Eu costumo dizer que cada livro é um livro e cada leitor é um leitor. Além disso, como já é de
conhecimento comum, os livros são sempre muito pessoais e a forma como o lemos
e o sentimos depende muito do nosso momento. Há livros que parecem ser feitos
para determinados momentos em nossas vidas, que se o lêssemos em um outro, ele
não teria o mesmo saber, o mesmo significado.
Falar
de livros, conversar sobre livros com
diferentes leitores, que possuem diferentes gostos é algo extremamente
prazeroso, mas difícil de se fazer. Definir um livro, dizer se ele é bom ou
ruim, se é agradável para esse ou aquele momento é sempre das tarefas mais
árduas. Algo comum, para quem gosta de fazer isso, de escrever breves resenhas,
pequenas “críticas” de livros, como faço neste blog, é receber inúmeras
respostas, algumas de pessoas comentando que gostaram do texto, elogiando-o, de
pessoas falando que irão ler aquele livro, por terem gostado da “crítica” e por
estarem curiosos para conhecer tal obra, ou simplesmente criticarem a “crítica”,
por não serem de acordo como foi colocada, por não concordarem com as minhas
opiniões, por terem lido, também, o livro em questão e acharem a minha visão “destoante”.
Pois bem, essa é a vida de um leitor apaixonado e de um alguém que se aventura
a falar abertamente sobre algo que mexe tanto com as pessoas: suas paixões por
livros.
Há
livros e livros, e defini-los, podem ter certeza, amigos leitores, que
acompanham este blog, não é nada fácil, mas com Xógum eu posso afirmar que foi fácil, que, a medida que eu avançava
na leitura, não encontrava uma outra palavra (isso mesmo, ousarei até definir o
livro em uma palavra!), que o
definisse de uma maneira mais justa do que magnífico.
Isso mesmo: magnífico. E estou
falando isso, assim, tão abertamente, correndo o risco de ser criticado em
minha “crítica”, que Xógum é um livro
magnífico nos mais diversos sentidos dessa palavra, nos mais diferentes
aspectos que o livro pode ser lido, interpretado e estudado.
Obra
ímpar da literatura, romance histórico belíssimo, Xógum nos convida, nos conduz a um mundo muitas vezes tão pouco
conhecido por uma imensa maioria, embora tão amado por tantos amantes da
literatura, história e cultural oriental, do Japão Feudal. Somos, como
leitores, levados a conhecer um universo diferente do nosso, em todos os
sentidos. Um mundo, um universo diferente em aspectos culturais, valores,
visões do mundo, nos relacionamos com as pessoas que nos cercam e com o mundo
que nos rodeia. Universo repleto de sabedoria e simbolismos, tão falado, mas
tão pouco conhecido por nós, ocidentais.
A
leitura de Xógum é envolvente e
cativante, extremamente enriquecedora. Mostra um verdadeiro choque de culturas
e valores, não só entre ocidente e oriente, mas de dois mundos completamente
diferentes, mas ao mesmo tempo iguais, que podem ser compreendidas e caminhar
lado a lado, podem se completar uma com a outra.
A
História de Xógum é centrada em John
Blackthorne, um piloto inglês de um navio holandês que tem como grande ambição
de ser o primeiro inglês a dar a volta ao mundo e chegar a lugares
verdadeiramente lendários, conhecidos apenas por portugueses e espanhóis, que
possuem uma espécie de monopólio dos mares do mundo. Blackthorne chefia uma
esquadra de navios holandeses, mas ao atravessar o Estreito de Magalhães é
surpreendido por uma esquadra espanhola. Há uma batalha travada nos mares e o Erasmus, navio de Blackthorne, se
desgarra e passa a navegar mares desconhecidos quando é surpreendido por uma
forte tempestade. Perdidos em alto-mar, os homens daquele navio têm que lutar
pela sobrevivência por dias tão escuros quanto as noites, até que atracam numa
enseada num lugar desconhecido, longínquo, num mundo a que não julgavam
existir.
Feito
prisioneiro, Blackthorne é separado de sua tripulação e conhece um mundo que
lhe parece tão hostil e, por vezes, até desumano, habitado, entre outras
pessoas, por samurais e padres portugueses em missão jesuítica. Bárbaro, como
ele é chamado e tratado, Blackthorne possui um imenso conhecimento, e passa a
ser temido ao mesmo tempo que tê-lo como aliado, como fiel vassalo, passa a ser
desejo de muitos daimios japoneses
naquele momento tão tumultuoso da história do Japão, prestes a entrar numa
verdadeira guerra civil, que dividirá, novamente, o país e envolverá todas as
pessoas, sejam elas samurais ou não.
Contada
com maestria ímpar na literatura ocidental, Xógum:
a gloriosa saga do Japão, conta a jornada de Blackthorne, que representa um
homem ocidental, sofrendo com o choque de culturas e valores a medida em que
vai assim tomando conhecimento, entrando e assimilando aquele mundo
inteiramente novo.
Intrigas
políticas, romance histórico, romance, drama e um livro de valores, Xógum é um livro belíssimo, obra
extremamente enriquecedora sobre uma gloriosa história passada no Japão Feudal.