segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Escritor - suas paixões, seus anseios

Escrever é coisa séria. Aliás, é algo muito sério. Tem gente que se deixa levar por aquela lei, regra, verdade universal, que diz que o ser humano só é completo quanto planta uma árvore, tem um filho e escreve um livro. Você já deve ter ouvido essa verdade universal. Pois bem, essa verdade é uma completa e deslavada mentira!
            Jogar uma semente no chão não é plantar uma árvore. Se você não regá-la, de nada adianta ter jogado a semente. E também não adiantar plantar uma árvore, regá-la, vê-la crescer já tendo segundas intenções, com a esperança de que ela cresça logo para cortá-la e usar sua madeira para fazer fogueira na época do São João.
            Filho? Nossa, isso é muito sério. Se não se tem vocação para a paternidade, é melhor fazer vasectomia antes que seja tarde e não se possa mais voltar atrás. Filho é pra vida toda, e exige atenção, carinho, dedicação, paciência...
            E sobre livro, o que se pode falar? O livro, para os amantes de literatura, é como um filho. O escritor idealiza um futuro para seu livro, cria seus personagens com o mesmo carinho com que cuidaria de um filho, deixa-os viver tal como desejam, mas procura estar sempre presente, para que não se desviem e cometam falhas ao longo da história. E na hora do lançamento, então. O lançamento do primeiro livro é como o nascimento do primeiro filho. O escritor sofre, não consegue se alimentar, fica ansioso, nervoso, suas pernas tremem, sente uma opressão no peito, falta de ar, e toda essa angústia só tem fim quando o pai (autor do livro em questão) escuta o choro de seu primogênito quando a caneta toca sua superfície nas primeiras dedicatórias e autógrafos na tão aguardada noite de lançamento (digo, nascimento).
            Lançar um livro é algo muito sério. O escritor se prepara por anos a fio, passa noites em claro criando a história, em busca da melhor palavra e até mesmo do instante exato onde colocar um ponto e terminar uma frase. O escritor é um sonhador, acima de tudo. Mantém os pés no chão, sim, mas tem por vezes a cabeça nas nuvens, nos sonhos de suas histórias, e o que mantém seus pés e sua cabeça unidos é a sua mão, a traçar palavras tantas vezes imprecisas em folhas em branco, que logo vão tomando cores e formas a medida que sua caneta se arrasta, corta e pinta aquela história.
            Um escritor, no entanto, apesar de tantas noites em claro, de tantos sonhos sonhados para seu livro, nunca é dono deste, pois, a partir do momento em que o publica, a obra deixa de ser sua e passa a pertencer ao leitor. É este quem passa a dar vida ao personagem, quem passa a viver sua história.
            Por tudo que o livro representa, para o escritor e para o leitor, devemos respeitá-los.
            Muitos têm sonhos de ser escritores, mas são poucos, pouquíssimos na verdade, que realizam este sonho. Não que ser escritor seja algo inalcançável, que necessidade de um dom ou talento especial. Isso, se existir, tal como as pessoas definem, não basta, pois, acima de tudo, para se ser escritor é preciso se ter algo especial, chamado amor aos livros. O escritor é, além de sonhador, um amante de livros, de fantasias, de histórias, da literatura e de livros.
            Não existe escritor sem sua paixão por livros, pois todo escritor é um apaixonado inveterado e incorrigível. Os livros estão na sua vida da mesma forma que o ar que respira. Povoam seus pensamentos e surgem em seus sonhos, quando sonha dormindo e quando sonha acordado. O escritor não tem só sangue correndo em suas veias, te, sim, palavras e frases, que percorrem todo o seu corpo, que estão em cada poro. O escritor sua livros, sua histórias, sua literatura.
            O verdadeiro escritor, apaixonado, vive pela e para a literatura.
            Muitas vezes se decepciona, por vezes até abaixa a cabeça, ante as imensas e aparentemente intransponíveis dificuldades que se lhe apresentam. Pessoas criticam, barreiras vão lhe ser impostas, sim, mas também muitos são os que o apóiam, que acreditam nos seus sonhos, que sonham junto, e é nestas pessoas que o escritor deve se apoiar, em quem deve acreditar.
            Críticas vão vir, sim, assim como elogios sinceros por parte dos leitores, e cabe ao escritor, consciente, sensato, saber ouvir as duas palavras da mesma maneira, com o mesmo peso e aceitá-las, aprender com elas, para crescer e se aperfeiçoar, sempre.
            O caminho do escritor é sempre árduo, pois ele nunca está satisfeito. Tem sempre a sensação de que pode e deve melhorar, que ainda tem muito a fazer para chegar à frase perfeita, para se criar um personagem tão vivo que ele, escritor, possa senti-lo, tocá-lo, vivê-lo.
            Não é o escritor uma pessoa especial, um iluminado, um ser que possui um dom, mas sim uma pessoa que tem uma imensa paixão dentro do peito, que vive um sonho e sonha uma vida.
            Paixão que não mata, mas que sim o faz viver, que o faz sonhar com uma imortalidade em seus personagens, em suas histórias, em seus livros.

2 comentários:

  1. Noooossa, você não só é um escritor iluminado, como ilumina e hipnotiza. Li suas belíssimas e verdadeiras considerações sobre a arte de escrever e seu produto final, sem respirar, sem desgrudar os olhos da tela.Parabéns, escritor!!
    Um abraço amigo.

    E.T. Interessante... na sexta-feira, publiquei um post "Sobre Livros", que serviu de gancho para falar sobre um amigo/leitor que lançou seu livro eletrônico na Bienal de São Paulo nesse dia. Para completar o post, listei outros blogs de amigos seguidores que também são de escritores. Hoje,ao clicar no "próximo blog" (na barrinha de cima do meu blog), caio na Fada Madrinha, que me trouxe com uma varinha de condão ao seu .
    São coincidências/sincronicidades do mundo virtual, inexplicáveis.
    Vou acrescentar seu blog à minha lista de favoritos, e ao meu post, O.K.?
    Voltarei depois.

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  2. fico extremamente feliz em saber que você gostou de meu texto.
    realmente, a internet está cheio de caminhos tortuosos que acabam nos conduzindo a lugares desconhecidos. a sua internet acabou lhe conduzindo ao Lugar das Palavras (trocadilho infame esse que eu fiz... rsrs).

    sou autor de dois livros, "Uma História em Cinco Vozes" (que tem, inclusive, a capa de sua segunda edição disponível no blog) e "Espelho Quebrado". além disso, estou me preparando para o lançamento de meu terceiro livro, "Elegia à Saudade & outras crônicas do Lugar das Palavras" (uma seleção de meus melhores textos, em comemoração aos dois anos do blog) e um romance, ainda sem título definido, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2011.

    qualquer coisa, pode entrar em contato comigo pelo e-mail limaneto1807@hotmailcom

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