvez sejas o mais antigo sentimento, o primeiro que nós, homens, sempre tão frágeis, conhecemos, e que, mesmo assim, não aprendemos a lidar, a conhecer, a sentir, a viver.
Desde o início da humanidade, lidamos com o Amor, e muitos, desde sempre, tentaram defini-lo e entendê-lo, sem sucesso, pois o amor não é algo que se permite definição através de palavras, que não busca ser entendido, mas sim sentido.
Poetas, filósofos, cientistas, simplesmente homens tentaram entender o amor, mas todas as suas tentativas foram vãs, pois o amor, o sentimento mais humano, é verdadeiramente divino. Permite-nos alcançar aos céus, mesmo estando com os pés bem firmes na terra, nos permite sonhar, estando bem acordados.
Sua aproximação causa-nos calafrios, nos para a respiração, faz o nosso coração disparar. Causa-nos medo, por vezes, mas é um medo diferente, mesclado com alegria de se sentir vivo, pois só vivemos enquanto o sentimos. Quando cessa o amor, cessa a vida. Não vivemos sem respirar, não vivemos sem sentir o coração bater em nosso peito, da mesma forma como não vivemos sem o amor. Sentimento único, que encera dentro de si uma gana de sensações.
Nunca algo foi tão complexo quanto o amor, tão amplamente discutido e tão pouco entendido quanto o amor.
Não é fórmula matemática, não é teoria filosófica, não é definível através de uma lei da física, não se encontra dentro de um elemento químico, mas está dentro de toda a história e da evolução do homem, pois é simplesmente amor.
Defini-lo, nós não podemos, e reconhecê-lo, será possível?
O amor se manifesta de diferentes formas em diferentes pessoas, ora com mais intensidade, onde se mostrando mais brando, mas o certo é que o amor, quando nasce, não pede licença e nos toma por inteiro. Não podemos resisti-lo. Podemos até fingir indiferença, parecer até que não o notamos, mas ele está ali. Quando lança suas raízes em nosso peito, não pode mais ser arrancado. Sempre floresce, quer o reguemos, quer não.
Amor, quando está junto é expressa através de muitos sorrisos, mas quando parte deixa sempre um coração despedaçado e muitas lágrimas.
Dores e alegrias se misturam nos braços do amor, força e fragilidade, humano e divino.
Como pode algo tão pequeno, que possui apenas quatro letras, se mostrar tão grande, tão complexo, tão indefinível?!
Muito já se tentou, muito ainda vai se tentar definir o que é Amor, no entanto, creio que ninguém vai defini-lo, ninguém nunca vai entendê-lo e ninguém nunca vai domá-lo. 

