domingo, 23 de maio de 2010

Sequências de livros com os mesmos personagens


Você, amigo leitor, gosta de ler livros de sequência com os mesmos personagens?

Eu particulamente nunca gostei de ler esses livros de sequências, em que um personagem se repete, em que morre, que ressuscita, em que em uma história é heroi e na outra é vilão, em que julgamos que o conhecemos num livro e num outro ele é um completo desconhecido. Há personagens que cativam seus leitores, lógico, e talvez por isso o autor se recusa (mesmo porque ele não pode fazer isso) a dar um ponto final na história, a “matar” o personagem em questão. No entanto, em determinados casos, essas sequências podem acabar desgastando-se com o tempo. A relação entre personagem-leitor acaba ficando frágil e a vida dele, personagem, acaba minguando e toda a magia se desfaz da mesma forma que foi criada com a leitura do primeiro livro. Para mim, a leitura de um primeiro livro (que feche a história, que tenha um fim) basta, isso com o intuito de manter o gostoso saber da primeira leitura, a magia do primeiro contato com tal personagem. Não fico procurando pelas “novas aventuras” daquele personagem, a desmistificação daquele outro, as revelações de um terceiro, a mudança de lado de um quarto, e assim por diante. Há, lógico, que autores que construíram de tal forma seus personagens que eles tomaram vida própria e ofuscaram o nome de seu “criador”, como é o caso do clássico Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle, que fogem a essa minha regra de “não leitura de sequências”.
Eu vejo como muitos dos personagens, das sequências, como algo desgastante para o personagem e também como uma espécie de repetição da história que o consagrou, da primeira, com a mudança apenas de algumas situações, do cenário e de detalhes no roteiro das histórias seguintes. São inúmeros os casos desses desgastes, dessas repetições, e posso citar como exemplo o consagrado autor norte-americana Dan Brown, que descobriu uma “fórmula mágica” para seus livros, todos com milhões de cópias já vendidas em todo o mundo antes mesmo do lançamento, e a segue a risca, modificando apenas detalhes mínimos nas histórias, tanto que não são poucos os leitores que comentam que “seus livros são todos iguais”, que lhe falta aquele “quê” de inovação, de mudança entre uma história e outra.
              Sempre que ouço falar de um novo livro de tal autor, que dará sequência e fará renascer seu personagem, eu fico de cabelo em pé só em pensar. Quando isso acontece, as comparações são inevitáveis. Há os que ficam na expectativa de que esse novo livro seja melhor do que o anterior, e coisas do tipo. Essas comparações, apesar de inevitáveis, muitas vezes são injustas, pois cada livro é um livro, cada situação é uma situação e o personagem, apesar de muitas vezes ser o mesmo (embora às vezes ele só mude de nome, mas continua sendo o mesmo), é outro, pois o autor, ao escrever um novo livro, é, de certa forma, outro, pois ele teve outras motivações, outras inspirações e, no meio tempo em que esteve produzindo o livro, bebeu de outras fontes.
            Eu evito fazer essas leituras de sequências de livros com os mesmos personagens, embora às vezes seja inevitável, e quando não consigo ceder à tentação, procuro ser o mais imparcial possível em meu julgamento (sabendo, tendo ampla consciência de que essa “imparcialidade” é algo utópico, principalmente quando se trata de algo que mexe tanto conosco, que nos toca fundo na alma, como só um bom livro é capaz de fazer).

Um comentário:

  1. Gostei do texto. Realmente, as vezes a personagem se torna mais famoso que o próprio escritor! E são poucos os escritores que conseguem fazer sequências com mesmas personagens, conseguir que os livros não fiquem desgastantes e não alterar muito a personalidade do tal!

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