Saudade, és tu das mais belas, tristes,
alegres e complexas palavras da língua portuguesa. Difícil de traduzir, mas fácil
de sentir. Falar-te, por si só é sentir-te. Enche-se o peito e depois te deixa
solta na boca, sendo liberada aos poucos, como um suspiro. Tu enche não só
nosso peito, mas todo o nosso ser de Lembranças, esta outra palavra tão doce na
nossa boca quanto à mais doce lembrança que suscita. No entanto, Saudade, tu
também és cruel, como só as mais cruéis palavras sabem ser, pois nos faz
lembrar a solidão que sentimos, a falta que uma pessoa, que algo nos faz. Tu,
Saudade, traz junto a ti essa companhia que nos faz tão mal, a palavra Solidão,
que é tão pesada, um fardo que, muitas vezes, não estamos acostumados, que
nunca queremos carregar. Solidão chega sem pedir, com seus sons fortes que
impõe medo. Mas, Saudade, tu, que tanto nos faz bem, traz também consigo outras
palavras e sentimentos, como o Sonho. Este tão terno, que nos faz sonhar
acordados, pensando nas lembranças de um retorno. E tu, Retorno, que tanto nos
tira o sono, pois por tu tanto esperamos, pois a nossa vida depende de ti! Saudade
nos faz sonhar com o Retorno, irmão gêmeo de Volta, que inebria os nossos
sonhos, pois esta é tão suave, chega tão natural como uma brisa no fim de
tarde.
Saudade,
para bem ou para o mal, nós nunca nos desvinculamos de ti, pois és inerente a
nós, humanos, tão frágeis que somos facilmente domados por simples, delicadas,
fortes e marcantes palavras. Sentimos-te, vivemos-te, sofremos-te, sonhamos-te,
Saudade, tu que nunca se aplaca em nosso peito, que muda de forma, e da pessoa
por quem te sentimos, mas nunca deixas de ser saudade, a doce, a cruel e irredutível
Saudade.
Saudade
nos faz remeter a lugares e pessoas, na maioria das vezes, mas ela consegue
abraçar tanto, tudo, que é impossível fugir de tuas garras, que muitas vezes
nos ferem o peito, de tanto pensar em ti.
Saudade
nos faz acordar à noite, e ver o que ninguém mais pode ver naquela escuridão,
brincando com os nossos sentidos. Nos faz sentir cheiros, o toque, o calor, o
sabor e até mesmo escutar a tua voz sussurrante, ao pé de nosso ouvido.
SAU-DA-DE,
és bela em tua essência, mas cruel, muitas vezes, em teus atos, e nós, homens,
que nos julgamos tão fortes, nos mostramos tão fracos que somos facilmente
domados por tu, uma palavra.
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