domingo, 31 de janeiro de 2010

Centenário da Imortalidade de Tolstoi

É 2010 o ano do centenário não da morte, mas da imortalidade de um dos maiores escritores não só de seu tempo, de seu país, mas de toda a história da literatura mundial: Liev Tolstoi.
            Autor de obras monumentais, de contos intensos e novelas primorosas, Tolstoi teve seu reconhecimento pela crítica e público ainda em vida. Sua obra, vastíssima é composta não só de livro no gênero literário, mas também de obras de cunho filosófico, pedagógico e teológico, e também teve uma notável importância no tocante à religião, sendo fundador de uma doutrina filosófico-teológica conhecida como “Tolstoismo”.
Tolstoi nasceu em Yasnaya Polyana em 1828, o jovem conde ficou órfão cedo, sendo educado por preceptores, e em 1851, na juventude, devido a um sentimento de vazio existencial por que foi tomado, acabou se alistando no exército da Rússia, o que colaborou para, mais tarde, vir a se tornar pacifista. No final da década de 1850, devido a preocupações relativas a precariedade da educação no meio rural, criou uma escola para filhos de camponeses, onde utilizava um novo método de ensino, com material didático próprio e, diferentemente da pedagogia da época, deixava os alunos livres, sem as excessivas regras e punições, comuns à pedagogia tradicional.
            Casou-se, em Sônia Andreievna Bers, com quem teve 13 filhos. Dedicou-se à vida familiar durante anos, mas longe de o casamento ser pacífico e harmonioso, seria repleto de distúrbios e brigas, mas, contraditoriamente, foi nessa época que produziu os dois romances que mais o tornaram conhecido para o universo literário, Guerra e Paz, escrito entre 1865 e 1869, e Anna Karienina, composto entre 1875 e 1877.
            Após a publicação de seus dois maiores romances, principalmente, muito bem-sucedido como escritor e mundialmente famoso, Tolstoi atormentava-se com questões sobre o sentido da vida, tentando encontrar respostas na filosofia, teologia e ciência, mas só a encontrou sendo guiado pelo exemplo de vida dos simples camponeses, que ele considerava o ideal. E a partir desse momento, teve o início de sua vida que o próprio escritor chamou de sua “conversão”.
            Encontrou, então, o que procurava ao seguir ao pé da letra a sua interpretação dos ensinamentos cristãos, nessa época de sua vida. Nesse cristianismo, Tolstoi recusava a autoridade de qualquer governo organizado e igreja. Dedicou-se a difundir suas ideias através de ensaios e peças teatrais e a criticar a sociedade e o intelectualismo estéril, sem ação. Tais ideias, difundidas tão amplamente, causaram grande impacto nos seus leitores e influenciando pessoas em todo o mundo, sendo o mais conhecido deles Gandhi, que colocou na prática os seus ensinamentos e modo de viver e ver a vida.
            Suas ideias atraíram inúmeros seguidores, que se denominaram “Tolstoianos”. Abriu mão dos direitos autorais de seus livros, que só voltaria a receber o dinheiro mais tarde, quando precisou arrecadar fundos para transportar para o Canadá uma comunidade de camponeses perseguidos pelo governo. Chegou a ser vigiado pelo Czar e devido às suas ideias e textos, foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa, em 1901.
            No entanto, apesar de toda a simplicidade que acreditava e que buscava alcançar, sua família, em especial a sua mulher, cobrava-lhe luxos e riquezas, o que levou o escritor a fugir de casa, abandonando a família para seguir a vida na qual acreditava.
            Na sua fuga, preferia viajar em vagões de terceira classe, para ficar mais próximo às pessoas simples, mas tal atitude, num homem já debilitado, o fizeram contrair uma pneumonia, que logo se agravou, o que acarretou sua morte, no dia 20 de novembro de 1910, na estação ferroviária de Astapovo, província de Riazan.
            Em toda a sua obra, a crítica social é um dos temas que direta e indiretamente influencia os indivíduos, sendo fator primordial para sua felicidade ou infelicidade. Temas, também, como fé, dúvida e finitude estão muitas vezes presentes (quando não os três, pelo menos um deles) em todas as suas histórias.
            No entanto, mesmo sento tão conhecido (e reconhecido), muito devido a monumentalidade de sua obra, ainda há muito a se conhecer de tão genial escritor. E só recentemente seus livros começaram, no Brasil, a terem o tratamento justo, que sempre mereceram, com traduções diretas do russo. Mas há, ainda, um longo, árduo e prazeroso trabalho pela frente, para se conhecer a obra desse magnífico imortal da literatura mundial.
            Nesse ano, que marca o centenário da morte em vida e imortalidade em obra de Tolstoi, devemos, nós, leitores e amantes de sua literatura, fazer como os camponeses o operários, que foram receber o trem funerário que trazia o corpo do escritor, e receber sua obra, e carregar seus livros, da mesma forma que aqueles carregaram seu caixão, seguido por uma multidão que se estima tenha sido de 3 a 4 mil pessoas, cujo número não foi ainda maior porque o governo de São Petersburgo proibiu a vinda de trens especiais de Moscou para o enterro do escritor.
            Na época, a morte do escritor foi noticiada nos principais jornais do mundo, hoje, no centenário de sua imortalidade, sua obra será lida e apreciada nos quatro cantos do universo, onde haja amantes da boa literatura.


Um comentário:

  1. Ainda estou pra conhecê-lo, por recomendação sua. ;)
    Já tenho Guerra e Paz, vou começar daqui a alguns dias.

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