domingo, 2 de outubro de 2011

Como uma árvore...

Eu queria ser uma árvore e ter raízes fundas, enterradas na terra. Os pássaros iriam criar seus ninhos e meus braços e seriam como meus pensamentos e sonhos. Eu iria cultivá-los e, quando estivessem suficientemente maduros, prontos, abririam suas asas e voariam para bem longe, para voltarem aos meus braços quando estiverem realizados, para criarem seus novos ninhos. O vento iria levar minhas palavras mudas, mas, mesmo assim, palavras, que chegariam aos quatro cantos do mundo. Seria admirado pelo meu tamanho, visto de baixo para cima, tão grande, pelos seres que andam com os pés plantados no chão, e visto de cima para baixo, tão pequeno, pelos pássaros no céu.
            Eu queria ser uma árvore para ser sólido, não como uma rocha, sem vida, mas com uma vida pulsante em todo o meu corpo, desde a raiz até a última folha em minha copa. Sentir e ser vida, como poucos os seres viventes na terra o são, e ver, lá do alto, todo o mundo se descortinando a meus pés, podendo tocar as nuvens com as pontas de meus dedos.
            Eu queria ser uma árvores para ser um berço de vida, um berço de amores, quando os casais apaixonados viessem até mim e deixassem, para sempre, marcado em minha pele, seus nomes, como votos de um amor eterno, que eu carregaria, como testemunha, até quando eles não mais se lembrassem de tais votos. Ser eterno como os votos desse amor, mesmo quando não existisse mais amor, mesmo quando as pessoas desse amor não mais existissem.
            Eu queria ser uma árvore, para ser único, para ser tão especial para tão poucos e para tantos, para ser sombra, mas também para ser fonte de calor, para ser fonte de vida, para me vergar ao vento e a nada me subjugar, para ser o primeiro a sentir as primeiras gotas d’água da chuva que cai do céu e sentir seu toque frio e quente, escorrendo por todo o meu corpo, até caírem, finalmente, no chão, indo se enterrar fundo, na terra, próximas às minhas raízes.
            Eu queria ser uma árvore para que todos viessem, em dias de chuva, se abrigar por entre meus galhos, protegendo-se, para que, em dias de sol, viessem se proteger em minha sombra. Ser como um abrigo, como um amigo, um alguém em quem se confia, um alguém a quem se ama.
            Eu queria ser uma árvore para ouvir todas as vozes. Ser o primeiro ouvir o canto dos pássaros a saudar um novo dia, ser aquele a quem se confia os segredos mais íntimos, os sonhos mais secretos e os maiores devaneios, e ser a silenciosa palavra de consolo.
            Eu queria ser uma árvore, para ser forte em aparência, mas para ser frágil em minha essência. Ser fúria ao enfrentar bravamente as tempestades, mas ser paz em cada final de dia, quando o sol se põe no horizonte e é em mim que ficam seus últimos raios, em quem fica gravado o último brilho de seu olhar antes de se deitar lá longe, em quem fica seu último calor antes de deixar-nos a sós com a escuridão da noite.
            Eu queria ser uma árvore e ser eterno. Eterno como o amor declarado pelo casal apaixonado naquele momento, eterno como é o ciclo do dia, como despertar do sol todas as manhãs e o canto dos pássaros a saudá-lo e eterno como o viver, como são as marcas que deixamos na vida daqueles que encontramos, como sementes a cultivar que plantamos, que um dia lançarão raízes fundas e crescerão como frondosas árvores.

Um comentário:

  1. Perfeito demais,Vc sabe juntar todas as palavras,para que somadas resultem em um só sentido,seus sentimentos.Um abraço.
    http://wwwcorieconstance.blogspot.com.br/
    Ta ai meu blog,onde tbm ponho meus sentimentos,ou talvez pequenas historias escrita por minha pessoa.

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