sábado, 21 de fevereiro de 2009

CARNAVAL, CARnaval, carnaval... - crônica

Há um mês, aproximadamente, eu caminhava tranquilamente, indo para o trabalho, quando ouvi alguém me chamando. Olhei imediatamente para o local de onde provinha o chamado, e esperei. Ele dava largos passos em minha direção e ao me alcançar estava tão sem fôlego que parecia ter acabado de completar uma maratona. Esperei que ele se recuperasse, imaginando que o que ele tinha para me dizer fosse algo por demais importante, relevador, que mudasse para sempre minha vida.
Antes dele falar, em meu devaneio, deixei minha fértil imaginação livre, na vã tentativa de adivinhar o que ele tinha de tão importante para revelar.
Imaginei que ele tivesse matado uma pessoa (bem que sempre o achei estranho, anti-social, com um olhar meio homicida), que tivesse ganhado na mega-sena (cara de sorte!), que tinha conquistado aquela deusa com quem estudamos (que todos os alunos da universidade desejavam, mas que nenhum se atrevia a se aproximar), que ia se casar (que loucura!) ou simplesmente iria revelar que era gay (eu sempre o achei meio estranho. Não que eu seja preconceituoso, longe disso. Mas que ele possuía gostos estranhos, isso é inegável. Gostava de Village People e Madonna, seu filme favorito era "Priscila, a Rainha do Deserto". Basta olhar para as roupas que ele usa e seu penteado seguindo a maior moda “EMO”).
Depois de muito respirar para recuperar o fôlego, ele olhou para mim, com um sorriso estampado na face e me soltou a pergunta:
- Onde você vai passar o carnaval?
Menos mal. Ele não era gay afinal de contas.
Eu não tinha pensado nisso até então, fiquei um tempo calado, sem saber o que responder. Dei de ombros e respondi simplesmente a verdade, que não sabia, que não tinha pensado nisso até então.
Passado esse encontro, nesse fatídico dia, fui trabalhar.
Passou-se duas semanas e há exatos quinze dias, encontrei outro amigo, que não via há tempos, que me fez a mesma pergunta.
Imediatamente me lembrei do primeiro amigo e me senti culpado por tê-lo esquecido, por não ter pensando sobre naquilo que constituía algo tão importante para um ser humano, principalmente para mim, na condição de brasileira. Fiquei a me sentir um alguém sem norte, um completo estranho em minha terra, pois todos a quem conhecia já tinham feitos planos (alguns até já tinham planejado a viagem para Olinda desde meados do ano anterior), enquanto eu, um ser insensível, relaxado, desprovido de bom senso, ainda não havia pensado em nada.
Mas tudo bem, após sair do trabalho naquele dia eu prometi para mim mesmo que iria pensar e decidir onde iria passar o carnaval!
O tempo passou, eu simplesmente esqueci de fazer meus planos para o carnaval, e eis que chegou a sexta-feira e vejo todos os amigos, conhecidos, etc, fazendo suas malas, todos empolgados, com a passagem de ida já nas mãos (as de volta deveriam para comprar depois. Vai que acontece alguma coisa interessante na viagem, vai que se conhece a mulher dos sonhos, a que irá se tornar sua esposa e futura mãe de seus filhos? Enfim, é melhor comprar a passagem só de ida. A volta, pensa-se depois), enquanto eu, desalmado como sou, simplesmente esqueci do bendito carnaval.
Como eu iria sobreviver sem carnaval, sem o barulho, sem o mela-mela, sem as noites passadas em claro, sem aquela comida gordurosa, feito de última hora, às pressas, já que ninguém iria se dispor a ir a cozinha preparar algo melhor?
Pensando bem, achei mais interessante esquecer a viagem, afinal de contas, não daria mais pra comprar passagem para lugar algum, já que todos os ônibus estariam lotados, sem falar nos inconvenientes da viagem com aqueles jovens com o som ligado, tocando o hit do verão, todos felizes, cantando alto, no pé de meu ouvido e, além do mais, só em pensar em pegar aquelas filas na rodoviária eu desisti de tudo. Decidi, então, seguir o exemplo de alguns amigos, que nessa época do ano vão para alguma praia, se reúnem com conhecidos da igreja, para o que chamam de refúgio.
Não, eu não preciso de tanto, fugir assim, me isolar de tal maneira. Vou me refugiar em meu quarto, tendo como companhia meus livros, afinal de contas, são quatro dias de folga, de paz, de silêncio, excelentes para se colocar a leitura em dia.
O que vou ler, eu ainda não sei. Fico a olhar para o meu Ulysses, mas só em ver aqueles longos capítulos, aqueles parágrafos sem fim, sem pontuação alguma, fico cansado só em pensar! Vou optar por algo mais leve, mais fácil, afinal de contas, carnaval é época de alegria e quatro dias em casa servirão para descansar, recarregar as baterias, como alguns dizem, afinal de contas, quarta-feira começa tudo de novo.
Também vou aproveitar, já que vou estar em casa, para assistir ao desfile das escolas de samba do Grupo Especial, aos flashs do carnaval de Salvador e de Olinda, ao Galo da Madrugada, afinal de contas, sou brasileiro, e tenho que me portar como tal, tenho assimilar os valores da sociedade em que vivo, afinal de contas, brasileiro que não curte carnaval não é brasileiro.

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