domingo, 15 de fevereiro de 2009

Livro da Semana - Ensaio Sobre a Cegueira

José Saramago, primeiro autor português a vencer o Prêmio Nobel de Literatura é, hoje, um dos principais nomes da literatura não só de seu país, mas sim mundial, não só pela sua escrita, tão rica, tão peculiar, mas pela infinidade de personagens que criou, tão vivos, tão reais, e pelas histórias tão cativantes, tão intensas.
O autor, nascido em 1922 na província de Ribatejo, só vem a se firmar na literatura contemporânea com a publicação de Levantado do Chão, em 1980. Tornou-se conhecido internacionalmente após a publicação de Memorial do Convento, em 1982 e consagrou-se ao ser laureado com o Nobel de Literatura de 1998. Grande parte de sua obra remete a história de Portugal, a qual o autor propõe uma revisão crítica. Suas narrativas muitas vezes pretendem nos levam a revisitar o passado, mas com olhos do presente, no entanto, alguns de seus mais conhecidos livros, como O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro este que lhe valeu a excomunhão, e Ensaio Sobre a Cegueira, o alvo deixa de ser a história portuguesa para fixar-se no personagem, no ser humano.
Em Ensaio Sobre a Cegueira, a história se passa numa cidade fictícia em que um personagem comum, que leva uma vida comum é, de repente, quando se dirigia para casa em seu carro ao parar num sinal de trânsito, é acometido de uma cegueira súbita, que, diferentemente da cegueira comum, esta é leitosa e branca. Desesperado, o personagem não sabe o que lhe aconteceu e é ajudado por um homem, que se oferece para deixá-lo em casa, são e salvo. Sua esposa, ao chegar em casa e ver o marido em tão abalado estado emocional, o leva a um oftalmologista e lá ele tem contato com diversas pessoas, e a partir daí começa a se espalhar em todos com quem tem alguma espécie de contato a epidemia de cegueira.
Os primeiros cegos, na história, são todos levados a um antigo manicômio desativado da cidade, e lá são postos em quarentena, isolado de tudo e de todos, a fim de evitar que outras pessoas sejam infectadas pela inexplicável doença desconhecida. Mas o que antes se resumia a um único grupo, restrito a poucas pessoas acometidas pela tal cegueira, logo toma proporções gigantescas, e todas as pessoas vão, uma a uma, sendo confinadas àquele depósito de gente, àquele manicômio, até que não resta mais ninguém com visão clara, a exceção de uma única pessoa, a mulher do médico que atendeu ao primeiro cego, que presencia e ver aquilo a que olho humano algum imaginava, um dia, enxergar: o estado a que se rebaixou a humanidade, seus vícios, suas fraquezas, seus medos e suas corrupções.
Livro intenso, cativante e perturbador, Ensaio Sobre a Cegueira figura entre os principais romances de José Saramago e um dos mais instigantes e complexos da literatura contemporânea mundial.

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