No cenário da literatura atual, a
norte-americana tem um lugar de destaque, no entanto, ainda não é de todo
bem-vista por uma série de fatores, entre eles o preconceito. Mas por que
“preconceito”, essa palavra que encera, em si só, um pesado fardo? E
preconceito quanto ao quê? Muito simples: por conta da ideia disseminada de que
a literatura norte-americana tornou-se excessivamente comercial, num país que
se tornou mais conhecido por exportar incontáveis Best-Sellers do que por
apresentar ao mundo literário grandes nomes da literatura, que produziram
verdadeiras obras-primas da literatura mundial.
Comparada
às escolas literárias da Europa, principalmente à Inglesa, Francesa, Alemã e
Italiana os Estados Unidos são um país muito recente e que só teve sua
verdadeira identidade criada a partir do século XIX, quando foi citada, pela
primeira vez, com o termo “literatura americana”, muito mais num sentido
depreciativo do que num respeitoso, uma vez que se procurava, com tal termo,
depreciar e diferenciar essa nova literatura da “literatura inglesa”. E foi
justamente por conta de tal depreciação, que surgiu o primeiro desafio dessa
nova de literatura: se criar, se definir, escapar dos padrões europeus e
construir sua própria identidade, a fim de se fazer, no verdadeiro sentido da
palavra, Americana, não mais apenas
uma extensão da literatura inglesa.
Coube
ao poeta Walt Whitman (1819-1892) dar os primeiros passos nessa literatura em
florescimento e a Edgar Allan Poe (1809-1849), em um estilo de textos curtos
repletos de fantasia e profundidade psicológica, abrir caminhos para o moderno
romance de mistério. No entanto, a quebra nos padrões europeus só veio um pouco
mais tarde com Henry James (1943-1916), que marca as principais diferenças
entre o Novo Mundo e o Antigo, e com Mark Twain (1835-1910), que foi o primeiro
a explorar, a ter como principal personagem de uma história um verdadeiro americano. São esses, talvez os
primeiros escritores norte-americanos, que deram sua contribuição para a
literatura de seu país, que construíram um alicerce para todos os que viriam
depois, no entanto, não foram os únicos do século XIX que são tidos, ainda
hoje, como os principais escritores daquele país. Também figuram entre os
principais autores daquele período Herman Melville, Nathaniel Hawthorne e Emily
Dickson.
A
Literatura Americana teve seu primeiro grande momento junto com a hegemonia
econômica do país, já na primeira metade do século XX. A euforia econômica do
país, iniciada logo após a Primeira Guerra Mundial, se reflete nas obras dos
escritores da que ficou chamada como Era do Jazz, que tem em F. Scott
Fitzgerald (1896-1940) seu principal representante. Com o desenvolvimento
econômico, o tecnológico logo começou a aparecer, o que favoreceu a uma maior
popularização da literatura e o surgimento e desenvolvimento de outros gêneros
de romance, entre eles o de romance policial e ficção científica. No entanto,
tamanha euforia econômica não podia ser eterna, e com a queda da Bolsa de
Valores em 1929, a Crise Econômica, veio o período que representou o auge da
Literatura Norte-Americana, sendo John Steinbeck (1902-1968), seu principal
expoente. Steinbeck explora em sua obra muito mais do que o momento histórico,
mas expõe as mazelas e a fragilidade da sociedade e do “sonho americano”.
Também nesse período do pós-guerra, surge um dos principais grupos de
escritores da literatura mundial, conhecida como Geração Perdida, cujo maior
nome é o de Ernest Hemingway (1898-1961).
Nesse
período, da primeira metade do século XX, vários escritores têm seus nomes
eternizados. Sinclair Lewis (1885-1951) tornou-se o primeiro escritor das
Américas a ser laureado com o Nobel de Literatura em 1930 e Pearl S. Buck
(1892-1973) foi a primeira mulher das Américas a ser congratulada com o Nobel e
o Pulitzer, dois dos principais prêmios literários do mundo. Também no século
passado a Literatura Americana teve grandes nomes, como William Faulkner, John
dos Passos, Gertrude Stein, Truman Capote, Saul Bellow, Henry Miller, J. D.
