domingo, 17 de novembro de 2013

Um pedido às estrelas



“Não se deve julgar um livro pela capa”. Falar isso já virou um ditado de sabedoria popular, sendo usado / adaptado para várias circunstâncias. Essas palavras são tão verdadeiras que nós vivemos “quebrando a cara” quando julgamos algo por sua aparência, quando, na verdade, sua beleza, sua essência, está escondida por trás daquela capa feia, daquela capa que não nos chama a atenção (é lógico, também, que há capas belíssimas, que nos chamam a atenção, mas cujo conteúdo é pífio). Mas mesmo sabendo disso, nós continuamos fazendo o nosso juízo de valor quando nos damos de cara com um livro cuja capa não nos agrada. Continuamos olhando a capa e dizendo “esse livro é uma droga” sem nem ao menos nos dar ao trabalho de abri-lo e ler as primeiras palavras do primeiro capítulo.
            Aconteceu recentemente isso comigo, de julgar um livro pela capa, e acabei, felizmente, quebrando a cara! Trata-se do livro Um Pedido às Estrelas. Quando o vi pela primeira vez, antes mesmo de olhar para capa, só pelo título, disse “cá comigo”: mais um querendo pegar carona com o Best-Seller do momento, A culpa é das estrelas! E o deixei onde estava, no meio de uma pilha de livros. Depois, à medida em que ia guardando os livros, ia me aproximando dele, ia chegando o momento em que teria que pegá-lo para guardar numa estante e expô-lo em alguma mesa na livraria. Quando chegou o momento, só então olhei com atenção para a capa do livro, e aí tive a “certeza” de que além do livro ser um “oportunista”, por estar querendo pegar uma carona nas vendas do Best-Seller do momento, “com certeza” se tratava de um livro péssimo, ridículo, pois “com uma capa daquelas, como um livro pode ser bom?”. E cada detalhe do livro, na sua aparência, me fazia ter mais e mais certeza disso: uma “cinta promocional” fazendo uma menção, com uma frase bem “nada a ver” a Nicholas Sparks; uma sinopse não de todo clara, nada convidativa, para mim, à leitura do livro; entre outros detalhes (motivos) que só fazia reforçar a minha preconceituosa convicção.
            Quis o Destino, irônico como só ele o é, que calhasse de eu, por motivos diversos, entre eles o profissional, tivesse que ler o dito cujo livro do título, capa, cinta e sinopse nada convidativa à leitura (para mim). Trouxe-o para casa meio que aborrecido, confesso. Ao chegar a casa, retirei-o da mochila e como estava chateado, pois “iria perder meu tempo” lendo-o, deixei-o sobre uns livros de minha estante, para só “começar a minha sessão de tortura” no dia seguinte. Dormi naquela noite já pensando no que me aguardava na manhã seguinte. Acordei, no dia seguinte, e fiz todas as minhas atividades rotineiras (eu sou tão metódico que faço tudo cronometrado, em seus devidos horários), até que vi o livro me esperando. Respirei fundo duas ou três vezes, tomando fôlego, e o peguei; deitei-me no sofá (meu sofá é meu local favorito para leitura!), respirei novamente fundo e abri o livro.
            Ao ler aquelas primeiras palavras, ao ver os personagens entrando em cena e se apresentando um a um para o seu leitor-plateia (eu), ao ver o início da história sendo costurado, percebi o quão errado e preconceituoso tinha sido o meu julgamento sobre aquele livro. O Um Pedido às Estrelas é um livro fantabuloso em todos os aspectos, com medida certa em tudo (tensão, descrição, dilemas éticos e morais, romance, etc.), e com uma pitadinha acentuada de um bom drama, que nos mantém presos, vidrados, torcendo, seja para um lado ou seja para outro naquela complexa e nada fácil situação em que se encontram os personagens.
            A história versa sobre o romance de Matt e Elle, um casal que se conhece desde a infância. Foram vizinhos na infância e adolescência, foram amigos, foram confidentes um do outro, e o que parecia natural acabou acontecendo: casaram. Formam um casal feliz, mas um fato, apenas, não deixa que aquela felicidade seja completa: eles não conseguem ter um filho. Após tantas e tão frustradas tentativas de gravidez (inclusive uma não planejada na adolescência), resolvem desistir do “projeto filho”. Matt é um neurocirurgião competente, com uma promissora carreira pela frente, e Elle é uma prodígio, astrofísica respeitada, foi astronauta, nada mais natural vindo de uma pessoa tão apaixonada por estrelas como ela o é, e é professora numa universidade local. Tudo muda drasticamente na vida de Matt e Elle quando ela sofre um grave acidente e é levada para o hospital onde ele trabalha. Ele, ao ver os exames, ao analisar os resultados/ chamas de Raio X e ultrassonografias que foram feitas, como neurocirurgião, percebe a gravidade das lesões sofridas por ela, que é levada para fazer cirurgias de emergência numa tentativa de salvá-la. Matt sabe, antes dela entrar na sala de cirurgia, que será difícil salvá-la.
            Elle sofre danos cerebrais irreversíveis e tem a morte cerebral confirmada. Tendo sofrido, na infância e adolescência, com a morte lenta e dolorosa de sua mãe, sempre deixou expressa a sua vontade de, caso fosse para viver vegetativamente ou viver-em-vida, os aparelhos que a mantém viva fossem desligados. A família já sabendo disso, se preparam para a despedida. Cabe a mãe de Matt, que quer a Elle como a uma filha, a difícil tarefa de levar a cabo aquele último desejo dela. Mas algo inesperado os aguarda, quando os aparelhos estão prestes a ser desligados: Elle está grávida! Os resultados e confirmações pegam a todos de surpresa, principalmente a Matt, que após a perda ocorrida na última gravidez dela, julgava que as tentativas tinham se encerrado e que tomavam todas as atitudes no sentido de evitar uma nova gravidez. O que fazer agora? Elle está morta, sua vontade de ter os aparelhos que a mantém viva artificialmente precisam ser desligados e ela está grávida! Tem-se início, então, uma longa, difícil, tensa e desgastante disputa judicial, que mantém de lados opostos familiares e amigos, pelo que é correto fazer: se desligar os aparelhos, e deixar que Elle morra, ou mantê-la viva artificialmente, como um invólucro para o desenvolvimento do filho, numa gravidez de risco, que tende a não chegar ao fim devido ao longo histórico de gravidez malsucedidas dela.
            Paralela a essa história, temos muitas outras, de outros tantos personagens envolvidos, que se veem perdidos, sem saber o que fazer, sem saber de que lado ficar, sem saber como agir e que opinião “correta” ter naquela difícil situação, naquela verdadeira “guerra” que ameaça quebrar a paz reinante num ceio familiar.
            Livro tenso, intenso e envolvente, Um Pedido às Estrelas não é só um romance entre um homem e uma mulher, não é só um livro que põe em lados opostos parentes e amigos, não é só uma história sobre uma complexa questão judicial, mas sim, uma história, acima de tudo, sobre amor, vida e chances.
            Um Pedido às Estrelas me fez “quebrar a cara”, me fez ver (mais uma vez) o quão errado é se julgar um livro pela capa. Não foi essa a primeira vez, e felizmente não será a última, que isso acontece. Adoro quebrar a cara, julgar um livro como péssimo antes mesmo de iniciar sua leitura, e ser surpreendido enormemente por ele. Que venham, então, outros tantos livros para que eu possa, preconceituosamente, julgá-los pela capa (ou pelo título, pela sinopse ou pela “cinta promocional”) e ver que fui, mais uma vez, precipitado em meu julgamento.

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