quinta-feira, 10 de junho de 2010

Elogio à Saudade

Saudade, és tu das mais belas, tristes, alegres e complexas palavras da língua portuguesa. Difícil de traduzir, mas fácil de sentir. Falar-te, por si só é sentir-te. Enche-se o peito e depois te deixa solta na boca, sendo liberada aos poucos, como um suspiro. Tu enche não só nosso peito, mas todo o nosso ser de Lembranças, esta outra palavra tão doce na nossa boca quanto à mais doce lembrança que suscita. No entanto, Saudade, tu também és cruel, como só as mais cruéis palavras sabem ser, pois nos faz lembrar a solidão que sentimos, a falta que uma pessoa, que algo nos faz. Tu, Saudade, traz junto a ti essa companhia que nos faz tão mal, a palavra Solidão, que é tão pesada, um fardo que, muitas vezes, não estamos acostumados, que nunca queremos carregar. Solidão chega sem pedir, com seus sons fortes que impõe medo. Mas, Saudade, tu, que tanto nos faz bem, traz também consigo outras palavras e sentimentos, como o Sonho. Este tão terno, que nos faz sonhar acordados, pensando nas lembranças de um retorno. E tu, Retorno, que tanto nos tira o sono, pois por tu tanto esperamos, pois a nossa vida depende de ti! Saudade nos faz sonhar com o Retorno, irmão gêmeo de Volta, que inebria os nossos sonhos, pois esta é tão suave, chega tão natural como uma brisa no fim de tarde.
            Saudade, para bem ou para o mal, nós nunca nos desvinculamos de ti, pois és inerente a nós, humanos, tão frágeis que somos facilmente domados por simples, delicadas, fortes e marcantes palavras. Sentimos-te, vivemos-te, sofremos-te, sonhamos-te, Saudade, tu que nunca se aplaca em nosso peito, que muda de forma, e da pessoa por quem te sentimos, mas nunca deixas de ser saudade, a doce, a cruel e irredutível Saudade.
            Saudade nos faz remeter a lugares e pessoas, na maioria das vezes, mas ela consegue abraçar tanto, tudo, que é impossível fugir de tuas garras, que muitas vezes nos ferem o peito, de tanto pensar em ti.
            Saudade nos faz acordar à noite, e ver o que ninguém mais pode ver naquela escuridão, brincando com os nossos sentidos. Nos faz sentir cheiros, o toque, o calor, o sabor e até mesmo escutar a tua voz sussurrante, ao pé de nosso ouvido.
            SAU-DA-DE, és bela em tua essência, mas cruel, muitas vezes, em teus atos, e nós, homens, que nos julgamos tão fortes, nos mostramos tão fracos que somos facilmente domados por tu, uma palavra.

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