segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Promessa

O homem observava, lá do alto, o abismo que se descortinava a seus pés. Sentia o vento forte bater em seu rosto, como que o convidando para um salto, para que desse apenas mais um passo e pudesse mergulhar nos braços de uma eternidade. Fechou os olhos e deixou-se tomar pelo vazio, pela paz e pelo silêncio de tudo ao seu redor. Respirava devagar, sentindo o ar inflar, pouco a pouco, os seus pulmões. Sentia o bater de seu coração, tuntum, tuntum, ora lento e ora acelerado.
            Estava triste, como jamais se sentira, e fora até ali para encontrar o nada e encontra-se consigo, mas tudo com que acabou se deparando foi com o vazio. Esperava encontrar respostas, mas agora estava cara a cara com o silêncio que nada respondia sobre nada. Vivia, naquele momento, uma mescla de conflitantes sentimentos em sue peito. Fechava os olhos e abria os ouvidos, mas nada ouvia; abria os olhos e fechava os ouvidos, mas nada via. Sua única companhia era o silêncio, sua sombra e suas incertezas. Esperava, mas o quê?, nem mesmo ele sabia.
            Revivia os momentos sofridos recentes e a dor voltava a lhe afligir. Seu peito doía, a respiração ficava pesada e lágrimas lhe vinham aos olhos. Uma lágrima, num mergulho suicida, escorreu pelo seu rosto e foi carregada pelo vento, sendo levada lá para baixo, para o fundo do abismo. Ajoelhou-se no chão de pedras duras e chorou doloridas lágrimas, que regaram o chão, de brotou uma pequenina flor pálida como o último sorriso, que ela lhe deu; justamente o último sorriso antes de seu pedido de desculpas.
            - Mas você prometeu – ele havia dito.
            - Há promessas que não podemos cumprir, por mais que o desejemos – ela havia respondido. Depois, o silêncio.
            Ela estendeu a mão, esperando que ele a pegasse – o seu último gesto antes do sorriso sem brilho, apenas com os lábios a esboçar o que pretendia ser um sorriso, e antes de falar a última palavra – , mas ele permaneceu imóvel, entre o desejo de abraçá-la, de segurá-la, impedindo-a que se fosse e o deixasse ali, sozinho naquele mundo.
            - Desculpe – ela falou, e fechou os olhos. A sua mão, que continuava estendida, caiu sobre seu peito.
            - Não, não, não e não... você prometeu que iríamos ficar para sempre juntos; você prometeu! – berrava ela, agora abraçado ao corpo sem vida.
            Agora estava ali, relembrando, cobrando a promessa que haviam feito há tantos anos ao mesmo tempo em que aceitava o seu pedido de desculpas.
            - Por que você se foi? – perguntava ele, esperando que o vento levasse a pergunta e lhe trouxesse uma resposta. Bastava-lhe uma resposta, uma única palavra, para lhe acalmar a alma e lhe trazer alguma paz. Mas nenhuma resposta vinha trazida pelo vento.
            A sensação de solidão lhe tomou por inteiro e ele sofreu, como jamais havia sofrido. A dor era tamanha que ele sentiu todas as suas forças lhe escapando, como as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e caíam a seus pés.
            Não aguentava aquela dor, não podia suportá-la sozinho e, com as forças que ainda lhe restavam, gritou. Em suas palavras, chamava por ela. Mas ela permanecia calada.
            Abriu os olhos, e mesmo com a visão turva por conta das lágrimas, pôde ver o vazio a sua frente e o abismo a seus pés. Mesmo sem conseguir se equilibrar em suas próprias pernas, se pôs de pé.
            Inflou o peito e gritou:
            - Você prometeu que iríamos ficar juntos para sempre!
            Sentiu, então, o vento a lhe acariciar o rosto. Era um toque suave, como o toque dela, com dedos delicados. Com os olhos fechados, ele se deixou tocar pelo vento, por ela, que o atraía suavemente para seus braços, para dar um passo, para dar um mergulho e pudessem cumprir a promessa de estarem para sempre juntos.

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