sábado, 6 de junho de 2009

A Lagarta e a Borboleta - conto


Subia muito lentamente pelo tronco de uma árvore, arrastando de forma desajeitada o seu corpo, uma lagarta. Ela ia em direção à parte mais alta, a copa da árvore, onde nasciam as folhas mais verdes, onde as frutas eram mais suculentas e vistosas, onde o sol era mais quente e a brisa mais amena.
A lagarta contorcia-se toda em sua jornada, avançando passo ante passo, arrastando seu corpo inteiro. Via pássaros e insetos voando ao seu redor, e sentiu um imenso desejo de ter asas para chegar logo ao topo da árvore. Mas a natureza havia lhe feito daquela maneira. Jamais havia visto sua própria imagem, mas se sentia bem da forma que era, se sentia bela e feliz.
Já se aproximava da parte mais alta da imensa árvore, quando olhou para o lado e viu algo com que jamais havia sonhado. Era algo mais radiante que o sol, mais delicado que uma flor e mais perfeito que o amanhecer: uma borboleta. Possuía as asas de um azul intenso e profundo, como o mar no início de primavera, tinha linhas multicoloridas, tão delicadas e claras como nuvens no início da manhã, seus olhos dourados tinham o brilho intenso do sol, seu corpo, tão delicado, parecia feito pelas mãos precisas do mais perfeccionista artesão. A lagarta ficou encantada com o bater das asas da borboleta, com seu voo, num verdadeiro balé em torno das folhas verdejantes da árvore. Desejou, com um ardor que jamais havia sentido, ter asas para se aproximar daquele ser tão belo, tão perfeito, tão livre.
De tanto olhar para a borboleta com os olhos arregalados, deslumbrados por nunca terem visto algo tão belo, quase ficou cega. De tanto chamar pela borboleta, em vão, quase perdeu a voz. De tanto desejar, quase fica louca. E quando, já sem esperanças de ser notada, quando estava parada, a borboleta, impelida por um forte vento, se aproximou de onde a lagarta estava. Seu voo, agora sem direção, era como o de um papel jogado ao vento. Vinha voando em círculos, cada vez se aproximando mais da lagarta, até que a viu. Seus olhos, tão belos, se arregalaram de pavor pelo que viam. Soltou um grito de pânico que feriu não só os ouvidos, mas o coração da lagarta. E bateu as asas e voou para longe, onde os olhos da pobre lagarta jamais a alcançariam.
A lagarta, de tão triste que estava, por se ver repelida daquela maneira por alguém a quem tanto amava, deixou-se cair do tronco em que estava agarrada e pousou entre uma folha e um fino galho que se projetaram tal qual uma mão a segurar algo precioso e frágil que caía.
A lagarta chorou tanto que suas lágrimas cobriram todo o seu corpo, encharcando-o. Seus olhos doíam, seu corpo já não tinha mais forças para se levantar. E lentamente foi caindo num estado de torpor, como num sono tranquilo, com um sonho repleto de milhares de anjos.
As lágrimas secaram, e em torno do corpo da lagarta formou-se uma crosta fina como uma teia de aranha, mas dura como o aço. E lá ela repousou, repousou e repousou... Até que, dias depois, a crosta começou a rachar, primeiro superficialmente, depois mais profundamente, e de lá surgiu, como que por milagre, a ponta de algo muito fino, tão fino e suave como a mais suave seda, que foi se agigantando, se abrindo, se mostrando. Surgiu uma asa. Depois veio outra. As duas asas, abertas, de maneira desconexa, começaram a bater uma na outra, como que para se libertarem da prisão em que estavam até bem pouco tempo encarceradas. A crosta se partiu em pedaços e de lá apareceu, em todo seu esplendor, uma linda borboleta, tão linda, perfeita e delicada quanto a primeira. Mas esta que nascia possuía cores mais intensas em suas asas, que eram de um vermelho intenso, tendo em suas pontas tons de um amarelo-alaranjado como o sol ao final da tarde. Os olhos da borboleta eram de um tom azul escuro e profundo, como o do céu de noite sem luar.
A nova borboleta, livre e bela, bateu suas asas de maneira insegura, pois ainda não sabia voar. Temia uma queda daquela altura em que estava. Mas eis que uma lufada de vento a arrebatou e lhe lançou para longe da árvore em que estava pousada. Então ela bateu novamente as asas e sentiu a brisa sob elas, erguendo-a, levando-a para o alto, tão alto quanto a árvore, tão alto que a borboleta imaginou ser capaz de tocar o céu, voar por dentro das nuvens. Bateu suas asas e voou livre pelo céu, para dançar o balé das borboletas.

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