quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Emergência 911 no mundo moderno

Aquele tinha sido um dia tranquilo na central de ligações de emergência e a telefonista já começava a arrumar suas coisas quando o telefone tocou. Ela (a telefonista) sabia, de alguma forma,da gravidade da situação, e atendeu à ligação no segundo toque. Do outro lado da linha, um jovem desesperado.
            - Socorro... Socorro... eu preciso de ajuda. Ele não está respondendo e me parece morto. Preciso de ajuda, rápido.
            A telefonista, percebendo o desespero na voz do outro lado da linha, tenta acalmá-lo, ao mesmo tempo que procura descobrir o que se passou exatamente para acionar uma equipe de atendimento móvel de urgência.
            - Senhor, o que aconteceu? O senhor está com a vítima na sua frente?
            - Sim, sim... ele está aqui na minha frente e estou tentando reanimá-lo, mas ele não esboça qualquer reação. Acho que ele morreu.
            - O coração dele está batendo? O senhor consegue verificar isso, por favor?
            - Não. O coração dele está parado há quase dois minutos. Já tentei de tudo para reanimá-lo, mas foi tudo em vão. Cheguei até a tentar dar um choque nele, mas de nada adiantou.
            A situação então era realmente muito grave. A telefonista, desesperada, tem que agir rápido e acionar uma equipe. Verifica em seu monitor a localização das equipes para poder destacar a que esteja mais perto para fazer o atendimento e remoção da vítima.
            - Onde o senhor está? Pode me dar o seu endereço para eu poder destacar uma equipe?
            O outro, já chorando, fala o que aconteceu.
- Estava tudo tão bem... eu só sai dois minutos para ir beber água... quando voltei, que me sentei de frente a ele... ele me disse algo em forma de mensagem e de repente... apagou. Tentei reanimá-lo até com choque, realizei todos os procedimentos recomendados em situações como essas, de emergência, e nada... ele sequer abre os olhos. O coração dele parou... parou... e foi tudo tão de repente. Talvez se eu não tivesse saído de seu lado...
- Senhor, por favor, eu preciso de seu endereço para destacar uma equipe para ajudá-lo, rápido. Cada segundo conta numa hora dessas.
Ele, desesperado, verdadeiramente dopado por sua dor, não escuta o que a telefonista pediu.
- E ele não estava fazendo nada, nenhum esforço. Nós não estávamos jogando nem nada, pois já haviam me dito para não jogarmos, pois faria mal a ele. Ele só estava baixando umas coisas, quando de repente...
Ela já estava acostumada à situações como aquelas de emergência e mesmo com as palavras parecendo desconexas e sem sentido, foi agindo.
- Preciso, senhor, rápido, saber onde o senhor a vítima está para destacar uma equipe para ajudá-los – ela agora falou de forma brusca, quase gritando ao telefone, para chamar o outro à razão.
- Estou em minha casa...
- O endereço, senhor... Eu preciso do endereço para mandar a equipe do atendimento de urgência, ambulância e dos paramédicos.
- Eu preciso de um técnico, com urgência... ele está morto – e começou a chorar.
- Tem mais alguém com o senhor?
- Não. Estou sozinho, aqui no quarto, com ele morto, à minha frente. Estamos só nós dois.
- Tenho que mandar os paramédicos com urgência, senhor, pois ainda podemos salvá-lo. Ainda há tempo. Agora, por favor, me diga o endereço para eu mandar a equipe.
- Não é preciso toda uma equipe. Talvez só um bom técnico possa salvá-lo.
Silêncio dos dois lados da linha, que só era quebrado pelos soluços do jovem desesperado, necessitando tanto de ajuda.
A telefonista estava começando a ficar desesperada, apesar de todo o seu preparado para lidar em situações como aquela, por se sentir com as mãos atadas, impotente, por ver que há alguém precisando desesperadamente de ajuda, tendo ela o “poder” de destacar uma equipe móvel de urgência, mas sem conseguir extrair do desesperado do outro lado da linha a informação de para onde mandar a equipe que poderia salvar uma vida.
- Um técnico... um técnico... eu preciso de um técnico, com urgência. Só um bom técnico pode salvá-lo, pode ressuscitá-lo.
- Senhor, estou com equipes prontas, a postos, com paramédicos e enfermeiros prontos para ajudar seu amigo, mas para mandá-los, eu preciso saber onde o senhor está.
- Ele não é só meu amigo. É meu único amigo, aquele que me faz companhia todas as horas, até nas madrugadas...
E o tempo passando e a telefonista mais e mais desesperada, sem conseguir saber do maldito endereço...
- Ele estava tão bem há cinco minutos. Nunca teve problema algum. E de repente, apaga, sem mais nem menos, e agora está aqui, à minha frente, morto.
Pelo tempo que se passou, dada a gravidade da situação, a telefonista sabia que não havia mais nada a fazer. Àquela hora, muito provavelmente, a vítima já estava realmente morta e não havia qualquer possibilidade de ressurreição com eletrochoques, massagens cardíacas ou o que quer que fosse. Mas precisava, mesmo assim, tentar.
- Ele... eu já o tinha há tanto tempo... Ele nunca apresentou qualquer defeito, problema, e sempre esteve comigo nas horas mais difíceis, quando eu estava mais precisando, quando estava mais sozinho. E agora, o que vai ser de mim? O que vai ser de minha vida, agora, que ele está morto?
Já cansada, desesperada, a telefonista, sentindo como se tivesse deixado de salvar um alguém, resolve fazer uma última tentativa.
- Qual era o nome dele?
- Ele... Ele não tinha necessariamente um nome...
- Ainda tem algo que eu possa fazer, senhor?
- Um técnico, por favor. Mande um técnico. Talvez um técnico possa, ainda, salvá-lo, devolver-lhe a vida.
- O senhor, por acaso, quer dizer um médico?
- Não. Falo em técnico mesmo. Afinal de contas, o que um médico poderia fazer numa situação dessas.
- Talvez um medico...
- Não. Um médico não, um bom técnico, apenas, pode salvar o meu computador.
- O seu O QUÊ?
- O meu computador! Ora, o que mais poderia ser?!
A telefonista, respirando o mais devagar que podia, foi deixando o gancho telefone cair, cortando a linha.
- Alô? Alô? Você ainda está aí? Socorro... Eu preciso de ajuda. Meu computador está morto. Eu não consigo ligá-lo. Alô? ALÔ? Você ainda está aí? Você ainda está aí? Socorro... SOCORRO...

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