sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Sentimento de Brasilidade e o gosto amargo da derrota em uma copa do Mundo - artigo

Foto Ney Douglas

Para o brasileiro, o futebol é mais do que esporte e copa do mundo é mais do que uma competição esportiva. Futebol, para brasileiro é uma verdadeira religião, é paixão nacional, é orgulho nacional. Talvez só a cada quatro anos o brasileiro bate no peito com orgulho e diz para o mundo inteiro ouvir: “Sou BRASILEIRO”. O Brasil, a cada quatro anos, impõe respeito. Quem vê a “amarelinha”, onde quer que seja, bate continência, respeita, e sente inveja. Somos apontados no meio da rua, com algo de respeitoso. “Olhe, ta vendo aquele ali? Ele é brasileiro!”, os estrangeiros dizem. Isso, para nós, um povo tão sofrido, que tem tantos problemas, é tudo. Esquecemos tudo, não importa o que esteja acontecendo. Esquecemos do mundo, ligamos a televisão e ficamos durante os longos minutos do jogo com os olhos vidrados, com um grito preso na garganta. Quando vencemos, somos só alegria.
            O mundo inteiro aprendeu a nos ver assim, nós mesmos aprendemos, desde cedo, a ser assim. Não importa se se é rico, pobre, classe média, branco, negro, indígena, Pernambucano, Potiguar, Paulista, Carioca, Gaucho, se torce pelo Flamengo, Corinthians, Cruzeiro, São Paulo, Vasco, Grêmio, Internacional ou ABC ou América de Natal, pois nessa época, de copa do mundo, esquecemos todas as diferenças e inimizades, somos simplesmente brasileiros.
            Como explicar isso para um alguém de fora, para um alguém que não vive tão intensamente esse orgulho, essa “brasilidade”? simplesmente não há como explicar, e não se faz necessário, pois é algo tão evidente que onde quer que se olhe, como quer que se olhe, reconhece-se um brasileiro. Pode se estar na Europa, Estados Unidos, Argentina, Ásia, África ou até em Marte. Brasileiro, em época de Copa do Mundo, a gente conhece em qualquer canto!
            Mas nem só de imensas felicidades vive o brasileiro. Tal sentimento, tal paixão, vivida tão intensamente ao longo de tão poucas semanas, cobra um alto preço muito alto quando surge algo que nenhum de nós quer nem pensar, chamado derrota. Algo tão terrível, tão impensável que essa palavra é proibida durante os jogos da Seleção.
            A vida não é conto de fadas, e quando buscamos vitórias, temos que compreender que se existe um outro lado da moeda, chamado derrota. Duro, sim, mas algo que tem que ser aceito, com que temos que aprender a conviver. Na espera esportiva há sempre os dois lados: vencedor e perdedor. E agora, em plena Copa do Mundo, essas esferas se agigantam, os dois lados, de alegrias e tristezas, de lágrimas e sorrisos, se fazem mais presentes.
            Pois é, ser brasileiro não vive só de orgulho e alegria, há também o lado da tristeza e decepção, tristeza e decepção tão presentes, hoje, com a nossa eliminação em plena quartas-de-final para a Holanda.
            Hoje todos os brasileiros, mesmo aqueles que se fingem de indiferentes nessa época do ano, sofreram um baque. “Bola pra frente”, muitos vão dizer, e é o que vai acontecer, ma somente a partir de amanhã, e para alguns só mesmo depois da Copa.
            O que mais me preocupou, hoje, ao assistir ao jogo, foi a diferença de postura do time nos dois tempos. No primeiro tempo, um time verdadeiramente brasileiro, que poderia ter “matado o jogo”, mas não conseguiu. Paciência. No segundo tivemos uma seleção brasileira apática, tão previsível, que começou a preocupar logo de cara. Com o passar do tempo, aconteceu o que era natural nas circunstancias do jogo: tomamos um gol, o de empate. Não reagimos bem, e, ao invés de levantar a cabeça, bater no peito e correr atrás, recuamos, sofremos o baque, nos desequilibramos e acabamos perdendo, talvez não tanto para a Holanda, mas sim para nós mesmos.
            Mas brasileiro não sabe perder, ou melhor, não sabe aceitar a derrota. A primeira reação após o jogo (a derrota, coloquemos nesse termo), foi a de procurar  o responsável o “bode expiatório”, para jogar sobre seus ombros toda a culpa. Será essa pessoa, pelas próximas gerações, o apontado no meio da rua. As pessoas olharão para ele, desprezarão, apontarão e as duras injustas palavras serão proferidas: “você foi o culpado por nossa derrota”. Palavras injustas, atitudes injustas as nossas a de jogar o peso de uma derrota sobre os ombros de uma pessoa, tão brasileira quanto qualquer um de nós.
            Esse ano, o nosso “Judas” foi Felipe Melo. Toda a culpa da eliminação, antes mesmo de terminar o jogo, já estava sendo posta sobre ele. Vi narradores, comentaristas e todos falando que lhe havia faltado equilíbrio, que isso iria acontecer, e isso e aquilo outro. E essas mesmas pessoas, que criticaram ao final do jogo, devido a memória curta que têm, se esqueceram que há poucos minutos antes elogiaram-no, com o passe que ele deu para o primeiro gol. Isso, seus méritos, as pessoas esquecem, só se lembram de suas falhas, dos erros que cometeu.
            Ele pode ter sua parcela de culpa, sim, como todos os outros que estiveram em campo, tão apáticos, tão pouco brasileiros, que não se mostraram dignos, que não respeitaram a história e o peso da camisa que vestiam.
            Culpar Felipe Melo é fácil, ele nunca foi dos mais bem vistos, uma unanimidade em nosso país. Apontá-lo é injusto, e se é para colocar a culpa pela derrota nesse último jogo, para nós, da Copa 2010, que seja em todos.
            E se se precisa de um nome, que não seja Felipe Melo, mas sim Kaká, o nosso “Camisa 10”, que salvo em alguns lapsos durante os jogos, jamais se mostrou a altura da mística camisa que vestia. Nunca vi um Camisa 10 do Brasil menos brasileiro do que Kaká. No jogo de hoje, contra a Holanda, ele entrou em campo, sim, mas não jogou. Deu dois chutes a gol, sem dúvida, seus méritos, mas durante o restante do jogo, mostrou-se tímido, apagado, ausente, como um Camisa 10 não deve ser, além do mais nas circunstancias em que a Seleção se encontrava.
            Colocar a culpa em Felipe Melo, torno a dizer, é fácil, sem dúvida, mas injusto e perigoso. Colocar a culpa no “queridinho do Brasil”, no nosso Camisa 10, que não jogou absolutamente nada, ninguém faz!
            Por que será que brasileiro tem que amar tanto, sentir tanto esse sentimento de orgulho em Copa do Mundo e quando perdemos nunca sabe perder, e tem sempre que colocar toda a culpa em alguém?! Não estou dizendo que, no caso de Felipe Melo, ele não é culpado, não, porque ele tem, sim, sua parcela de culpa. Mas se for para apontar alguém, que este seja Kaká, que não honrou a camisa que vestiu!


