Há
alguma semana saiu o tão aguardado anúncio do escritor laureado com o Nobel de
literatura de 2010. Fiquei feliz com o resultado, com a maior honraria da
literatura mundial sendo dada a um escritor latino-americano, peruano, que tem
uma relação tão estreita com o Brasil, tendo, inclusive, uma de suas maiores
obras, Guerra do Fim do Mundo, sido
inspirada num marcante episódio da história de nosso país e num livro em
especial: Os Sertões, de Euclides da
Cunha.
Mário
Vargas Llosa é um escritor com um longo engajamento político, um escritor cuja
obra não se resume só e unicamente aos méritos literários. A obra do peruano congratulado
com o Nobel de literatura ultrapassa as fronteiras da literatura e está
inserida num contexto histórico, político, sociológico e cultural. Repleta de
personagens marcantes, sua obra cativa leitores de todo o mundo, apaixonados e
amantes da verdadeira literatura.
No
mesmo dia em que fiquei sabendo que Llosa tinha ganhado o Nobel, um amigo me
parou para perguntar o que eu tinha achado da premiação. Achei a premiação
justa, uma vez que o escritor tem uma obra tão vasta e importante e fiquei
feliz, por ele não ser um inteiro desconhecido, para mim. Já li dois livros
dele, um que adorei, e outro nem tanto assim. Mas aí esse mesmo amigo foi o
soltou a pergunta que me deixou por dias e mais dias pensando: e nós, quando
teremos um Nobel?
Realmente,
nós, brasileiros, não temos nenhum Nobel, seja lá em que área for: química,
física, medicina, paz, economia, literatura, etc. Ser congratulado com o Nobel é
um reconhecimento pelo trabalho realizado, seja ele em prol da ciência,
sociedade ou arte (como, no caso, a literatura) e apesar de haver as
contestações (sempre há) e interesses, tal prêmio é um gral de distinção dentro
de um contexto no que se refere ao avanço da ciência e pesquisa. O Nobel é um
motivo de orgulho à nação do vencedor.
Mas
e na literatura em específico, quando ganharemos tal distinção? Para ser
sincero, eu não saberia responder a tal questão. Hoje, dentro da literatura
brasileira, eu não consigo enxergar um grande nome, uma “unanimidade”. Temos,
lógico, grandes escritores, como João Ubaldo Ribeiro, Cristóvão Tezza e Milton
Hatoum, poetas magníficos, como Ferreira Gullar, entre tantos outros, como
Nélida Piñon, Ignácio de Loyola Brandão, etc. alguns desses, inclusive, já
tendo recebido inúmeras premiações, inclusive internacionais. Temos outros
grandes escritores, sem dúvida, mas estes que citei representam, na minha
humilde opinião, o que de melhor há no contexto da literatura brasileira.
Analisando
a história e os nomes da literatura brasileiro desde o início do século XX,
surgem nomes de peso, autores
magníficos, que bem poderiam ter recebido a honraria do Nobel, pela importância
de sua obra. Podemos citar escritores como Jorge Amado, Érico Veríssimo,
Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Clarisse Lispector, José Lins do Rêgo,
Fernando Sabino, poetas espetaculares, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de
Moraes, mas, hoje, a literatura brasileira passa por um processo de “renovação”,
de criação de uma identidade, para, só então, se criar esse grande nome.
A
literatura brasileira, hoje, está carente. Não se há um grande nome que inspire respeito, como o foram alguns dos
escritores do século XX e outros tantos que os precederam.
Paulo
Coelho? Sem comentários. Ele tem lá seus méritos, sim, embora a crítica o
condene, mas é inegável a sua importância dentro do mercado editorial. Chico Buarque?
Falar dele é perigoso, uma vez que seu nome inspira tanto respeito,
principalmente por conta de sua estupenda história dentro da música brasileira.
Talvez Chico, como escritor, romancista, seja mais respeitado como compositor
do que por seus méritos literários propriamente ditos. Seus leitores confundem
os dois Chicos. Ganhou inúmeros prêmios, inclusive esse ano, de 2010, sendo
honrado com o Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira, mas,
torno a dizer, seu respeito seja mais dado por conta de sua história e seu
talento dentro de outras artes que não a literatura. Não estou dizendo, aqui,
que Chico Buarque seja um mau escritor ou coisa do tipo (não me entenda mal,
amigo leitor, por favor), o que questiono, e sempre questionei, está no fato do
nome Chico Buarque, dentro da
literatura, ser superestimado. Luiz Fernando Veríssimo? Grande cronista, sem
dúvida. Gosto muito de seus textos, mas ele está longe de ser um Nobel. Martha Medeiros? Outro grande nome dentro do gênero crônicas, mas sua literatura ainda tem
muito a amadurecer, ela ainda terá que incursionar em outros estilos, escrever
mais, para só então se firmar como um grande nome dentro do cenário nacional da
literatura. Talvez, só tenhamos nomes de maior respeito, “unanimidades” dentro
da literatura infanto-juvenil. Nesse segmento da literatura estamos muito bem
representados, com escritores como Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Ziraldo, Ana
Maria Machado, Lygia Bojunga, entre tantos outros. Esses escritores semeiam
hoje a literatura naqueles que serão os leitores
de amanhã. Mas infelizmente, literatura infanto-juvenil não ganha Nobel!
Talvez,
daqui a alguns anos surja e seja reconhecido um grande escritor, respeitado
pela crítica e público, não só aqui, no Brasil, mas também no exterior, que
possa, que seja digno de ser honrado com o Nobel de Literatura. Tomara que eu
ainda esteja vivo daqui pra lá, que possa sentir orgulho ao ver meu “irmão de
pátria” ocupar o “posto mais alto” da literatura mundial.
Parabéns pelo texto, acho que um nobel para Jorge Amado estaria de bom tamanho pelo conjunto de sua obra magnífica.
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