segunda-feira, 26 de julho de 2010

Que tipo de celebridade nós cultivamos?

Ilustração de Leonardo Feitoza

Estava eu em minha casa na noite do último sábado, assistindo a um telejornal, quando uma reportagem me chamou a atenção. Na reportagem em questão, uma das entrevistadas (uma das pessoas a qual se deu bastante ênfase, diga-se de passagem) foi a estudante Geyse Arruda, que ficou nacionalmente conhecida (talvez até mundialmente) por conta daquele caso, que ganhou enorme repercussão, da UNIBAN, no qual a aluna despertou todos os desejos, invejas, ciúmes e iras de diversos alunos da instituição, e acabou expulsa (para ser sincero, não sei nem como anda o caso, se ela foi expulsa, se voltou a cursar, se mudou de universidade, etc – o que, para mim, tanto faz como tanto fez. Simplesmente não me interessa). E justamente por conta de toda a repercussão do caso, a citada aluna acabou ficando conhecida e ganhou status de celebridade. Ela desfrutou de sua fama, apareceu em capas de revista, deu entrevistas (como a do telejornal que assisti), apareceu em programas diversos e deve até ter dado muitos autógrafos, enfim, tornou-se uma verdadeira “celebridade brasileira”.
            Esse caso, dessa “celebridade”, me fez pensar a respeito do que venha a ser “célebre”, do que é realmente ser “famoso”, e do tipo de celebridade que são cultuadas em nosso país.
            Procurei em diversos locais, em busca de uma definição mais sensata do que venha a ser celebridade e encontrei em um dicionário “celebridade” como “grande fama, renome, reputação, fama. Personagem célebre. Condição daquele ou daquilo que se distingue por ter raras qualidades” e uma curiosa citação, que dizia que “Uma celebridade é uma pessoa que trabalha duro a vida inteira para se tornar conhecida e depois passa a usar óculos escuros par não ser conhecida.” Pois bem, rodei e rodei, e acabei chegando ao mesmo ponto de partida, quando comecei a escrever este texto: sem saber sobre o que falar nem como falar sobre este tema, que atrai tantas pessoas.
            Desde que o mundo é mundo, as pessoas buscam reconhecimento por aquilo que fazem. Querem ser reconhecidos como mãe, pai, bom filho, bom estudante, bom profissional. Querem também um reconhecimento que ultrapasse os limites da família, bairro ou empresa. Desejam que sua música seja ouvida nos quatro cantos do mundo, que sua arte seja apreciada, que sua boa atuação, num palco, no cinema, seja vista e elogiada, enfim, estas pessoas querem, mais do que reconhecimento, querem a fama, querem a celebridade.
            O que importante, em ambos os casos, se se busca o reconhecimento entre determinado círculo, seja ele “limitado” (na família, dentro da empresa, na escola, etc) ou se “maior” (na televisão, rádios, círculos intelectuais, palcos, etc), o que todos querem, na verdade, é o reconhecimento pelo seu trabalho. A fama, celebridade ou o simples reconhecimento está, portanto, intrinsecamente relacionado ao trabalho. As pessoas, desde os tempos imemoriais, trabalham, procuram seu espaço, aquele que os torne únicas naquilo que fazem.
            No entanto, temos visto comumente, de uns anos pra cá, uma total reformulação desse conceito, de celebridade e, principalmente, do que se chama de reconhecimento. Hoje, as pessoas buscam “reconhecimento” pelos motivos mais fúteis, mais insanos possíveis, e, o que é mais grave: não querem e nem precisam brigar por isso, não precisam lutar para alcançar o suposto reconhecimento. As pessoas querem “fama” e se tornar “célebres”, não buscam um verdadeiro reconhecimento, o que representa uma total inversão de valores. As pessoas querem se tornar famosas, virar celebridades instantâneas pelo simples fato de o serem. Se foram questionadas sobre o motivo que as impulsiona (se é que tais pessoas entenderiam o que venha a ser isso), elas simplesmente poderiam responder: “estou buscando reconhecimento pelo meu trabalho”(!), mas se forem indagadas sobre que reconhecimento buscam, que trabalho realizam, simplesmente vão dar de ombros, como se estivessem a fazer algo espetacular, tão magnífico que um questionamento como este, simples, fosse desnecessário, e, com toda a empáfia da mundo, apresentariam o seu “trabalho”, que, no fundo, define-se em uma palavra: vazio.
            Algo que me preocupa seriamente, é a forma como a ideia, o conceito, os valores e desejos de celebridade têm se disseminado em nossa sociedade.
            Hoje em dia todo mundo quer ser famoso, ter seu rosto estampado em capas de revistas, ter seu nome falado (e, se possível, ouvido) em todos os cantos (e quanto mais longe, melhor), e por isso temos encontrado, cada vez com uma frequencia mais assustadora, uma enorme quantidade dessas supostas celebridades, pelas quais somos bombardeados diariamente, em todo canto que vamos, em toda revista que abrimos, em toda rádio que sintonizamos.
            No Brasil parece que a fama e celebridade têm seduzido cada vez mais e mais cedo às pessoas, que buscam refúgios entre flashes de milhares de máquinas fotográficas e protegidos em seu anonimato por trás de gigantescos óculos escuros. E sabe o que há de mais revoltante nisso tudo? Somos nós mesmos os responsáveis pela alimentação desses egos, dessas supostas celebridades.
            E qual a solução para isso tudo, para modificar essa realidade, antes que ela contamine às pessoas próximas a nós? Talvez, com as mãos atadas como estamos nesse caso, a única coisa que podemos fazer é simplesmente ignorar as falsas celebridades.
            Reconhecimento é algo que todos procuramos, daí a ser célebre ou famoso é uma distância muito grande, e não devemos confundir os nomes e muito menos os conceitos e significados dessas palavras.
            Devemos deixar de cultivar as falsas celebridades, as celebridades instantâneas, que buscam tudo, menos reconhecimento, já que fazem tudo, menos trabalhar duro e sério, já que não têm nada de digno para merecer um reconhecimento. Caso contrario, continuaremos a ver e a construir mais vários e vários “Big Brothers” e ver reportagens em que têm como grande celebridade a estrela da UNIBAN, Geyse Arruda(!).

2 comentários:

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  2. Cara, concordo com tudo que escreves.
    Hoje em dia nós perdemos tempo valorando coisas sem sentido, criando ídolos e celebridades que não tem nada pra mostrar e/ou pra ensinar.
    Nossas músicas não são como antigamente, quando havia letras com ideologias políticas construtivas. Nossa maneira de torcer e o futebol não é mais o mesmo, quando rivalidade era apenas pra tirar "sarro" dos amigos, diferente de hoje que matamos por isso.
    Nossos momentos na frente da tv não são os mesmo que sentávamos pra assistir bons filmes e séries e não a espiar homens dentro de uma casa como macacos em laboratório!
    Os valores estão se perdendo e se não cuidarmos disso, o futuro será bem pior, teremos mais universitárias sem mente,mas com vestidos vermelhos prontas pra virarem celebridades e ex-bbb's ocupando gargos no Senado por causa de sua Publicidade.
    abraços

    www.todososismos2.blogspot.com

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