Eu, definitivamente, sou de uma
outra época. Lembro que, quando criança, costumava brincar na rua daquelas
brincadeiras inocentes de que toda criança deveria brincar. Acredito até que
aquelas eram as melhores brincadeiras de que uma criança pode participar. Brinquedos
existiam, lógico, mas não eram essa parafernália eletrônica, esses verdadeiros milagres tecnológicos que se tem hoje em
dia. O máximo de tecnologia que se empregava nos brinquedos do meu tempo era
nos bonecos, bonecas, carros e outros brinquedos que vez por outro um dos
meninos ou meninas de minha rua ganhava, depois de muito pedir aos pais por ter
visto um comercial na televisão.
Falando
em rua, naquela época se brincava de verdade na rua, se tinha vizinhos, se
ficava até tarde da noite brincando, apesar dos inúmeros chamados de nossas
mães, que a cada cinco minutos abria o portão de casa e gritava “Menino, venha
já pra casa”, a que sempre a resposta era “Só mais cinco minutos, mãe”, e ela
sempre deixava, e esses cinco minutos eram eternos. Só entrávamos em casa
quando quem vinha chamar era nosso pai, e ai sim as coisas mudavam de foco. Ele
só fazia chamar uma vez, e o atendíamos prontamente.
Sinto
falta dos banhos de chuva e até mesmo das gripes e resfriados que pegávamos,
que nos deixava acamados por alguns dias, impossibilitados de ir a escola,
recebendo todos os carinhos e mimos de nossas mães.
Sinto
falta do futebol no campinho de terra batida, daquela bola dura e seca que
chutávamos, da areia que ficava grudada em nossos pés e por vezes até ficava
por dias e dias embaixo de nossas unhas, dos uniformes, que consistiam em “time
com camisa” e “time sem camisa”. Sinto falta até das reclamações, por não ter
escolhido esse ou aquele menino para nosso time e mesmo das reclamações quando
um tinha que ser substituído, não por que não estivesse bem na partida, mas
simplesmente por que o que estava fora nos perturbava tanto para entrar que tínhamos
que sacrificar alguém para dar lugar àquele.
Sinto
falta dos álbuns de figurinha que nunca conseguíamos completar e das
brincadeiras de “bafo”, em que um sempre acabava ganhando as melhores e mais
raras figurinhas enquanto um outro acabava sem nenhuma.
Sinto
falta dos doces que se tinha na época, mas mais ainda das árvores que subíamos
para tirar as frutas, e as saboreávamos ali mesmo, entre os galhos, a alguns
metros do chão.
Sinto
falta até das eternas brigas quando se chegava imundo em casa depois de uma
partida de futebol, quando nossas mães reclamavam e perguntavam como iriam fazer
para tirar toda a sujeira daquela roupa.
Sinto
falta das brincadeiras no parque e, principalmente, dos circos, que, vez por
outra, voltavam ao bairro. Nossa, que circo eram aqueles?! Aquilo sim é que é
circo, com palhaço, luzes, cores e luzes.
Sinto uma
grande falta dessa época e ouso dizer que até uma certa pena dessa nova geração
que está aí, a geração internet, em
que as crianças não sabem mais o que é brincar, não sabem mais o que é rua e nem sequer têm vizinhos. Isso mesmo:
não têm vizinhos. Hoje em dia, o vizinho mais próximo que se tem é alguma outra
criança que se conheceu através da internet, que mora a centenas de
quilômetros! Essas crianças não sabem mais o que é brincar junto, o que é um
jogo de tabuleiro, o que é brincar na rua. Rua? O que é isso? Ah, rua é onde os
carros passam, não é? E se pode brincar na rua? Pensei que rua fosse só para os
carros! Entristeço-me ao ver no que se resume ser criança hoje em dia.
Tecnologia e
internet representam um grande avanço, sim, mas nada pode tornar uma criança refém
dentro da própria casa; a infância, que passa tão depressa, não pode se resumir
a isso.
Criança tem é
que brincar, se sujar, descobrir; criança tem que ser criança. Pais, mães, tios, tias, padrinhos, vocês que tiveram,
como eu, uma infância que deixou saudade, que, vez por outra, você se vê
pensando nela, relembrando os bons momentos e as brincadeiras, resgate isso,
tire as crianças que se mantém reféns em casa e dê a elas uma infância de
verdade, um algo, nem que seja por um curto momento de que elas vão se lembrar pelo
resto da vida.
Realmente Lima, outra época, outros tempos. Tempos bons que não voltam mais, eu que o diga, que tenho uns alguns bons anos a mais que você. Apesar de menina, também tive meus momentos de calçada e pega-pega, de esconde-esconde, de ciranda. Também troquei figurinhas e como não havia Internet, também nunca terminava os álbuns. Mas não culpemos a modernidade pela falta de infância e indecência das crianças, culpemos aos pais, estes sim, esqueceram seus bons tempos e não querem repassá-los aos seus filhos. Agora lembrei ... peço licença para citar Lupicínio “Esses moços, pobres moços, Ah! Se soubessem o que eu sei ... ”
ResponderExcluirO mundo muitas vezes nos empurra para estas desgraças... O medo, a violência das ruas nos afasta e nos humilha como criminosos cativos
ResponderExcluirOi Lima,
ResponderExcluirNossa não me canso de relembrar essa nossa infância...era exatamente assim e apesar de ser menina além dessas brincadeiras ainda era muito boa em jogar bolinha de gude os meninos viviam querendo "roubar" minha linda coleção..rs.
Tempos bons, doces lembranças...
Acho que nossas crianças hj perdem duplamente (não saber, não sentir, não desfrutar o que é ser criança e não valorizar a tecnologia e entender seu significado, uma vez que não viram o seu nascimento (simplesmente ela está ali para ser usada)).
Enfim...