domingo, 8 de julho de 2012

Crônica da Solidão III

Não há nada nem ninguém ao meu redor. Está tudo tão escuro que sequer tenho a minha sombra como companhia ou será que o medo e o peso que sinto sobre meus ombros chamado solidão escureceu-me a visão? Andando de um lado para o outro por esse amplo espalho vazio chamo por diversos nomes de amigos que não tenho e de pessoas que não conheço só para invocar um alguém que, mesmo não existindo, viesse me fazer companhia. Mas por mais que eu chame, que grite, que clame, ninguém aparece, a única resposta aos meus chamados que me chega é o eco de minha própria voz.
            Caminhando sem rumo, andando em círculos, ouço o reverberar do eco de meus passos pelos corredores e chego a pensar, iludindo-me, de que são passos de um alguém que se aproxima. Então paro e fico a escutar, e o som, eco, dos passos, também para. Volto a andar, só para ouvir novamente a ilusão do eco de passos dos que se aproximam.
            Em minha cabeça ouço apenas as vozes silenciosas daqueles pensamentos que se calaram e que se negam a falar comigo, por mais que eu clame por ouvir suas vozes, pois estas são as únicas que ouço, pois eles são os únicos fantasmas de minha imaginação que se prezam a falar comigo.
            Paro de repente e apuro os ouvidos e escuto um algo ou alguém que se aproxima, e dessa vez não se trata de um eco, de algo provocado pela minha imaginação, mas se de algo real, de algo tão real que posso até sentir em minhas mãos. Parado, não ouso sequer respirar, com medo de que aquele que se aproxima resolva dar a volta a fugir de mim, deixando-me novamente sozinho, sem ter sequer a minha sombra para me fazer companhia. Fico a esperar por longos e intermináveis minutos de angústia até que a sinto o seu hálito perto da minha nuca. Sinto todos os pelos de meu corpo se eriçarem, mas não me viro, pois desejo prolongar aquele encontro ao máximo, só para ter aquele, ou aquela, que por tanto tempo espero, fique por mais tempo comigo. É Ela! Sinto que é Ela, e agora tenho absoluta certeza, pois Ela não está só. Ela veio abraçada com aquela que tem me acompanhado por tantos e tão longos anos. Viro-me lentamente, só para olhá-la de frente, para ver sua face antes do abraço.
            Eu A vejo tão calma, tão bela de tal forma que me sinto seduzido e tentado para me jogar em seus braços. Ela, como bem imaginava e sentia, não está só: Ela está abraçada à minha Solidão. Ela sorri para mim. Tem um sorriso tão lindo e transparente, um sorriso que é o que é, que nada esconde. Ela é o que é, Ela é a Loucura, que veio abraçada à minha Solidão, e veio para que eu me deixe embalar em seus braços e mergulhar em seu seio. Não sei se sorrio ou se choro, se minhas lágrimas sinto brotar em meus olhos são de medo ou se apenas sinto os primeiros efeitos da Loucura que abre os braços para me receber e me estreitar em um abraço apertado. Não resisto, pois é inevitável, e me aproximo Dela e me jogo em seus braços. Ela sorri, eu a sinto sorri enquanto me acaricia. Sou guiado, seguro por uma mão por Ela, e pela outra pela Solidão.
            Sinto-me confortado, pois agora terei uma verdadeira companhia além da Solidão e de minha própria sombra; terei, a partir de agora a Loucura como inseparável companhia, que guiará meus passos e jamais vai me deixar ficar a sós.

3 comentários:

  1. lindo texto ... falou tudo que estou sentindo neste momento de angustia...minha vontade e morrer e me mata,,, obriagado e desculpa pelo desabafo, mas precisava falar com algum e vc foi o escolhido pelo texto

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  2. Lindo texto. Representa bem o que estou sentindo agora, o momento em que estou vivendo.

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  3. Lindo texto eu as veses penso em min matar mais também as veses penso que não vale a pena pois nenhum vai chorar ou ate mesmo se lembrar.que algum dia eu izisti.

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