Crítico,
eis uma profissão das mais ingratas, complexas e delicadas que se pode existir.
As pessoas têm a opinião do crítico em altíssima estima, esperam tanto dele, e
por isso recaí sobre ele uma grande responsabilidade. Pode ser um crítico de
arte, de cinema, de música, de teatro, literário, da sociedade ou mesmo de um
simples jogo de bolinha de gude, as pessoas vão sempre ler suas opiniões. Algumas
concordarão, e outras nem tanto.
O
problema do crítico, a grande dificuldade dessa profissão, está em seus
limites. O crítico deve ser uma pessoa capaz de dosar a sua opinião com
imparcialidade. Ele deve se colocar, antes de escrevê-lo, na posição de leitor
e ao mesmo tempo na de uma pessoa que tem uma opinião formada acerca daquele
assunto, livro, música, peça, filme, etc, no entanto, ele tem uma opinião, não sendo um portador de
uma verdade universal. O crítico deve ser, antes de tudo, uma pessoa sensata e
não deve, nunca, se permitir a excessos nas suas opiniões, sejam estas de
elogios ou não. Fazer crítica não é só criticar, tampouco somente elogiar. Fazer
crítica consiste em tecer opiniões, comentários e análises de forma objetiva,
clara e, acima de tudo, bem fundamentada. E a boa fundamentação, a consistência
nas suas opiniões são as principais virtudes de um verdadeiro texto crítico. São
essas as qualidades que separam os críticos daqueles que só escrevem, que só
aparecem para “dar opinião”.
Escrever uma
crítica, seja lá do que seja, não é apontar para algo e dizer “gostei”, e, como
justificativa, afirmar que “gostei porque é bom”, nem dizer é “ruim”, porque “simplesmente
não gostou”. Cometer esse erro não é fazer crítica, mas somente dar uma opinião
sem fundamento algum. Opiniões extremadas também não constituem uma crítica,
mas sim um sentimento forte como uma paixão. Fazer somente elogios ou somente
críticas não é bom, nem para o crítico, muito menos para aquele que a recebe. Nenhum
trabalho, por melhor que seja, está tão perfeito a ponto de estar isento de qualquer
tipo de crítica; por outro lado, nenhum outro é tão desprovido de qualidades que
não mereça um comentário elogioso.
As pessoas esperam
muito do crítico, e o crítico espera, sempre, ser surpreendido naquilo que se
propõe a analisar, e este deve ter, sempre, a noção exata de sua
responsabilidade, dos limites de suas paixões e decepções. Deverá saber pesar,
ser justo em suas críticas, conhecer seus limites e ser, acima de tudo, imparcial.
Imparcialidade,
talvez seja esta a palavra que deve ser a premissa do trabalho de um crítico. Ele
deve ser imparcial quanto às paixões e até com relação às suas amizades, uma
vez que, fatalmente, cedo ou tarde, caberá ao crítico analisar o trabalho de um
amigo (ou mesmo de um inimigo, por que não?!), e quando isto acontecer será uma
verdadeira prova de seu trabalho, um verdadeiro teste para a sua
imparcialidade. Não deverá, nesse caso, ser levado a tecer comentários
elogiosos para um trabalho medíocre somente por conta de suas boas relações com
aquele que o realizou. Não deve, também, cometer erros e ser injusto ao fazer
uma leitura de um bom trabalho, rotulando-o de “medíocre” somente por conta de
suas más relações com o profissional em questão.
“Duro” é uma
palavra que as pessoas normalmente muitas vezes atribuem ao crítico. O crítico,
no entanto, não se deve deixar contagiar pelas opiniões das pessoas a seu respeito.
Ele não deve ser “duro”, mas sim justo e sensato. Se um trabalho, por exemplo,
for ruim, e merecer uma crítica, o crítico o fará não para mostrar sua dureza,
mas sim porque este o mereceu.
O crítico deve
ser um portador nato daquilo que se chama comumente de “senso crítico”, e não
se sentir detentor de um megafone, através do qual expressar todo o seu
descontentamento, ou não, daquilo que analisou.
Por essas e
outras tantas mais, o trabalho de crítico não é um trabalho qualquer. Não devemos
confundir “crítica” com “opinião”, tampouco o “crítico” com aquele que opina,
que “dá pitacos”.
Escrever críticas
é um trabalho minucioso, que requer conhecimento e preparo, sendo, por vezes,
uma verdadeira arte. Mas cabe sempre ao leitor da crítica, sempre, a palavra
final, a última análise, sabendo que a “crítica” é uma análise, uma opinião bem fundamentada e criteriosa, e nunca uma verdade absoluta.
Atire a primeira
pedra quem nunca se decepcionou com um filme, música, livro ou obra de arte que
foi tão elogiada pela crítica, e também os que adoraram, amaram, se apaixonaram
e se envolveram com algo que foi tão duramente criticado pela crítica.
Enfim, ser
crítico é uma verdadeira profissão de risco, sujeita a muitas interpretações. O
crítico pode ir do céu ao inferno em uma única linha no seu texto, que pode
gerar opiniões tão diferentes dentro de um mesmo assunto, mas cabe, sempre,
torno a dizer, ao leitor do livro, ao que assiste a peça ou o filme, ao que
aprecia a obra de arte, ao que ouve a música, a opinião final.
Meu querido amigo, não me parece que a um historiador seja muito coerente falar em "imparcialidade"...rs
ResponderExcluirBeijos.
certo, amiga. mas você esqueceu que eu sou membro da S.H.M (Sociedade dos Historiadores Mortos), portanto, como tal, não me limites às regras da história e de sua imparcialidade... rsrs
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