Podem me chamar de retrogrado,
saudosista ou do que quer que seja, mas eu sou um amante incorrigível da velha
forma de se comunicar, através de cartas.
O
grande avanço das tecnologias tem seus grandes méritos, pois encurtou as
distâncias, facilitou a comunicação entre as pessoas, deu um maior dinamismo no
ato de “se comunicar”, no entanto, tal velocidade, tirou algo de muito valioso
e prazeroso que existia nas boas cartas: a espera, ansiedade, a angústia em
receber, o quanto antes, a carta, a resposta que tanto se espera.
Isso
mesmo! A demora, a angústia, era algo prazeroso para quem se comunicava através
de cartas. Ficava-se dias ruminando o que poderia ter acontecido com a carta, para
ela ainda não ter chegado, e mais tempo ainda a se sofrer devido à angústia e
expectativa em se receber a resposta.
Escrever
as cartas era um trabalho minucioso, feito com o máximo de atenção e carinho,
caprichando na caligrafia.
Lembro
bem que muitas vezes devido a uma palavra escrita errada, uma colocação
mal-feita, colocava tudo a perder. Rasgava-se o papel quando isso acontecia e se
começava todo o trabalho novamente, dessa vez com a atenção redobrada para não
se errar uma única vírgula nem se borrar a folha, se tremer a mão na hora de se
desenhar determinada letra. Ficava-se horas a escrever, até que a mão não mais aguentasse
segurar a caneta, muitas vezes embaixo da única luz acesa na casa, com as
costas doendo devido a posição incomoda ao escrever à mesa.
Finda
a carta, iniciava-se à angústia, que começava antes mesmo de se colocar as
cartas nos correios, pois ficava-se horas e horas a fio, a pensar na alegria da
pessoa ao receber a carta, no que ela estaria pensando ao lê-lo, se gostou. Em seguida
vinha a espera pela resposta, quando se ia uma vez a cada hora à caixa de
correios em frente à casa, para ver se o carteiro já tinha passado e deixado a
preciosa correspondência.
Naquela
época, o que mais afligia aos que se correspondiam dessa forma tão prazerosa
era quando acontecia uma greve nos correios, que deixava os nossos corações aos
pedaços, sem podermos nos comunicar, sem podermos falar e sem ouvir as vozes
das pessoas que estavam contidas naquelas folhas de papel em branco, expressas
em letras muitas vezes miúdas e tão delicadas.
Hoje
em dia, a comunicação tornou-se algo meramente banal. Os e-mails, mensagens SMS
de celular, mensagens deixadas nas páginas de Orkut, Facebook ou recados via
Twitter minaram, e muito, com a magia de se comunicar. Hoje em dia não há mais
angústia, espera e expectativa. Não se há mais cuidado, capricho com a escrita.
O que mais nos aflige, hoje, é uma queda de energia, que nos impede de ligar o
computador, ou algum problema com o provedor, que nos impede de ver nossa caixa
de e-mail ou de acessar determinadas páginas.
No
máximo, nos dias de hoje, o que recebemos, pelos correios, é uma carta da
administradora de cartões de crédito, que nos manda as nossas faturas. Essas são
cartas que ninguém, nunca, gostou de receber, e é irônico ver que são essas as
únicas que nos restam!
Foi prazeroso ver o que acontece comigo. A espera da valiosa carta às vezes me deixa angustiada, mas quando a carta chega, é aquela 'carreira' pra rasgar logo o envelope e ler palavra por palavra.
ResponderExcluir