segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma Breve História da Literatura Norte-Americana - muito mais do que uma Best-Seller

No cenário da literatura atual, a norte-americana tem um lugar de destaque, no entanto, ainda não é de todo bem-vista por uma série de fatores, entre eles o preconceito. Mas por que “preconceito”, essa palavra que encera, em si só, um pesado fardo? E preconceito quanto ao quê? Muito simples: por conta da ideia disseminada de que a literatura norte-americana tornou-se excessivamente comercial, num país que se tornou mais conhecido por exportar incontáveis Best-Sellers do que por apresentar ao mundo literário grandes nomes da literatura, que produziram verdadeiras obras-primas da literatura mundial.
            Comparada às escolas literárias da Europa, principalmente à Inglesa, Francesa, Alemã e Italiana os Estados Unidos são um país muito recente e que só teve sua verdadeira identidade criada a partir do século XIX, quando foi citada, pela primeira vez, com o termo “literatura americana”, muito mais num sentido depreciativo do que num respeitoso, uma vez que se procurava, com tal termo, depreciar e diferenciar essa nova literatura da “literatura inglesa”. E foi justamente por conta de tal depreciação, que surgiu o primeiro desafio dessa nova de literatura: se criar, se definir, escapar dos padrões europeus e construir sua própria identidade, a fim de se fazer, no verdadeiro sentido da palavra, Americana, não mais apenas uma extensão da literatura inglesa.
            Coube ao poeta Walt Whitman (1819-1892) dar os primeiros passos nessa literatura em florescimento e a Edgar Allan Poe (1809-1849), em um estilo de textos curtos repletos de fantasia e profundidade psicológica, abrir caminhos para o moderno romance de mistério. No entanto, a quebra nos padrões europeus só veio um pouco mais tarde com Henry James (1943-1916), que marca as principais diferenças entre o Novo Mundo e o Antigo, e com Mark Twain (1835-1910), que foi o primeiro a explorar, a ter como principal personagem de uma história um verdadeiro americano. São esses, talvez os primeiros escritores norte-americanos, que deram sua contribuição para a literatura de seu país, que construíram um alicerce para todos os que viriam depois, no entanto, não foram os únicos do século XIX que são tidos, ainda hoje, como os principais escritores daquele país. Também figuram entre os principais autores daquele período Herman Melville, Nathaniel Hawthorne e Emily Dickson.
            A Literatura Americana teve seu primeiro grande momento junto com a hegemonia econômica do país, já na primeira metade do século XX. A euforia econômica do país, iniciada logo após a Primeira Guerra Mundial, se reflete nas obras dos escritores da que ficou chamada como Era do Jazz, que tem em F. Scott Fitzgerald (1896-1940) seu principal representante. Com o desenvolvimento econômico, o tecnológico logo começou a aparecer, o que favoreceu a uma maior popularização da literatura e o surgimento e desenvolvimento de outros gêneros de romance, entre eles o de romance policial e ficção científica. No entanto, tamanha euforia econômica não podia ser eterna, e com a queda da Bolsa de Valores em 1929, a Crise Econômica, veio o período que representou o auge da Literatura Norte-Americana, sendo John Steinbeck (1902-1968), seu principal expoente. Steinbeck explora em sua obra muito mais do que o momento histórico, mas expõe as mazelas e a fragilidade da sociedade e do “sonho americano”. Também nesse período do pós-guerra, surge um dos principais grupos de escritores da literatura mundial, conhecida como Geração Perdida, cujo maior nome é o de Ernest Hemingway (1898-1961).
            Nesse período, da primeira metade do século XX, vários escritores têm seus nomes eternizados. Sinclair Lewis (1885-1951) tornou-se o primeiro escritor das Américas a ser laureado com o Nobel de Literatura em 1930 e Pearl S. Buck (1892-1973) foi a primeira mulher das Américas a ser congratulada com o Nobel e o Pulitzer, dois dos principais prêmios literários do mundo. Também no século passado a Literatura Americana teve grandes nomes, como William Faulkner, John dos Passos, Gertrude Stein, Truman Capote, Saul Bellow, Henry Miller, J. D. Salinger, Vladimir Nabokov, entre outros. Também surgiu, na segunda metade do século, outro movimento que ficou conhecido como Geração Beat, que tem em Jack Kerouac (1922-1969) seu grande expoente, e que contou também com outros grandes nomes dessa literatura e modo de vida tão alternativos, como Allen Ginsberg (1926-1997) e William Burroughs. Esse movimento, tem como principal característica, na literatura, a conciliação de elementos de romantismo e do modernismo, justamente com a filosofia existencialista e a mística oriental.
            No entanto, principalmente após a segunda metade do século XX, com os avanços tecnológicos e ao crescente número de editoras entrando no mercado editorial americano, muitos críticos acusaram a literatura daquele país de tornar-se “excessivamente comercial”, esquecendo-se da arte de se fazer literatura, não se enquadrando em qualquer escola ou movimento literário, preocupando-se só e unicamente com os números das vendas de exemplares de livros em todo o mundo.
            Mas nós, leitores, não devemos confundir a verdadeira Literatura Americana, tão rica, ímpar e significativa para a literatura mundial, com o “comércio de livros” com que ela foi confundida. E isso, tal rótulo depreciativo, está forçando, mais uma vez, a literatura daquele país a se reinventar, se redescobrir, e os dois maiores escritores daquele país e do mundo nas últimas décadas são Paul Auster e Philip Roth. Este, eterno cotado a ganhar o Nobel de Literatura, o mais importante prêmio literário do mundo, a exemplo de alguns dos maiores escritores de seu país. Ambos têm seus livros figurando entre os mais significativos de toda a literatura contemporânea, tendo ganho inúmeros prêmios e reconhecimentos.
Mas o que falta para a Literatura Norte-Americana para readquirir seu respeito (que, na verdade, nunca esteve perdido, embora seja indiscutível que o excesso de comércio literário praticado naquele país macula a imagem da verdadeira literatura)? Talvez esteja faltando o respeito, por parte do leitor, pela história e pelos grandes escritores que há naquele país, e isso irá quebrar, de uma vez por todas, o preconceito que se formou em torno da literatura norte-americana.

