terça-feira, 8 de junho de 2010

O que aconteceu com o hábito de se mandar cartas? - crônica

Podem me chamar de retrogrado, saudosista ou do que quer que seja, mas eu sou um amante incorrigível da velha forma de se comunicar, através de cartas.
            O grande avanço das tecnologias tem seus grandes méritos, pois encurtou as distâncias, facilitou a comunicação entre as pessoas, deu um maior dinamismo no ato de “se comunicar”, no entanto, tal velocidade, tirou algo de muito valioso e prazeroso que existia nas boas cartas: a espera, ansiedade, a angústia em receber, o quanto antes, a carta, a resposta que tanto se espera.
            Isso mesmo! A demora, a angústia, era algo prazeroso para quem se comunicava através de cartas. Ficava-se dias ruminando o que poderia ter acontecido com a carta, para ela ainda não ter chegado, e mais tempo ainda a se sofrer devido à angústia e expectativa em se receber a resposta.
            Escrever as cartas era um trabalho minucioso, feito com o máximo de atenção e carinho, caprichando na caligrafia.
            Lembro bem que muitas vezes devido a uma palavra escrita errada, uma colocação mal-feita, colocava tudo a perder. Rasgava-se o papel quando isso acontecia e se começava todo o trabalho novamente, dessa vez com a atenção redobrada para não se errar uma única vírgula nem se borrar a folha, se tremer a mão na hora de se desenhar determinada letra. Ficava-se horas a escrever, até que a mão não mais aguentasse segurar a caneta, muitas vezes embaixo da única luz acesa na casa, com as costas doendo devido a posição incomoda ao escrever à mesa.
            Finda a carta, iniciava-se à angústia, que começava antes mesmo de se colocar as cartas nos correios, pois ficava-se horas e horas a fio, a pensar na alegria da pessoa ao receber a carta, no que ela estaria pensando ao lê-lo, se gostou. Em seguida vinha a espera pela resposta, quando se ia uma vez a cada hora à caixa de correios em frente à casa, para ver se o carteiro já tinha passado e deixado a preciosa correspondência.
            Naquela época, o que mais afligia aos que se correspondiam dessa forma tão prazerosa era quando acontecia uma greve nos correios, que deixava os nossos corações aos pedaços, sem podermos nos comunicar, sem podermos falar e sem ouvir as vozes das pessoas que estavam contidas naquelas folhas de papel em branco, expressas em letras muitas vezes miúdas e tão delicadas.
            Hoje em dia, a comunicação tornou-se algo meramente banal. Os e-mails, mensagens SMS de celular, mensagens deixadas nas páginas de Orkut, Facebook ou recados via Twitter minaram, e muito, com a magia de se comunicar. Hoje em dia não há mais angústia, espera e expectativa. Não se há mais cuidado, capricho com a escrita. O que mais nos aflige, hoje, é uma queda de energia, que nos impede de ligar o computador, ou algum problema com o provedor, que nos impede de ver nossa caixa de e-mail ou de acessar determinadas páginas.
            No máximo, nos dias de hoje, o que recebemos, pelos correios, é uma carta da administradora de cartões de crédito, que nos manda as nossas faturas. Essas são cartas que ninguém, nunca, gostou de receber, e é irônico ver que são essas as únicas que nos restam!

Um comentário:

  1. Foi prazeroso ver o que acontece comigo. A espera da valiosa carta às vezes me deixa angustiada, mas quando a carta chega, é aquela 'carreira' pra rasgar logo o envelope e ler palavra por palavra.

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