sábado, 18 de abril de 2009

Por uma simples questão de bom senso, sou terminantemente contra a política de contas para negros, indígenas e mestiços em universidades públicas

Nas últimas semanas muito se tem discutido sobre questões relativas a forma de ingresso nas universidades públicas. É de desejo do Governo Federal unificar as provas do vestibular. E devido a tudo que se tem falado, outro assunto polêmico e complexo voltou à tona: a cota em universidades para negros, descendentes de povos indígenas e mestiços. Sobre este assunto eu vinha pensando muito, mas devido a complexidade ou talvez ao fato de ter medo de expressar publicamente, de ser rotulado de mal informado ou até mesmo de racista, por ser terminantemente contra essa política, ao meu ver racista, que o Governo Federal vem tentando impor. Essa cota é, na minha opinião, uma forma que o Governo encontrou não para minimizar as “desigualdades sociais”, mas sim para negar as suas responsabilidades, que são as de oferecer uma educação pública de qualidade, não só aos brancos que vivem nas cidades, nos grandes centros urbanos, mas a todos, sem distinção de raça, religião, condição social ou local onde mora.
Mas antes que peçam a minha cabeça numa bandeja, antes que me acusem de racista, de elitista, de branquelo que estudou a vida inteira em escola particular, deixa eu explicar o meu ponto de vista sobre essa questão espinhosa, que está longe de ser resolvida.
Em primeiro lugar, não é uma questão de cor de pele que diferencia o ingresso ou não de negros nas universidades públicas, mas sim questões de cunho sócio-econômico. Se a proporção de negros em universidades é pequena, não é devido ao fato deles pertencerem a raça que pertencem, não, pois todos nós pertencemos a mesma raça, a humana, mas sim a uma questão histórico-social, colocando a maior parte da população negra de nosso país à margem da sociedade. Uma parcela considerável dos pobres em nosso país é de negros, descendentes de povos indígenas e de outras minorias étnicas, portanto, devido às suas condições financeiras, têm que recorrer a escolas públicas, e como as escolas públicas são precárias...
Então vão me falar de preconceito? Vão falar que sou preconceituoso só por ser contra essa cota ridícula nas universidades públicas?
Não. Nunca fui preconceituoso e tenho orgulho de ser quem eu sou, de ter os pais e os avós que tive. Minha avó paterna era negra e só nasci branco, “desbotado” como dizem em minha casa, pois meu pai era moreno, e minha mãe, embora um pouco mais clara que meu pai, também é, por conta de meu avô paterno, branco. Sempre fui uma pessoa de origem humilde, como não deixei de ser, e só tive uma educação relativamente boa porque meus pais sempre deram um duro danado para matricular a mim e a meus irmãos em escolas particulares, que embora não fossem as melhores, pelo menos tínhamos aulas todos os dias, havia carteiras para todos os alunos, as salas possuíam quadros negros, ventiladores, não faltava giz e os professores vinham dar aula todos os dias. E devido a todo o esforço de nossos pais, eu e meus irmãos sempre nos esforçávamos muito para evitar ficar de recuperação. Reprovação então... sabe qual era o medo que meus pais faziam para o caso de sermos reprovador? Não? Pois bem, eles diziam que se algum de nós fosse reprovado, no ano seguinte este seria matriculado numa escola pública!
Tal era o estigma, era o medo que tínhamos que na maioria das vezes passávamos, os três, por média, e quando alguém ficava de recuperação, os outros vinham ajudar, faziam revisões, ajudavam nos trabalhos, etc.
Exagero? Alguns podem dizer que sim, mas eu acredito que colocando o lado pessoal de lado, este exemplo serve para mostrar a imagem que se tinha da escola pública nos anos 80 e 90, e que continua até hoje.
A escola pública é sinônimo de abandono, de estrutura precária, de falta de professores, etc.
E para quem fica a escola pública? Para aquelas pessoas menos favorecidas: negros, mestiços, descendentes de povos indígenas e brancos. Sim, brancos! Para comprovar isso basta se ir a uma escola pública e observar bem as salas de aula, normalmente abarrotadas no inicio de cada ano e praticamente vazias ao final.
E devido a todos os problemas dessas escolas, em que o ensino é tão precário, os alunos não saem bem preparados e consequentemente não conseguem ingressar em instituições para cursarem o nível superior de ensino.
