Todo início de ano, como milhões de pessoas fazem
ao redor do mundo, eu também traço planos e metas para serem cumpridas ao longo
dos 365 dias que estão por vir, no entanto, diferente da maioria das pessoas,
eu traço planos e metas de leitura.
Tudo
bem que, como todo mundo, eu traço planos mirabolantes e metas impossíveis de
serem alcançadas, como algo do tipo Ler
200 livros ou Iniciar a leitura de
Ulysses, mas pelo menos eu corro atrás dos 200 livros, embora sabendo que
nunca vou alcançar tal marca, já quanto a Ulysses...
Tenho o livro há mais de dez anos e só o abri uma vez para ver como era ao
menos seu início, e vendo que não estou preparado para empreender tal leitura,
o fechei imediatamente.
Foi,
no fim das contas, 2016, apesar de ser um ano trevoso em muitos aspectos,
imensamente feliz no que tange à minhas leituras. Não consegui bater a meta dos
200 livros, mas li 47 (e nesse ano, pela primeira vez, contei a quantidade de
páginas e cheguei a marca de quase 11.000!), e nunca um ano foi tão bom e me
ofereceu momentos de êxtase literário tão intensos, fazendo com que eu, como
leitor, me perguntasse onde foi e em que mundo eu vivi para não ter lido aquele
livro ainda! Livros que me deixaram angustiados, que me tocaram fundo na alma,
que me abriram os olhos, aguçaram a minha sensibilidade, que me fizeram rever
certos conceitos, que me ensinaram muito sobre a vida, o universo e tudo o
mais...
Se
em anos anteriores foi difícil listar os livros destaques entre as leituras
empreendidas ao longo do ano, nesse ano de 2016 foi difícil listar só alguns,
pois foram tantos que eu, hoje, dia 31 de dezembro, olho para trás, para todos
os livros lidos desde o início do ano, e respiro aliviado dizendo mentalmente
um “que ano bom...”.
Em
2016, como já é tradição minha, iniciei o ano lendo uma obra referência na
literatura mundial, de relevância para a tradição de seu país. Meu primeiro
livro foi O Mestre e Margarida, do
russo Bulgákov e o último, O Idiota,
do também russo Dostoievski. Entre esses dois, li muitos clássicos das mais
diversas tradições literárias. Li A Letra
Escarlate, de Hawthorne, Gargântua,
de Rabelais, Eugênio Oneguin, de
Pushkin, O Avarento, de Molière, Memórias do Subsolo e Gente Pobre, de Dostoievski, Águas Primavera, de Turgueniev, Cândido, de Voltaire, Esperando Godot, de Beckett, Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, entre
outros tantos clássicos da literatura mundial. Isso fora as adaptações em
quadrinho de grandes obras que li. Ou seja, no que se refere à leitura de
clássicos, meu ano foi magnífico. Dos quadrinhos baseados em grandes clássicos
da literatura, destaco a leitura dos brasileiros Grande Sertão: Veredas e Vidas
Secas, obras magníficas que foram primorosamente adaptadas para a linguagem
dos quadrinhos, resguardando a sensibilidade das obras originais sem contudo
ter um toque de originalidade. Dos baseados em obras de literatura estrangeira,
destaco Oliver Twist, que me deixou
tão fascinado que resolvi ler a obra na íntegra no início de 2017.
Dos
contemporâneos e do século XX, tive grandíssimas surpresas, descobrindo obras
estupendas. Não saberia dizer qual livro
me fascinou mais: se Tirza, de
Grunberg, ou Stoner, de John
Williams; qual me encantou mais: se A
Última Estação, de Parini, O Olho de
Vidro do meu avô, de Bartolomeu Campos de Queirós, ou se Extraordinário, de R. J. Palacio (este
último capaz de nos fazer rir em chorar em questão de parágrafos); qual o mais
sensível no trato a temas duros: se Uma
História de Solidão, de John Boyne, ou A
Vida em Tons de Cinza, de Sepetys; qual, dentre os contemporâneos já
consagrados, qual o mais forte, intenso e magnífico: se Desonra, de Coetzee (autor laureado, inclusive, do Nobel de
Literatura), Hibisco Roxo, de
Chimamanda Ngozi Adichie (nigeriana que vem se destacado no cenário literário e
como uma das mais atuantes feministas da atualidade), ou A Balada de Adam Henry, de Ian McEwan (um dos mais importantes
autores britânicos contemporâneos); ou qual quadrinho mais me fascinou: se Maus, de Spiegelman, ou Três Sombras, de Pedrosa.
Alguns
livros que li, é bem verdade, me decepcionaram um pouco, como O Senhor das Moscas, de Golding, e não
gostei tanto de O grande Gatsby, de
Fitzgerald, mas nada que chegasse a macular o meu magnífico ano de leituras.
Em
2017, que é daqui a pouco, espero ter um ano tão repleto de descobertas
literárias quanto foi o meu 2016.