domingo, 31 de julho de 2011

O Despertar II

Era noite. Eu sabia disso pelos pequenos pontos luminosos que via no céu pela pequena fresta daquela janela. Não sabia há quanto tempo estava ali, trancado naquele quarto, nem como viera parar ali. Minha cabeça doía e girava, meus membros estavam doloridos e sentia uma forte dor no estômago, provavelmente por conta da fome que me corroia por dentro. Não sabia há quanto tempo não comia, mas sabia que estava com muita fome.
            Tenteei ao meu redor, a procura de algo que eu não sabia bem o que era. Não havia absolutamente nada naquele recinto. Eu estava descalço e podia sentir o chão áspero e frio. Minha camisa estava rasgada em muitos lugares e úmida em muitos outros. Era uma umidade pegajosa. Levei a mão ao nariz e senti um cheiro familiar de sangue. Levei a ponta dos dedos a boca e senti o gosto de sangue. Seria meu próprio sangue? Tateei o corpo inteiro em busca de algum ferimento, mas nada encontrei.
            Sentei-me no chão passando as mãos sobre os olhos, como se com isso pudesse clarear as ideias e me lembrar do que havia me trazido àquele quarto pequeno e escuro. Tornei a me levantar e a andar de um lado para outro, como um animal enjaulado, pois era daquele jeito que me sentia. Fui até a minúscula janela, que estava firmemente fechada, mas que possuía algumas pequenas aberturas através das quais eu podia ver o céu. Olhando para o lado de fora, procurei por algo que denunciasse onde eu estava, mas a escuridão era tal que eu só conseguia distinguir algumas formas imprecisas, como as de algumas árvores. A lua, que estava encoberta, conseguiu atravessar a barreira de nuvens e derramou sua luz prateada sobre a Terra e pude ver uma sombra que estava parada bem próxima à janela, com os olhos fixos em mim. Era um olhar ameaçador, de ódio, que não consegui encará-los por muito tempo, tamanho o medo que senti. Um frio me percorreu todo o corpo, como se todo o calor e esperança me tivessem sido roubados.
            Ouvi passos do lado de fora, de uma pessoa que se aproximava. Eram passos pesados. Não tive coragem de ir até a janela, pois, de alguma forma sabia que havia alguém ali à minha espera, que estava me observando naquela escuridão.
            - Não tenha medo. Não estamos aqui para machucá-lo, mas sim para dizer quem você realmente é – disse uma vez vinda do lado de fora. E ele começou a rir.
            - Ele despertou? – ouvi uma outra voz a perguntar.
            - Não, ainda, de todo. Ele apenas acordou, voltando a estar consciente. O seu verdadeiro despertar ainda está para acontecer. Olhe para o céu. Quando as nuvens se afastarem a lua se mostrar em todo seu esplendor, cheia, ele irá despertar – respondeu a primeira voz.
            Era de mim que eles estavam falando? O que significava aquilo de despertar?
            Sentado no chão, abraçando as próprias pernas, senti-me confuso e com muito medo.
            Uma dor súbita começou a percorrer todo o meu corpo, como se algo estivesse explodindo dentro de mim. Meus olhos doíam, senti um gosto de sangue na boca, meus braços e pernas começaram a doer a ponto de eu começar a urrar de dor. Deitei-me no chão, contorcendo-me de dor. Estava com os olhos fechados, mas era como se visse tudo ao meu redor, num estado de semiconsciência, como que guiado por algum instinto.
            A janela havia sido arrancada e a luz da lua batia diretamente sobre mim. Um misto de fúria e estranha tranquilidade eu sentia.
            Uma porta foi aberta e vi uma sombra se aproximar de onde eu estava deitado. Nunca pude distinguir seu rosto nem seu corpo até que ele se aproximou da luz. Ele me deu a mão, uma mão que não era humana, e eu estendi a minha, aceitando sua ajuda para me levantar, e só então percebi que a minha mão também não era mais humana...

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