Amigo
leitor, que acompanha as postagens semanais deste blog, não estranhe se nas
próximas semanas apareça aqui algum texto de natureza estranha, depressiva, fúnebre,
alguma espécie de carta de despedida ou coisa do tipo. É que estou adentrando
na famosa “crise dos pré-30”. Mas que raios vem a ser isso? Eu,
particularmente, também não sei do que se trata, só sei que estou vivendo esta
fase, batendo na fatídica marca.
Lembro
bem da primeira vez em que tudo começou: estava eu, no meu aniversário de 10
anos, quando recebido de um tio um presente. Depois dos famosos cumprimentos,
ele coloca a mão no meu ombro e solta a frase: é, amigão, aproveite a vida e
seu aniversário, enquanto ainda há tempo, pois daqui a pouco você vai estar na
casa dos 30. Na época, não dei muita atenção a isso, óbvio, mas hoje, enquanto
escrevo este texto, lembro quão sábias foram aquelas palavras e quão tolo eu
fui por não lhes dar a devida atenção.
Depois
desse episódio, quando, pela primeira vez em minha vida, ouvi falar que existiam
pessoas que chegavam com saúde a uma idade tão avançada, passei a prestar certa
atenção aos fatos. Chegar a tal idade, para mim, no entanto, era algo
impensado. Era, para mim, como conseguir contar até 1 bilhão sem perder a
conta.
Na
adolescência, via as pessoas (irmãos mais velhos de meus amigos mais velhos)
adentrar a tal idade e comemorarem como se estivessem num enterro: “é amigo,
estou na casa dos 30...”, diziam eles, deixando em suspenso o que sentiam.
Quando cheguei
aos 15 anos me dei, pela primeira vez, que chegava à metade daquela idade, mas,
como sempre, não dei importância ao fato. Tudo que queria, naquela idade, era
chegar aos 18, o que não demorou muito. Depois veio a universidade, os anos
inesquecíveis da universidade, as amizades, os estágios, as experiências em
sala de aula, o primeiro emprego, o primeiro livro publicado, e quando me dei
conta, já estava completando um quarto de século vivido. Nossa, como aquilo me
soou bonito: um quarto de século vivido.
Soa, realmente, muito mais bonito do que dizer 25 anos. Dá um certo ar de
importância, imponência, de experiência.
Eis que um
belo dia reencontro o tio, que havia me dito aquelas sábias palavras há tantos
anos. Quase não o reconheci, de tão avançada que me parecia a idade dele (ele
devia estar, segundo meus cálculos, com pelo menos 40 anos, se brincar já perto
dos 50!). Ele sorriu (um sorriso irônico), dizendo que eu estava chegando lá. A
princípio, não entendi a que ele se referia, mas após um tempo pensando, lembrei
dos 30 a que ele havia se referido tantos anos antes.
Os sintomas,
eu já estou começando a sentir na pele. Na verdade, não só na pele, mas
principalmente nas costas, com dores que teimam em voltar semanalmente, nas
juntas (pois é, amigos. Estou com o famoso problema de junta: junta tudo e troca
por um novo, como diziam meus velhos amigos de infância. Nunca palavras ditas
há tanto tempo fizeram tanto sentido). Mas o que mais de drástico e marcante
nessa fase me aconteceu é algo chamado “assumir as responsabilidades”: chegou a
hora de cortar o cordão umbilical e tomar um rumo na vida, de sair de casa, de
começar a pensar em casamento...
Enfim, 30 anos
é como uma idade derradeira, onde tudo termina e onde tudo começa. É como um
período de transição, e como tal, gera perturbação, noites insones, calafrios e
uma vontade louca de fugir para um lugar onde o tempo não passe, onde todas as
pessoas têm menos de 30.
Pois é, amigo,
se você ainda é jovem e está rindo, me achando um dramático ou coisa que o
valha, continue rindo, e não perceba o tempo passando, os anos passando, essa
idade chegando; e se você já tem 30 ou mais, sabe bem do que estou falando,
sabe o quão difícil é chegar e dizer “eu tenho 30”.
Pois é,
amigo... pois é... aproveite a vida, enquanto ainda há tempo, antes que seja
tarde e você esteja soprando trinta velinhas em seu bolo de aniversário. Se bem
que nessa idade talvez nem se tenha tanto fôlego para se soprar trinta velas, e
se faz necessária a providencial intervenção de algum sobrinho ou primo mais
novo, que corre para nos ajudar nesse dramático momento. Nessa hora, ao olhar a
criança, acabamos, invariavelmente pensando: “ah, se eu tivesse essa idade
novamente!” Fico pensando o que eu faria de diferente e o que eu faria
exatamente igual.
Mas sabe o que
é pior nisso tudo? É que daqui a pouco vem outra crise, e essa mais séria, a
dos 40! Mas nessa eu não quero pensar, ainda, pois ainda tenho muitos anos pela
frente.
Meu querido Lima Neto, muito bom seu texto, mas vou te consolar dizendo que já passei por essa crise, ou melhor, nem a tive, estou com 45 e sem crise. Meu amigo, esqueça essa coisa toda de crise de idade e viva cada dia, lembrando sempre que a mehora fase de sua vida é o HOJE, porque seus 18 anos já se foram, e o que vier pela frente ainda chegará. então, viva sua melhor fase: o hoje.
ResponderExcluirForte Abraço e sucesso.
Feliz aniversário
é, amigo... o tempo voa, e nós muitas vezes não nos damos conta disso, não aproveitamos a vida como deveríamos.
ResponderExcluirparece que só atentamos para a palavra "tempo" quando chegamos a determinado momento em nossa vida, quando olhamos para trás e percebemos o que deveriamos ter feito, e quando olhamos para frente e percebemos o quanto ainda temos que fazer.
a crônica, apesar de ter um tom meio irônico, de falar de forma bem-humorada sobre essa questão da idade, foi escrita justamente para tratar desse assunto, do tempo, e da forma como nossa vida passa sem que nos demos conta disso.
enfim, essa é a vida, esse é o tempo.