domingo, 16 de março de 2014

Espírito Livreiro

Livreiro possui um espírito aventureiro, descobridor, tal qual aqueles personagens tão conhecidos de tantos livros. O livreiro busca incessantemente tesouros escondidos, perdidos naquela imensidão de prateleiras ou esquecido no canto de baixo de uma mesa.
            Livreiro não é vendedor, apesar de constar tal profissão assinalada em sua Carteira de Trabalho, pois seu trabalho não é vender, mas sim orientar, encantar, surpreender e cativar não ao cliente, mas sim ao leitor sedento de uma boa indicação de leitura. Livreiro também não é vendedor por que não vende produto algum, mas sim Livros, e o que um livro mantém aprisionado em suas páginas em branco e letras impressas não pode ser mensurado e comparado a produto algum.
            Livreiro é um completo e confesso apaixonado, e transparece a sua paixão em tudo, e é facilmente reconhecido em suas palavras, atos e gestos, pois tem tatuado não na pele, mas em sua alma, a sua paixão.
            Livreiro nunca é um alguém comum, pois tem “gostos e hábitos estranhos”, como ler em ônibus, nas filas, enquanto espera seu número em um painel eletrônico; como sentir o cheiro de livros com quem cheira a primeira flor a desabrochar na primavera; como ouvir as vozes dos personagens do livro que está lendo; como ser mais reservado e muitas vezes mais calado, silencioso e quieto, embora estas características em nada tem a ver com sua mente e alma em eterna ebulição, eternamente barulhenta que grita a tal ponto de lhe estourar os ouvidos.
            Livreiro não é livreiro apenas em seu ambiente de trabalho, pois carrega consigo sua paixão onde quer que vá, e sua paixão transcende a todas as paredes aonde venha a estar encarcerado.
            Livreiro não vive apenas uma vida, mas sim mil e uma ao mesmo tempo. Reconhece em leitores os personagens e situações vibrantes dos livros que leu e os cumprimenta como se fossem íntimos de longa data, intimidade esta que só um grande livro pode propiciar.
            Livreiro conversa sobre livros com intimidade e paixão apaixonantes, que faz com que aquele que ouve as suas brotantes palavras tão sinceras, vindas do âmago de sua alma, sendo reflexos da vida vivida nas páginas daquele cativante e formidável livro, entrem pelos ouvidos do leitor e se espalhem por sua corrente sanguínea, acelere os seus batimentos cardíacos e faça com que ele entre na história antes mesmo de iniciar sua leitura, só em ouvir as palavras do loucamente apaixonado livreiro.
            Na casa de um Livreiro não há livros guardados, mas sim vidas que brotam e voejam por todos os ambientes de seu recinto sempre que um alguém abre algum daqueles objetos mágicos e dá asas e vida aos personagens de cada uma daquelas histórias contidas naquelas centenas, quiçá milhares, de livros.
            Um Livreiro nunca poderá ser definido com poucas e imprecisas palavras, por mais hábil que seja aquele que tenta defini-lo, mas ele é claramente percebido em meio a uma multidão, principalmente pelo sorriso quando se encontra em seu habitat natural, dentro de uma biblioteca ou livraria, ou simplesmente entre livros ou pessoa cujas almas vibram em consonância com a sua, que compartilham a mesma paixão pelos mesmos livros.

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