Nunca
um ano foi tão recheado de leituras de tão variados gêneros quanto o foi o de
2014 para mim. Para constatar este fato, bastou eu dar uma olhada para os
livros que iniciei e o com qual finalizei o meu ano de leitura: Oblomóv, de Ivan Goncharov (como virou
tradição minha, abrindo o ano de leituras com um grande clássico da literatura
mundial) e Calvin & Haroldo –
criaturas bizarras de outro planeta!, respectivamente. Entre um e outro, li
clássicos da literatura mundial, best-sellers, quadrinhos, livros de filosofia,
de crítica literária, de teoria literária, de história da literatura, etc. Li
russos, brasileiros, japoneses, norte-americanos, gregos, contemporâneos e
clássicos. Com uns, eu me identifiquei enormemente, devorando-os, saboreando
palavra por palavra, mas também de decepcionei. Descobri obras extraordinárias,
que eu me pergunto até hoje como pude não tê-las lido antes, e outras eu
poderia ter ficado sem ler...
Foram, no total, neste ano de 2014,
46 livros lidos, sendo que destes, um foi uma releitura, As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, o meu livro e meu autor
favorito da literatura norte-americana. Desfrutei e aprendi muito lendo
filosofia, crítica e teoria literária, e dos livros desses gêneros, o que mais
mexeu comigo, o que me foi mais impactante foi o Sobre o ofício do escritor, de Schopenhauer. Livro curtinho, que “dá
para ser lido de um fôlego só”, como se diz popularmente, mas trata-se de uma
obra tão crítica, tão pesada, tão edificante e reflexiva, que eu passei semanas
para finalizá-lo. Outro gênero de leitura que muito contribuiu para a minha
formação, que muito me fez refletir, e que de quebra me arrancou gargalhadas,
foram os quadrinhos, com destaque para os três de Calvin & Haroldo que li ao longo do ano, mas não foram só
quadrinhos engraçados e lúdicos que li neste ano. Li também a versão adaptada
de Guerra e Paz, do qual não gostei
nenhum pouco (está uma adaptação muito fraca, completamente superficial), e Sandman – os caçadores de sonhos, do Neil
Gaiman, que é uma das mais delicadas e belas histórias de amor que já li em
minha vida.
Ponto negativo está no fato de eu
nunca ter finalizado um ano me sentindo tão frustrado. Não falo da quantidade
de livros lidos (um pouco abaixo dos anos anteriores), mas dos livros que não
consegui ler por motivos diversos (entre eles, o maior é a falta de tempo). Foram
tantos os livros não lidos que ficaria impossível listar todos, mas não poderia
deixar de citar O ladrão do tempo, do
John Boyne, os dois últimos da Jody Picoult, O Homem que amava os cachorros (que prometi para mim mesmo, e para
a minha amiga Nicolle, que seria o segundo livro a ser lido em 2015), No silêncio entre dois suspiros, Doutor Sono, os novos livros de Amos Oz
e de Ian McEwan, etc., etc. e etc.
Outro fator que me chamou a atenção
(que não sei se é algo positivo ou não) é o fato de, em 2014, eu não ter tido
uma “unanimidade” de melhor livro do ano. Se em 2013 eu tive O Arroz de Palma a receber os louros de “melhor
livro”, em 2014 eu não tive, em minhas leituras, uma obra que tenha se
destacado tanto assim. Li o segundo livro do autor, Doce Gabito, que é MUITO BOM, em busca daquele que seria “o livro
do ano”, e o livro é, na minha opinião, mais maduro do que o anterior, que tem
um andamento narrativo mais bem definido, com mais personagens mais bem desenvolvidos,
mas que não é tão surpreendente quanto O
Arroz... e acabou ficando o Gabito
entre os cinco melhores livros de 2014, mas o pódio ficou com O Melhor do Teatro Grego, publicação da
editora Jorge Zahar que consiste numa reunião de quatro peças significativas do
teatro grego; Marcoré, de Antônio
Olavo Pereira, obra de literatura nacional extraordinária; e Sobre o ofício do escritor, de
Schopenhauer. Para fechar o meu “top 5” de 2014, ocupou o lugar o livro O último dia de um condenado, de Victor
Hugo. Merecem menção os livros Misery,
de Stephen King, que é fodástico (fico me perguntando como pode um escritor
prender e deixar o leitor tão tenso numa história que contém basicamente DOIS
personagens e UM cenário!), o A Estrela de Prata, de Jeannette Walls, os
dois de Sue Monk Kidd e o magnificamente bem escrito, reflexivo, poético e
melancólico Quarto de Hotel, de meu
grande amigo Adauto Carvalho.
Li alguns livros bons, mas dos quais
esperava bem mais, com destaque para Os
Demônios, de Dostoievski, que, dos romances do escritor russo que eu li,
foi o menos empolgante e intenso e Vinte
mil léguas Submarinas, que é muito extenso e cansativo, repleto de detalhes
e descrições que atestam a genialidade e conhecimento técnico do escritor, mas
que, como foi o caso de excesso, acabou “travando a leitura”. Outros livros, de
outros gêneros, me fizeram “salivar” quando li as sinopses e comentários, mas
que me deixaram um tanto quanto decepcionados quando (e enquanto) os li, como O Fio da vida, que tem um início esplendoroso,
mas que se perde um pouco, que passa a “desempolgar” da metade para o fim, O trem dos órfãos, que tem duas personagens interessantes, com boas
histórias, mas que poderiam ter se cruzado (as histórias), o que acaba não
acontecendo, o Constelação de fenômenos
vitais, e o Flor Negra, que tem
um pano de fundo histórico interessante, mas como literatura, deixou um pouco a
desejar. Mas estas “decepções” fazem parte de nossa vida como leitores. Por vezes
o problema é o momento, que não é propício para a leitura daquele livro em
específico, e em outras ocasiões é a expectativa que depositamos naquele
livro...
Este ano, se eu fosse defini-lo em
uma palavra, eu o faria com a palavra Grego.
Isso mesmo: grego! Foi 2014 o ano da leitura dos gregos para mim, como outros
anos foram o ano dos russos, o ano dos franceses, o ano dos brasileiros. Li,
além das tragédias (de Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes), o Fábulas, de Esopo, e o Poética, de Aristófanes, livros que me
fizeram perceber ainda mais o quão somos filhos e herdeiros dos gregos, o
quanto aquela civilização lançou bases para a nossa filosofia, cultura,
literatura e pensamento e o quanto continuam atuais.
Foi, também, 2014, um ano em
dediquei um especial espaço de meu tempo para as leitura de ordem técnica e acadêmica.
Além dos já mencionados Schopenhauer e Aristóteles, li Bakhtin, Auerbach,
Alfredo Bosi, Tânia Carvalhal e Douglas Tufano.
O que me aguarda o ano de leitura de
2015 eu nada além do fato de se iniciar no dia 1º de janeiro, com a leitura de
um grande clássico da literatura mundial, um russo, pra variar, e se encerrará
em 31 de dezembro, com algum livro ou autor especial (para “fechar o ano com
chave de ouro”). Mas de uma coisa eu tenho certeza: independente de quantos
forem os livros, serão edificantes e eu os saborearei palavra por palavra de
suas histórias, me identificarei com seus personagens e perderei noites de sono
(seja dormindo mais tarde ou acordando mais cedo) de tão instigado que ficarei
com as histórias.
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