sábado, 12 de junho de 2010

John Steinbeck - o escritor que expôs a fragilidade do sonho americano

Foi a primeira metade do século XX o período que representou o auge da literatura norte-americana. Nessa época surgiram movimentos, grupos de escritores que se destacaram não só em seu país, mas em todo o mundo literário. Os primeiros nomes de maior destaque surgiram após a Primeira Guerra, e ficaram conhecidos os escritores da Era do Jazz, que teve em F. Scott Fitzgerald seu principal nome. Nesse primeiro momento, vê-se muito da euforia americana, alcançada graças às vitórias no conflito mundial e a hegemonia econômica do país, em ascensão. Mas foi após esse primeiro grande momento eufórico da literatura norte-americana, com o início da crise econômica, agravada pelo “crash” de 1929 que alguns dos maiores escritores daquele país surgiram. Veio o primeiro grupo, que ficou conhecido como Geração Perdida, que tem em Hemingway seu principal nome, mas não houve nenhum outro escritor que tenha representado tão bem aquele período como John Steinbeck (1902-1968).
            John Steinbeck, mesmo tendo ganhado o Pulitzer (por As Vinhas da Ira, de 1939), principal prêmio da literatura norte-americana, e o Nobel, em 1963 (por sua obra), foi constantemente esnobado pela crítica de seu país, por considerarem sua literatura muito mais afeita às áreas da sociologia, muito mais preocupado em documentar os horrores das vidas dos pobres na época da crise com em fazer uma verdadeira literatura. No entanto, tal crítica se deve muito mais aos interesses políticos do que literários, já que Steinbeck expunha as vísceras da sociedade norte-americana, se debruçando sobre a fragilidade do sonho americano. Nenhum escritor, em toda a literatura americana, se debruçou de tal forma sobre os problemas e a realidade de seu país como Steinbeck o fez. Ao longo de toda a sua obra, tão nua e crua, John Steinbeck conviveu com as críticas, mas também com uma grande aceitação, por um outro lado. Escreveu obras-primas da literatura norte-americana, como as novelas Ratos e Homens, de 1937, e A Pérola, de 1947, O Inverno da Nossa Desesperança, também traduzido como O Inverno dos Descontentes, de 1961, A Leste do Éden, de 1952, mas talvez o seu livro que tenha gerado mais controvérsias, que tenha sido mais criticado, mas também dos mais elogiados seja As Vinhas da Ira, de 1939.
            Livro por que ganhou o Pulitzer, As Vinhas da Ira, mesmo com toda a sua repercussão, chegou a ser banido de diversas bibliotecas e escolas públicos do país, sob alegação de “imoralidade”. Na verdade, o livro recebeu esse “banimento” por ter nele, Steinbeck, exposto, como em nenhum outro, críticas à sociedade, as vísceras da sociedade americana, a fragilidade do sonho americano.
            A história narra a trajetória de uma família de agricultores pobres, que vive em suas terras no Estado do Oklahoma, mas que, durante a Depressão, não tendo como honrar os compromissos adquiridos junto a uma instituição financeira, são expulsos, sendo assim, verdadeiramente obrigados a migrar rumo a Califórnia, de onde se propagava os “sonhos dourados da rica Costa Oeste”, com o intuito de atrair mão-de-obra barata para se trabalhar nas imensas lavouras. Steinbeck descreve com imensa maestria e riqueza de detalhes a travessia dessa família, e mostra como os membros dessa família ficam no meio do caminho. Antes uma família tão grande, com pai, mãe, irmão, irmã, avô, avó, crianças pequenas, genro, cachorro, etc., poucos são os que chegam ao seu destino, para perceberem, com horror, que a riqueza tão divulgada realmente existia, mas o sonho de ascensão, da oportunidade, não. A família se vê, mais uma vez, em uma situação de imensa angústia, sofrendo pelo sonho, que se mostrou em sua verdadeira face, tal como era, e pelos que ficaram no meio do caminho naquela tão longa e difícil jornada enquanto cortavam vários Estados do país.
            Steinbeck escreveu tal livro com maestria e propriedade, pois além de romancista, trabalhou também como jornalista num jornal de São Francisco, e viu de perto as situações das famílias que chegavam àquele “Estado Dourado” que era a Califórnia.
            O escritor, que recebeu a alcunha de “Cronista da Depressão”, figura entre os maiores escritores não só de seu tempo, dos Estados Unidos, mas de todo o mundo, não só por suas histórias, tão realísticas, tão fortes, mas por sua escrita, tão ímpar, envolvente e tocante.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Elogio à Saudade

