Cada palavra tem seu sabor. O
Amor, por exemplo (ah, o amor! Sempre ele, tão presente, mesmo quando ausente
em nossas vidas!), tem um sabor doce e suave, que de tão suave sai por nossa
boca e sem que percebamos, sorrimos. Amor é doce como um suave doce inebriante,
que preenche nossa boca e nossa alma do mais doce amor.
Paixão,
ao contrário do amor, tem um sabor mais característico e forte, mais intenso. É
doce, sim, mas de um doce mais marcante, mais intenso, que gera um vício, que
pede sempre mais, que nunca se sacia.
Infância,
para mim, tem sabor de bala de morango, igual àquelas que costumava comprar na
mercearia da esquina, mas também pode ter mil e um sabores, todos eles doces.
Não
sei por que, Noite, para mim, sempre teve sabor de papa de chocolate e Dia de
manga. Frio tem gosto de sopa e Quente de picolé.
Mas
nem toda palavra é doce. Solidão, por exemplo, tem um sabor amargo, que nos faz
sentir um peso no peito, um aperto na garganta, tal qual uma lágrima presa.
Solidão fica com o sabor preso em nossa boca, que demora a nos abandonar, por
mais que bebamos água para afastá-la.
Talvez,
o gosto de Solidão, só o abandonamos ao provar sabor que tem a palavra Abraço,
que tem um gosto forte, aconchegante, como uma xícara de chocolate quente numa
noite de inverno.
Há,
também, palavras com o gosto ruim. Ódio, por exemplo, é uma palavra que tem um
gosto amargo, que de tão ruim é capaz de, da boca, passar para todo o nosso
corpo, como se só em pronunciá-las, tornássemos cheios de ódio, de um amargor
que toma toda a nossa alma.
Inveja
tem um gosto que engana. Parece doce, mas de algo doce como um veneno colocado
em algo que nos dão para beber. Pouco a pouco, o doce desaparece e fica o do
veneno, que contamina nossa alma e não nos deixa mais sentir mais sabor algum,
que não o do vício, que não o da inveja.
Batalha
tem sabor de fruta madura, que enfrentou todas as intempéries, lutou,
sobreviveu, cresceu e amadureceu. Vitória, então, tem sabor de salada de
frutas, saborosa como só ela o é.
Amizade
tem sabor de churrasco e feijoada aos domingos, de reunião na casa de amigos,
de conversa jogada fora, de música alta que incomoda os vizinhos.
Preguiça
tem sabor de pão com manteiga, que comemos na segunda-feira pela manhã quando
estamos para começar mais uma longa e estafante semana de trabalho.
Trabalho
tem um gosto bom, que eu não sei bem definir de que é, mas que às vezes enjoa e
que não nos dá vontade de ir trabalhar em alguns dias.
Há
palavras que saboreamos de tal forma que esquecemos, mesmo, do mundo que nos
cerca, só por estarmos inebriados por seu sabor, mas também há palavras com um
gosto amargo, que demora a sair da boca. Há palavras azedas como um limão,
amargas como aqueles remédios que nossas mães nos dão em nossa infância quando
estávamos com febre, mas também há as saborosas e apetitosas como uma bela
macarronada, as deliciosas e divinas como um belo pedaço de chocolate e
suculentas como um belo e completo sanduíche.
Palavras
não foram criadas para serem jogadas ao vento, para serem usadas como armas
mortais, como algumas o são. Palavras devem ser não só usadas, mas sim
saboreadas. Experimente, sinta, fale, saboreei-as.
e para você, amigo leitor, que palavra tem saber de quê?
ResponderExcluirLinda crônica!
ResponderExcluirPalavras com sabor!!!!
abraços, Neto!