terça-feira, 22 de junho de 2010

Quanto é dois mais dois? - crônica

Certa vez me perguntaram quanto é dois mais dois. Eu fiquei longos minutos a pensar, pois realmente não sabia como responder aquele questionamento deveras importante. Engana-se quem acha essa uma pergunta boba, banal, que pode ser facilmente respondida. Até pode, mas depende muito de sua formação. Um matemático, por exemplo, responderia de prontidão, que dois mais dois é quatro, pois ele, como cientista exato que é, aprendeu a verdadeira, indiscutível e imutável fórmula da soma. Um químico, também, chegaria a uma resposta parecida, mas antes iria fazer a medida do peso dos elementos, iria decompô-los e chegar a uma conclusão. Um engenheiro chegaria a uma resposta exata, sem dúvida, no entanto iria precisar fazer inúmeros cálculos, averiguar a inclinação do eixo, estudar materiais utilizados, e chegaria a uma conclusão aproximada ao valor quatro, mas com variantes, uma vírgula, uma poção de zeros e um monte de símbolos que só eles entendem.
            Outras ciências, levadas a desvendar importante questionamento, iriam se lançar para provar suas teorias e chegar a uma resposta que atendesse a todos os requisitos universais. A astrologia, por exemplo, seria uma das que mais teria dificuldade em chegar ao resultado, pois necessitaria saber a hora e data exata do nascimento dos números, descobrir seu signo, sua ascendência, seu signo lunar, consultar o horóscopo chinês e, no fim, daria uma resposta bonita, que agradaria a todos, mas esconderia o “lado negativo das coisas”. As ciências ocultas também se voltaria para a descoberta desse segredo universal. Runas seriam jogadas, búzios, cartas, I-Ching e até os adpetos ao Feng-Shui iriam organizar as coisas harmoniosas de tal forma para que os bons fluidos sejam trazidos ao ambiente. Algumas religiões chegariam ao resultado de que é um, pois são duas naturezas, humana e divina, mas o indivíduo é único.
            Não importa qual a ciência, o importante é que o resultado a que uma vai chegar nunca será igual ao da outra. Na área das ciências humanas, por exemplo, em que ninguém se entende, já imaginou que resultados se chegaria?
            Na história, por exemplo, se esse questionamento fosse feito, se analisado à luz da historiografia tradicional, o resultado, óbvio, seria quatro, e a justificativa dada seria a de que os documentos oficiais comprovam, falariam de grandes nomes e colocariam o resultado como incontestável. No entanto, se tal questionamento, ou fato, fosse analisado sob uma outra ótica, por exemplo, o resultado poderia ser completamente diferente. Diriam, segundo essa nova teoria, que os fatos foram outros, que os resultados são diferentes, que, na verdade, era maior que quatro, pois uma quantidade se perdeu com o tempo, foi escondida pelas autoridades, etc.
            E já pensou no resultado que poderiam ser obtidos se essa questão fosse feita a diferentes membros de partidos políticos, a pessoas engajadas em movimentos sociais? Um comunista ferrenho, por exemplo, diria que jamais chegaria a um resultado tão alto quanto quatro. Ele defenderia a ideia de divisão igualitária, e chegaria a um valor de quatro partes iguais para todos, de um cada.
            E por aí vai. Nunca chegaremos a um resultado satisfatório e universal, aceito por todos, por isso é bom aceitarmos, sempre, o mais fácil, o mais lógico. Dois mais dois é quatro. E se alguém perguntar por que, podemos responder simplesmente com um curto e grosso porque é, e ponto.

Um comentário:

  1. Grande Lima Neto.
    Muito bom o texto. Imagine então a fisica quantica respondendo a essa pergunta?? Eal tenta provar que nem o real existe....
    Visite meu blog e se puder me recomende aí. O seu está recomendado no meu.
    Abraços

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