Sempre que lemos um livro que nos
surpreende, que ficamos com ele “ecoando” em nossas cabeças por dias a fio,
passamos a viver uma espécie de ansiedade pela leitura do seguinte do mesmo
autor. Uma ansiedade, mescla de grande expectativa com um certo temor. Temor porque,
caso o livro (o segundo) não nos agrade tanto quanto o primeiro, ficaremos com
um gosto de frustração na boca, gosto este que vai acabar até “amargando” o
sabor do primeiro livro. Por outro lado, a expectativa é tamanha que acabamos
não resistindo e mergulhando na história daquele segundo livro. Às vezes
gostamos, outras vezes não; às vezes a expectativa é superada, em outras
ficamos frustrados, mas, de maneira geral, usamos, nesses casos, duas
expressões: “é tão bom quanto o primeiro” ou simplesmente “é bom, sem dúvida,
mas o primeiro é melhor”. É difícil se falar que o segundo é melhor. Lógico que
há muitos casos em que o segundo supera em diversos aspectos o primeiro, mas,
sempre, o primeiro livro se torna o “parâmetro”. E quando se chega um terceiro
livro? Nossa, aí nós, leitores, ficamos em polvorosa! Será que ele é tão bom
quanto o primeiro? Será que ele supera o segundo? Será que o autor segue mais a
linha do primeiro ou do segundo? Será que vale a pena lê-lo, já que já li dois
livros desse mesmo autor? Entre outros questionamentos que costumamos nos fazer
ante tal situação.
Com
John Boyne, comigo, aconteceu a mesma coisa. Li O Menino do Pijama Listrado e adorei. Achei-o um livro belíssimo,
de rara sensibilidade, um livro para amantes de livros, de literatura, que não
leem só por ler, que entram na história e a vivem da primeira à última página. Com
o lançamento do segundo livro do autor, O
garoto no convés, vivi os dilemas e expectativa do “segundo livro”. Gostei muito
do segundo, sem dúvida. Vi as semelhanças da delicadeza da escrita, vi um
roteiro melhor trabalhado, mais personagens, mais situações, uma história mais
longa, etc, etc e etc. mas, mesmo com isso tudo, o primeiro ainda tornou-se a
minha referência tratando-se de John Boyne. Agora o autor lança seu terceiro
livro no Brasil, O Palácio de Inverno,
e eu fiquei algumas horas me perguntando se valeria a pena lê-lo. Eu olhava
para o livro, o livro olhava para mim, e eu acabei não resistindo. Fui ler o
livro “desarmado”, imaginando que iria encontrar, sem dúvida, uma história bem
contada, enfim, um bom livro, talvez melhor que o segundo, mas dificilmente tão
magnífico quanto o primeiro. Que grata surpresa descobri naquelas páginas,
naquelas palavras, naquela belíssima história! Devorei o livro em poucos dias e
estou com a história, com passagens inteiras do livro, com determinados
personagens e com um cálido sentimento ainda ecoando em minha cabeça, mesmo
após o fim de sua leitura.
O Palácio de Inverno é um livro
belíssimo, como eu não lia, já, há algum tempo. Livro delicado, bonito, terno,
cativante, bem contato, com lindos personagens e, acima de tudo, que trata,
entre outras coisas, do mais nobre e belo dos sentimentos humanos: o amor. Isso
mesmo. O livro fala de amor! Tem um pano de fundo histórico muito bem
elaborado, possui um roteiro ímpar, com duas histórias, com dois tempos, que
são conduzidos de forma magistral de encontro um ao outro, tem personagens
reais mesclado com outros tantos fictícios, tão reais quanto os que existiram,
mas tem, também, uma linda história de amor. Não uma história de um amor
platônico, meloso, impossível, mas sim do sentimento tal como ele é, para ser
sonhado e vivido e, principalmente, amado.
O
livro narra a história do jovem camponês Geórgui Jachmenev que vive numa remota
aldeia no interior da Rússia. Na ocasião da passagem do grão-senhor Nicolau
Nicolaievich, pela aldeia, Geórgui impede um atentado à vida do irmão do czar,
que seria levado a cabo por seu único amigo, a quem queria como um verdadeiro
irmão. Por tal ato de coragem lhe é concedido um lugar de honra na corte do
czar Nicolau II, mas, por outro, valeu a vida de seu amigo/irmão, que por sua
insensatez é julgado e executado.
De
simples mujique, vivendo numa afastada aldeia, Geórgui passa a viver em São
Petersburgo, no Palácio de Inverno, uma das residências oficiais do czar. Lá, o
menino será encarregado de ser um amigo e guarda-costas pessoal do filho do
Nicolau II, Alexei, a quem se destina o trono e lugar de czar da Rússia. A Rússia,
no entanto, nesse período, está passando por um longo período de conflitos externos
e algum descontentamento dentro do próprio país.
Acompanhamos,
em O Palácio de Inverno, não só a
vida de Geórgui Jachmenev e sua adoração por Anastácia, filha do Czar, e seu
amor incondicional por Zoia, mas parte da história da Rússia do período da
Primeira Guerra Mundial e da Revolução Bolchevique, além de diversos outros
acontecimentos da história do sec. XX. História e ficção, personagens reais e fictícios
se misturam em O Palácio de Inverno,
uma leitura extremamente prazerosa, bela, cativante e tocante, uma verdadeira
obra-prima da literatura mundial.
Olá, Lima Neto.
ResponderExcluirEstou lendo esta encantadora história do jovem (e maduro) Geórgui Jachmenev, ainda estou no encontro dele com o czar Nicolau II, no palácio de Inverno.
Compartilho da sua opinião sobre o prazer de ler esta obra, que me cativou e fico ansiosa chegar em casa e encontrar-me com seus personagens, ambientes...
Parabéns por conseguir por em palavras os sentimentos que nos tomam ao ler esta linda história.
Lima Neto,
ResponderExcluirBem descrito foram os meus sentimentos antes de iniciar a a terceira obra do referido autor.Gostei muito de palácio de Inverno, mas sinceramente espearava mais...Será que criei expectativas demais? Bom, enfim valeu a pena ler e melhor ainda ver sua resenha.
Clarissa - Natal /RN