Ele persistiu, acreditou em si, em suas próprias forças, em
sua vontade e em sua determinação, e, lá do alto, satisfeito, viu o tamanho do
salto que dera.
Sentiu medo, um frio na barriga, sentiu-se impotente e
esteve para desistir antes de dar aquele passo. Fechou os olhos e olhou para os
próprios pés. Sentia-se tão seguro onde e como estava, e seria uma insensatez
largar tudo aquilo por conta de uma simples aventura que iria durar não mais
que alguns míseros segundos. Muito mais sensato seria ficar como e onde estava!
Mas não! Ele não ouviu a voz interior que lhe dizia para ficar, para não olhar
para frente, mas sim para os próprios pés, onde encontrava a segurança em que
com tanta ânsia se agarrava.
Ele titubeou
e olhou para trás, para a segurança, e depois para frente, para o horizonte de
desconhecido que teria diante de si se ousasse dar mais um passo. Fechou os
olhos e respirou fundo duas ou três vezes. Não sabia o que fazer. Seu coração,
sua alma, lhe dizia para dar mais aquele passo que lhe levaria ao desconhecido,
enquanto seus pés lhe diziam para permanecer como estava.
Via diante
de si tantos daqueles loucos que ousaram dar aquele curto e decisivo passo,
felizes, mergulhando no ar, cantando em louvor a louca liberdade, e se
perguntou se ele estava pronto para aquela loucura, se seria realmente capaz de
voar, se sua voz teria força igual a daqueles que sentiam aquela liberdade. Enfrentava
aquele dilema decisivo em sua vida: a loucura da liberdade inebriante do ar ou
a segurança e firmeza de ter eternamente algo seguro sob os pés?
Deixou que
sua alma decidisse, que seu coração falasse mais alto, e, com os olhos,
fechados respirou fundo e se deixou largar no imenso vazio, dando aquele tão
curto e grande passo. Caiu livremente por uma curta fração de segundos, mas
logo abriu as asas e começou a batê-la freneticamente, de maneira desajeitada
e, ainda com os olhos fechados, com medo, começou a sentir o nada debaixo dos
pés, e tudo que havia ao seu redor.
Abriu lentamente
os olhos para ver a liberdade que o seu corpo já sentia em toda a plenitude. Perdeu
a respiração quando olhou para baixo e não viu nada além do chão, lá embaixo,
tão longe, e para trás, quando viu a árvore de onde saltara, tão distante. Feliz
com seu feito, abriu a boca num imenso sorriso de júbilo e de sua garganta, de
uma gargalhada soou um canção de louvor à liberdade, à nova vida que a partir
daquele momento teria diante de si.
Batia as
asas agora com desenvoltura e dava voos rasantes, gozando de sua
recém-adquirida liberdade, indo de um lado para o outro dando pequenos-e-grandes
saltos. Pousou em uma árvore e lá do alto da copa olhou para aquela de onde
saltara. Reviu, reviveu durante alguns instantes, todas as indecisões por que
passara, rindo de seu próprio medo. Se não tivesse enfrentado seus medos, se
não tivesse acreditado em si, se não tivesse persistido, não estaria, naquele
momento, vendo em toda a sua extensão a beleza que tinha diante de si, todo o
céu. Abriu novamente as asas, dando um salto-mergulho em direção à árvore de
onde viera, não para lá ficar, mas sim para saber de onde viera, para saber
para onde podia voltar e pousar entre um voo e outro.
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