Saudade, és tu das mais belas, tristes, alegres e complexas palavras da língua portuguesa. Difícil de traduzir, mas fácil de sentir. Falar-te, por si só é sentir-te. Enche-se o peito e depois te deixa solta na boca, sendo liberada aos poucos, como um suspiro. Tu enche não só nosso peito, mas todo o nosso ser de Lembranças, esta outra palavra tão doce na nossa boca quanto à mais doce lembrança que suscita. No entanto, Saudade, tu também és cruel, como só as mais cruéis palavras sabem ser, pois nos faz lembrar a solidão que sentimos, a falta que uma pessoa, que algo nos faz. Tu, Saudade, traz junto a ti essa companhia que nos faz tão mal, a palavra Solidão, que é tão pesada, um fardo que, muitas vezes, não estamos acostumados, que nunca queremos carregar. Solidão chega sem pedir, com seus sons fortes que impõe medo. Mas, Saudade, tu, que tanto nos faz bem, traz também consigo outras palavras e sentimentos, como o Sonho. Este tão terno, que nos faz sonhar acordados, pensando nas lembranças de um retorno. E tu, Retorno, que tanto nos tira o sono, pois por tu tanto esperamos, pois a nossa vida depende de ti! Saudade nos faz sonhar com o Retorno, irmão gêmeo de Volta, que inebria os nossos sonhos, pois esta é tão suave, chega tão natural como uma brisa no fim de tarde.
            Saudade, para bem ou para o mal, nós nunca nos desvinculamos de ti, pois és inerente a nós, humanos, tão frágeis que somos facilmente domados por simples, delicadas, fortes e marcantes palavras. Sentimos-te, vivemos-te, sofremos-te, sonhamos-te, Saudade, tu que nunca se aplaca em nosso peito, que muda de forma, e da pessoa por quem te sentimos, mas nunca deixas de ser saudade, a doce, a cruel e irredutível Saudade.
            Saudade nos faz remeter a lugares e pessoas, na maioria das vezes, mas ela consegue abraçar tanto, tudo, que é impossível fugir de tuas garras, que muitas vezes nos ferem o peito, de tanto pensar em ti.
            Saudade nos faz acordar à noite, e ver o que ninguém mais pode ver naquela escuridão, brincando com os nossos sentidos. Nos faz sentir cheiros, o toque, o calor, o sabor e até mesmo escutar a tua voz sussurrante, ao pé de nosso ouvido.
            SAU-DA-DE, és bela em tua essência, mas cruel, muitas vezes, em teus atos, e nós, homens, que nos julgamos tão fortes, nos mostramos tão fracos que somos facilmente domados por tu, uma palavra.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O que aconteceu com o hábito de se mandar cartas? - crônica

Podem me chamar de retrogrado, saudosista ou do que quer que seja, mas eu sou um amante incorrigível da velha forma de se comunicar, através de cartas.
            O grande avanço das tecnologias tem seus grandes méritos, pois encurtou as distâncias, facilitou a comunicação entre as pessoas, deu um maior dinamismo no ato de “se comunicar”, no entanto, tal velocidade, tirou algo de muito valioso e prazeroso que existia nas boas cartas: a espera, ansiedade, a angústia em receber, o quanto antes, a carta, a resposta que tanto se espera.
            Isso mesmo! A demora, a angústia, era algo prazeroso para quem se comunicava através de cartas. Ficava-se dias ruminando o que poderia ter acontecido com a carta, para ela ainda não ter chegado, e mais tempo ainda a se sofrer devido à angústia e expectativa em se receber a resposta.
            Escrever as cartas era um trabalho minucioso, feito com o máximo de atenção e carinho, caprichando na caligrafia.
            Lembro bem que muitas vezes devido a uma palavra escrita errada, uma colocação mal-feita, colocava tudo a perder. Rasgava-se o papel quando isso acontecia e se começava todo o trabalho novamente, dessa vez com a atenção redobrada para não se errar uma única vírgula nem se borrar a folha, se tremer a mão na hora de se desenhar determinada letra. Ficava-se horas a escrever, até que a mão não mais aguentasse segurar a caneta, muitas vezes embaixo da única luz acesa na casa, com as costas doendo devido a posição incomoda ao escrever à mesa.
            Finda a carta, iniciava-se à angústia, que começava antes mesmo de se colocar as cartas nos correios, pois ficava-se horas e horas a fio, a pensar na alegria da pessoa ao receber a carta, no que ela estaria pensando ao lê-lo, se gostou. Em seguida vinha a espera pela resposta, quando se ia uma vez a cada hora à caixa de correios em frente à casa, para ver se o carteiro já tinha passado e deixado a preciosa correspondência.
            Naquela época, o que mais afligia aos que se correspondiam dessa forma tão prazerosa era quando acontecia uma greve nos correios, que deixava os nossos corações aos pedaços, sem podermos nos comunicar, sem podermos falar e sem ouvir as vozes das pessoas que estavam contidas naquelas folhas de papel em branco, expressas em letras muitas vezes miúdas e tão delicadas.
            Hoje em dia, a comunicação tornou-se algo meramente banal. Os e-mails, mensagens SMS de celular, mensagens deixadas nas páginas de Orkut, Facebook ou recados via Twitter minaram, e muito, com a magia de se comunicar. Hoje em dia não há mais angústia, espera e expectativa. Não se há mais cuidado, capricho com a escrita. O que mais nos aflige, hoje, é uma queda de energia, que nos impede de ligar o computador, ou algum problema com o provedor, que nos impede de ver nossa caixa de e-mail ou de acessar determinadas páginas.
            No máximo, nos dias de hoje, o que recebemos, pelos correios, é uma carta da administradora de cartões de crédito, que nos manda as nossas faturas. Essas são cartas que ninguém, nunca, gostou de receber, e é irônico ver que são essas as únicas que nos restam!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma Breve História da Literatura Norte-Americana - muito mais do que uma Best-Seller

