Luto é dicionarizado
como Sentimento de dor pela morte de
alguém, consternação, dó. Fato é que independente de como definimos tal
palavra, não há palavras suficientes para expressar tamanha dor. E nós,
humanos, desde que somos humanos, temos que encarar de frente essa dor, que
viver esse sentimento de luto, muito embora nunca estejamos suficientemente
preparados para lidar com ele. Às vezes o luto é repentino, quando a vida de um
alguém é ceifada de forma abrupta, sem que tenhamos o tempo para ir nos preparando
para quando chegar o momento da partida; e em outras o sentimento vem
dissolvido, vai nos tomando em doses homeopáticas, com a vida da pessoa querida
escapando por entre os dedos sem que ninguém (nem a própria pessoa nem nós
mesmos) possa fazer nada...
O luto
atinge a todas as pessoas, mas de maneiras diferentes. Há pessoas que conseguem
lidar melhor com tal sentimento, que são como um pilar para que outras se
segurem no momento da perda, mas há outras que desabam, que derramam mares de
lágrimas, que choram, que gritam, que não se conformam com a partida (perda) de
um alguém que estava há tão pouco tempo ali, na sua frente... Às vezes
enfrentamos e somos acometidos por um luto não pela perda em si de um alguém
querido, se configurando muito mais como “um luto simbólico” quando “perdemos
sua companhia”, quando a pessoa vai embora.
Enfrentamos
luto por tudo: por um animal de estimação muito queridos, por uma árvore
especial que nos abrigava por muito tempo em sua generosa sombra, que teve que
ser arrancada por um torpe motivo qualquer, por uma casa de infância que teve
que ser demolida, etc., etc. e etc. e nós, leitores, amantes da literatura,
nós, que não só lemos, mas incorporamos e vivemos o livro e os personagens,
também temos que lidar com um pesado e opressivo luto.
Ao iniciarmos
um livro, sabemos que mais cedo ou mais tarde ele vai acabar. Ora nós lemos de
forma tão descontrolada, com tamanha ânsia, que o luto vem repentinamente sem
que tenhamos tempo e oportunidade de nos prepararmos para receber tal baque;
ora a leitura está sendo tão prazerosa que desejamos prolongá-la, que nós lemos
o livro palavra por palavra para termos a impressão (vaga ilusão!) de que
podemos adiar ao máximo o momento da leitura do “fim”, em que seremos “obrigados”
a fechar o livro e colocá-lo de volta na estante.
Nunca estamos
plenamente preparados para lidar com o “fim” de um livro, para ler a última
frase e dar a exata entonação do último ponto final, para fechá-lo e guardá-lo
na estante. Nunca estamos preparados para lidar com a morte de um personagem
que nós vimos crescer, se desenvolver, criar corpo e forma em nossa mente, em
nossa alma, que o queremos tanto, que o amamos tanto como se fosse um alguém
materializado em carne e osso, que está a nosso lado, contando a sua história
sempre que abrimos o livro.
Esse luto,
provocado pelo “fim” de um livro, pela vida tão brutalmente ceifada de um
personagem, é, muitas vezes, incompreendida por muitos, por aqueles que não têm
a exata noção do quanto a leitura de um livro e a vida de um “simples
personagem” pode mexer conosco, leitores-incondicionalmente-apaixonados. Podem até
nos apontar o dedo e dizer, ingênua ou ignorantemente que o que sentimos não é
luto, mas sim uma “frescura”... Eu pelo menos, nada respondo, não os critico
nem me defendo. A vantagem que nós, leitores, temos sobre “os demais mortais”,
é que quando sofremos de luto de um livro ou por um personagem, podemos sofrer
não a dor, mas os prazeres da vida, da leitura, quantas vezes forem
necessárias, bastando, para isso, apenas abrir novamente o livro e ressuscitar
a história e os personagens quando bem entendermos. Sofreremos, sem dúvida, da
mesma maneira, quando chegar o momento de lermos o último ponto, de fecharmos o
livro, de vermos a vida do personagem ceifada, mas este sofrimento, este luto,
não chega a ser de todo pesado e triste; é, sim, mas a nós, leitores, o “pesado
e triste” tem uma conotação diferente do que o “pesar” e a “tristeza” tem para
os que não leem e para os que não conseguem entender esse nosso tão especial luto...
Luto é constantemente lutar Contra o inevitável...
ResponderExcluirQuantas vezes eu deixei o último capítulo para o outro dia...
ResponderExcluir.... Jamais existirão palavras que possam descrever realmente esse sentimento de perda e de pesar, uma palavra com quatro letrinhas que significa tanto. Concluir um livro não é enlutar-se, quando a narrativa é instigante e nos apaixona, se torna um modo de nos redimirmos com a vida.
ResponderExcluir