Salinger, Vladimir Nabokov, entre outros. Também surgiu, na segunda metade do
século, outro movimento que ficou conhecido como Geração Beat, que tem em Jack
Kerouac (1922-1969) seu grande expoente, e que contou também com outros grandes
nomes dessa literatura e modo de vida tão alternativos, como Allen Ginsberg
(1926-1997) e William Burroughs. Esse movimento, tem como principal
característica, na literatura, a conciliação de elementos de romantismo e do modernismo,
justamente com a filosofia existencialista e a mística oriental.
No
entanto, principalmente após a segunda metade do século XX, com os avanços
tecnológicos e ao crescente número de editoras entrando no mercado editorial
americano, muitos críticos acusaram a literatura daquele país de tornar-se
“excessivamente comercial”, esquecendo-se da arte de se fazer literatura, não
se enquadrando em qualquer escola ou movimento literário, preocupando-se só e
unicamente com os números das vendas de exemplares de livros em todo o mundo.
Mas
nós, leitores, não devemos confundir a verdadeira Literatura Americana, tão
rica, ímpar e significativa para a literatura mundial, com o “comércio de
livros” com que ela foi confundida. E isso, tal rótulo depreciativo, está
forçando, mais uma vez, a literatura daquele país a se reinventar, se
redescobrir, e os dois maiores escritores daquele país e do mundo nas últimas
décadas são Paul Auster e Philip Roth. Este, eterno cotado a ganhar o Nobel de
Literatura, o mais importante prêmio literário do mundo, a exemplo de alguns
dos maiores escritores de seu país. Ambos têm seus livros figurando entre os
mais significativos de toda a literatura contemporânea, tendo ganho inúmeros
prêmios e reconhecimentos.
Mas o que falta
para a Literatura Norte-Americana para readquirir seu respeito (que, na
verdade, nunca esteve perdido, embora seja indiscutível que o excesso de comércio
literário praticado naquele país macula a imagem da verdadeira literatura)? Talvez
esteja faltando o respeito, por parte do leitor, pela história e pelos grandes
escritores que há naquele país, e isso irá quebrar, de uma vez por todas, o
preconceito que se formou em torno da literatura norte-americana.
Para mim o grande problema da literatura americana hoje é o fato que, em busca do sucesso, Autores que tem algo a dizer fazem livros "digeríveis", com medo de assustar o público, e de olho mais nas vendagens do que em amadurecimento e qualidade na escrita. Com exceção dos (excelentes) autores que você citou, os autores que eu li recentemente tem um certo medo de serem "dificeís"...
ResponderExcluirAdorei o post!
ResponderExcluirEu já li "O inverno de nossa desesperança" de Steinbeck e gostei demais! Walt Whitman ainda não tive a oportunidade de ler, mas pretendo!
Parabéns pelo ótimo trabalho com o blog!
Da geração atual temos Cormac McCarthy, David Eggers, Thomas Steibeck (filho do homem), David Foster Wallace, Neil Peart e Jon Krakauer....
ResponderExcluirtodos eles carragam a chama da literatura-americana com a mesma classe das gerações anteriores.
Gostei muito do texto, e realmente existe o preconceito com tudo que vem dos yankees, mas justiça seja feita...literatura comercial é um mal mundial!!
* Steinbeck
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUma sociedade "puritana" que descarta bens preciosos como: Médico de Feridas, Leaves of Grass, a mesma que fecha os olhos diante das manifestações contra guerras, partindo de uns "malucos do bem" numa Haight e Ashbury da vida...só me faz pensar sobre o fato de manipulação mental para com seus filhos, eles querem que o povo fique calado. O quanto menos informações para a população americana e mundial, menos manifestações, cobranças e assim mais atrocidades, roubalheiras. O papel da Literatura para a formação intelectual do sujeito é imprescindível. Comam livros, devorem-nos! Ótimo post Neto, parabéns!
ResponderExcluirA Literatura, especificamente, a Literatura de Língua Inglesa foi um desvelar de conhecimentos intrínsecos e também foi 'esclarecimento' para os acontecimentos do mundo.
ResponderExcluirImpressionante como a Literatura Norte Americana acompanha os feitos sociais, todos os seus dramas, conceitos e pré-conceitos. E como os grandes autores eternizam seus nomes, personagens... e suas obras por retratarem, ficção ou não, suas histórias de vida. Moldando ou não a maneira como a sociedade norte americana se comporta.
ResponderExcluirMuito bom seu post, vou estudar isso esse semestre na faculdade. Obrigada, me ajudou muito!
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