Amanhã,
18 de abril de 2010 será o “dia D” para Natal, nas pretensões da cidade de
sediar jogos para a Copa do Mundo de 2014, a ser realizada pela segunda vez na
história no Brasil. Natal, como se sabe, foi uma das cidades escolhidas para
ser uma das sedes do mundial, no entanto, apesar de muita coisa “apalavrada”,
não há nada definido, ainda, e é justamente amanhã o dia em que o comitê responsável
pela organização da Copa, assim como representantes de diversas esferas, como
da Fifa, ministério dos esportes, secretarias diversas, estarão na cidade para
verem o andamento das obras, fazerem uma avaliação do que está sendo feito e do
que está sendo planejado para que Natal venha, efetivamente, a vir receber
jogos da Copa do Brasil. E aí você pergunta: “o que eles vão encontrar por
aqui?”. Eles vão encontrar um verdadeiro paraíso, e vão se encantar de tal
forma que irão querer que a cidade não seja só mais uma sede de jogos da Copa,
mas que seja A Sede. Sairão daqui com opinião tão favorável que escolherão a
cidade para fazer a abertura, seminais, disputa do terceiro lugar e final do
Mundial.
A cidade amanhã estará linda e o
sol, em acordo prévio com os “manda-chuvas locais”, irá se mostra esplendoroso,
não haverá uma única nuvem no céu, as ruas estarão limpas, os policiais estarão,
todos, escalados para trabalhar amanhã, nas ruas, fazendo suas rondas e até os
criminosos darão seu quinhão a fim de apresentarem a cidade de uma forma
favorável, que impressione positivamente os “avaliadores”. Amanhã as máquinas
estarão nas ruas trabalhando a todo o vapor, não haverá um único engarrafamento
nas principais avenidas.
Quando os “avaliadores” sobrevoarem
a cidade de helicóptero ficarão tão impressionados que serão capazes de
assinar, ali mesmo, nos céus de Natal, antes de porem oficialmente os pés no
solo da capital potiguar, um documento dando como positivo tudo que está sendo
feito pelos políticos e empresários. Ao descerem no centro do gramado do Machadão,
não conseguirão esconder as surpresas ao verem, para todo o lado que olharem,
máquinas e mais máquinas, pessoas e mais pessoas trabalhando, conversando,
fazendo cálculos, apontando, mostrando onde os trabalhos deverão ser feitos.
Mas eis que algo intriga os “avaliadores”:
todos os que estão trabalhando nas obras estão usando capacetes brancos, o que
significa que são “chefes”, mas isso será facilmente explicado por algum
secretário ou assessor, que estará providencialmente acompanhando toda a
comitiva.
- Todos usam capacetes brancos, são
chefes porque estamos aqui realizando tudo da maneira mais democrática
possível. Somos todos iguais, temos as mesmas responsabilidades e temos o mesmo
objetivo – dirá ele, o que deixará uma boa impressão.
Eles irão andar por todo o estádio,
averiguando os andamentos das obras, parando aqui e ali, analisando, fazendo
perguntas ora a um, ora a outro, e constatarão, por tudo que viram e pelas
respostas que obtiveram, que a cidade está, sim, pronta para receber jogos do
Mundial.
Quando forem embora, levando a boa
impressão, deixarão saudades. As pessoas que acompanharam toda a visita estarão
no meio do estádio, acenando, em sinal de agradecimento e de “até logo”, pois
em breve tornarão a se ver, mas assim que o helicóptero sumir, o responsável
por aquela resposta providencial, irá enxugar o suor que já brota do alto de
sua testa e irá repreender o seu assessor.
- Você quase estragou tudo. Na próxima
vez, distribua capacetes coloridos e deixe só um ou dois usando capacetes
brancos.
- Mas chefe, o senhor mandou que eu
comprasse os mais baratos, e por isso eu comprei todos brancos, pois os
coloridos eram mais caros.
- Certo, certo, certo... mas da
próxima vez pense um pouco por mim, pois eu não posso pensar em tudo também, né?!
Olha para um lado e para o outro e
vê que os figurantes que havia contratado para fazerem o papel de operários
estavam fazendo tão bem seus papeis que estavam levando aquele trabalho a
sério.
- Ei, vocês aí, o que estão fazendo?
Não percebem que eles já foram embora? Podem parar os trabalhos. Podem se
dirigir ao meu gabinete para receberem o pagamento pela encenação de hoje. Vocês
estiveram maravilhosos a tal ponto que até eu fiquei convencido do trabalho.
Um a um, todos os atores e
figurantes foram saindo do estádio, se dirigindo ao gabinete do secretário para
receberem o justo pagamento pelo trabalho realizado.
Depois que todos foram embora,
ficando do meio do campo apenas o secretário e seu assessor, este se dirige ao
chefe:
- E agora, chefe, o que vai
acontecer?
-
Agora, meu amigo, que convencemos aqueles babacas de que tudo aqui é uma
maravilha, de que tudo está em ordem, podemos ir para casa e dormir nosso sono
tranquilo, que em 2014 eu não vou mais estar ocupando o cargo mesmo e que quem
estiver que resolva o problema. Eu já fiz minha parte. Agora os "manda-chuva" é que resolvam – falou o secretário, rindo enquanto saía do
gramado.
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