domingo, 21 de março de 2010

crônica da solidão

Olho pela janela de meu quarto e vejo ao longe o vazio. Não há nada nem ninguém para onde quer que eu olhe. Somente o vazio e a solidão ao meu redor. Não há uma única sombra, um único movimento.
            Debruço-me sobre a janela e me deixo tomar por esse sentimento de solidão, que me corroi por dentro e por fora, fazendo com que, aos poucos, eu me reduza e me junte a tudo que há ao meu redor, ao vazio. É como se o vazio quisesse me tragar, me tomar por inteiro, me fazer ser parte dele, para que eu também me torne, me sinta e me veja como um vazio.
            Fecho a janela, deixando aquela sensação do lado de fora, mas dentro de casa, sozinho com minha própria solidão, com o meu próprio silêncio, eu me sinto pior.
            Dentro de casa a solidão se avoluma e me cerca, me tome de assalto por todos os lados, me cobrindo por inteiro, me devorando. Olho de um lado para o outro, mas a escuridão pela qual estou cercado levou embora até a minha sombra. O silêncio é tão intenso que chega a ser palpável e o único som existente é o do eco de meus próprios passados. Estico os braços, tentando alcançar as paredes, mas até estas parecem fugir de mim, de meu toque, como se temessem ser contagiadas por minha solidão.
            Cansado, deixo-me tomar por aquela fraqueza, por aquele sentimento de impotência que me devora e caio no chão, que parece fugir sob meus pés. Sinto-me ser coberto por inteiro, por aquele vazio, pela solidão, pelo silêncio e pela escuridão ao meu redor.
            Ali, deitado, sentindo todo o frio que toma conta de meu corpo, começo a sentir um tremor que me percorre como um todo, subindo pelo meu peito, rasgando minha garganta, até que sai por minha boca como um soluço. Logo, a este seguem outros igualmente dolorosos. Juntam-se aos soluços as lágrimas, que banham meu rosto e todo o meu corpo.
As lágrimas são quentes, de um calor que brota de meus olhos, que vem de dentro de meu peito, um lugar que eu imaginava frio, desprovido de qualquer tipo de calor. Sinto-as escorrerem pelo meu rosto, respingarem em meu peito e banharem todo o meu corpo.
Banhado em minhas lágrimas, afogado em minha solidão, tento me reerguer, sem sucesso, pois estou muito fraco.
Mas há algo dentro de mim que ainda possui forças, que me impele, que clama para que me reerga.
Sinto então algo brotar, uma dor, uma força, que me eleva.
Não possuo paredes em que me apoiar. Tenho que contar, apenas, com minhas próprias forças, ainda tão fracas, para me reerguer.
De pé, mas ainda sem forças e confiança, caminho, cambaleando, até um canto qualquer, onde penso ter vislumbrado uma luz, que parece fugir de mim, me enganar.
Pé ante pé, caminho em sua direção, até que encontro uma porta, fechada para mim.
Triste, por mais uma vez me ver trancado, fechado, sozinho, com minha solidão, sinto-me novamente fraquejar. Mas o meu rosto, ainda úmido com as lágrimas que havia derramado, me fizeram lembrar de algo que jazia esquecido, e encontrando forças nessa lembrança, toco a maçaneta dessa porta, que demora a ceder, mas, por fim, consigo abri-la.
O que vejo ao abrir a porta é algo que imaginava inexistente. Uma luz forte, intensa, que cega meus olhos; um calor que queima meu corpo.
Caído, novamente, com as mãos protegendo meus olhos, até que eles se acostumem àquela luz, deixo que meu corpo se aqueça ao ser tocado pelos braços do sol.
Quando me sinto suficientemente com forças para encará-lo, levanto-me e abro os olhos, vislumbro sua face e abro os braços, me deixando abraçar, abraçando-o.

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