
Aquele tinha sido um dia tranquilo na central de ligações de
emergência e a telefonista já começava a arrumar suas coisas quando o telefone
tocou. Ela sabia, de alguma forma, da gravidade da situação, e atendeu à
ligação no segundo toque. Do outro lado da linha, um jovem desesperado.
-
Socorro... Socorro... Eu preciso de ajuda. Ele
não está respondendo e me parece morto. Preciso de ajuda, rápido.
A
telefonista, percebendo o desespero na voz do outro lado da linha, tenta acalmá-lo,
ao mesmo tempo que procura descobrir o que se passou exatamente para acionar
uma equipe de atendimento móvel de urgência.
- Senhor, o
que aconteceu? O senhor está em frente à vítima?
- Sim,
sim... ele está aqui à minha frente e
estou tentando reanimá-lo, mas ele não esboça qualquer reação. Acho que
ele morreu.
- O coração
dele está batendo? O senhor consegue verificar isso, por favor?
- Não. O
coração dele está parado há quase dois minutos. Já tentei de tudo para
reanimá-lo, mas foi tudo em vão. Cheguei até a tentar dar um choque nele, mas
de nada adiantou.
A situação
então era realmente muito grave. A telefonista, desesperada, tem que agir
rápido e acionar uma equipe. Verifica em seu monitor a localização das equipes
para poder destacar a que esteja mais perto para fazer o primeiro-atendimento e
remoção da vítima.
- Onde o
senhor está? Pode me dar o seu endereço para eu poder destacar uma equipe?
O outro, já
chorando, fala o que aconteceu.
- Estava tudo tão bem... Eu só
sai dois minutos para ir beber água... quando voltei, que me sentei de volta ele... ele me disse algo em forma de mensagem e de repente... apagou.
Tentei reanimá-lo até com choque, realizei todos os procedimentos recomendados
em situações como essas, de emergência, e nada... Ele sequer abre os olhos. O
coração dele parou... parou... E foi tudo tão de repente. Talvez se eu não
tivesse saído de seu lado...
- Senhor, por favor, eu preciso
de seu endereço para destacar uma equipe para ajudá-lo, rápido. Cada segundo
conta numa hora dessas.
Ele, desesperado, verdadeiramente
dopado por sua dor, não escuta o que a telefonista falou.
- E ele não estava fazendo nada,
nenhum esforço. Nós não estávamos jogando nem nada, pois já haviam me dito para
não jogarmos, pois faria mal a ele. Ele só estava baixando umas coisas, quando
de repente...
Ela já estava acostumada à
situações como aquelas de emergência e mesmo com as palavras parecendo
desconexas e sem sentido, foi agindo.
- Preciso, senhor, rápido, saber
onde o senhor a vítima estão para destacar uma equipe para ajudá-los – ela
agora falou de forma brusca, quase gritando ao telefone, para chamar o outro à
razão.
- Estou em minha casa...
- O endereço, senhor... Eu
preciso do endereço para mandar a equipe do atendimento de urgência, ambulância
e dos paramédicos.
- Eu preciso de um técnico, com
urgência... ele está morto. Ainda posso sentir o calor do
corpo dele, mas ele está ficando cada vez mais frio – e começou a chorar.
- Tem mais alguém com o senhor?
- Não. Estou sozinho, aqui no
quarto, com ele, morto, bem aqui, ao alcance de minha mão. Estamos só nós dois.
- Tenho que mandar os paramédicos
com urgência, senhor, pois ainda podemos salvá-lo. Ainda há tempo. Agora, por
favor, me diga o endereço para eu mandar a equipe.
- Não é preciso toda uma equipe.
Talvez só um bom técnico possa salvá-lo.
Silêncio dos dois lados da linha,
que só era quebrado pelos soluços do jovem desesperado, necessitando tanto de
ajuda.
A telefonista estava começando a
ficar desesperada, apesar de todo o seu preparo para lidar em situações como
aquela. Sentia-se com as mãos atadas, impotente, por ver que há alguém
precisando desesperadamente de ajuda, tendo ela o “poder” de destacar uma
equipe móvel de urgência, mas sem conseguir extrair do desesperado do outro
lado da linha a informação de para onde mandar a equipe que poderia salvar uma
vida.
- Um técnico... um técnico... Eu
preciso de um técnico, com urgência. Só um bom técnico pode salvá-lo, pode
ressuscitá-lo.
- Senhor, estou com equipes
prontas, a postos, com paramédicos e enfermeiros prontos para ajudar seu amigo,
mas para mandá-los, eu preciso saber onde o senhor está.
- Ele não é só meu amigo. É meu único
amigo, aquele que me faz companhia todas as horas, até nas madrugadas...
O tempo passando e a telefonista
mais e mais desesperada, sem conseguir saber do maldito endereço...
- Ele estava tão bem há cinco minutos. Nunca teve problema algum. E
de repente, apaga, sem mais nem menos, e agora está aqui, morto.
Pelo tempo que se passou, dada a
gravidade da situação, a telefonista sabia que não havia mais nada a fazer.
Àquela hora, muito provavelmente, a vítima já estava realmente morta e não
havia qualquer possibilidade de reanimação com eletrochoques, massagens
cardíacas ou o que quer que fosse. Mas precisava, mesmo assim, tentar.
- Ele... eu já o tinha há tanto tempo... Ele nunca apresentou qualquer defeito, problema, e sempre esteve
comigo nas horas mais difíceis, quando eu estava mais precisando, quando estava
mais sozinho. E agora, o que vai ser de mim? O que vai ser de minha vida,
agora, que ele está morto?
Já cansada, desesperada, a
telefonista, sentindo como se tivesse deixado de salvar um alguém, resolve
fazer uma última tentativa.
- Qual era o nome dele?
- Ele... Ele não tinha
necessariamente um nome...
- Ainda tem algo que eu possa
fazer, senhor?
- Um técnico, por favor. Mande um
técnico. Talvez um técnico possa, ainda, salvá-lo, devolver-lhe a vida.
- O senhor, por acaso, quer dizer
um médico?
- Não. Falo em técnico mesmo!
Afinal de contas, o que um médico poderia fazer numa situação dessas.
- Talvez um médico...
- Não. Um médico não, um bom
técnico, apenas, pode salvar o meu computador.
- O seu O QUÊ?
- O meu computador! Ora, o que
mais poderia ser?!
A telefonista, respirando o mais
devagar que podia, foi deixando o gancho telefone cair, cortando a linha.
- Alô? Alô? Você ainda está aí?
Socorro... Eu preciso de ajuda. Meu computador está morto. Eu não consigo
ligá-lo. Alô? ALÔ? Você ainda está aí? Você ainda está aí? Socorro...
SOCORRO...
Nenhum comentário:
Postar um comentário