Confraternização de empresa no
fim de ano é tudo igual. Todo mundo tem o direito de encher a cara, até aquele
diretor-gerente-superintendente-geral-da-empresa, que veio diretamente da
capital para aquela ocasião, está de porre antes mesmo de começarem a servir o
churrasco. Só quem não bebe é o famoso puxa- saco, que sempre tem uma desculpa
pronta, quando alguém lhe oferece um copo de cerveja.
-
Não posso. Estou tomando um remédio e... sabe como é: se beber, acabo cortando
o efeito do medicamento.
Ou
responde com algo do tipo:
-
Não posso beber porque vou dirigir.
Quando,
na verdade, ele está louco para tomar aquele porre, mas não o faz simplesmente
porque tem que zelar pela empresa, impedindo que o gerente, em um devaneio
alcoólico, dê um aumento para toda a equipe ou promova um faxineiro a
supervisor de compras, coloque aquela vendedora mais bonita como sua secretária
particular, enfim, que cometa alguma loucura.
Esse
é um evento esperado por todos, durante todo o ano. Tem sempre aquele que finge
estar completamente bêbado, só para chegar junto da mulher mais bonita da
empresa, esperando que ela esteja realmente bêbada e lhe dê bola, tem sempre
aquele outro que só em ocasiões como aquela, em que se perdeu a completa noção
do ridículo, resolve cantar uma música no karaoquê, ou aquele solteirão que,
agora que está bêbado, solta a franga e resolve liberar o seu lado Marilyn
Monroe, e começa a cantar aquela música de Rosana: “Como uma Deusaaaaaaaa”!,
que, mesmo todos o tenham visto, ele vai negar até o fim de seus dias ter feito
isso, tem aquele bêbado chato, que não deixa ninguém quieto, tem aquele
comediante, que conta as piadas mais sem graça e ridículas do mundo, das quais
todos riem, pois estão mais bêbados do que ele, tem aquele bêbado falastrão,
tem o que vive chamando todo mundo para uma conversa particular, “para contar
um segredo”, que todos, sem exceção, no fim da festa, vão saber do que se trata,
pois ele o contou a todos. Enfim, confraternização de fim de ano da empresa é
uma maravilha. Todo mundo bêbado, com a exceção do puxa- saco.
Tudo
é permitido, exceto falar de trabalho, embora tenha ficado explícito que todos
os relatórios de fim de ano deverão estar preenchidos e serem apresentados ao
chefe no dia seguinte, que vai estar de ressaca, com aquela dor de cabeça e com um mau-humor dos infernos, mas que,
mesmo assim, vai perceber o mínimo erro no relatório e vai mandar o funcionário
fazer tudo de novo.
Tem
sempre aquele metido a esperto que está só esperando uma oportunidade para
pedir um aumento ao chefe de setor ou aquele outro que pretende pedir um
emprego para um primo que ficou desempregado naquela semana, ou o que deseja,
como quem não quer nada, pedir uma promoção, pois aquele que ocupava
anteriormente o cargo almejado foi remanejado para um outro setor.
E
eis que chega a hora mais aguardada e mais temida por todos nas
confraternizações: os sorteios e trocas de presentes do amigo secreto. Tem sempre aquele que aparece reclamando que nunca
ganha nada em sorteio, mas que sempre ganha algo, tem sempre aqueles que ficam
de olho no maior embrulho, achando que ali está o melhor presente, e que, no
final, acabam sem levar nada, tem sempre um alguém mais empolgado, responsável
por conduzir o sorteio, achando que assim atrairá boa sorte para ganhar algo. Na
hora da entrega dos presentes do “amigo secreto”, é um caos total. Tem sempre
aquele que diz que não conhecia a pessoa que tirou e que teve que recorrer à “lista
de sugestão de presentes”, tem aquele suspense que se faz, com as pessoas dando
as dicas e tem sempre aquele que fica ansioso, imaginando que, por alguma
infelicidade, vai ficar sem presente, pelo simples fato de terem errado na hora
de entregar os nomes, e acabaram esquecendo de colocar o dele. Tem gente que
recebe dois presentes e tem gente que não recebeu nenhum, tem gente que recebe
presente bom, mesmo tendo dado um ruim, tem aquele que deu um presente
ruinzinho e recebeu o melhor, do diretor da empresa, tem gente que tem que
fazer cara de ter adorado o que recebeu, embora tenha ficado com vontade de
jogá-lo fora no cesto de lixo mais próximo e tem aquele que gostou tanto que,
num surto eufórico, sai beijando seu “amigo secreto” e depois faz questão de
mostrar o que recebeu para todo mundo.
Também
tem todas aquelas fotos, que logo vão estar em álbuns do Orkut, com pessoas
sérias fazendo aquelas caras que as deixarão envergonhados pro resto da vida. Tem
aquela foto do puxa-saco ao lado do chefe, que tão logo seja colocado no Orkut,
todos farão questão de comentá-la, pondo palavras nem sempre muito amistosas,
repletas de ironia.
Mas
festa de confraternização de empresa que é festa
de confraternização de empresa não pode acabar sem o tão aguardado discurso
do chefe, que mesmo estando tão bêbado quanto um gambá, tem um instante de
sobriedade e profere um discurso sensato, falará de metas, agradecerá o empenho
da equipe e irá tocar no assunto “novos desafios” e que, ao acabar, será
aplaudido por todos, mas ninguém estará tão entusiasmado quanto o puxa-saco,
que baterá palmas de tal forma por tanto tempo (sendo o último a ainda bater
palmas quando todos já tiverem acabado) e irá chamar a atenção de todos.
Tem
criança (filha de funcionário) chorando, esposa de funcionário chamando para ir
embora, reclamando de cansaço, que terá muito trabalho (em casa) a fazer no dia
seguinte e tem sempre aquele bebum que faz o maior escândalo e que correrá o
risco de ser demitido na primeira oportunidade.
O
legal disso tudo é que no final, quem vai pagar mesmo toda a conta é a empresa,
por isso todos fazem questão de comer e beber tanto, até as mulheres
(secretárias) que vivem de dieta o ano inteiro abrem uma “exceção especial para
aquela ocasião”. Mas nem tudo são flores, pois no dia seguinte tem expediente e
o chefe não quer saber de festa, não, e irá cobrar como nunca, querendo
compensar todo o gasto que a empresa teve com a festa de confraternização.
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