‘tá aí algo de que é impossível
fugir: rótulos. Às vezes até tentamos e em determinadas situações conseguimos
quebrá-los e até manter uma certa imparcialidade, mas, de maneira geral, os
rótulos estão aí.
Estamos
cheios de exemplo, em todas as áreas, e muitas vezes mesmo os rótulos são
frutos de um trabalho, de um reconhecimento, de algo que foi feito e se
destacou, tornando-se, assim, uma referência, um rótulo. Na literatura também há rótulos. Há autores que se
destacaram por determinado estilo, por determinada obra e não é difícil se
apontar um autor e rotulá-lo disso ou
daquilo outro. Nabokov, por exemplo, ficou reconhecido internacionalmente,
principalmente, por conta de sua obra-prima Lolita,
e que pela temática da obra, repleta de sensualidade, paixão, obsessão e
desejo, lhe fez recair sobre os ombros um rótulo que o acompanhou por toda a
sua vida. Balzac, clássico da literatura francesa, também. Sua obra é
vastíssima, de uma riqueza e importância ímpar, não só na literatura de seu
país, no seu tempo, mas mundial, e ficou muito conhecido por conta de sua obra A Mulher de Trinta Anos. Esse “rótulo”
acabou extrapolando as linhas e páginas da literatura e as mulheres da faixa
etária na casa dos trinta ficaram conhecidas como “Balzaquianas”. A literatura
está cheia de outros exemplos desse tipo. Gabriel Garcia Marquez conhecido por
conta do seu “realismo fantástico”, J. D. Salinger por conta de O Apanhador no Campo de Centeio,
Steinbeck foi rotulado de “cronista da depressão”, Alexandre Dumas de ser um
boêmio, Sade de... bem, de Sade não é bom a gente falar aqui, afinal de contas,
este blog é democrático, para ser lido por pessoas de todas as idades.
Mas
os rótulos, apesar de representarem um reconhecimento, também são perigosos, já
que muitas vezes ele é tão forte e marcante que o autor, na condição de
“vítima”, fica tão preso a ele é impossível dissociar o autor do rótulo. Para o
leitor, muitas vezes, é quase impossível. Sempre que lemos um Sade (lá vem o
Sade de novo!) pensamos logo no quê? Ao nos debruçar sobre um Steinbeck, por
exemplo, esperamos uma história com um pano de fundo histórico da grande
depressão, pós-29. Impossível ler Salinger e não pensar no Apanhador no Campo de Centeio. Difícil ler Gabriel Garcia Marquez e
não ficar com a história de Cem Anos de
Solidão, obra-máxima, que melhor caracteriza seu “realismo fantástico”,
ecoando em sua cabeça. Complicado. Complicadíssimo, na verdade. De quem é essa
culpa? Do escritor? Do leitor? Das pessoas que solidificaram esse “rótulo”?
Talvez um pouco de cada.
Afinal
de contas, rótulos são bons ou ruins? São bons, mas também são ruins (nossa, eu
também compliquei tudo agora! Perguntei tudo, falei de tudo, e não falei de
nada. Paciência, amigo leitor, que eu vou conseguir fechar esse texto. Ah, se
vou!).
O
escritor é refém, sim, dos rótulos, mas nós, leitores, também. Nós, leitores,
muitas vezes, ao ler um livro de determinado autor já vamos com aquela ideia
preconcebida. Queremos, sim, encontrar algo novo, diferente, que nos
surpreenda, mas o rótulo está de certa forma tão enraizado em nossa cabeça que
impede a nossa leitura e interpretação de tal obra. No entanto, quando
conseguimos esquecer o nome e o rótulo nos focamos só e unicamente na obra...
Li
recentemente um livro que me surpreendeu enormemente, que está ecoando em minha
cabeça até hoje: Negrinha, de
Monteiro Lobato. Lobato, como todos sabem, é o criador de O Sítio do Picapau Amarelo, uma das maiores obras, uma referência
na literatura infanto-juvenil, portanto, Lobato “é escritor de livros
infanto-juvenis”, certo? Parcialmente certo. Sua obra maior, conhecida
internacionalmente, é dentro da literatura infanto-juvenil, e sua importância é
inegável. Difícil encontrar uma criança ou adolescente que não tido contato com
nenhum livro, personagem ou mesmo assistido ao seriado, lido uma revistinha que
não tenha, de uma forma ou de outra, a ver como Monteiro Lobato. Ele
imortalizou personagens, histórias, aproximou a literatura de crianças e
adolescentes e (por que não?) continua a encantar adultos (jovens de todas as
idades). Devido a sua importância dentro do gênero infanto-juvenil, acabou por
lhe pesar o rótulo “de escritor para crianças e jovens”, quando, na verdade,
sua obra é bem mais ampla e atinge a um público bem mais amplo.
