As pessoas me julgam de forma
errada e algumas acham até que eu não gosto do natal. Não, eu adoro o natal.
Adoro
esse clima festivo, de confraternização, de tamanha fraternidade e amizade
reinante entre as pessoas.
É justamente
nessa época do ano em que aquele vizinho que mora no mesmo andar que você e
que, mesmo morando lado a lado há anos, nunca lhe dá um “oi” ou um “bom dia” pela
manhã, mesmo vocês saindo no mesmo horário para irem ao trabalho, inclusive
pegam até o mesmo elevador, lhe dirige a palavra, lhe deseja um “feliz natal” e
um “próspero ano novo”. Tudo bem que no dia 2 de janeiro, com o término do
clima festivo de final de ano, as coisas voltem ao normal, e ele só irá tornar
a lhe dirigir a palavra às vésperas do natal do ano seguinte.
É nessa época
em que, quando você vai a uma loja, os vendedores, mesmo tão atarefados, são
tão solícitos e até lhe chamam pelo nome (como eles conseguem adivinhar seu
nome, eu não sei, e até fico curioso para saber como eles descobrem isso. Talvez,
nessa época, exista uma parceria da CIA com o comércio, em que agentes secretos
descobrem se você é ou não um cliente em potencial ou se, se for a loja, vai só
ficar olhando!), lhe apresentam mil e um produtos, mesmo você dizendo que só
entrou para comprar uma sandália, fazem toda aquela bagunça em cima de um
balcão e você se vê na obrigação de comprar mais do que gostaria por uma simples
consideração ao vendedor (só por que ele fez tudo aquilo. Afinal de contas, se
não levar nada, vai ficar com um peso na consciência por tê-lo feito fazer
tanto trabalho em vão).
Adoro as
músicas, sempre as mesmas, desde quando era pequeno, tocando o dia inteiro, em
todas as rádios, em todos os cantos em que se vá, que você escuta desde a hora
em que acorda até a que vai dormir.
Adoro receber
todas aquelas ligações, de todos aqueles sobrinhos, primos, enfim, de todas as
crianças da família e de amigos, me perguntando o que vou dar de presente, o
que Papai Noel vai trazer, etc, etc e etc.
Adoro ver
aquela decoração multicolorida, de neve em todos os cantos, mesmo morando numa
cidade em que faz um sol de rachar o ano inteiro. Fico imaginando como será se
vestir de Papai Noel e ficar naquela roupa quente, sob um sol escaldante,
distribuindo sorrisos, tendo que posar tantas vezes para tantas fotos com
tantas crianças diferentes ao longo de todo o dia (definitivamente, eu nunca
vou me candidatar a um emprego temporário de Papai Noel!).
Adoro quando,
ao receber a fatura do condomínio, vejo taxas extras para a decoração e
iluminação, que nunca fica suficientemente boa e, além de tudo, não me deixa
dormir à noite, pelo simples fato de ficar uma luz acesa a noite inteira ao
lado da janela do meu quarto.
Adoro as
festas de fim de ano em família, de rever todos os tios, tias, primos, primas,
enfim, todos aqueles que só nessa época do ano se reúnem e que falam e sorriem
tanto, justamente para compensarem as faltas em todas as reuniões anteriores,
de casamento, aniversários, dia das mães, dia dos pais.
Adoro ouvir de
todas as pessoas as mesmas palavras, de votos de “feliz natal e próspero ano
novo” e de responder, sempre, do mesmo jeito: “pra você também!”. E também
adoro receber todos aqueles milhares de e-mails, que entopem a minha caixa, com
slides, textos bonitinhos, mensagens belíssimas e aquelas correntes, que se
você quebrar... já sabe: Papai Noel não vai lhe dar o presente que você tanto
pediu (me pergunto por que, nessas correntes, as pessoas são tão vingativas,
até Papai Noel!). Também adoro ser tão lembrado e receber tantas ligações e
mensagens de texto em meu celular. Não recebo tantas ligações, e-mails,
mensagens de texto, recados no Orkut, twitter, facebook nem no dia de meu
aniversário!
Adoro ter que
gastar boa parte de meu décimo terceiro salário comprando presentes para
aquelas pessoas que “não pode deixar de presentear”, mesmo tendo a absoluta
certeza de que, se ganhar dois presentes, é muito.
Adoro as
confraternizações na empresa, dos amigos secretos, em que se faz a famosa “lista
do que se quer ganhar”, em que cada um tem a certeza do que vai ganhar, afinal
de contas, escolheu o próprio presente, e não deixou seu “amigo secreto” o
prazer de escolher com o que presentear. Adoro ver os chefes tão felizes e
humanos, se juntando aos “reles mortais” dos funcionários, falando muito sobre “motivação
extra nesse final de ano”, porque “essa é a melhor época do ano para a empresa”.
Enfim, apesar
de tudo isso, de todos os contras, eu ainda adoro o natal.
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