No cenário da literatura atual, a norte-americana tem um lugar de destaque, no entanto, ainda não é de todo bem-vista por uma série de fatores, entre eles o preconceito. Mas por que “preconceito”, essa palavra que encera, em si só, um pesado fardo? E preconceito quanto ao quê? Muito simples: por conta da ideia disseminada de que a literatura norte-americana tornou-se excessivamente comercial, num país que se tornou mais conhecido por exportar incontáveis Best-Sellers do que por apresentar ao mundo literário grandes nomes da literatura, que produziram verdadeiras obras-primas da literatura mundial.
            Comparada às escolas literárias da Europa, principalmente à Inglesa, Francesa, Alemã e Italiana os Estados Unidos são um país muito recente e que só teve sua verdadeira identidade criada a partir do século XIX, quando foi citada, pela primeira vez, com o termo “literatura americana”, muito mais num sentido depreciativo do que num respeitoso, uma vez que se procurava, com tal termo, depreciar e diferenciar essa nova literatura da “literatura inglesa”. E foi justamente por conta de tal depreciação, que surgiu o primeiro desafio dessa nova de literatura: se criar, se definir, escapar dos padrões europeus e construir sua própria identidade, a fim de se fazer, no verdadeiro sentido da palavra, Americana, não mais apenas uma extensão da literatura inglesa.
            Coube ao poeta Walt Whitman (1819-1892) dar os primeiros passos nessa literatura em florescimento e a Edgar Allan Poe (1809-1849), em um estilo de textos curtos repletos de fantasia e profundidade psicológica, abrir caminhos para o moderno romance de mistério. No entanto, a quebra nos padrões europeus só veio um pouco mais tarde com Henry James (1943-1916), que marca as principais diferenças entre o Novo Mundo e o Antigo, e com Mark Twain (1835-1910), que foi o primeiro a explorar, a ter como principal personagem de uma história um verdadeiro americano. São esses, talvez os primeiros escritores norte-americanos, que deram sua contribuição para a literatura de seu país, que construíram um alicerce para todos os que viriam depois, no entanto, não foram os únicos do século XIX que são tidos, ainda hoje, como os principais escritores daquele país. Também figuram entre os principais autores daquele período Herman Melville, Nathaniel Hawthorne e Emily Dickson.
            A Literatura Americana teve seu primeiro grande momento junto com a hegemonia econômica do país, já na primeira metade do século XX. A euforia econômica do país, iniciada logo após a Primeira Guerra Mundial, se reflete nas obras dos escritores da que ficou chamada como Era do Jazz, que tem em F. Scott Fitzgerald (1896-1940) seu principal representante. Com o desenvolvimento econômico, o tecnológico logo começou a aparecer, o que favoreceu a uma maior popularização da literatura e o surgimento e desenvolvimento de outros gêneros de romance, entre eles o de romance policial e ficção científica. No entanto, tamanha euforia econômica não podia ser eterna, e com a queda da Bolsa de Valores em 1929, a Crise Econômica, veio o período que representou o auge da Literatura Norte-Americana, sendo John Steinbeck (1902-1968), seu principal expoente. Steinbeck explora em sua obra muito mais do que o momento histórico, mas expõe as mazelas e a fragilidade da sociedade e do “sonho americano”. Também nesse período do pós-guerra, surge um dos principais grupos de escritores da literatura mundial, conhecida como Geração Perdida, cujo maior nome é o de Ernest Hemingway (1898-1961).
            Nesse período, da primeira metade do século XX, vários escritores têm seus nomes eternizados. Sinclair Lewis (1885-1951) tornou-se o primeiro escritor das Américas a ser laureado com o Nobel de Literatura em 1930 e Pearl S. Buck (1892-1973) foi a primeira mulher das Américas a ser congratulada com o Nobel e o Pulitzer, dois dos principais prêmios literários do mundo. Também no século passado a Literatura Americana teve grandes nomes, como William Faulkner, John dos Passos, Gertrude Stein, Truman Capote, Saul Bellow, Henry Miller, J. D. Salinger, Vladimir Nabokov, entre outros. Também surgiu, na segunda metade do século, outro movimento que ficou conhecido como Geração Beat, que tem em Jack Kerouac (1922-1969) seu grande expoente, e que contou também com outros grandes nomes dessa literatura e modo de vida tão alternativos, como Allen Ginsberg (1926-1997) e William Burroughs. Esse movimento, tem como principal característica, na literatura, a conciliação de elementos de romantismo e do modernismo, justamente com a filosofia existencialista e a mística oriental.
            No entanto, principalmente após a segunda metade do século XX, com os avanços tecnológicos e ao crescente número de editoras entrando no mercado editorial americano, muitos críticos acusaram a literatura daquele país de tornar-se “excessivamente comercial”, esquecendo-se da arte de se fazer literatura, não se enquadrando em qualquer escola ou movimento literário, preocupando-se só e unicamente com os números das vendas de exemplares de livros em todo o mundo.
            Mas nós, leitores, não devemos confundir a verdadeira Literatura Americana, tão rica, ímpar e significativa para a literatura mundial, com o “comércio de livros” com que ela foi confundida. E isso, tal rótulo depreciativo, está forçando, mais uma vez, a literatura daquele país a se reinventar, se redescobrir, e os dois maiores escritores daquele país e do mundo nas últimas décadas são Paul Auster e Philip Roth. Este, eterno cotado a ganhar o Nobel de Literatura, o mais importante prêmio literário do mundo, a exemplo de alguns dos maiores escritores de seu país. Ambos têm seus livros figurando entre os mais significativos de toda a literatura contemporânea, tendo ganho inúmeros prêmios e reconhecimentos.
Mas o que falta para a Literatura Norte-Americana para readquirir seu respeito (que, na verdade, nunca esteve perdido, embora seja indiscutível que o excesso de comércio literário praticado naquele país macula a imagem da verdadeira literatura)? Talvez esteja faltando o respeito, por parte do leitor, pela história e pelos grandes escritores que há naquele país, e isso irá quebrar, de uma vez por todas, o preconceito que se formou em torno da literatura norte-americana.

