Existe
algo com que mais convivemos em nossas vidas do que o erro? Talvez não. Todos nós,
desde cedo, aprendemos a conviver com os erros que cometemos e com as consequências
que estes trazem. É através deles que aprendemos a distinguir o que é certo do
que é errado, o que podemos, e devemos, ou não fazer. É através desse eterno
aprendizado, entre erros e acertos, que moldamos o nosso caráter, que vivemos
as nossas vidas.
Todo
acerto nos eleva, assim como todo erro tem uma consequência. Algumas são
graves, outras nem tanto. O que elas têm em comum é que, independente da
gravidade, de como se errou, das circunstancias que acarretaram em tal erro,
todos merecem uma segunda chance.
Assim
como convivemos ao longo de toda a nossa vida com os erros, por conta destes,
aprendemos a sentir o arrependimento.
Todos sentimos arrependimento por algo, por um erro que se cometeu, por algo
que se fez ou que deixou de se fazer, por uma palavra dita ou por uma que se
deixou passar. E quando nos damos conta do erro pelo ato cometido, ou pelo que
se deixou de cometer, sentimos um gosto amargo na boca, uma respiração pesada,
uma opressão no peito, uma vergonha, um arrependimento.
Ao sentir o arrependimento, todos, independente de sexo, idade, cor, religião,
opção (ou orientação, como alguns querem) sexual, pedimos, por vezes até
imploramos, por uma segunda chance, que é um direito inerente ao ser humano. Acho
até que no Código do Ser Humano, a que estamos submetidos desde que nascemos
até o último dia de nossas vidas, deveria ter um artigo específico sobre isso:
erros, arrependimentos, segunda chance e acerto (nessa ordem). No entanto, ante
a complexidade do assunto, frente às circunstâncias, aos atenuantes de cada
erro, é difícil se falar na segunda chance, pois esta envolve muito mais do que
dois lados, o da pessoa que errou, arrependida, que “exige” a sua segunda
chance, e o da segunda pessoa, vítima do erro, que tem em suas mãos a opção de
perdoar ou não o erro, de dar ou não a merecida (em alguns casos não-merecida)
segunda chance.
A
pessoa que sai de casa tem o direito de sentir saudade e arrepender-se, de
pedir para voltar; o homem que trai, pode, em meio a traição, pensar não na
pessoa que está, naquele momento, mas na que verdadeiramente ama, que está em
sua casa, a esperá-lo; o filho que, num ato de rebeldia, briga com os pais, tem
o direito de, no final do dia, voltar para casa e desculpar-se com um abraço
apertado e dizer que não mais vai voltar a agir daquela maneira; uma pessoa que
fala sem pensar pode, antes do final da frase, utilizar-se de seus
conhecimentos lingüísticos e dar um novo rumo ao que estava dizendo ou
simplesmente terminar a conversa com um “desculpe pelo que disse”; uma outra,
que não falou o que deveria, por medo ou insegurança, sempre pode inflar o
peito e proferir aos quatro cantos do mundo a palavra, sempre pode correr atrás
do tempo perdido e aceitar todas as consequências. Lógico que há situações de
enorme responsabilidade, que não permitem um erro, como a que vivem os médicos,
juristas, engenheiros e tantos outros profissionais, mas quando entramos nesse
âmbito, falamos não no humano, mas sim no profissional. O homem erra, o
profissional, este, dependendo da profissão, não pode errar. (mas o alvo dessa
crônica é o humano, portanto,
voltemos ao assunto).
Errar
é humano, arrepender-se é natural, pedir uma segunda chance é sinal de humildade.
Mas tudo isso só é possível, só se fecha o ciclo, com a palavra do segundo humano, que, nesse caso, passa a
ser não humano, mas adquire proporções verdadeiramente divinas, pois está em
suas mãos o poder, que lhe é concedido, de dar essa segunda chance, o poder de
perdoar o erro cometido.
Não
existe ser humano perfeito. Fomos feitos imperfeitos em nossa essência, e
talvez por isso, por essa consciência de imperfeição, tanto a buscamos. Talvez um
dia possamos, se não alcançá-la (na verdade nunca a alcançaremos), pelo menos
nos tornar mais humanos, possamos nos tornar melhores, não só para nós mesmos,
mas principalmente para os outros. E como podemos continuar nessa busca? Simples:
vivendo, errando, nos arrependendo, pedindo perdão, sendo perdoados, mas, acima
de tudo, também perdoando. Sempre, a vida tem dois lados, e da mesma forma que
erramos e pedimos perdão, num momento seguinte somos a vítima do erro e nos é
pedido esse perdão. Afinal de contas, nada mais humano do que ter e ser os dois
lados, do que ser perdoado, mas também perdoar.
Experimente,
viva, erre, saiba quando pedir uma segunda chance, quando pedir perdão, mas
saiba, acima de tudo, quando dar essa segunda chance, quando perdoar. A vida é
uma via de mão dupla. Pense nisso.