segunda-feira, 17 de maio de 2010

Natal em seu "Dia D" - crônica


Amanhã, 18 de abril de 2010 será o “dia D” para Natal, nas pretensões da cidade de sediar jogos para a Copa do Mundo de 2014, a ser realizada pela segunda vez na história no Brasil. Natal, como se sabe, foi uma das cidades escolhidas para ser uma das sedes do mundial, no entanto, apesar de muita coisa “apalavrada”, não há nada definido, ainda, e é justamente amanhã o dia em que o comitê responsável pela organização da Copa, assim como representantes de diversas esferas, como da Fifa, ministério dos esportes, secretarias diversas, estarão na cidade para verem o andamento das obras, fazerem uma avaliação do que está sendo feito e do que está sendo planejado para que Natal venha, efetivamente, a vir receber jogos da Copa do Brasil. E aí você pergunta: “o que eles vão encontrar por aqui?”. Eles vão encontrar um verdadeiro paraíso, e vão se encantar de tal forma que irão querer que a cidade não seja só mais uma sede de jogos da Copa, mas que seja A Sede. Sairão daqui com opinião tão favorável que escolherão a cidade para fazer a abertura, seminais, disputa do terceiro lugar e final do Mundial.
            A cidade amanhã estará linda e o sol, em acordo prévio com os “manda-chuvas locais”, irá se mostra esplendoroso, não haverá uma única nuvem no céu, as ruas estarão limpas, os policiais estarão, todos, escalados para trabalhar amanhã, nas ruas, fazendo suas rondas e até os criminosos darão seu quinhão a fim de apresentarem a cidade de uma forma favorável, que impressione positivamente os “avaliadores”. Amanhã as máquinas estarão nas ruas trabalhando a todo o vapor, não haverá um único engarrafamento nas principais avenidas.
            Quando os “avaliadores” sobrevoarem a cidade de helicóptero ficarão tão impressionados que serão capazes de assinar, ali mesmo, nos céus de Natal, antes de porem oficialmente os pés no solo da capital potiguar, um documento dando como positivo tudo que está sendo feito pelos políticos e empresários. Ao descerem no centro do gramado do Machadão, não conseguirão esconder as surpresas ao verem, para todo o lado que olharem, máquinas e mais máquinas, pessoas e mais pessoas trabalhando, conversando, fazendo cálculos, apontando, mostrando onde os trabalhos deverão ser feitos.
            Mas eis que algo intriga os “avaliadores”: todos os que estão trabalhando nas obras estão usando capacetes brancos, o que significa que são “chefes”, mas isso será facilmente explicado por algum secretário ou assessor, que estará providencialmente acompanhando toda a comitiva.
            - Todos usam capacetes brancos, são chefes porque estamos aqui realizando tudo da maneira mais democrática possível. Somos todos iguais, temos as mesmas responsabilidades e temos o mesmo objetivo – dirá ele, o que deixará uma boa impressão.
            Eles irão andar por todo o estádio, averiguando os andamentos das obras, parando aqui e ali, analisando, fazendo perguntas ora a um, ora a outro, e constatarão, por tudo que viram e pelas respostas que obtiveram, que a cidade está, sim, pronta para receber jogos do Mundial.
            Quando forem embora, levando a boa impressão, deixarão saudades. As pessoas que acompanharam toda a visita estarão no meio do estádio, acenando, em sinal de agradecimento e de “até logo”, pois em breve tornarão a se ver, mas assim que o helicóptero sumir, o responsável por aquela resposta providencial, irá enxugar o suor que já brota do alto de sua testa e irá repreender o seu assessor.
            - Você quase estragou tudo. Na próxima vez, distribua capacetes coloridos e deixe só um ou dois usando capacetes brancos.
            - Mas chefe, o senhor mandou que eu comprasse os mais baratos, e por isso eu comprei todos brancos, pois os coloridos eram mais caros.
            - Certo, certo, certo... mas da próxima vez pense um pouco por mim, pois eu não posso pensar em tudo também, né?!
            Olha para um lado e para o outro e vê que os figurantes que havia contratado para fazerem o papel de operários estavam fazendo tão bem seus papeis que estavam levando aquele trabalho a sério.
            - Ei, vocês aí, o que estão fazendo? Não percebem que eles já foram embora? Podem parar os trabalhos. Podem se dirigir ao meu gabinete para receberem o pagamento pela encenação de hoje. Vocês estiveram maravilhosos a tal ponto que até eu fiquei convencido do trabalho.
            Um a um, todos os atores e figurantes foram saindo do estádio, se dirigindo ao gabinete do secretário para receberem o justo pagamento pelo trabalho realizado.
            Depois que todos foram embora, ficando do meio do campo apenas o secretário e seu assessor, este se dirige ao chefe:
            - E agora, chefe, o que vai acontecer?
            - Agora, meu amigo, que convencemos aqueles babacas de que tudo aqui é uma maravilha, de que tudo está em ordem, podemos ir para casa e dormir nosso sono tranquilo, que em 2014 eu não vou mais estar ocupando o cargo mesmo e que quem estiver que resolva o problema. Eu já fiz minha parte. Agora os "manda-chuva" é que resolvam – falou o secretário, rindo enquanto saía do gramado.

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