sábado, 5 de junho de 2010

Resultado do "concurso Cultural"

venho através desta mensagem o resultado final do primeiro "concurso cultural" promovido por este blog 
como havia dito aos participantes, a escolha das respostas foi uma tarefa muito difícil e criteriosa e eu, por ter uma certa proximidade com algumas pessoas e com outras nem tanto, para não ser injusto e tendencioso, trabalhei apenas como um alguém que "ditava as regras" e dizia os pontos a serem analisados nas respostas (originalidade, criatividade, etc). cada "juiz" recebia o arquivo com as respostas, lia todas e depois me passava suas opiniões, uma lista com os três nomes, primeiro, segundo e terceiro lugar. cada colocação havia uma pontuação específica (primeiro, 5 pontos, segundo, 3 pontos, terceiro, 1 ponto). no final, quando eu recebi todas as respostas dos "juizes" (que foram seis), fiz a somatória e chegou-se ao resultado final.
com esses critérios que foram utilizados, o resultado foi bastante apertado, tendo o primeiro colocado ficado com 18 pontos, o segundo com 14 e o terceiro com 12.
agradeço a todos, mais uma vez, pela participação, que me surpreendeu enormemente e espero que os que ganharam, gostem do livro, e os que não foram premiados nesse concurso, que tentem novamente em outros, que com certeza serão realizados. ficarei com os e-mails de todos e assim que for realizar um outro concurso ou sorteio de livros (está previsto que dois blogs realizarão sorteios em breve, um deles o "Psychobooks" e o outro o "Bióloga de Salto"), entrarei em contato.


os vencedores do concurso são:
Primeiro Lugar: Fernanda Cabral
Segundo Lugar: Carol Costa
Terceiro Lugar: Giulia Macedo

os sorteados foram:
Uma História em Cinco Vozes  Karen Pereira
Espelho Quebrado – Munik Antunes