E ainda se vem falar em conta de vagas para estudantes negros?
O que devemos exigir, sim, é uma discussão, é uma completa reestruturação das escolas públicas de qualidade, para que não só negros possa ingressar em universidades, mas também brancos pobres, mestiços, descendentes de povos indígenas e membros de outras minorias étnicas.
E se continuarmos a pensarmos e agirmos em favor dessa ideia ridícula e racista, corremos o seriíssimo risco de cair em contradições, de sermos injustos.
Imaginem só a situação: dois alunos disputam a mesma vaga, para um curso qualquer numa universidade pública, sendo que um deles é negro e pertence a uma classe favorecida economicamente, e o outro pobre e branco. O negro tem direito à cota de vagas, enquanto o branco, não. E no dia em que os dois recebem as notas, o branco tirou uma nota excelente, superior mesmo a de seu concorrente, mas este, por ter “preferência” devido à tão controvérsia cota, fica com a vaga.
Aí, agora eu pergunto: qual a lógica disso?
Continuamos com os mesmos problemas estruturais, sendo que agora teremos mais negros nas universidades, já que é isso que o Governo quer. Mas com isso deixamos as mesmas pessoas que eram desfavorecidas anteriormente, sendo que só mudamos a cor de sua pele.
Então, o que fazer? Destinar vagas em determinadas universidades para alunos de escolas públicas, como é acontece em algumas instituições de ensino técnico?
Essa é uma alternativa que vem sendo adotada, mas ao meu ver é extremamente perigosa e não resolve o verdadeiro problema da educação brasileira, que é a da estrutura.
Mas e se essa atitude fosse a adotada pelo Governo? Se os alunos de escolas públicas tivessem uma cota?
Aí teríamos brancos pobres, negros, indígenas, brancos ricos, negros ricos e filhos de caciques numa mesma sala de aula. Mas aí viria o problema de quando as aulas começassem, pois os alunos vindos de escolas públicas, devido ao ensino precário que tiveram, não conseguiriam acompanhar o ritmo normal das aulas, pelo problema da “falta de base”. Eles acabariam sofrendo alguma espécie de preconceito, o que já é comum em algumas universidade particulares, pelo simples fato de “só terem entrado na universidade porque é pobre e veio de escola pública”! E aí se inicia uma nova discussão que está longe de acabar.
O problema, na verdade, é de gestão, é de estrutura, é de responsabilidade.
Os negros, assim como os descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas, assim como os brancos pobres, não desejam uma vaga dada de presente, mas sim conquista-la. Todos só querem brigar de igual pra igual, só querem fazer por onde merecer a vaga na universidade, só querem conquista-la, serem dignos dela, não recebe-las de presente, como uma verdadeira esmola do Governo.
E para que estes alunos, negros, descendentes de povos indígenas e outras minorias étnicas e brancos pobres possam ingressar na universidade de maneira digna e poderem, lá dentro, acompanhar as aulas, serem aprovados em todas as disciplinas, conquistarem seus diplomas, é a de terem estudado em boas escolas públicas, de terem recebido uma boa educação, de terem uma boa base, e para que isso aconteça é simples: termos uma escola pública ampla, bem estruturada e de qualidade.
Por conta disso tudo, eu sou completa e inteiramente contra essas cotas em universidade públicas para negros, índios e mestiços, assim como sou contra, também, a se destinar vagas em tais instituições de ensino para alunos advindos de escolas públicas. Sou a favor, sim, exijo, e peço que todos passem a refletir sobre a questão, sobre o ponto essencial da questão que o Governo não discute, que o Governo evita falar, que é a da responsabilidade, que é a do direito que TODOS têm, que é a de se ter direito a uma educação pública de qualidade, sem distinção de raça, credo, classe social.
Se essa discussão for levada adiante, se conseguirmos ter uma educação pública de qualidade, aí sim, teremos não só negros pobres nas universidades, mas brancos pobres, indígenas e também os filhos dos cacique de todas as tribos.

Um comentário:

  1. Estou realmente impressionada como abordaste este tema. Não é de se estranhar que compartilho com você a mesma opinião, mas falaste exatamente o que todos os brasileiros deveriam ouvir.

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