domingo, 29 de agosto de 2010

Política é coisa séria, e não motivo para se fazer piada

Certo. Política é coisa séria. Aliás, muito séria. Não motivo para se fazer piada. Não estou afirmando aqui estar de acordo com a censura que está sendo imposta contra o humor à política. Já se foi o tempo da ditadura onde nada era permitido e o Brasil é um país democrático, e prega aos quatro cantos do mundo de o ser. Constituímos uma democracia ainda jovem, em formação, é verdade, mas somos uma democracia, e atos e, o que é pior ainda, leis que legitimam uma censura são coisas impensáveis em pleno século XXI.
            A política deve ser encarada (e colocada) como seriedade, e não como motivo de piada pela sociedade. Piada, como me refiro aqui, não é a das saudáveis piadas dos programas humorísticos. Os humoristas nada têm que sofrer com a censura devido ao simples fato de que, em nosso país, ter-se feito a cultura da “não-seriedade da política”. Os trabalhos dos humoristas consiste em criar caricaturas, a satirizar, em criar humor de situações comuns, em apresentar os fatos tal como são, mas sob uma ótica diferenciada. Não é trabalho de humorista inventar fatos, se mostrar contra ou a favor desse ou daquele candidato ou mesmo de atrair votos. Humorista não tem, nunca, como objetivo menosprezar nem criar um humor pejorativo com fins políticos. Na verdade, tenho em minha opinião que o humorista não chega, necessariamente, a inventar nada. Ele, na verdade, só nos apresenta (na verdade nos presenteia) com personagens tirados de situações reais, mas que, por motivo de algum pudor ou receio, não os vemos e não os comentamos abertamente daquela maneira. E aí sim, se faz necessário o surgimento do humorista, que com sua sensibilidade e seu senso de humor, é capas de nos mostrar as coisas tal como são por trás de toda aquela fachada de excessiva seriedade e (por que não falar?) de sua “sisudez”.
            No entanto, os juristas, os legisladores brasileiros não veem a questão do humor sob essa ótica. Ao invés de criar leis que visam punir aos que fazem da política uma piada, criaram uma censura aos humoristas que por ventura façam menção política em seu humor.
            Foi-se o tempo em que a política era tratada como extremo rigor, em que eram poucos os que tinham direito de saírem candidatos numa eleição. Eram outros tempos, lógico, em que poucos partidos e poucos grupos mantinham um poder político absoluto, mas, neles, pelo menos ainda se tinha um critério. O tempo passa, a sociedade e seus valores mudam, a democracia assume novos conceitos, novos partidos políticos são aceitos e a cada vez mais pessoas é concedido o direito de ingressar na carreira política. E aí está um dos grandes problemas, do “X da Questão”. Pessoas despreparadas, sem a mínima vocação política têm, cada vez mais, saído candidatos, e, o que é pior, sendo, muitas vezes, eleitos. Quando são eleitos, a culpa não é deles, óbvio, mas sim nossa. Falo, sim, “nossa”, por estar assumindo a minha parcela. Não voto e nunca votei em um candidato por seu nome ou por sua fama, mas sim pelas ideias que defende, pelos projetos, por sua história, por suas convicções, no entanto, no Estado democrático que é o brasileiro, por mais que um voto tenha seu peso, acaba que aquele que angariou o maior número de votos acaba eleito, e é ele quem representará não só a mim, ou a você, mas sim a todo o país.
            Temos todos nossa parcela de culpa e responsabilidade por tudo que acontece em nosso país. Talvez por imaturidade e até por conta de alguma ingenuidade, nós, brasileiros, não sabemos votar. Votamos num nome, e não num candidato. E aí, nesse contexto, é que surgem candidatos que nada tem a ver com a política (muitas vezes nem verdadeiro interesse nela), como estamos tão acostumados a ver nas últimas eleições. É assustador a quantidade crescente de celebridades, pseudocelebridades que têm se candidatado. Cantores, atores, ex-jogadores de futebol e até mesmo jogadores ainda na ativa, enfim, pessoas que se valem de sua fama, da mídia, do conhecimento público de seu nome, de sua fama, para ingressarem numa “carreira política”. O curioso (e o verdadeiramente revoltante) é que tais pessoas, ao longo de toda a sua história e trajetória, nunca expressaram qualquer interesse na política. E agora entra o fator “partido político” que, por motivos que desconheço, e que cada tem seus motivos e justificativas, aceita tais pessoas, uma vez que não tem nada a perder. Pelo contrário, tem, e muito, a ganhar, já que tais pessoas trazem consigo uma considerável quantidade de votos, que lhe serão dados não pelos seus projetos, pela trajetória (inexiste) política que têm, pelas ideias que defendem, mas só e unicamente pelo seu nome. Os partidos, de olho nesses “candidatos”, que só tem a lhe trazer benefícios em forma de votos, que contam para suas coligações políticas e ajudam a eleger outros candidatos, que, em condições normais, em voto direto, talvez nem chegassem a ser eleitos (e aí se entraria na questão do sistema de votos adotado no Brasil, assunto muito complexo e de difícil entendimento, o qual não pretendo abordar neste texto).
            A política brasileira, por esses e outros motivos, tem se tornado motivo de piada e descrédito nacional. E ao falar “piada”, não me refiro, aqui, à piada feita pelo humorista não, mas sim a piada num sentido mais trágico, em se tratando da circunstância, já que política é algo tão sério e importante, que não mexe na vida só de uma, duas pessoas ou de um pequeno grupo que se juntou para eleger esse ou aquele candidato, mas sim na vida de toda uma nação, a que todas as pessoas serão direta ou indiretamente afetadas, com leis e atos daqueles candidatos que ajudamos a eleger.
             Política, torno a dizer, é coisa séria, e muito séria, e não motivo de piada, como vem sendo tratada. E o preocupante é que essa piada está sendo feita não por humoristas, pessoas com vocação, com “veia para o humor”, que foram proibidas de fazer humor de conotação política, mas sim pelos próprios políticos, partidos e até mesmo, o que é muito grave, por nós, eleitores.

2 comentários:

  1. Meu querido, falar que politica é coisa séria nesse nosso país, é uma piada, desculpe o trocadilho.

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  2. Olá!Achei muito legal vc abordar este assunto agora que estamos em época de eleições!Concordo que muitos brasileiros não estão nem aí pra quem vão votar, ou seja, como vc disse, levam na brincadeira essa parcela de cidadania!assim, não dá pra reclamar da sujeira que vira o governo dps! Temos todos que votar com cuidado em candidatos bem selecionados! É verdade, tem muito político ou candidato despreparado e "celebridades" se promovendo!o que me preocupa! Acho que o humor é mto bem vindo pra criticar os políticos corruptos, por exemplo, mas realmente, brincar na hora de votar, não é engraçado!estão aí as consequências de nossas "brincadeiras" com a política no Brasil!

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