quinta-feira, 9 de junho de 2011

As lágrimas de uma nuvem

Olho para o céu e vejo as nuvens passando tão lentamente quanto o tempo, que teima em se arrastar. Vejo suas multiformas; vejo como se modificam, se mesclam, se separam, como são todas e como são uma só.
            Sinto inveja das nuvens, de ser parte integrante de um todo e de ser um só, viver livre no céu, ir a todos os cantos do mundo sob o sabor dos ventos, sentindo seus dedos a me acariciar, suas delicadas palavras a me consolar, seguir seus conselhos dizendo para eu ir a uma direção ao invés de seguir para outra.
            O vento é sábio, ele nos traz palavras que foram jogadas e através de seus braços chegam até nós; palavras velhas como o tempo e jovens como uma flor que desabrocha em sua primeira primavera. O vento é delicado quando deixamos nossas faces serem acariciadas por seus finos dedos, mas também sabe ser forte, inclemente e trazer destruição, quando é preciso ser assim. O vento tudo traz, mas também tudo leva; o vento traz em seus braços as nuvens que contemplo aqui de baixo lá no alto, inalcançáveis.
            Eu queria ser leve como uma pluma para ser levado pelo vento até as nuvens e poder tocá-las e sentir sua maciez entre meus dedos e poder me deitar e dormir um sono em seus braços, encostando minha cabeça em seu seio e sentir e o seu calor. Chego, em meu devaneio, a sentir o prazer que seria estar em seus braços e o comparo ao prazer de estar nos braços de uma amante.
            Olho para o céu, contemplando as nuvens, e percebo a intransponível distância que nos supera, e sinto uma súbita tristeza. Olho para meus pés, presos ao chão, e olho para os braços das nuvens, livres no céu, e uma triste lágrima escorre pelo meu rosto, deixando um rastro úmido de tristeza em seu caminho. Minha visão fica embargada pelas lágrimas que começam a escapar em abundância de meus olhos, acompanhadas de soluços que abalam o meu peito. Não quero e não posso mais olhar para o céu. Permaneço longos minutos de cabeça baixa e de olhos fechados até que sinto um lamentoso vento frio tocar meu rosto. Sinto como se fosse uma mão a toca meu queixo e me forçar a olhar para cima. Lentamente abro os olhos e vejo as nuvens tão baixas, mas não tão baixas a ponto de podermos nos tocar, de podermos nos abraçar. Ela vê as minhas lágrimas, e também chora.
A chuva, lágrimas da nuvem, logo me banham a face. Juntos choramos, eu por não poder tocá-la, e ela por não poder me ter em seus braços, com nossas lágrimas se misturando, se fundindo umas às outras. Somos como dois amantes que não podem estar um nos braços do outro, sedentos em nosso amor, desejosos em nossa paixão, mas conformados em nossas finitudes, com nossas impotências, conformados, apenas, que temos um ao outro, não importa a distância que nos separe um do outro.

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