9 comentários:

  1. Para mim o grande problema da literatura americana hoje é o fato que, em busca do sucesso, Autores que tem algo a dizer fazem livros "digeríveis", com medo de assustar o público, e de olho mais nas vendagens do que em amadurecimento e qualidade na escrita. Com exceção dos (excelentes) autores que você citou, os autores que eu li recentemente tem um certo medo de serem "dificeís"...

    ResponderExcluir
  2. Adorei o post!
    Eu já li "O inverno de nossa desesperança" de Steinbeck e gostei demais! Walt Whitman ainda não tive a oportunidade de ler, mas pretendo!
    Parabéns pelo ótimo trabalho com o blog!

    ResponderExcluir
  3. Da geração atual temos Cormac McCarthy, David Eggers, Thomas Steibeck (filho do homem), David Foster Wallace, Neil Peart e Jon Krakauer....

    todos eles carragam a chama da literatura-americana com a mesma classe das gerações anteriores.

    Gostei muito do texto, e realmente existe o preconceito com tudo que vem dos yankees, mas justiça seja feita...literatura comercial é um mal mundial!!

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Uma sociedade "puritana" que descarta bens preciosos como: Médico de Feridas, Leaves of Grass, a mesma que fecha os olhos diante das manifestações contra guerras, partindo de uns "malucos do bem" numa Haight e Ashbury da vida...só me faz pensar sobre o fato de manipulação mental para com seus filhos, eles querem que o povo fique calado. O quanto menos informações para a população americana e mundial, menos manifestações, cobranças e assim mais atrocidades, roubalheiras. O papel da Literatura para a formação intelectual do sujeito é imprescindível. Comam livros, devorem-nos! Ótimo post Neto, parabéns!

    ResponderExcluir
  6. A Literatura, especificamente, a Literatura de Língua Inglesa foi um desvelar de conhecimentos intrínsecos e também foi 'esclarecimento' para os acontecimentos do mundo.

    ResponderExcluir
  7. Impressionante como a Literatura Norte Americana acompanha os feitos sociais, todos os seus dramas, conceitos e pré-conceitos. E como os grandes autores eternizam seus nomes, personagens... e suas obras por retratarem, ficção ou não, suas histórias de vida. Moldando ou não a maneira como a sociedade norte americana se comporta.

    ResponderExcluir
  8. Muito bom seu post, vou estudar isso esse semestre na faculdade. Obrigada, me ajudou muito!

    ResponderExcluir