Eu,
por exemplo, sou uma vítima do rótulo que recai sobre Monteiro Lobato. Meu
contato com ele só se deu em minha infância, quando li um ou outro livro dele e
quando assistia aos episódios do sítio, em uma de suas adaptações para a
televisão, e só. Talvez por que tenha ficado com o rótulo-Lobato na cabeça
nunca tenha me aproximado dele, nunca tenha procurado ler algo “diferente” de
Monteiro Lobato. Mas eis que, numa de minhas “andanças pela livraria”, me
deparo com um de seus livros, Negrinha,
e resolvi lê-lo. Antes de abrir o livro me muni de todas as proteções, confesso.
Logo nas primeiras palavras vi que o rótulo de “escritor para crianças” que é
dado a Lobato é justo, sem dúvida, mas percebi que ele não é só escritor para crianças. Suas histórias,
sua escrita, encanta, cativa e envolve leitores de todas as idades. Ler Negrinha, de Monteiro Lobato, me foi uma
experiência única dentro da literatura brasileira, pois há tempos não lia um
livro de contos assim, tão belo, tão bem escrito, com histórias tão cativantes,
tão ímpares, cada uma melhor que a outra. Muitas vezes, quando lemos um livro
de contos, com tantas histórias, tão diferentes umas das outras, ficamos com
aquela impressão de que “essa história é melhor que aquela”, “gostei mais dessa
outra”, “me identifiquei melhor com tal”, “preferi essa história” e uma
infinidade de outras opiniões semelhantes. Nesse livro não me ocorreu, em
nenhum momento, nenhuma dessas “definições”. Gostei de todo o livro, de todas
as histórias e de todos os personagens.
Rótulos
são perigosos, sem dúvida, e por isso nós, leitores, não devemos nos limitar a
eles. Devemos, sim, quebrá-los, nos permitir, nos surpreender com os livros,
com as histórias e personagens. Sei que é impossível se fugir deles, mas se
pelo menos pudermos esquecê-los, nem que seja pelos instantes que se demora a
leitura, isso nos trará grandes e gratas surpresas.
Rótulos:
impossível se fugir deles, sim, mas não impossível de serem quebrados.
oi Lima! Manda para meu e-mail o restante da frase..."Sade de..."
ResponderExcluirEu realmente "viajei" nessa parte....
Ê! Você conseguiu terminar! rsrsrs...
ResponderExcluirMinha opinião sobre os "rótulos":
Antes de ler O Símbolo Perdido de Dan Brown,antes mesmo de ler a primeira página, fiquei incrivelmente curiosa e ansiosa para devorar aquele livro, que minha mente inssistia em dizer que "era maravilhoso", pois já havia lido todas as suas obras publicadas e tinha obtido um resultado positivo em relação ao que esperava.
Resultado do rótulo, que eu mesma lhe dei, após ter lido Fortaleza Digital,e o achado extraordinário, de um conhecimento cultural "adrenalizado".
No dia em que, anssiosa, abri a capa do "Símbolo Perdido", tive um certo receio no início pois seus primeiros capítulos não me entusiasmaram como os outros.
Depois da continuação da leitura, respirei aliviada: Dan Brown realmente voltara a surpreender-me!
Depois desse dia, ao pegar um novo livro, fecho os olhos e procuro deixar minha mente vazia (vocês não imaginam o que eu sofro para fazer isso!), antes de iniciar sua leitura.
Um exemplo clássico de rótulo, são as palavras desse escritor extraordinário chamado "Lima Neto",
pois não o vejo escrevendo algo sem sua maneira delicada e real que ele consegue me transmitir (creio que a todos) tão profundamente. À ele,
deixo os meus sinceros e humildes...Parabéns! Você realmente sabe como usar as palavras.
Sade (Marques de Sade) é um escritor que se caracterizou por sua literatura de conotações eróticas.
ResponderExcluirsabe o termo Sádito? Sadomasoquista? pois bem, são homenagens à Sade.
A tá...Obrigada! Que falta de raciocínio essa minha...
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