domingo, 4 de agosto de 2013

Luto



Luto é dicionarizado como Sentimento de dor pela morte de alguém, consternação, dó. Fato é que independente de como definimos tal palavra, não há palavras suficientes para expressar tamanha dor. E nós, humanos, desde que somos humanos, temos que encarar de frente essa dor, que viver esse sentimento de luto, muito embora nunca estejamos suficientemente preparados para lidar com ele. Às vezes o luto é repentino, quando a vida de um alguém é ceifada de forma abrupta, sem que tenhamos o tempo para ir nos preparando para quando chegar o momento da partida; e em outras o sentimento vem dissolvido, vai nos tomando em doses homeopáticas, com a vida da pessoa querida escapando por entre os dedos sem que ninguém (nem a própria pessoa nem nós mesmos) possa fazer nada...
            O luto atinge a todas as pessoas, mas de maneiras diferentes. Há pessoas que conseguem lidar melhor com tal sentimento, que são como um pilar para que outras se segurem no momento da perda, mas há outras que desabam, que derramam mares de lágrimas, que choram, que gritam, que não se conformam com a partida (perda) de um alguém que estava há tão pouco tempo ali, na sua frente... Às vezes enfrentamos e somos acometidos por um luto não pela perda em si de um alguém querido, se configurando muito mais como “um luto simbólico” quando “perdemos sua companhia”, quando a pessoa vai embora.
            Enfrentamos luto por tudo: por um animal de estimação muito queridos, por uma árvore especial que nos abrigava por muito tempo em sua generosa sombra, que teve que ser arrancada por um torpe motivo qualquer, por uma casa de infância que teve que ser demolida, etc., etc. e etc. e nós, leitores, amantes da literatura, nós, que não só lemos, mas incorporamos e vivemos o livro e os personagens, também temos que lidar com um pesado e opressivo luto.
            Ao iniciarmos um livro, sabemos que mais cedo ou mais tarde ele vai acabar. Ora nós lemos de forma tão descontrolada, com tamanha ânsia, que o luto vem repentinamente sem que tenhamos tempo e oportunidade de nos prepararmos para receber tal baque; ora a leitura está sendo tão prazerosa que desejamos prolongá-la, que nós lemos o livro palavra por palavra para termos a impressão (vaga ilusão!) de que podemos adiar ao máximo o momento da leitura do “fim”, em que seremos “obrigados” a fechar o livro e colocá-lo de volta na estante.
            Nunca estamos plenamente preparados para lidar com o “fim” de um livro, para ler a última frase e dar a exata entonação do último ponto final, para fechá-lo e guardá-lo na estante. Nunca estamos preparados para lidar com a morte de um personagem que nós vimos crescer, se desenvolver, criar corpo e forma em nossa mente, em nossa alma, que o queremos tanto, que o amamos tanto como se fosse um alguém materializado em carne e osso, que está a nosso lado, contando a sua história sempre que abrimos o livro.
            Esse luto, provocado pelo “fim” de um livro, pela vida tão brutalmente ceifada de um personagem, é, muitas vezes, incompreendida por muitos, por aqueles que não têm a exata noção do quanto a leitura de um livro e a vida de um “simples personagem” pode mexer conosco, leitores-incondicionalmente-apaixonados. Podem até nos apontar o dedo e dizer, ingênua ou ignorantemente que o que sentimos não é luto, mas sim uma “frescura”... Eu pelo menos, nada respondo, não os critico nem me defendo. A vantagem que nós, leitores, temos sobre “os demais mortais”, é que quando sofremos de luto de um livro ou por um personagem, podemos sofrer não a dor, mas os prazeres da vida, da leitura, quantas vezes forem necessárias, bastando, para isso, apenas abrir novamente o livro e ressuscitar a história e os personagens quando bem entendermos. Sofreremos, sem dúvida, da mesma maneira, quando chegar o momento de lermos o último ponto, de fecharmos o livro, de vermos a vida do personagem ceifada, mas este sofrimento, este luto, não chega a ser de todo pesado e triste; é, sim, mas a nós, leitores, o “pesado e triste” tem uma conotação diferente do que o “pesar” e a “tristeza” tem para os que não leem e para os que não conseguem entender esse nosso tão especial luto...

3 comentários:

  1. Luto é constantemente lutar Contra o inevitável...

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  2. Quantas vezes eu deixei o último capítulo para o outro dia...

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  3. .... Jamais existirão palavras que possam descrever realmente esse sentimento de perda e de pesar, uma palavra com quatro letrinhas que significa tanto. Concluir um livro não é enlutar-se, quando a narrativa é instigante e nos apaixona, se torna um modo de nos redimirmos com a vida.

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