Colocar a culpa em Felipe Melo é injusta, mas colocar parte do peso, da responsabilidade nos ombros de Kaká é mais do que merecido.
E você, amigo leitor, o que acha disso tudo?
Colocar a culpa em Felipe Melo é injusta, mas colocar parte do peso, da responsabilidade nos ombros de Kaká é mais do que merecido.

5 comentários:

  1. Sinceramente acho que o povo brasileiro merece isso, pelo pseudo patriotismo, pelo verde e amarelo que só aparece a cada 4 anos.
    Vamos procurar fazer um país melhor, vamos eleger pessoas melhores e tentar mudar o futuro do país.
    A vida não é uma bola que fica rolando no campo do dia-a-dia.
    Acorda Brasil.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá, por acaso encontrei (em cache, porque direto está sendo impossivel) um recado seu para outra pessoa dizendo que não conseguia acessar o Skoob. bem, faz tempo que eu tb não. Gostaria de saber se conseguiu resolver o problema, se está conseguindo acessar novamente. Não sei se é provisório, mas tem mais de um mês que não consigo entrar nem para cancelar minha conta.

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  4. Culpa é um sentimento cristão. Não existe culpado. São 32 seleções, apenas 1 primeiro lugar. Fica com ele a equipe que for melhor. 31 nações se frustrarão com o resultado.

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  5. amiga, ainda estou com uma imensa dificuldade para acessar o skoob. fico minutos e mais minutos tentando. às vezes abro as páginas, mas tão cheia de falhas que não consigo fazer o que gostaria (dar notas aos livros, marcar como "lendo", "vou ler" ou "lido"), manter o histórico de leitura é algo praticamente impensável, e até conversar com as pessoas não dá, por conta das falhas no carregamento das páginas. já tentei de tudo no meu computador: limpei as "caches", mudei de navegador, esperei bastante para as páginas serem carregadas...
    agora, hoje eu fui a casa de um amigo e pedi para acessar a internet de lá, a título de teste do skoob... e consegui, em dificuldade nenhuma. agora, a conexão dele é de 1 MB.
    agora estou me perguntando se o problema do skoob é por conta da velocidade da conexão. se for, estamos sofrendo uma espécie de preconceito por não termos internet rápida... rsrs (a minha é de 150 KB)

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